A definição do presidente do Brasil se dará em 30 de outubro, daqui a exatos oito dias. Diante da disputa polarizada entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), para tentar driblar a paixão muitas vezes irracional dos seus eleitores, a opção da Folha da Manhã durante todo este ano eleitoral foi acompanhá-lo, semana a semana, pela objetividade dos números das pesquisas. E, pela primeira vez, duas divulgadas esta semana indicaram a possibilidade real de Bolsonaro superar o favoritismo de Lula ainda apontado por todos os institutos sérios, todos próximos ou já em empate técnico. No qual a abstenção dos eleitores daqui a dois domingos, de acordo com as duas campanhas, definirá o vencedor final.
QUAEST E DATAFOLHA — Ambos divulgadas na quarta (19) e com margem de erro de 2 pontos para mais ou menos, a pesquisa do instituto Quaest Pesquisa e Consultoria, contratada pelo banco Genial, foi feita de domingo (16) à terça, com 2.000 eleitores ouvidos presencialmente; enquanto a pesquisa Datafolha, contratada pela TV Globo e o jornal Folha de S.Paulo, foi feita de segunda (17) à própria quarta, com 2.912 eleitores ouvidos presencialmente. Nos resultados gerais de intenção de voto, em que costumam focar a população e até os veículos de mídias, as duas confirmaram o favoritismo de Lula, mas com sua menor diferença sobre Bolsonaro na série histórica de cada instituto.
VANTAGEM DE LULA A BOLSONARO — Primeiro instituto do Brasil a adotar o filtro do “likely voter”, no qual a certeza no ato de votar conta sobre a intenção de voto, na tentativa de projetar a abstenção que deve definir a eleição, a Quaest de 19 de outubro confirmou a liderança de Lula com 53% dos votos válidos, contra 47% de Bolsonaro. Essa diferença de 6 pontos é a mesma da Quaest de 13 de outubro, revelando tendência de estabilidade nos seis dias seguintes. Por sua vez, a Datafolha de 19 de outubro deu a Lula 52% dos votos válidos, contra 48% de Bolsonaro. Empate técnico no limite da margem de erro, essa diferença de 4 pontos caiu dos 6 pontos (53% a 47%) da Datafolha de 14 de outubro, revelando tendência de redução nos cinco dias seguintes.
OUTRAS PESQUISAS, NÚMEROS PARECIDOS — Comparadas com outras pesquisas sérias divulgadas na semana, de institutos e metodologias diferentes, os resultados são muito parecidos. Instituto que mais acertou no 1º turno, com média de erro desprezível de 1,8 ponto no resultado geral, o MDA na segunda deu Lula com 53% dos votos válidos, contra 47% de Bolsonaro. Na terça, o Ipespe deu Lula com os mesmos 53% dos votos válidos, contra os mesmos 47% de Bolsonaro. Na mesma quarta do Quaest e Datafolha, o PoderData deu Lula com 52% dos votos válidos, contra 48% de Bolsonaro. Na quinta (20), o Ideia deu Lula com os mesmos 52% dos votos válidos, contra os mesmos 48% de Bolsonaro. Em resumo, nos levantamentos MDA e Ipespe deram 6 pontos de vantagem de Lula para Bolsonaro, reduzida a 4 pontos no PoderData e Ideia.
VIRADA IMPROVÁVEL? — “Com esses resultados, não é possível concluir nada por enquanto. Seria preciso esperar as pesquisas da semana que vem para ver se existe uma tendência de queda de Lula e crescimento de Bolsonaro. Se houver, ainda é tão molecular, tão mínima, que nem dá para ser detectada. Se esse movimento molecular existir, nessa velocidade, Bolsonaro passaria Lula daqui a dois meses. Por ora, o que se vê no panorama geral oferecido pelo conjunto das pesquisas é um quadro de intenções de voto estagnado nos mesmos termos do 1º turno. Lula pode perder? Pode. A derrota hoje é possível, mas improvável”, analisou as pesquisas da semana o cientista político Christian Lynch, professor da Uerj e referência brasileira na sua área, apesar do nome inglês.
