Todos os principais institutos de pesquisa do Brasil acertaram. Com 48,43% dos votos válidos nas urnas de domingo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou muito próximo, a apenas 1,47% + um voto, de definir a eleição no primeiro turno. Mas todos os principais institutos de pesquisa também erraram com o seu principal concorrente. Com 43,20% dos votos válidos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) teve, além da margem de erro, bem mais do que era apontado em todas as projeções. Os dois candidatos agora disputarão o segundo turno em 30 de outubro, com diferença de um pouco maior que 5 pontos. Que é 9 pontos inferior à vantagem de 14 que, na véspera do pleito, as pesquisas Datafolha e Ipec (antigo Ibope) deram a Lula.
VOTO ÚTIL? — Vários são os fatores que podem ter contribuído para o resultado da urna do primeiro turno. Entre eles, a chamada migração do “voto útil” ainda no 1º turno. Não dos eleitores do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) para Lula, como pregava o PT, ecoado por artistas como Caetano Veloso. Se houve voto útil neste primeiro turno, independentemente de onde saiu, ele foi para Bolsonaro.
SÃO PAULO — O que contrariou com mais peso as pesquisas foram os votos na urna da região Sudeste, que concentra 42% dos eleitores brasileiros. Na Ipec de sábado, Lula superaria Bolsonaro por 9 pontos (48% a 39%) em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Mas, na urna de domingo em São Paulo, Bolsonaro superou Lula por quase 7 pontos (47,41% a 40,89%).
Como o ex-ministro do capitão, Tarcísio de Freitas (Republicanos) também passou o favorito petista Fernando Haddad nas urnas paulistas do primeiro turno, pelos mesmos quase 7 pontos (42,32% a 35,70%). Agora os dois disputarão o segundo turno ao Governo do Estado de São Paulo, na eleição que pode definir a presidencial. E na qual, diferente das pesquisas, o PT sai atrás a governador e presidente.
RIO DE JANEIRO — Na mesma Ipec de sábado, Lula superaria Bolsonaro por 4 pontos (46% a 42%) no estado do Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país. Mas, no voto dos fluminenses de domingo, Bolsonaro superou Lula por quase 11 pontos (51,09% a 40,68%).
Não por coincidência, o governador bolsonarista Cláudio Castro (PL) também superou todas as pesquisas. E se reelegeu ainda no primeiro turno ao Governo do Estado do Rio, contra o deputado federal lulista Marcelo Freixo (PSB). Campeão de rejeição entre os fluminenses em todas as pesquisas, o ex-psolista fica sem cargo a partir de 1º de janeiro de 2023.
MINAS GERAIS — Só em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro se confirmou. Mas bem abaixo dos 21 pontos (55% a 34%) projetados pela Ipec de sábado, Lula ficou na frente das urnas mineiras de domingo por menos de 5 pontos (48,29% a 43,60%).
Se continuar valendo a escrita de que só se elege presidente quem ganha em Minas, este é hoje o único dos três principais estados do Sudeste onde Lula tem vantagem. E onde o bolsonarista até aqui acanhado Romeu Zema (Novo) se reelegeu governador também no primeiro turno, por 56,18% a 35,08% do lulista Alexandre Kalil (PSB)
RIO GRANDE DO SUL — Outros estados brasileiros de grande densidade eleitoral contrariaram as pesquisas, em favor não só de Bolsonaro, como de seus aliados. No Rio Grande do Sul, principal colégio eleitoral da Região Sul, o ex-ministro bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL) superou todos os levantamentos que apontavam o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) como favorito. E agora sai quase 11 pontos à frente (37,50% a 26,81%) dele para disputar o segundo turno ao Palácio Piratini.
BOLSONARISTAS NO SENADO E CÂMARA — Não foi só em aliados a cargos executivos que a expressiva votação do presidente influenciou. Sete ex-ministros do governo Bolsonaro foram eleitos no domingo. Quatro deles ganharam uma cadeira no Senado: Damares Alves (Rep/DF), Marcos Pontes (PL/SP), Tereza Cristina (PP/MS), Rogério Marinho (PL/RN) e o ex-aliado em reaproximação recente Sergio Moro (União/PR). Outros dois conquistaram uma vaga na Câmara Federal: Ricardo Salles (PL-SP) e Eduardo Pazuello (PL), deputado mais votado no estado do Rio.
LULA APÓS A URNA — Depois de concluída a apuração, ainda na noite de ontem, ciente de que precisa virar a eleição no berço do PT de São Paulo, para assegurar sua reeleição em 30 de outubro, Lula foi discursar com Haddad na tradicional Avenida Paulista. E, para atrair os eleitores de centro que não teve no primeiro turno, mas precisa para voltar ao Palácio do Planalto, uma das oradoras destacadas em seu palanque foi… a ex-presidente Dilma Rousseff.
BOLSONARO APÓS A URNA — Bolsonaro falou em Brasília. Atacou a Datafolha, como os votos que teve na urna lhe deram o direito de fazer. Mas acenou com uma compreensão nele incomum ao eleitor pobre que confirmou a liderança de Lula no primeiro turno. Como acenou a Zema, reeleito governador nas Minas Gerais cujo último presidente eleito, sem ganhar lá, foi Getúlio Vargas, em 1950. Logo após a urna, o capitão parecia continuar a tirar a diferença que ainda o separa do petista.