Por Aluysio Abreu Barbosa
Foi um sufoco! O placar final do Brasil 2×0 Costa Rica não pode mascarar o fato de que os dois gols foram já nos descontos, aos 46’ e 52’ do segundo tempo. E que, mesmo com a renúncia do adversário ao ataque, jogando quase sempre com os 11 jogadores em seu próprio campo, a melhor chance de gol no primeiro tempo foi costarriquenha. Aos 13’, o ala Gamboa cruzou da ponta-direita para trás. Filho de brasileiro, o meia Celso Borges entrou livre na área e chutou cruzado. Mas a chance de marcar contra a seleção do país de seu pai saiu pela linha de fundo.
Goleiro do Real Madrid e da Costa Rica, Keylor Navas só teve duas intervenções no primeiro tempo, ao cortar com os pés uma penetração de Neymar e, depois, num chute de Marcelo. Ne resto, um velho problema do time de Tite se repetiu nos 45 minutos iniciais: bom pela esquerda, com Marcelo e Neymar, o time de Tite é manco pela direita. Willian, que nada havia feito de produtivo, foi substituído no intervalo por Douglas Costa. Com ele atuando no lado direito do campo, o Brasil ganhou volume de jogo.
Logo aos 3’ da segunda etapa, a Costa Rica contou com a sorte, quando Gabriel Jesus cabeceou uma bola no travessão. No rebote, Philippe Coutinho chutou com força, mas Gamboa rebateu. Depois o Brasil pôs Navas para trabalhar em pelo menos seis bolas chutadas em direção ao gol, ainda que nenhuma de grande dificuldade. Sem conseguir furar a retranca, Tite testou na Copa do Mundo uma opção tática que nunca havia tentado. Aos 22’, ele substituiu Paulinho, que também tinha atuação apagada, pelo centroavante Firmino, passando a jogar com dois atacantes de área. Um deles, Gabriel Jesus serviu Neymar dentro da área, aos 33’.
Tocado no abdómen pelo zagueiro Gonzaléz, o camisa 10 do Brasil se jogou. O árbitro holandês Bjorn Kuipers marcou pênalti, mas após ser alertado pelos colegas do VAR, conferiu o lance no monitor à beira do campo e mudou corretamente a marcação. Neymar, que já tinha pegado a bola para cobrar, ficou visivelmente contrariado.
Dois minutos depois, ao reclamar da cera de um jogador caído da Costa Rica, o craque brasileiro acintosamente socou a bola no chão, como garoto mimado, e foi advertido com o cartão amarelo. Coutinho reclamou e também levou o seu. O experiente juiz holandês já tinha resumido com a mão o gesto que parece resumir as atuações de Neymar até aqui na Copa da Rússia: “fala demais, fala demais”.
Quando tudo parecia perdido, já nos descontos, Marcelo cruzou da esquerda dentro da área. Firmino fez o pivô e passou a Gabriel de cabeça. Ao errar o domínio, ele teve seu maior feito em campo, deixando a bola sobrar para Coutinho abrir o placar. O alívio foi tanto que Tite até caiu na comemoração do gol.
Com a Costa Rica abatida e visivelmente cansada, aos 52’ Casemiro apareceu pela entrada da área e serviu a Douglas pela direita. Ele cruzou para Neymar, livre, dar números finais à partida. Encerrada, ele sentou no gramado e chorou. Refeito, poderia refletir sobre o cartão amarelo talvez até tardio que tomou, o pênalti simulado em tempos de VAR, a insistência inútil em jogadas individuais distantes da área e sobre o fato de ter sido o jogador que mais sofreu faltas e cometeu faltas em campo: quatro de cada lado.
No Grupo E, com a virada de 2 a 1 da Suíça ontem sobre a Sérvia, esta será obrigada a jogar pela vitória contra o Brasil para continuar na Copa, às 15h na próxima quarta (27). E, se perder, o Brasil pode dizer adeus à Rússia. A Sérvia é uma república nascida da antiga Iugoslávia, escola respeitada no futebol. É a mesma que também pariu a Croácia, algoz da Argentina de Lionel Messi na última quinta (21).
ALISSON – Um espectador privilegiado do jogo. Na chance de gol mais clara da Costa Rica, aos 16 do primeiro tempo, o meia Celso Borges chutou para fora. NOTA 6.
DANILO – Com a renúncia da Costa Rica ao ataque, foi impossível julgá-lo defensivamente. No apoio, sobretudo no primeiro tempo, foi mais ativo do que Danilo contra a Suíça. Mas nenhum dos dois parece ser capaz de suprir a falta de Daniel Alves. NOTA 6,5.
THIAGO SILVA – Cioso da sua braçadeira de capitão, que não mereceu usar em 2014, ao chorar e ficar de costas para a disputa de pênaltis nas oitavas de final contra o Chile, ontem foi outro espectador. NOTA 6.
MIRANDA – Mais um espectador em lugar privilegiado. NOTA 6.
