Na premiação do Campeonato Brasileiro pela CBF, durante a noite de ontem, na zona Portuária do Rio de Janeiro, o momento mais emocionante foi o prêmio de melhor técnico. Vencido pelo português Jorge Jesus, foi entregue em mãos por um seu xará: Mário Jorge Logo Zagallo. Quatro vezes campeão do mundo, duas como jogador (1958 e 62), uma como treinador (1970) e uma como coordenador técnico (1994), o maior vencedor do futebol brasileiro foi o único aplaudido de pé, entre várias estrelas do presente e passado do esporte que subiram ao palco. Aos 88 anos, visto nos últimos tempos em cadeiras de rodas, o Velho Lobo subiu e desceu caminhando, com auxílio de bengala, do seu filho e de Jesus, de quem recebeu beijos na face, longo abraço e com quem trocou confidências ao pé do ouvido.
Na eleição da CBF dos melhores do Brasileiro, em todas as divisões, no masculino e no feminino, votaram jornalistas, capitães e treinadores das equipes. Entre estes, alguém pode alegar que o melhor técnico na Série A foi outro xará de Jesus e também estrangeiro: o argentino Jorge Sampaoli. E não o fará sem fundamento, pois o vice-campeão Santos contava com material humano reconhecidamente inferior ao Flamengo. E, ainda assim, nos dois jogos, um em cada turno, entre os dois melhores times do país, o time de Sampaoli deu uma chinelada de 4 a 1 no acumulado sobre o campeão. Em favor de Jesus, porém, há outro dado que impressiona: tivesse vencido o Santos no último jogo do campeonato, assim mesmo o Flamengo teria sido campeão brasileiro, só com os pontos somados sob comando de Jesus, que assumiu o time já na 11ª rodada.
Prova da ampla superioridade do Flamengo, o time teve nada menos que nove jogadores na seleção do Brasileirão. Foi outra quebra de recorde, que antes pertencia ao Palmeiras, com sete atletas eleitos em 2016. Na defesa e no ataque de 2019, as linhas rubro-negras foram completas: Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí e Filipe Luís; Gabigol e Bruno Henrique. Os dois últimos foram também, respectivamente, o artilheiro (25 gols) e o craque da competição. No meio de campo, os flamenguistas Gérson e Arrascaeta ganharam a companhia do volante Bruno Guimarães, do Atlético Paranaense. O time campeão da Copa do Brasil, no qual eliminou o Fla nos pênaltis pelas quartas de final, teve ainda o goleiro Santos eleito na seleção.
A revelação do Brasileiro foi o atacante Michael, de 22 anos, do Goiás, que também lançou Bruno Henrique. O primeiro chegou a se envolver com o tráfico de drogas na juventude, enquanto o segundo trabalhou de office-boy. Os não passaram por categorias de base de nenhum clube e vieram do futebol de várzea, revelando o excelente trabalho de observação e peneira do Goiás. Sem o peso da comparação individual, Bruno e Michael brotaram na várzea, mais no barro que na grama, de um dos maiores craques da história do futebol mundial: Mané Garrincha, Bicampeão pela Seleção Brasileira e ídolo maior do Botafogo.