Vaidade por ser traído nas redes sociais, Flávio Bolsonaro, Lula e Dilma

 

 

Barbárie nas redes sociais

Era 2015 quando o semiólogo e escritor italiano Umberto Eco advertiu: “As redes sociais deram voz aos idiotas”. No Brasil, o fenômeno explodiu de vez nas eleições presidenciais de 2018, quando amigos e familiares romperam relações reais pelas posições políticas opostas no mundo virtual. Norte e Noroeste Fluminense não são exceções nessa disseminação de ódio. Mas poucas coisas revelaram a banalização da barbárie humana quanto os vídeos gravados na zona rural de Itaperuna, que ontem viralizaram nas redes sociais. Neles, Antônio Paulo Castilho Cardoso, de 38 anos, tortura sua esposa, Priscila Gonçalves, de 35, por infidelidade conjugal.

 

Vaidade de quê?

Desde o início da história, e antes dela, os crimes passionais sempre estiveram entre os mais cruéis. A traição em qualquer sociedade monogâmica é tabu e traumatiza quem se descobre traído. Mas expor isso abertamente, sem vergonha pela própria condição ou respeito à humanidade de quem traiu, extrapola qualquer exagero de quem costuma se exibir em selfies e vídeos nas redes sociais, em mendicância de curtidas. O Lúcifer encarnado por Al Pacino lembra na última fala do filme “Advogado do Diabo” (1997): “De todos os pecados que eu inventei, a vaidade sempre foi o meu preferido”. Mas qual a vaidade em se exibir como traído?

 

Sadismo

Num dos vídeos, Antônio Paulo extrai de Priscila uma confissão de infidelidade. No outro vídeo, ele filma a esposa em prantos, jogada no meio do mato, na escuridão da noite iluminada pelos faróis do carro. Ele expõe a face da mulher, revela-lhe o nome e a acusa de tê-lo traído. A esbofeteia no rosto já marcado e diz: “Mas eu amo ela”. Depois, expõe as nádegas da esposa e a golpeia 13 vezes, aparentemente com uma vara. Os vídeos teriam sido gravados na segunda (14) e viralizaram nas redes sociais da região. Pelo crime bárbaro contra a companheira de 16 anos, mãe de seus dois filhos, o agressor sádico foi preso na quinta (17).

 

Quem?

As feministas são criticadas por quem é contrário ao que se chama “politicamente correto”. E pregar, por exemplo, que homens não têm direito a opinar sobre questões como o aborto, só contribui para segregar os dois gêneros da mesma espécie, igualmente necessários à sua reprodução. Mas ver no Brasil a preocupante sucessão de casos em que homens tratam suas companheiras, ou ex, como posse, afronta tudo aquilo que deveria nos separar dos demais animais. Esse patriarcado irracional já era arcaico há dois mil anos, quando Cristo desafiou os que investiam contra uma adúltera: “quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”.

 

Tiro no pé

Como advertiu ontem a coluna, se fecha o cerco sobre o senador Flávio Bolsonaro (PSL). O filho mais velho do presidente é cada vez mais suspeito da prática da “rachadinha” — recebimento criminoso dos salários de assessores parlamentares — quando era deputado estadual do Rio. E sua tentativa de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), na busca do foro privilegiado por ter sido eleito ao Senado, se revelou um tiro no pé. Pareceu confissão de culpa. Impressão reforçada pelo relator do caso no STF, ministro Marco Aurélio Mello, que ontem declarou: “Tenho negado seguimento a reclamações assim, remetendo ao lixo”.

 

Tiro de misericórdia?

Não bastasse o desespero de se apelar ao foro privilegiado que o clã Bolsonaro sempre criticou, o plenário do STF já havia definido que o recurso só cabe a crimes cometidos no cargo ou relativos a ele. Já não era o caso da movimentação atípica de R$ 1,2 milhão do ex-assessor de Flávio, o PM Fabrício Queiroz, revelada em dezembro pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Mas o que era feio ficou ainda pior depois que o Jornal Nacional revelou na noite de ontem: o Coaf também identificou 48 depósitos em nome de Flávio, todos no valor padronizado de R$ 2 mil cada, entre junho e julho de 2017, totalizando R$ 98 mil.

 

Questão de fé

Também ontem foram revelados trechos do depoimento do ex-ministro Antonio Palocci à Lava Jato. Nele, o outrora medalhão do PT piorou a situação dos dois ex-presidentes eleitos pelo partido. Sobre Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde 7 de abril por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, revelou que recebia propina em dinheiro vivo da Odebrecht. Sobre Dilma, ré desde novembro no caso conhecido como “quadrilhão do PT”, Palocci afirmou que ela “deu corda” para que Lava Jato implicasse Lula. O objetivo era enfraquecê-lo na tentativa de voltar a concorrer à presidência em 2014. Crer na inocência de ambos é acreditar na de Flávio.

 

Publicado hoje (19) na Folha da Manhã

 

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