Judeus e Hitler no improviso de Lula levam Brasil ao conflito

 

Lula, em Adis Abeba, capital da Etiópia, no último domingo

 

 

Erro capital de Lula

Numa coletiva na Etiópia, Lula (PT) cometeu no domingo (18) um erro capital. Quando disse: “O que está ocorrendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”. Em resposta aos crimes de guerra no ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro, Israel comete crimes de guerra contra palestinos há quatro meses. Entre os 1,2 mil israelenses e os 30 mil palestinos mortos até ontem (20), os números dão a desproporção. Que se agiganta diante dos 6 milhões de judeus exterminados pela Alemanha nazista de Adolf Hitler na 2ª Guerra (1939/1945).

 

Sem paralelo na História

Mas a questão não é apenas de números. Na Europa conquistada por Hitler durante a 2ª Guerra, os judeus perderam cidadania, empregos, bens, humanidade. Foram usados como mão-de-obra escrava, confinados em guetos, submetidos à fome, transferidos para campos de concentração e de extermínio. Nestes, foram mortos coletivamente com gás e tiveram seus corpos queimados em fornos. Houve outros genocídios na História, mas nenhum praticado nessa mesma escala industrial. Toda família de judeus, em Israel e no mundo, perdeu parentes próximos no Holocausto. A cada uma delas, as palavras de Lula foram ofensas pessoais.

 

Lula tira Netanyahu das cordas

Se seu objetivo era posar de grande estadista do Hemisfério Sul, Lula deu um tiro no pé. Que resvalou na tradição diplomática de equilíbrio do Brasil. Desde o início de 2023, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enfrentava uma onda protestos contra sua tentativa de controlar o Judiciário, onde enfrenta acusações de corrupção. Com o ataque terrorista, passou a ser também questionado pelo fracasso dos serviços de proteção e inteligência do país. Como vinha sendo pressionado por EUA e União Europeia a frear as ações militares de Israel. Ao compará-las com o Holocausto de judeus por Hitler, Lula tirou Netanyahu das cordas.

 

Persona non grata

Político controverso, mas astuto, Netanyahu pegou a deixa da verborragia de Lula. Ainda no domingo, disse: “Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha”. Na segunda (19), o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, quebrou o protocolo ao convocar o embaixador brasileiro Frederico Meyer a uma reprimenda pública no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Na sequência, declarou o presidente do Brasil persona non grata em Israel. A partir daí qualquer possível pedido de desculpa de Lula foi suspenso por orientação do seu assessor especial e guru geopolítico, Celso Amorim.

 

Crise diplomática

Também na segunda (19), Lula chamou de volta ao Brasil o embaixador Meyer. E seu ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, convocou o embaixador israelense Daniel Zonshine a uma reunião. Ontem, o chanceler de Israel voltou a subir o tom: “Presidente Lula, milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas. Como ousa comparar Israel a Hitler? Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros. Ainda não é tarde para aprender História e pedir desculpas. Até então, continuará sendo persona non grata em Israel!”, disse Katz.

 

Ação e reação

De chanceler a chanceler, Mauro Vieira reagiu ao de Israel. E disse na noite de ontem, na saída do encontro do G20, no Rio, que o Brasil sedia: “As manifestações do titular da chancelaria do governo Benjamin Netanyahu, de ontem e de hoje, são inaceitáveis na forma, e mentirosas no conteúdo. Uma Chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante. Uma chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave. É uma vergonhosa página da história da diplomacia de Israel, com recurso a linguagem chula e irresponsável”.

 

Colômbia, EUA e Brasília

Também ontem, Lula recebeu a “solidariedade integral” do presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Já o Departamento de Estado dos EUA, por meio de porta-voz, descartou genocídio em Gaza e disse: “Não concordamos com esses comentários” (de Lula). No Brasil, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), falou da tribuna: “Ainda que a reação do governo de Israel venha a ser considerada indiscriminada e desproporcional, não há comparativo com a perseguição do povo judeu no nazismo. Entendemos que uma retratação dessa fala seria adequada. É fundamental que haja uma retratação, com um pedido de desculpas”.

 

Brasil entre o ontem e o amanhã

Não é a primeira vez que Lula causa problema por falar de improviso. Neste terceiro mandato, falha em suas principais virtudes nos dois primeiros governos: inteligência e pragmatismo políticos. Pode criticar crimes de guerra de Israel na Faixa Gaza, que na última quinta (15) foram qualificados de “carnificina” pelo Vaticano. Mas não pode comparar judeus a Hitler. Ao fazê-lo, tirou não só Netanyahu das cordas. Ergueu também os bolsonaristas, ainda tontos do golpe das operações da Polícia Federal (PF) em 8 de fevereiro. E que amanhã (22) verão o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depor na PF sobre a tentativa de golpe de estado no Brasil.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

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