ONDE É MAIS PROVÁVEL — Mas se, a partir dos resultados gerais, a análise parece estar correta, quais dados específicos das pesquisas Quaest e Datafolha de quarta poderiam indicar possibilidade de Bolsonaro virar a expectativa de vitória de Lula em 30 de outubro? Em primeiro lugar, o índice que define qualquer eleição de 2º turno do mundo: a rejeição.
EMPATE TÉCNICO NA REJEIÇÃO — Comparadas as Quaest de 13 e 19 de outubro, Bolsonaro reduziu 4 pontos em apenas seis dias: de 50% a 46%. No mesmo período, Lula oscilou 1 pontos para cima: de 42% a 43%. Hoje a diferença entre os brasileiros que não votariam de maneira nenhuma em um ou no outro, é de apenas 3 pontos: Bolsonaro 46% x 43% Lula. Comparadas as Datafolha de 14 e 19 de outubro, Bolsonaro oscilou 1 ponto para baixo: de 51% a 50%. No mesmo período de cinco dias, Lula manteve 46%. Hoje a diferença entre os brasileiros que não votariam de maneira nenhuma em um ou no outro, é de apenas 4 pontos: Bolsonaro 50% x 46% Lula.
QUALQUER RESULTADO É POSSÍVEL — O fato é que, no limite da margem de erro, Lula e Bolsonaro estão tecnicamente empatados na rejeição das duas pesquisas. E, com a mesma rejeição, qualquer resultado final na urna de 30 de outubro passa a ser aritmeticamente possível.
CENÁRIO ABERTO — “Os números divulgados pela Quaest de quarta, antepenúltima pesquisa do instituto, acedem o sinal de alerta para a campanha lulista e depositam esperança nos corações bolsonaristas. Hoje a apenas oito dias para o segundo turno, Bolsonaro conseguiu reduzir a rejeição para dentro da margem de erro de 2 pontos para mais ou menos, passando a empatar tecnicamente com Lula. Agora a desvantagem da rejeição é apenas numérica, de 3 pontos: 43% a 46%, ainda em favor de Lula. Com a rejeição reduzida a 4 pontos na Datafolha e também empatada tecnicamente dentro da margem de erro, 50% dos eleitores não votariam de jeito nenhum no atual presidente, contra 46% que não votariam no ex-presidente. O cenário eleitoral vai se tornando cada vez mais aberto e indefinido”, concluiu o geógrafo William Passos, com doutorado em Estatística no IBGE.
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO — Não medido na última pesquisa Quaest, há ainda outro recorte da Datafolha extremamente preocupante para Lula. Aumentado desde agosto com os R$ 41,25 bilhões da PEC Kamikaze, o novo Auxílio Brasil de R$ 600,00 vinha demonstrando a resiliência do brasileiro pobre, que sempre foi e se mantinha o eleitor majoritário de Lula. Mas, no último dia 11, o governo Bolsonaro passou a liberar também o empréstimo consignado a quem recebe o benefício federal, pago na Caixa Econômica Federal e outras 11 instituições financeiras. A que muitas famílias recorreram, aprofundando seu endividamento.
BOLSONARO CRESCE 7 PONTOS LULA CAI 7 PONTOS — O resultado imediato ao empréstimo consignado? Entre as Datafolha de 14 e 19 de novembro, Bolsonaro cresceu 7 pontos, de 35% a 42% nas intenções dos votos válidos dos eleitores que recebem o Auxílio Brasil. Junto ao mesmo eleitor, Lula perdeu os mesmos 7 pontos nas intenções de votos válidos, de 65% a 58%, no mesmo período de apenas cinco dias.
TCU RECOMENDA, MAS NÃO CORTA — O Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou ontem, em parecer técnico, que o empréstimo consignado do Auxílio Brasil seja suspenso. A recomendação se deve ao uso do consignado do benefício para “interferir politicamente nas eleições presidenciais”. Mas, a oito dias da urna, ainda não foi suspenso. E, enquanto estiver sendo pago e endividando brasileiros pobres, sangrará Lula em seu eleitor majoritário e que vinha sendo o mais fiel.