Até o voto na urna daqui a exatamente oito semanas, tudo são conjecturas. Mas difícil pensar e não buscar alternativas entre a esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a direita de Jair Messias Bolsonaro (PSL).
Na noite sexta (03), entre os presidenciáveis à frente nas pesquisas, o ex-capitão do Exército foi o último entrevistado da semana no programa “Central das Eleições”, da GloboNews. Antes dele, já haviam sido Álvaro Dias (Podemos), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). E, diante da pressão equânime da mesma bancada de jornalistas sobre os cinco candidatos, Bolsonaro se revelou de longe o mais frágil.
Já na tarde de ontem (04), foi a vez do PT realizar sua convenção nacional. E nela o ex-presidente foi anunciado como candidato, em meio ao frenesi de políticos, artistas, sindicalistas e militantes. Todos usavam máscaras com o rosto estampado de Lula, preso desde 7 de abril após a condenação em segunda instância que o torna inelegível pela mesma Lei da Ficha Limpa que sancionou enquanto presidente.
Enquanto este artigo era escrito, uma zapeada na timeline do Facebook revelou ao acaso duas postagens: uma sobre da outra, relativas a ambos os fatos.
Na primeira, entre as entrevistas de Bolsonaro no Roda Viva da TV Cultura, na segunda (30), e a de sexta, na GloboNews, uma pertinente analogia foi feita pelo advogado goitacá Carlos Alexandre de Azevedo Campos. O ex-assessor do Supremo Tribunal Federal (STF) escreveu (aqui):
“Deixa eu dizer o óbvio.
Tem duas formas de entrevistar Bolsonaro:
— a primeira é criando oportunidades para ele repetir as suas simplicidades de sempre com as quais seus eleitores fiéis regozijam-se;
— a segunda é criando oportunidades para ele responder sobre as complexidades que um presidente deve enfrentar e em relação às quais ele não tem o mínimo racional a dizer.
O primeiro tipo de entrevista não acrescenta nada, a não ser um momento de puro prazer àqueles que, bem ou mal, enxergam hoje a política sob o ângulo restrito das fanfarronices de seu candidato.
O segundo tipo acrescenta muito ao oportunizar que o eleitor, ainda não iludido pelo discurso populista de Bolsonaro, possa concluir o quanto ele é não só despreparado, mas absolutamente fora do seu tempo para governar um país que precisa evoluir em muitos aspectos além de sua pequena caixa de preocupações.
O primeiro tipo de entrevista foi do Roda Viva.
O segundo, da Globonews.
Ontem pude ter certeza: Bolsonaro não é só um fanfarrão ou bobalhão, é uma verdadeira farsa política.”
A outra postagem no acaso do Facebook foi do carioca Ricardo Rangel, diretor da Conspiração Filmes e candidato a deputado federal. Em outra coincidência, ele é o entrevistado (aqui) na página 2 desta edição. Embora nesta tenha sido crítico a Ciro Gomes, sua avaliação sobre o lançamento da candidatura de Lula se aproxima à definição dela feita pelo político cearense: “o PT está numa viagem lisérgica”. Em palavras próprias para conclusão semelhante, disse o Ricardo (aqui):
“Lula está preso e é inelegível. Acaba de ser escolhido candidato a presidente do PT por aclamação. O PT redefiniu o conceito de surrealismo.
Em um momento da convenção, todas as pessoas presentes colocaram uma máscara com o rosto do ex-presidente Lula e gritaram em coro: ‘Eu sou Lula’. Os petistas redefiniram o conceito de mico (e Dalton Trumbo, roteirista de ‘Spartacus’ revirou-se na tumba).
‘Se eles impugnarem a eleição do Lula, a gente vai até o fim’, disse Lindbergh. O PT já chegou ao fim há tempos. Ao fim da picada. Lindi redefiniu o conceito de falta de noção.”
No contraste entre os dois fatos e suas análises, resta a reflexão ao domingo alongado no feriado do Salvador: qual o Brasil para além de Lula e Bolsonaro?
Publicado hoje (05) na Folha da Manhã
Boa tarde.
Creio ser possível incluir a candidatura Alckimim também como “de direita”, só com uma roupagem mais “democratica” e mais fácil de ser aceita pela mídia.
Sds
Mario
Caro Mario,
Boa noite! Repito o Ricardo Rangel, não na postagem dele no Face transcrita no artigo, mas na entrevista à Folha, postada logo abaixo no blog:
— Acho que qualquer afirmação sobre a direita brasileira é enganosa, porque ninguém sabe mais o que é direita. No Brasil, parece que qualquer coisa que não seja o PT e seus satélites é direita. Vai de Bolsonaro ao PSDB, o que, claro, não faz sentido nenhum. Ou não deveria fazer.
Grato pela participação!
Aluysio
O Alckmin não deveria ser despresado.Se elegeu governador do Estado de São Paulo por 4 mandatos, elegeu seus sucessores, tirou Dória do zero e o elegeu prefeito da cidade de São Paulo, tem apoio de vários partidos que lhe dá um bom tempo de propaganda. O PSDB tem problemas? E quem não tem?? Com a fragilidade dos candidatos…
Faltam aos partidos ideologia e aos candidatos conhecimento da realidade brasileira. Faltam homens de caráter . A esquerda, de qualquer matiz, se perdeu porque só soube ler nas linhas de Marx e Engels e esqueceu-se de se interpretar. Numa posse de Secretário em Campo Grande discursou se o tempo todo sobre o ideólogo Gramsci e ninguém falou nada sobre a realidade deste Estado, a ignorância reinante etc. Na realidade nos faltam conhecimento, falta-nos debates, faltam-nos ideologia. Somos tangidos como ovelhas no entra e sai dos mesmos “canastrões “