Contas de Rosinha e pesquisa GPP
A semana foi boa ao prefeito Wladimir Garotinho (sem partido). Com o apoio do presidente da Alerj, deputado Rodrigo Bacellar (PL), e do governador Cláudio Castro (PL), ele conseguiu os 17 votos que precisava para aprovar na Câmara Municipal as contas de 2016 da sua mãe, a ex-prefeita Rosinha Garotinho (União), na sessão da última quarta (15). No mesmo dia, ficou pronta a pesquisa do Instituto GPP, feita em Campos entre os dias 10 e 12. Que registrou a aprovação da maioria dos munícipes ao governo e uma folgada liderança de intenções de voto na provável tentativa de reeleição em 2024, com possibilidade de definição em turno único.
Bode na sala
Para aprovar as contas de Rosinha, como o parecer do Tribunal de Contas do Estado (TCE) tinha sido pela reprovação, Wladimir precisava de 2/3 da Câmara. Ou 17 vereadores, quatro a mais do que a maioria mínima de 13 que hoje tem o governo. Com a reprovação das contas na Legislatura passada, mas anulada no primeiro biênio da atual, recolocá-la na pauta é uma prerrogativa do presidente da Casa, Marquinho Bacellar (SD). Que o fez para pôr o bode na sala, depois que a negociação da pacificação entre Wladimir e Rodrigo, com endosso de Castro, empacou na negociação de espaços para a oposição no governo municipal.
Impasse
Como tinha a maioria que o elegeu presidente, Marquinho queria dar ao seu grupo o direito de escolha dos vereadores que ocupariam os espaços. Enquanto o grupo dos Garotinho não aceitava que fossem aquinhoados no governo vereadores como Maicon Cruz (sem partido), que traiu a situação e definiu a vitória da oposição na eleição da Mesa Diretora; ou de Anderson de Matos (Republicanos), por seus ataques mais fortes na tribuna. Nem que Raphael Thuin (PTB) saísse da cadeira de vereador, por exemplo, para dar vaga ao suplente Cláudio Andrade (PTB), que se marcou na vereança passada pelos ataques a Rosinha.
Jogo invertido e aposta dobrada
O impasse piorou quando os vereadores Nildo Cardoso (União) e Abdu Neme (Avante), insatisfeitos com o espaço na oposição após ajudarem a eleger Marquinho presidente, negociaram em separado com o governo. A quem deram a maioria mínima de 13 a 12, invertendo o jogo. Nildo ainda confirmou da tribuna que a oposição negociava espaços no governo. Marquinho usou as contas de Rosinha para dobrar sua aposta. Que perdeu, com o apoio de Rodrigo a Wladimir. E os votos pela aprovação de quatro edis da oposição: Helinho Nahim (Adir), Bruno Vianna (PSD), Luciano Rio Lu (PDT) e Marquinho do Transporte (PDT).
Ironia do destino
Ao cobrar a aprovação das contas de Rosinha, logo no início de 2021 e do governo Wladimir, em reunião com os vereadores governistas de uma base então mais ampla, o ex-governador Anthony Garotinho (União) começou a gerar descontentamentos. Que redundaram, com outros erros políticos do governo, na vitória da oposição na eleição da nova Mesa Diretora da Câmara. E, numa ironia do destino, foram novamente as contas de Rosinha, agora aprovadas, que fizeram Marquinho atender involuntariamente o desejo de Garotinho. Sem combinar, mas na base do mesmo é tudo ou nada, a aposta perdida por um cobriu a aposta perdida do outro.
A lição do contexto
Um dos maiores erros do ex-prefeito Rafael Diniz (Cidadania) e seus principais assessores foi supor que a vitória em turno único de 2016 foi deles, não de um contexto. E, do antigarotismo que souberam surfar, ajudaram a eleger Wladimir Garotinho em 2020. O jornalista e escritor Elio Gaspari relatou que o general Golbery do Couto e Silva disse a um interlocutor, em 1979, ao ver o colega João Batista Figueiredo subir a rampa do Palácio do Planalto todo pimpão para tomar posse como nosso último general/presidente: “Olha lá, está achando que é ele. Esqueceu que é só fruto de um contexto”. Do Planalto à planície, a lição é valiosa. E presente.
Pesquisa GPP (I)
No contexto presente, a pesquisa GPP sobre avaliação de governo de Campos e intenções de voto para 2024 confirmou o que esta coluna adiantou desde 1º de março: se a eleição fosse hoje, Wladimir seria favorito a se reeleger. Só que é daqui a pouco mais de 18 meses. Nos quais vale a advertência do falecido conservador Marco Maciel, que foi governador biônico (nomeado) da ditadura militar em Pernambuco, antes de se eleger democraticamente duas vezes vice-presidente aos governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB), entre 1995 e 2002: “Tudo pode acontecer, inclusive nada”. Entre tudo e nada, a paz entre Rodrigo e Wladimir.
Pesquisa GPP (II)
“Wladimir apareceu com 38,6% das intenções de voto na consulta espontânea, subindo a 50,4% na estimulada. Que evidencia Caio, adversário de Wladimir no segundo turno de 2020, como a segunda maior força eleitoral do município, com a preferência de 18,1% do eleitorado. Marquinho Bacellar (5,8%), Thiago Rangel (2,9%), um possível candidato do PT (2,6%) e Carlos Victor Carvalho (CVC), o líder do Movimento Direita Campos (2,3%) aparecem tecnicamente empatados dentro da margem de erro de 4 pontos para mais ou para menos”, resumiu a ópera William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística no IBGE.
Publicado hoje na Folha da Manhã.