“Há a necessidade de retorno imediato às medidas de isolamento social”. Foi o que alertou o médico infectologista Rodrigo Carneiro sobre o avanço da Covid-19 em Campos. Ele endossa o que outro médico infectologista da cidade, Nélio Artiles, alertou desde a última quarta (18): “A volta da fase Verde para a Laranja, com adoção do lockdown parcial, é inevitável, vai acontecer”. Até aqui sem medidas concretas para conter o avanço da pandemia, na semana passada o alerta também foi aceso (confira aqui) na rede privada do Hospital Dr. Beda, na rede conveniada da Santa Casa e até (confira aqui) na rede pública do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCC), montado em 30 de março (confira aqui) em parceria do governo Rafael Diniz com a Beneficência Portuguesa. Hoje, dos 24 leitos de UTI do CCC, 17 estão ocupados — mesmo número de ontem. Já dos 40 leitos clínicos, 30 estão ocupados — ontem eram 28.
Apesar da admissão do poder público municipal de que o aumento nos números da doença, reflexo do avanço da pandemia em todo o país, demandam retroagir a cidade da fase Verde para a Amarela, isso só deve ter reflexo prático (confira aqui) após o segundo turno das eleições a prefeito deste domingo (29). A campanha eleitoral municipal em Campos e no Brasil, com descumprimento das regras de proteção fartamente registrado, é considerado o principal fator para o novo crescimento da Covid. Ainda assim, mesmo se e quando Campos adotar de fato a fase Amarela, a volta ao lockdown parcial considerado necessária pelos infectologistas Nélio Artiles e Rodrigo Carneiro, só se daria se o município voltar à fase Laranja.
— Claro que a velocidade das infecções supera à das notificações. Modelos matemáticos são excelentes para planejamento, porém, em gestão, as mudanças nas ações devem respeitar a realidade dos fatos: aumento exponencial das internações e das complicações por Covid. Nenhuma dúvida quanto à qualidade e seriedade da secretaria de Saúde. Porém, a sensibilidade da ponta de atendimento mostra uma outra realidade — alerta o médico Cléber Glória, diretor-clínico da Santa Casa.
— Ainda não é possível estabelecer categoricamente tratar-se de segunda onda da Covid. O Brasil estabilizou o número de casos e óbitos em um patamar elevado, infelizmente. Agora experimentamos um novo aumento que já partiu desse patamar elevado, o que vai custar um grande número de vidas. Para piorar estamos na época de eleições e a sanha por votos faz com que os candidatos exponham a população, desinformada sobre os riscos, a contaminação pelo SARS-CoV2. E para finalizar a tempestade perfeita, vários locais de votação não estão preparados para receber os eleitores. Se já podemos definir como “segunda onda” ou não, pouco importa. O número de casos e óbitos vai crescer e os candidatos ao pleito municipal pouco ligam para isso, querem os votos para chegar ao Cesec — denunciou o infectologista Rodrigo Carneiro.
Atualização às 20h12 para colocar a posição oficial do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec). Enviada após a postagem, a entidade que representa todos os médicos do município “recomenda que o atual nível de flexibilização (Nível 2: Fase Verde) seja prontamente retroagido para o nível anterior (Nível 3: Fase Amarela), com a finalidade de minimizar o fluxo de circulação da população”. E alerta: “A não adoção correta das estratégias preventivas e protetivas pode colocar vidas em risco”.
Confira a íntegra abaixo:
O Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), considerando o acentuado crescimento do número de internações relacionadas a infecções causadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), e a tendência de elevação da contaminação da Covid- 19, no município, em comparação com semanas anteriores, recomenda que o atual nível de flexibilização (Nível 2: Fase Verde) seja prontamente retroagido para o nível anterior (Nível 3: Fase Amarela), com a finalidade de minimizar o fluxo de circulação da população, o que poderá contribuir diretamente para o achatamento da curva de transmissão de novos casos e, consequentemente, para a redução da pressão sobre os sistemas de saúde do município.
Vale lembrar que os efeitos positivos das medidas essenciais de contenção, uma vez implementadas, levam de uma até duas semanas para influenciar a desaceleração do índice de crescimento de casos confirmados.
Cabe destacar que a inapropriada execução do isolamento social diverge do que, como
especialistas e representantes desta entidade, recomendamos. A não adoção correta das estratégias preventivas e protetivas pode colocar vidas em risco, tanto da população quanto dos profissionais de saúde que, diariamente, seguem na linha de frente da batalha contra o novo coronavírus.
O Simec recomenda ainda que as medidas de contenção da propagação da Covid-19, dedicadas à redução da taxa de contágio, como isolamento social e o uso de máscaras e álcool em gel pela parcela da população que precisa sair às ruas, devem continuar sendo aplicadas.
Atenciosamente,
Dr. Hélio da Nóbrega Novais Presidente do Sindicato dos Médicos de Campos
Gente vamos levar a sério esta doença, devemos seguir as recomendações de quem entende do assunto, fique em casa que é mais seguro.