Reinício e fim no Multiverso
Por Felipe Fernandes
Criado em 1991 pelo controverso Rob Liefeld, Deadpool surgiu como um vilão, que era uma paródia do vilão Exterminador da DC Comics. Somente em 1998 ele começou a ganhar algum destaque e suas principais características, como seu humor ácido, referências satíricas à cultura pop e a quebra da quarta parede.
Ganhou sua primeira versão cinematográfica no tenebroso “X-men Origens: Wolverin”. E e em 2016 ganhou um filme solo, que trouxe de fato o personagem dos quadrinhos para as telas, se tornando um grande sucesso, em um projeto arriscado que só saiu do papel devido ao empenho do ator Ryan Reynolds.
Passados 8 anos, o mercenário tagarela chega ao seu terceiro filme solo, em um longa que introduz o personagem ao Universo Cinematográfico da Marvel e faz uso do multiverso para construir uma narrativa que homenageia os filmes de super-heróis da Fox (hoje parte do conglomerado Disney) e traz de volta o ator Hugh Jackman revivendo Wolverine, um dos personagens mais queridos dos fãs de quadrinhos.
Em uma recente entrevista o diretor James Mangold (“Wolverine” e “Logan”), relatou que o multiverso é a morte da narrativa. Não dá pra tirar sua razão, é uma ferramenta que permite muita originalidade, mas que ao mesmo tempo pode retirar o peso dramático de qualquer acontecimento.
Um dos elementos característicos das histórias do Deadpool é o alto grau de violência, um perfil que não combina muito com a Disney. Porém, o novo longa do personagem teve liberdade criativa para manter o nível de violência gráfica e verbal, que convenhamos, é intrínseco aos dois personagens.
O longa faz uso do multiverso para trazer Wolverine de volta, de uma forma que não desonra o legado deixado pelo personagem na franquia X-men e, principalmente, em seu último filme solo. Basicamente, é uma desculpa para trazer o mesmo personagem de volta, sem na teoria ser o mesmo personagem. O tipo de bagunça muito recorrente nos quadrinhos, que a Marvel resolveu levar para os cinemas.
O filme trabalha uma história meio absurda, com um conceito interessante de uma espécie de limbo para personagens, funcionando como uma grande homenagem aos filmes de super-heróis da Fox. Que, no final dos anos 90, foi quem deu pontapé para essa febre que se tornaram os filmes de super-heróis.
Com um ritmo intenso, muitas piadas (algumas delas com críticas à própria Marvel) e violência, o filme é repleto de participações especiais, que vão fazer a alegria dos fãs. É um longa que existe em função do fan service e de suas piadas, tendo uma história costurada em torno disso. É sem dúvidas uma experiência divertida, mas muito dependente desse efeito surpresa.
É prazeroso rever Hugh Jackman como Wolverine, em uma versão amargurada do personagem, criando um contraste com Deadpool, um personagem que não leva nada a sério. O filme cria essa improvável dupla de personagens, buscando uma mistura de humor com doses de drama, que nem sempre funciona.
Reynolds e Jackman são atores que estão extremamente confortáveis em seus personagens — difícil imaginar outros atores interpretando qualquer um dos dois. E a amizade entre eles transborda às telas, construindo uma parceria de personagens em busca de redenção e propósito, que funcionam como motivações básicas.
Um dos grandes sucessos do ano, “Deadpool e Wolverine” é uma grande homenagem aos filmes da Fox, que funciona como fusão desses dois universos. É uma aventura descompromissada, repleta de surpresas e com dois personagens muito queridos. Se propõe a ser um bom entretenimento e entrega o que promete.
Publicado hoje na Folha da Manhã.
Confira o trailer do filme: