Croácia de Modric elimina o Brasil e escrita vai a 24 anos

 

Após desperdiçar o primeiro pênalti do Brasil, o jovem Rodrygo é consolado na derrota pelo vencedor Modric, seu companheiro do Real Madrid e craque da Croácia (Foto: Maja Hitij/FIFA/Getty Images)

 

O sonho do hexa acabou em 2022 nas quartas de final da Copa do Mundo do Qatar, no primeiro confronto eliminatório do Brasil contra uma seleção europeia. Foi exatamente o mesmo destino que o futebol brasileiro cumpriu diante da França de Zidane em 2006, da Holanda de Sneijder em 2010, da Alemanha de Schweinsteiger em 2014 e da Bélgica de De Bruyne em 2018. Ontem (9), na disputa de pênaltis (2 a 4) após o 0 a 0 no tempo normal e de 1 a 1 na prorrogação, foi outra vez a mesma coisa diante da Croácia de Modric. Que agora disputa a semifinal às 16h desta terça (13), contra a Argentina do gênio Messi. Esta, também classificada ontem nos pênaltis, após o empate de 2 a 2 de um jogo épico contra a Holanda.

SURPRESA? — Desde a noite da véspera do jogo, a matéria do Folha1 adiantava o que seria a principal alternativa do favorito Brasil e da Croácia para tentarem vencer o jogo de abertura das quartas de final no Qatar. “Se o ritmo do jogo for veloz, com seus dois jovens atacantes abertos pelas extremas e sua maior intensidade de jogo, o Brasil tende a confirmar seu favoritismo. Se o ritmo for mais cadenciado, imposto pelo técnico e experiente meio de campo da Croácia, a atual vice-campeã mundial aumenta suas chances de surpreender”.

SEM SUPRESA — Sem nenhuma surpresa, os croatas repetiram exatamente o que fizeram em 2018 para chegar à final daquela Copa, após levarem à prorrogação todos os jogos eliminatórios. Como voltaram a fazer nas oitavas de 2022, contra o Japão, na última segunda (5). E novamente ontem, quando impuseram seu ritmo cadenciado de toque de bola. Com ele, equilibraram taticamente a velocidade e o potencial ofensivo superior do Brasil, para superá-lo na disputa de pênaltis. Onde demonstraram maior frieza e capacidade de decisão. Diante de jogadores brasileiros que sentiram o baque, após cederem o empate a 4 minutos do fim da prorrogação.

MODRIC, QUALIDADES E LIMITAÇÕES CROATAS —  A Croácia tem um time de grande qualidade na defesa e meio de campo. Onde Modric, mesmo aos 37 anos, brilhou ontem com sua inteligência e passes precisos durante o tempo normal e a prorrogação, achando espaços aparentemente inexistentes em todos os lugares do campo. Mas os croatas também têm um ataque fraco. Ciente das suas qualidades e limitações, eles fizeram a única coisa que poderiam fazer para conquistar a vaga à semifinal da Copa do Mundo do Qatar. Que roubaram do sonho sul-americano por um inédito Brasil e Argentina.

PRIMEIRO TEMPO — Apesar das limitações do seu ataque, a primeira chance de gol foi da Croácia. Um dos destaques individuais do jogo, apoiando o ataque, mesmo tendo que marcar Vini Jr, o lateral-direito Juranovic avançou pelo campo brasileiro aos 12 minutos do primeiro tempo e abriu na ponta a Pasalic, atacante que entrou para jogar mais recuado e ganhar o meio de campo. Ele cruzou e a bola passou diante do atacante Perisic, dentro da área, que não a alcançou.

Aos 19 minutos, Vini Jr. fez a primeira jogada ofensiva com base nas tabelas rápidas que caracterizaram os melhores momentos do Brasil no Qatar. Lançado por Neymar pela esquerda, o jovem atacante driblou duas vezes o mesmo marcador para triangular com Richarlison na área, de quem recebeu de volta, mas concluiu em cima de um zagueiro croata. O primeiro tempo ficaria basicamente nisso.

