Apaixonaram-se tão intensamente que logo foram tomados pelo receio de verem esse amor se extinguir com o cotidiano. Pretendiam que a chama dos primeiros encontros se mantivesse sempre acesa, que quando estivessem juntos parecesse que não se viam há séculos.
Criaram um acordo para preservar essa paixão primordial. Decidiram se ver apenas uma vez por semana, durante um minuto. Ela passava em frente ao seu apartamento às segundas pela manhã, ele a encontrava, trocavam rápidos beijos e palavras, se despediam e seguiam seus rumos.
O longo tempo sem se verem, sem terem notícias, deixava ambos na expectativa pela próxima segunda. Durante o trabalho, no trânsito, na fila do mercado, a imagem do outro passava pelas suas cabeças, gerando um desejo imenso, a ponto de explodirem.
A relação gerou uma imensa e constante necessidade de se quererem. Alimentavam a paixão com a saudades, e no fim das contas nunca de fato deixavam suas pulsões fluírem. O sentimento se tornou uma constante repressão, e aquele amor inicial se converteu em martírio.
Cada um na sua redoma pensava em mudar os termos do acordo. Queriam se ver frequentemente, passar horas juntos conversando sobre os assuntos mais superficiais, contanto que valesse a pena. Pensavam nas cenas imaginárias compartilhadas, em viagens, no cinema e em todos os locais onde poderiam estar.
Certa segunda-feira, ele desceu para vê-la e ela não passou. Imaginou que talvez estivesse doente. Queria telefonar para saber como ela está, mas o acordo incluía não saberem o telefone um do outro. Na segunda seguinte ela também não apareceu e logo ele constatou que tudo havia terminado.
Os meses passaram e ele não teve mais contato com ela, até que um dia, no parque, a viu de longe de mãos dadas com um cara. Vigiou-os anonimamente por algumas minutos. Eles riam entre si, se abraçavam, conversavam como se nada mais existisse em todo mundo. Então ele descobriu que o medo de matar o amor também mata o amor.