Wladimir entre pesquisas e debate
Ontem, em vídeo nas redes sociais, Wladimir Garotinho (PP) disse (confira aqui) que não deve ir ao tradicional debate da InterTV Planície, afiliada à Rede Globo, com outros quatro candidatos a prefeito de Campos. Que será transmitido ao vivo às 22h da quinta de 3 de outubro, três dias antes das urnas do domingo (6). A decisão não se deu pelos motivos alegados. Não foi por “circo” da emissora, por suposta influência da Alerj, nem a defesa da participação dos dois candidatos de partidos sem representação no Congresso. O motivo real é que Wladimir lidera todas as pesquisas (confira aqui e aqui) à reeleição. Com a possibilidade de fechar a fatura em turno único.
O que a perder e a ganhar?
Todo líder isolado nas pesquisas, como Wladimir, tem que tomar uma decisão tática sobre os debates: o que tem a perder e a ganhar? Se fosse ao debate com Delegada Madeleine (União), Professor Jefferson (PT), Thuin (PRD) e Fabrício Lírio (Rede), iria apanhar tanto quanto se dele também participassem Dr. Buchaul (Novo) e Pastor Fernando (PRTB). Com outros adversários, foi pelo mesmo motivo que os líderes nas pesquisas Fernando Collor de Mello (hoje, PRD), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT) não participaram dos debates no 1º turno presidencial, respectivamente, de 1989, 1998 e 2006. Os três ganharam aquelas eleições.
Debates do 1º e do 2º turno
Apenas um desses três presidentes da República se elegeu, no entanto, em turno único: FHC na reeleição sem debates de 1998, como já tinha feito em 1994. Em 1989 e 2006, Collor e Lula só tiveram que ir aos debates do 2º turno. Como Wladimir, certamente, irá, no caso de 2º turno em 27 de outubro de 2024. Sua decisão contribuiu para tornar isso mais ou menos possível? Só as próximas pesquisas registradas e, sobretudo, as urnas daqui a apenas 18 dias poderão dizer. O fato é que foi com as mesmas regras de 2024 que Wladimir foi aos debates da InterTV em 2020, nos dois turnos então necessários para se eleger prefeito.
Erro e corpo ausente
Wladimir não errou, necessariamente, ao não ir ao debate. O tempo de Marçais e cadeiradas chegou na disputa à Prefeitura da maior cidade do Brasil para mostrar isso. Mas errou ao tentar transferir a responsabilidade da sua decisão política a um veículo de comunicação social que cumpre seu papel com a democracia, como TV aberta líder em audiência. Tanto quanto o prefeito de Campos lidera até aqui as pesquisas, seja na intenção de voto na casa dos 60%, seja na aprovação ao seu governo na casa dos 70% dos campistas. Apanhar de corpo ausente no debate da InterTV vai alterar isso até a decisão soberana da urna? A ver.
Publicado hoje na Folha da Manhã.