“O lockdown também vai acontecer em Campos. Eu acho que é inevitável. E qual é o critério? É estatístico, você observar a questão da internação, dos leitos que estão sendo utilizados. Isso são decisões que você tem que tomar. No Rio de Janeiro, quando você tem filas para internação, filas esperando a UTI, eu penso sinceramente que a atitude de demorar um pouco, a cada dia que demora, eu penso que serão mais mortes que acontecerão. O lockdown tem que ser imediato na cidade do Rio de Janeiro. E aí você deve avaliar de acordo com o local, você deve ter a autonomia de cada gestor, a responsabilidade. O problema é que muitos gestores não têm essa responsabilidade, não têm bom senso. E aí a gente fica naquela: quem é que vai tomar a atitude pelo outro?” Foram o alerta e a indagação que o médico infectologista Nélio Artiles lançou no início da manhã de hoje, no Folha no Ar, na Folha FM 98,3, sobre a pandemia da Covid-19.
A indagação de Nélio, um dos mais conceituados infectologistas da cidade, seria respondida logo depois. Na ausência de responsabilidade do prefeito de São Fidélis, Amarildo Henrique Alcântara, que insistia em manter aberto o comércio do município da região mais afetado pela pandemia do novo coronavírus. Com maior responsabilidade com a vida humana, o desembargador José Carlos Paes, da 14ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), determinou o fechamento do comércio fidelense, à exceção dos serviços essenciais, até 31 de maio. Tomada desde segunda (10) a decisão judicial, no entanto, só se tornou conhecida na tarde de hoje (confira aqui), após o Folha no Ar com Nélio Artiles.
Ainda sem saber da decisão do TJ-RJ, Nélio Artiles foi indagado na Folha FM se adiantava Campos fechar seu comércio até 31 de maio, enquanto o município vizinho de São Fidélis, com quatro mortes oficiais por Covid-19, cinco outros óbitos sob investigação, 108 casos confirmados e 13 suspeitos, mantinha seu comércio aberto. O infectologista respondeu:
— O pior é que casos graves que acontecem em nosso entorno, acabam sobrando para Campos. Não adianta. O lockdown da gente vai ficar quebrado pelos municípios vizinhos. Infelizmente, nem todos têm o bom senso se tomar a atitude. O ministério da Saúde vinha com o (Luiz Henrique) Mandetta numa linha. E por incompatibilidade política e de entendimento racional, se muda o ministro e entra o (Nelson) Teich. Que mantém a mesma linha, porque cientificamente ele tem que manter, não pode mudar. Mas aí o exemplo do gestor maior, que é o presidente (Jair Bolsonaro) acaba atrapalhando muito essa questão dos outros gestores — observou Nélio.
O infectologista seguiu falando da questão da subnotificação dos casos no país. Segundo estudo recente do Imperial College de Londres (confira aqui), apenas 10,4% dos brasileiros contaminados seriam de fato notificados. No fim de abril, o levantamento acertou a previsão de que o Brasil chegaria aos 10 mil mortos no início de maio. Oficialmente, o número foi ultrapassado no dia 9 do mês:
— É provável que esse estudo inglês mostre que a população quase toda brasileira vai acabar pegando esse vírus, se a gente considerar que é só 10% (dos casos reais que são oficialmente notificados). Será que a população toda da Itália pegou, da Espanha? Toda que eu falo, assim, grande parte, pelo menos os tais 40%, 50% da população. É provável. Porém, o problema é todo mundo pegar de uma vez só. Se trocar de novo de ministro e entrar o Osmar Terra, que preconiza a liberação a abertura total, dizendo que confinado transmite mais, isso vai totalmente contra a ciência. E pode trazer um problema muito sério, que é o adoecimento rápido de muitas pessoas ao mesmo tempo. E você sobrecarrega os leitos todos (hospitalares). Então acho que o lockdown é inevitável. Ele vai acontecer, sim. Porém, não acho que vai ser na mesma linha, ao mesmo tempo. Cada gestor público tem que ter, sim, a sua autonomia e o bom senso. Infelizmente, isso não acontece.
Confira nos vídeos abaixo os três blocos da entrevista com o médico infectologista Nélio Artiles, um dos mais conceituados da cidade. Os trechos destacados na matéria estão no segundo. No terceiro e último há importantes informações de utilidade pública sobre a ação de medicamentos para tentar combater a Covid-19:
Quero aproveitar esse espaço Aluysio para agradecer a este ilustre médico e toda sua equipe que no ano de 1994´ me curou de uma infecção estafilococo na enfermaria da DIP do HFM.