Certa noite, após a aula, conversávamos eu e colegas de trabalho. No meio da conversa, brinquei dizendo “Ah, eu tenho que arrumar um namorado… Faz falta ter alguém no final do expediente para comer uma pizza” (risos). Não era a primeira vez que eu brincava com a minha solteirice, as pessoas sempre riam com minhas piadas a respeito disso. E eu sinto prazer em fazer as pessoas rirem.
Nesse dia, um amigo querido e coordenador fez uma observação que rendeu! Ele disse:
— Carol, você não vai arrumar um namorado. Sabe por quê? Porque você vende uma imagem que não é o um homem quer.
(Hummm… Interessante… Sinto cheiro de polêmica… De que homem ele estaria falando, pensei…)
— Vendo uma imagem? Como assim?
A conversa interessou a todos, que se aproximaram para ouvir a explicação. Ele continuou:
— É sim! Aqui na Universidade você é uma coisa, mas fora daqui é outra… Quer um exemplo? Esses dias você postou uma foto no facebook que….
— Qual foto?
— Uma foto de você bebendo…
— Hum?
— Com a perna aberta.
— Qual foto?
— Abre seu facebook aí.
— Ah, eu sei qual é a foto. Vou abrir aqui. (Disse minha colega, diante do computador)
— Esta aqui? (Ela disse, apontando para a tela, com o facebook aberto.)
— ESSA! Está vendo? Essa não é a Carol aqui da Candido, um homem olha essa foto e pensa…
— Pensa o quê? (Eu)
— Pensa o quê? (Ela)
— Pensa que… pensa que… pensa que… você não quer compromisso!
(Risos)
— É muito interessante você falar isso, porque há poucos dias atrás um amigo me disse a mesma coisa. Ele queria dar uma de cupido e perguntou a um amigo o que ele achava de mim. O tal amigo disse que me achava interessante, mas que eu “não tinha cara de que queria um relacionamento”…
— Está vendo? É o que eu estou falando. (Ele)
— Rsrsrs pois é. Eu disse ao meu amigo cupido pra não insistir não. Não é qualquer homem que está preparado pra assumir um “pacote completo” como eu.
(Mais risos)
O debate rendeu na sala da coordenação! Foi muito divertido e me trouxe várias reflexões. Minha coordenadora, lúcida e calma, argumentou a meu favor “Vocês, homens, é que associam a imagem de uma mulher livre e independente com a suposição de que ela não quer compromisso. Isso é coisa da cabeça de vocês!”. Fofa (Vibrei internamente!) E deixei o “circo pegar fogo”! Estava muito engraçado aquilo — Eu e meus colegas (casados e com filhos) discutindo minha solteirice (ex-solteirice, inclusive), no pós-serviço, diante do computador.
A história de “pacote completo” não surgiu da minha cabeça (minha autoestima não chega a tanto), veio de um amigo músico, muito sagaz, maduro e generoso, que me disse assim: “Carol, deixa eu te explicar uma coisa, você é um pacote completo – bonita, independente, inteligente, bem relacionada… Você acha que é qualquer homem que encara?”.
Quando eu ouvi isso, aquela lâmpada mental se acendeu. E eu entendi a condição da mulher contemporânea: somos bonitas, independentes, inteligentes e bem relacionadas. Se assumimos um relacionamento é porque estamos apaixonadas. Sabe aquela antiga fragilidade que deixa os homens confortáveis e sentindo-se senhores da relação? Não temos. Mas não temos, gente, porque, de fato, não temos! Não é mais substância nossa! Não se trata de um ato contra o homem, não se trata de querer deixá-lo desconfortável! Trata-se da realidade! Tivemos que batalhar e isso nos deixou mais fortes, mais livres e mais independentes!
É uma realidade! Vocês, homens, precisam trabalhar essa questão! O incômodo que muitos sentem em relação a isso é um problema do ego, a ser resolvido. Não sou eu que tenho que fingir ser o que não sou, são vocês que têm que aprender a lidar com o que nos tornamos. Por favor, pra ontem!
O que meu colega coordenador quis dizer com essa história de “não é isso que um homem quer” é que os homens se sentem inseguros diante desse tipo de mulher, embora ele a deseje. E, ao invés de assumirem seus desejos e inseguranças, arrumam uma justificativa para continuarem na zona de conforto – “ela não tem cara de que quer compromisso”, “ela não tem cara de um homem só”, “não é isso que um homem quer”.
Aff!
Infelizmente, até hoje, os comportamentos masculinos, de uma forma geral, ainda reverberam as máximas que separam “mulher pra casar” e “mulher pra comer”. Legitimando a hipocrisia social e a falência da profundidade nos relacionamentos. Até quando?
Vale a pena ressaltar como meu amigo colocou a questão “não é isso que os homens querem”. A questão não deveria ser o que os homens querem ou que as mulheres querem, mas o que os dois querem, já que estamos falando de relacionamento.
É muito curioso…
Embora trágico, não posso deixar de admitir que me divirto! Embora o machismo traga consequências sérias para a minha vida todos os dias, eu morro de rir com essas discussões, porque elas expõem limitações tão primitivas que eu não consigo ter outra reação.
E o nó na cabeça deles diante de mulheres que não são uma coisa OU outra, diante de mulheres que são uma coisa E outra E outra E outra E outra? No incômodo sincero do meu colega de trabalho, são “uma coisa aqui E outra coisa fora daqui”. Sim! Somos um “pacote completo”, como disse meu generoso amigo músico.
Falando vulgarmente, porque é desse jeito todo mundo entende, não somos santas OU putas, somos santas E putas. Conquistamos a independência E queremos uma família. Somos sexualmente livres E reverenciamos o amor. Na cama, tem vezes que a gente domina E tem vezes que a gente goza na submissão.
Homens, superem o “OU”, esse tempo já acabou! Aceitem o “E”, ele é inevitável. E prazeroso! Vocês vão entender!
Bem ditas palavras benditas. De mulheres assim que este planeta precisa. E a vida se faz muito melhor.
Muito bom, Carol.
A foto está ótima! Tim Tim!
Mandou bem .Isso incomoda muita gente ,isso incomoda muito mais .Parabéns
Hummm, generalizou. Carol,embora não tenhamos o mesmo círculo de amigos e meus tempos de faculdade terem ficado no século XX, não vi nada na foto que diga “não quer compromisso ” ou “não é pra casar “. Vi uma jovem, curtindo um happy hour. Mas, se tivesse visto uma mulher “pacote completo” e elogiasse, poderia suscitar um textão sobre o direito feminino de apenas postar uma foto. Enfim, enfadonho este século XXI.