SEGUNDO TEMPO — No segundo tempo, logo ao 1º minuto, Lucas Paquetá retomou uma bola que abriu na direita Raphinha. Ele avançou passou a Éder Militão, zagueiro adaptado de lateral-direito, que entrou pela área em um dos seus raros apoios ao ataque, e cruzou a bola rasteira. O bom zagueiro Gvardiol tirou antes que Richarlison arrematasse.

PAREDÃO LIVAKOVIC — Aos 9 minutos, uma bola dividida sobrou para Richarlison. Mesmo marcado, ele dominou e girou sobre dois adversários, para achar Neymar desmarcado em penetração pela esquerda da área, que bateu de perna esquerda para a boa defesa com os pés do goleiro Livakovic. Foi a primeira com algum grau de dificuldade que ele faria.

Aos 20 minutos, após entrar no lugar de Vini Jr, Rodrygo serviu da quina esquerda da área a Paquetá. Que, após um bate e rebate da zaga, pegou a sobra e bateu da entrada da pequena área para outra providencial defesa do goleiro croata, dessa vez com as mãos. Aos 34 minutos, após tabela rápida entre Rodrygo e Richarlison, este serviu a Neymar, que chutou em nova penetração na esquerda da área, para outra boa defesa com os pés em saída de Livakovic.

PRORROGAÇÃO E GOL DO BRASIL — Com o 0 a 0, veio a prorrogação, pela qual a Croácia jogava sem nenhum constrangimento, mesmo vinda de outra com o Japão. Aos 15 minutos, já nos descontos do primeiro tempo, Neymar avançou pelo centro do campo croata, tocou para Rodrygo e recebeu na frente, tocou a Paquetá e voltou a receber em progressão pela área, driblou um marcador, o goleiro e bateu para finalmente abrir o placar. E se igualar a Pelé com 77 gols marcados pela Seleção Brasileira.

GOL DA CROÁCIA — O jogo parecia resolvido. Mas esqueceram de combinar com a Croácia. A quatro minutos do fim, Modric driblou Casemiro e iniciou o contra-ataque rápido. Tocou a Vlasic, que avançou ao campo brasileiro e lançou Orsic na ponta esquerda. De onde cruzou para Petkovic — o croata, não o craque sérvio que marcou o futebol brasileiro — empatar o jogo de perna direita, quase da marca do pênalti, numa bola desviada no joelho do zagueiro Marquinhos.

 

 

ÚLTIMA CHANCE E DISPUTA DE PÊNALTIS — Segundos antes do apito final do jogo corrido, após cobrança de falta de Neymar pela direita, o goleiro Livakovic fez outra defesa salvadora, espalmando o chute de canhota de Casemiro, que aproveitou dentro da área uma bola rebatida. Veio a disputa de pênaltis, com Livakovic catando a primeira cobrança de Rodrygo e com Marquinhos carimbando a trave na quarta e última. Como Vlasic, Majer, Modric e Orsic converteram todos os seus, pouco importou que Casemiro e Pedro também o tenham feito. O caixão brasileiro foi fechado em 2 a 4.

A LIÇÃO — Comparada com a França de Zidane em 2006, com a Holanda de Sneijder em 2010, a Alemanha de Schweinsteiger em 2014 e a Bélgica de De Bruyne em 2018, a Croácia de Modric é o time, em tese, menos temível. E ainda assim cumpriu a sina de todas essas seleções da Europa: mandar mais cedo para casa o único pentacampeão mundial de futebol. Desde que conquistou este título, na vitória de 2 a 0 sobre a Alemanha em 2002, a Seleção Brasileira não vence uma europeia em jogo eliminatório de Copa do Mundo. E quem não o faz, não pode voltar a ser campeão. Até a próxima chance em 2026, essa incômoda escrita vai a 24 anos. Que, pelo menos lá, sirva de lição a quem a ignorou ontem e nos 20 anos anteriores.

 

Página 12 da edição de hoje da Folha da Manhã

 

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