Além da notícia e da opinião
Guilherme Belido (*)
Foi ainda no meu comecinho em jornal que acompanhei, tipo ‘expectador’, visita de contato publicitário do extinto jornal A Cidade a uma construtura local.
O assunto dizia respeito a edição especial de algum evento em que se sugeria a participação de empresas, entidades e órgãos públicos através de inserções publicitárias alusivas à ocasião.
No caso a que me refiro, da pessoa que acompanhei, não foi exatamente um contato. Mas, enfim, lá chegando, ouviu do dono da empreiteira – muito educadamente – que a construtura não tinha “maior interesse em fazer anúncio” porque não vendia nada ao público posto que só fazia obras para o governo, como pontes, estradas, pavimentação, etc. Mas que, “para colaborar”, poderia autorizar mensagem de espaço menor.
O representante do jornal, então, em breves ressalvas, observou que, ao contrário, por trás de cada pontilhão ou obra de saneamento autorizada pelo setor público, havia um veículo que lutara incansavelmente em favor desta ou daquela localidade, para que determinada benfeitoria fosse realizada. E concluiu enfatizando que empresas daquela natureza precisavam mais da Imprensa do que um anunciante varejista.
Na maior cordialidade, despediram-se, com o empreiteiro – aparentemente com outra visão – autorizando a veiculação sugerida que o jornal agradeceu, mas não publicou.
Toda essa volta foi para mostrar, num exemplo concreto, o quanto a Imprensa representa na vida de cada um e de todos – da cidade, do estado e do país –, para além do que “apenas” se mostra: notícia e opinião.
Quase não se percebe que um novo hospital ou posto policial, que uma creche ou universidade, que um conjunto habitacional ou o esgoto que chega numa comunidade, via de regra, viraram realidade graças ao empenho de órgãos de comunicação.
Isso sem prejuízo de seu ofício primário: 1) A notícia, que é comunicação do fato; 2) A interpretação, que é a qualificação da notícia através da explicação do fato; 3) A opinião, que é a orientação tendo em vista o interesse público.
As vezes, são necessárias páginas e páginas. Noutras, poucas palavras contam a história toda, como fez Elio Gaspari para ‘dizer tudo’ de Carlos Lacerda por ocasião da morte daquele que foi o mais brilhante líder da direita de sua geração, porém comunista ferrenho na juventude: “Carlos, como Marx, Frederico, como Engels, Werneck de Lacerda, Lacerda como só ele sabia ser, morreu ontem”.
Há 40 anos um jornalista diferenciado, visionário e idealista, Aluysio Barbosa, pensou em tudo isso, antecipou o futuro e criou a Folha da Manhã, que nas últimas quatro décadas representa, reivindica, cobra, informa, opina e orienta.
(*) Jornalista e bacharel em Direito
Publicado hoje (11) na Folha da Manhã