Guilherme Belido — Ninguém queria a Lava Jato, a não ser as ruas

 

Página 12 da edição de 18/03/18 da Folha da Manhã

A força das ruas

Por Guilherme Belido(*)

 

Seria apenas lamentável se, pior ainda, não fosse dramático, que o Brasil, tão afortunado pelas riquezas e belezas naturais, praticamente não tivesse do que comemorar ou se orgulhar.

Exceções à parte, pergunta-se em que segmentos ou áreas de atuação podemos erguer a cabeça e, altivos, manifestar satisfação? Nas obras das Olimpíadas? Nos estádios construídos para a Copa do Mundo ou no desempenho da Seleção? Na queda de Dilma ou ascensão de Temer? Em nossa política ambiental? Na preservação dos rios? No sistema penitenciário? Na área de Segurança ou de Saúde? Na Educação? Pois é! Nem apelando aos píncaros do devaneio podemos se lhes negar o que salta evidente.

No Congresso, o sentimento que nos reporta é de vergonha. No executivo, indagamos do porquê tantos ainda estarem soltos. E na Corte Suprema, nos frustramos pelo vaivém das decisões, pelas disputas internas e interferências políticas, a apequenar aquele que em discurso vazio se diz imune ao apequenamento.

Mas como todo mal é desafiado pelo bem para garantir que não dure para sempre, o Brasil tem, sim, do que comemorar e se orgulhar: a operação Lava Jato, que no mês passado completou quatro anos.

E a questão merece ser sublinhada, lembrada e debatida, posto tratar-se de uma das raras que se coloca incondicionalmente ao lado da sociedade e só pela pressão do povo não se esvaeceu pelo caminho.

Ou estariam os figurões da política, do empresariado, os altos executivos, os dirigentes partidários e demais ‘medalhões’ ombreados com a sociedade em detrimento de seus interesses espúrios?

A pergunta é infantil, para não dizer ridícula. Ninguém queria a Lava Jato. Via de regra, deputados, senadores, governadores, presidentes de partidos, senadores, ministros de estado, ex-presidentes e presidentes da República (assim mesmo, no plural), bem como grandes empreiteiros e altos executivos da maior empresa brasileira rechaçaram com unhas, dentes e discursos a Força Tarefa formada pela Polícia Federal, Ministério Público, Procuradoria-Geral da República, Receita Federal e 13ª Vara Criminal de Curitiba.

Mas a Lava Jato foi sustentada pelo clamor do povo, em seu nome tem sido exercida e só por seu apoio a tão longe pôde ir. Interessante lembrar que em 2016, quando completou dois anos e a artilharia da investigação estava concentrada no PT, foi relativamente festejada. Mas a partir daí, quando começou a se dirigir aos demais partidos, em especial PSDB e PMDB, as pressões para seu esvaziamento foram contundentes.

Mas a sociedade, nas ruas, vendo que a Força Tarefa estava dando resultados até então nunca vistos, bancou a operação. Não uma investigação qualquer, mas a que combatia o maior escândalo de corrupção da história do País, para alguns o maior do mundo.

Daí que todas as manifestações a favor têm relevância singular e devem ser comemoradas de maneira efusiva. Bem entendido, não se desconhece excessos e exageros da Lava Jato. Tampouco que nem sempre o melhor direito prevaleceu e que prisões preventivas descabidas e conduções coercitivas desnecessárias ocorreram. Mas, não há de se cobrar perfeição numa investigação desta envergadura.

Notável – quer em âmbito nacional, quer em iniciativas regionais de um País de extensão continental – a consciência cidadã de expoentes da sociedade que, em suas respectivas áreas de ação, apoiam a investigação que vem colocando na prisão os algozes do Brasil.

Na semana passada, durante o I Congresso Jurídico Uniflu, realizado no auditório da Faculdade de Direito de Campos – lotado por representantes de diferentes categorias classistas –, foi realizado o debate ‘Diálogo sobre a Operação Lava Jato’, com a participação do juiz Eron Simas, do promotor Victor Queiroz, do professor de Direito Antonio Carlos Santa Filho e do cirurgião-dentista Alexandre Buchaul, colaborador do blog ‘Opiniões’, que em recente artigo analisou os caminhos da Lava Jato. A mediação esteve a cargo do jornalista Aluysio Abreu Barbosa, diretor de redação da Folha da Manhã.

Seguindo a tradição de quatro décadas, a Folha não se descuida de por em relevo os temas que expressam os reais e superiores interesses da sociedade.

Não sendo diferente, a Lava Jato tem recebido especial atenção deste jornal, sensível à expressiva importância da Lava Jato para o Brasil e, muito em particular, para o Rio de Janeiro, estado que sofreu como nenhum outro os saques em seus cofres públicos.

No aniversário de 4 anos da Lava Jato, a Folha da Manhã publicou página inteira, intitulada ‘Caça aos corruptos’, rotulando a Operação ‘como marco de um novo Brasil e que a Lava Jato resgatou o princípio de que ninguém está acima da lei’.

 

(*) Jornalista, bacharel em Direito e editor da página “Guilherme Belido Escreve”

 

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