MARCELO – Com o meio de campo nulo na criação, é a válvula de escape na do Brasil da defesa ao ataque. Sem trabalho atrás, ficou livre para apoiar. Aos 41 da primeira etapa, arriscou a gol, para defesa de Navas. No segundo tempo, o primeiro gol nasceu do seu cruzamento. NOTA 7,5.
CASEMIRO – Como todo o sistema defensivo, teve pouco trabalho. No segundo tempo, a necessidade o empurrou para a área da Costa Rica. Testou Navas em chute a gol aos 26’. Aos 52’, puxou a jogada que gerou segundo gol. NOTA 7,5.
PAULINHO – Sumido das ações ofensivas no primeiro tempo, Tite gritou aos 24’: “Willian pega o ala e Paulinho agride”. NOTA 5,5. No segundo, sem atender ao técnico, foi substituído aos 22’ pelo atacante FIRMINO, que fez o pivô e cabeceou a Gabriel Jesus a bola que sobrou para Coutinho marcar o primeiro gol. NOTA 7.
PHILIPPE COUTINHO – No primeiro tempo, bateu a gol duas vezes, mas para fora. Na etapa final, pôs Navas para trabalhar aos 11’. Tomou cartão amarelo desnecessário, aos 35’, após reclamar do recebido merecidamente por Neymar. Mas assumiu de novo o papel que se esperava deste, ao abrir o placar e ser eleito pela segunda vez como melhor em campo. NOTA 8.
WILLIAN – Peça nula no primeiro tempo, quando chutou para fora sua única tentativa de concluir. NOTA 5. Saiu no intervalo para a entrada de DOUGLAS COSTA, que imprimiu muito mais volume de jogo ao Brasil, dando o passe ao gol de Neymar. Não deveria sair do time. NOTA 8.
NEYMAR – Voltou a abusar da individualidade e dribles distantes da área adversária. Aos 32’ do segundo tempo, simulou o pênalti bem anulado com o recurso do VAR. Depois tomou um pito do juiz por falar demais e levou um merecido cartão ao socar a bola no chão, como garoto mimado. Sofreu quatro faltas, mesmo número das que cometeu, evidenciando o nervosismo assumido no choro ao final da partida. Antes, porém, fez o gol que selou vitória. NOTA 7.
GABRIEL JESUS – Seu maior feito em campo foi ter errado ao dominar a bola passada de cabeça por Firmino, que sobrou para Philippe Coutinho abrir o placar. NOTA 5,5. Após o primeiro gol do Brasil, foi substituído FERNANDINHO, que entrou para recompor o meio de campo. SEM NOTA.
NAVAS – No primeiro tempo, uma boa saída em bola enfiada a Neymar e a defesa no chute de Marcelo. Na segunda etapa, quando o Brasil partiu para cima, fez pelo menos sete defesas, mas nenhuma de grande dificuldade. Nos gols brasileiros, nada podia fazer. NOTA 8.
GAMBOA – Foi do ala direita o cruzamento para Celso Borges, na melhor chance de gol do primeiro tempo. Como, no segundo, foi ele quem desviou o chute de Coutinho que iria para o gol. NOTA 7,5. Foi substituído aos 29 da segunda etapa pelo zagueiro CALVO, na tentativa de fechar ainda mais o time. NOTA 6.
GONZALÉZ – Foi ele quem tocou Neymar no abdómen, no pênalti cavado pelo brasileiro e depois anulado pelo VAR. No segundo tempo, teve trabalho com a pressão brasileira. NOTA 6.
ACOSTA – Foi o líbero na linha de três zagueiros no ferrolho costarriquenho. Quando o jogo ainda estava no 0 a 0, levou cartão amarelo por atrasar cobrança de lateral. NOTA 6.
DUARTE – Com seus dois companheiros de zaga, teve mais trabalho no segundo tempo. E o desempenharam com sucesso, até levarem o primeiro gol já nos descontos. Nota 6.
OVIEDO – No primeiro tempo, o ala esquerda pouco apoiou. No segundo, com a entrada de Douglas Costa, teve motivo para ficar atrás. NOTA 6.
Guzman – Volante que atuou mais como quarto zagueiro. Nota 6. Foi substituído aos 37’ do segundo tempo pelo volante Tejada, que levou uma lambreta de Neymar. NOTA 5.
CELSO BORGES – Filho de brasileiro, o costarriquenho perdeu aos 16 minutos a melhor chance de abrir o placar contra a seleção do país do seu pai. E, em Copa, fica quem erra menos. NOTA 5.
VENEGAS – No primeiro tempo, ainda tentou adiantar a marcação na saída brasileira. No segundo, com a renúncia das ações ofensivas, pouco foi visto. NOTA 5.
UREÑA – Pesado e lento para a tarefa de puxar contra-ataques, foi outro pouco notado em campo. NOTA 5. Foi substituído aos 8’ pelo veterano meia BOLAÑOS. NOTA 5.
BRIAN RUIZ – Se as coisas não correram tão bem ao camisa 10 do Brasil, o que dizer do 10 de um time que entrou em campo para só se defender? NOTA 5.
Publicado hoje (23) na Folha da Manhã