Gustavo Alejandro Oviedo — O óbvio

 

Quadro “A comunidade agradece as autoridade”, de Rocha Maia

 

 

Após um mês desde que foi decretada a intervenção federal na segurança do Estado do Rio de janeiro, o general Braga Neto parece não tem a menor ideia do que vai fazer para acabar com a guerra do Rio. Aliás, durante esse último mês, o que temos visto é a exacerbação da violência cotidiana, cujo ponto culminante foi o assassinato covarde da vereadora Marielle Franco.

No meio desse caos, temos o habitual embate entre os extremos ideológicos, que repitem seu discurso trilhado de clichês dogmáticos. Por parte da esquerda se insiste com que somente os projetos sociais acabarão com a violência, e que a intervenção deve acabar logo porque ela é a responsável pela morte de Marielle e do motorista Anderson. Apenas pelo fato já apontado de que a intervenção nada fez até o momento deveria ser suficiente para perceber como é obtusa essa posição.

A direita bolsonarista, por sua vez, quer sair metendo bala em todo mundo. É realmente curioso como os defensores da teoria do ‘bandido morto’ ainda não se confrontaram com as evidências que mostram que, a despeito de qualquer reparo moral, eliminar um bandido sumariamente não diminui a criminalidade. Se isso fosse verdade, a Polícia Militar do Rio já teria pacificado o estado há muito tempo.

Não há, evidentemente, soluções dogmáticas. Ademais, se alguma coisa é certa é que o que vem sendo realizado nos últimos 30, 50 ou 100 anos tampouco vem dando resultado. E o que vem sendo feito é uma mistura de descaso e truculência. Descaso ao largar uma grande parcela da população à sua própria sorte para se virar lá no morro. Truculência quando a polícia, a fim de fingir que está combatendo o trafico, ‘invade’ a favela, mata alguém — seja bandido ou não — e retorna para o batalhão antes da retaliação daqueles que efetivamente mandam na comunidade.

Uma provável e lógica saída para a epidemia de violência que assola o Rio passa pela adoção de uma série de medidas que combinem a força moderada com a assistência. Mas essas duas ações só surtirão efeito quando houver a vontade real de solucionar o problema, e para isto é fundamental a permanência. Ficar lá. Durante o governo Cabral vimos como era relativamente fácil expulsar os bandidos de um território, mas também como eles rapidamente retornam quando nada mais é feito.

A favela tem que fazer parte do estado brasileiro, e isto não aconteceu jamais. O governo sempre entendeu (entende até agora) que aquilo é território estrangeiro, com suas próprias regras, e que o melhor a fazer são pactos de não agressão entre o morro e o asfalto — de quebra, pode se ganhar uma boa grana partilhando o lucro do produto proibido.

Pode parecer muito óbvio o que tento dizer, que é, simplesmente, que o Estado deve entrar na favela e não mais ir embora, integrado-a ao resto da cidade. Mas se param pra pensar, o óbvio, até agora, nunca foi feito.

 

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