Um dia após o outro. Sem nenhuma garantia como se acordará no próximo. Assim se dá com todos que vivem o luto por quem amam. Como não há amor maior que o de mãe e pai pelos filhos, a perda física destes, sobretudo precoce, é a dor humana mais lancinante. Estocada à medula, além desse amor sem medida, pela incompreensão e impotência. Diante da inversão da ordem natural da vida. Desse parir para dentro o vazio.
Desde que meu filho único, o jornalista Ícaro Barbosa, morreu na noite do último dia 13, com apenas 23 anos, muitos têm sido os relatos sobre ele. Alguns, de pessoas que eu sequer conhecia. Vários ressaltaram características que nele já sabia presentes. Mas que, confirmadas fora do juízo sempre passional da família, reforçam o homem e profissional que meu filho se tornou ao juízo da taba goitacá. À qual, além de mera promessa, Ícaro já era entrega.
Na tentativa de seguir seus passos e encurtar a distância que sua morte impôs, estive no último sábado (27) no Bicho André, na rua Lacerda Sobrinho. Era o bar que ele passou a frequentar desde que foi morar sozinho, próximo dali. Cujo proprietário, o André Pinto, colocou uma foto de Ícaro na parede do estabelecimento. Entre duas placas que meu filho lhe trouxe de Amsterdã, quando a conhecemos juntos em janeiro deste ano agora tão triste.
Ícaro fez no bar uma penca de amigos, todos mais velhos. Aos quais se nivelava em seus elevados conhecimentos em música, cinema, literatura e história. Foram muitas as histórias contadas em sua memória. Tão querida a todos quanto a mim. Um desses companheiros de bar, o Rafael Khenaifes, também jornalista, me disse algo. Talvez sem perceber ter sido a melhor definição à única opção que resta a um órfão do filho: “luto é luta!”
Lutar em uma realidade física sem Ícaro é inglório. À sua mãe, a jornalista Dora Paula Paes, e a mim, beira por vezes à impossibilidade. Mas, mesmo a quem sente orgulho de tê-lo por filho, é menos difícil a partir das manifestações de afeto e gratidão à vida desse homem tão jovem. Que, em seu voo alto e breve em busca do sol, brilhou na vida de tantos. Seguem alguns desses testemunhos de luz:
“Conheci o Ícaro em um dos piores momentos da minha vida. Minha filha tinha um problema grave no coração e precisávamos de ajuda. O Ícaro abriu as portas do Folha1 e publicou a nossa história. Nunca esquecerei esse gesto! Ele estará sempre em minhas orações e pensamentos.”
(Keilla Cabral, comerciante e leitora do Folha1)
“Ícaro era um fantástico rapaz, alguém que cada vez mais já considerava um amigo pessoal. Muito pela admiração ante às suas diversas qualidades. Não imagino a dor que os pais dele estão sentindo. Se veem amputados da presença do grande e infinito amor, melhor amigo, feito às suas imagens e semelhanças. Peço a Deus que conforte, na medida do possível, e que receba o grande Ícaro em seus braços nessa nova etapa de sua existência. Chegará um dia em que todos estarão juntos novamente. Tendo entendido muito sobre este plano, Ícaro nos deixou para seguir sua jornada infinita.”
(Pedro Emílio Braga, delegado de Polícia Civil)
“Enquanto digito esta mensagem, as palavras parecem fugir da minha cabeça e não sei o que dizer. Falar de Ícaro seria tão fácil, mas pareceria estranho, porque não teria como resguardar minha fala de palavras alegres. As lembranças que tenho dele são todas felizes. Como não seriam? Um ‘menino‘ que vi correr tímido pela redação, que vi crescer gentil e educadamente, um colega de redação sorridente, cheio de presteza, de ideias, de inteligência, de opinião; um amigo que, quando me encontrava, em qualquer lugar, sempre achava tempo de parar para conversar um pouco, contar da vida, lembrar de umas passagens e experiências vividas na Folha, um jornalista que me mandava mensagens, até há bem pouco tempo, pedindo informações e respostas a demandas, um homem que eu chamava de ‘menino’, tratando-o como tratava meus filhos. O sentimento que me vem, ao pensar Ícaro, é de alegria, leveza, boa conversa, respeito… A tristeza, ao pensar em Ícaro, é por saber que tudo agora é lembrança e saudade. A agonia que senti ao saber dessa perda me deixou trêmula por dias, sem palavras ou coragem de expressar meus pêsames, como ainda estou agora ao escrever, tentando, sem êxito, expressar meu sentimento. Pode parecer bobagem, mas eu queria é não estar escrevendo. Não há nada que eu possa falar sobre sua dor, Aluysio, sobre a dor de Dora, porque a dor é sua e a dor é dela. Pode parecer fraqueza, mas eu gostaria de abraçar vocês e chorar com vocês para amenizar a minha dor. Ícaro voou. A nós restou a gravidade.”
(Verônica Nascimento, jornalista)
“Ícaro era uma pessoa transparente e autêntica, suas qualidades eram facilmente perceptíveis. Gostaria de compartilhar meus últimos momentos com ele e algumas percepções. Na sexta-feira (12), estávamos juntos, bebemos alguns litrões e doses de uísque barato no Bicho André. Nos divertimos muito, Ícaro estava feliz com a viagem que vocês fizeram no início do ano, Aluysio, e com muitos planos. Ele te amava e admirava muito, você era uma inspiração clara para ele. Ele falava muito sobre Hemingway e Thompson, mas com certeza o seu maior ídolo e espelho era o próprio pai. Desde que voltei a morar em Campos em 2019, Ícaro e eu nos tornamos amigos, e ele sempre me disse que você prometia uma viagem a Canudos. Ele mencionava isso sempre que podia. No sábado anterior (6), no Rock Goitacá, e também na sexta-feira ele disse mais uma vez que seria a próxima viagem.”
(Bruno Hott, servidor municipal de Campos)
Publicado hoje (3) na Folha da Manhã.
Aluysio, suas palavras e sua dor são pungentes. Estar próximo de tudo o que Ícaro amava é uma forma de tê-lo de volta. Meu forte abraço, Aluysio.
Conheci o Ícaro em 2016, quando conversávamos animadamente sobre temas diversificados e pude na ocasião perceber a extensão de seus interesses e do viés que o encaminharia para o jornalismo.
Chequemos,pois com confiança ao trono dá graça. para que possamos alcançar misericórdia e achar graça afim de sermos. em tempos oportuno “.que Ícaro descanse em paz no colo do senhor Jesus Cristo, que Deus te de sabedoria em seus atos e decisões seja forte!não como onda que tudo destrói mas como uma rocha que tudo suporta..nosso Senhor Jesus preciso de Ícaro junto dele..Deus abençoe e conforte o coração dos familiares e amigos..com toda certeza ele está fazendo muita falta aqui na terra +o céu está em festa. seja forte Deus é contigo!
O amor de um pai/ mãe, vai além da eternidade, das profundezas de uma alma quem assim verdadeiramente colocou um filho no mundo. Inimaginável para um ser humano viver a dor do outro, que dirá, mensura-la. Chorei por Ícaro. Chorei por vc, Aluysio, chorei por minha Diva, chorei por Dora. Tudo foge a qualquer entendimento . Meu pesar, meu bem querer…