Condenado e “descondenado”
Todos são inocentes até que se prove em contrário. Foi através desse princípio universal de qualquer estado democrático de direito que o então ex-presidente Lula (PT) teve suas condenações por corrupção anuladas no Supremo Tribunal Federal (STF) em março de 2021. Recuperou seus direitos políticos, pôde se candidatar e se eleger pela 3ª vez presidente da República, após derrotar Jair Bolsonaro (PL) no 2º turno de 2022, por apenas 1,8 ponto, menor diferença da história. Aos seus muitos defensores, Lula será sempre o injustiçado que deu a volta por cima. Como, aos seus também muito detratores, será sempre um “descondenado”.
Padre Kelmon
Antes de colar no imaginário do antipetismo, a expressão “descondenado” veio à tona no debate presidencial da TV Globo, em 29 de setembro de 2022, usada pelo candidato Padre Kelmon. Lula chamou seu detrator de “candidato laranja”. No caso, contra o favoritismo do petista em todas as pesquisas de então, Kelmon atuaria numa candidatura auxiliar do bolsonarismo. Movimento que, mesmo derrotado em 2022, sobrevive com força em 2024. Inclusive em Campos, ligado às duas candidaturas que lideram a corrida a prefeito em todas as pesquisas: Wladimir Garotinho (PP) e Delegada Madeleine (União).
Nova pesquisa a prefeito de Campos
A próxima pesquisa registrada a prefeito de Campos, da Real Time Big Data, tem divulgação prevista no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para esta segunda, dia 23. Até lá, valem as duas últimas: do instituto Paraná e do próprio Big Data. Que, divulgadas nos dias 26 e 27, deram a Wladimir os mesmos 63% de intenção de voto na consulta estimulada, com 17,9% a 15% a Madeleine. A vantagem do prefeito advém da aprovação ao seu governo, entre 76,3% e 73%. O Professor Jefferson (PT) variou de 2,7% a 4%, enquanto Thuin (PRD), Fabrício Lírio (Rede), Dr. Buchaul (Novo) e Pastor Fernando (PRTB) variaram, cada um, na casa de 1%.
Líderes a prefeito do bolsonarismo
Até que novos números de pesquisas registradas evidenciem alguma mudança de cenário para além da mera torcida, a verdade é que, até aqui, a exatos 15 dias da urna de 6 de outubro, apenas dois candidatos a prefeito de Campos alcançaram 2 dígitos de intenção de voto. Wladimir, além da aprovação da maioria da população ao seu governo, com o apoio do PL e pessoal do senador Flávio Bolsonaro (PL), filho 01 do capitão. Enquanto Madeleine tem o apoio do candidato a prefeito de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) e da tropa de choque bolsonarista na Alerj: Filippe Poubel (PL), Alan Lopes (PL) e Rodrigo Amorim (União).
Rio/Maricá/Campos
O apoio de Flávio e do PL à sua tentativa de reeleição foi costurado por Wladimir em Brasília, depois que o grupo do presidente da Alerj, deputado Rodrigo Bacellar (União), tentou lançar Poubel, político de Maricá, pré-candidato a prefeito de Campos. Isolado por cima na participação do PL fluminense na eleição goitacá, Bacellar lançou Amorim a prefeito do Rio, onde teve 1% de intenção de voto na pesquisa Datafolha de quinta (19). Que revelou um cenário na capital muito parecido com o das pesquisas de Campos: o prefeito Eduardo Paes (PSD) favorito à reeleição, com 59%; seguido do delegado Alexandre Ramagem (PL), com 17%.
Os votos de Bolsonaro e Lula
Em Campos, Thuin, Buchaul e Fernando tentam herdar intenções do voto conservador campista. Que, a despeito da apertada vitória de Lula no plano nacional em 2022, deu a Bolsonaro 63,14% dos votos válidos no 2º turno presidencial do plaino goitacá. Embora estes 171.999 eleitores campistas já pareçam ter se distribuído em 2024, na maior parte, entre Wladimir e Madeleine. Como parece haver também entre os 100.427 de votos que Lula teve em Campos, no 2º turno de 2022, quem pense em votar nos dois líderes das pesquisas a prefeito. Porque, até aqui, poucos deles manifestaram intenção de votar em Jefferson ou Lírio.
Sem votos de Lula ou Carla
Embora tenha o Rede, pelo qual se lançou mesmo contra parte do aliado Psol, Lírio não é visto como político orgânico de esquerda. Como é o caso de Jefferson, que sempre foi filiado a um único partido: o PT. Inicialmente, sua candidatura mirou nos 36,86% de votos válidos que Lula teve no 2º turno de 2022. Mas, até agora, eles não vieram. Depois, mirou nos 18,7% de intenção de voto que a deputada estadual Carla Machado, então pré-candidata do PT a prefeita de Campos, teve na pesquisa Prefab de 26 de abril. Mas, nas pesquisas Paraná e Big Data do final de agosto, a maioria das intenções de Carla migrou a Wladimir e Madeleine.
Reajuste da mira
Após Lula e Carla, sem grande êxito, Jefferson mirou ontem (20) em Wladimir. Entrou com pedido de impugnação da candidatura à reeleição do prefeito por “abuso de poder político e econômico”. Por conta da prisão na quarta (18) do vereador governista Bruno Pezão (PP), solto ontem, numa investigação de homicídio da Polícia Civil e do Gaeco que apreendeu R$ 660 mil em espécie na sua residência. As suspeitas são graves e a apreensão, impactante. Assim como uma videoconferência que o edil teria feito com um traficante local preso em Bangu, na véspera do homicídio. Tanto quanto não pré-julgar, necessário ir até o fim nas investigações.
Lições de 2018 a 2024
A defesa de Wladimir classificou de “criminosa” a tentativa de ligá-lo às investigações sobre Pezão. Dos dois lados, só a eventual oferta de denúncia do Ministério Público e julgamento dirão. Mas, até aqui, como nas pesquisas eleitorais a prefeito da cidade, não há surpresa. Ser contra o “prefeito dos Bolsonaro” não deveria rimar em aliança mal assumida com quem quebrou a placa da ex-vereadora carioca assassinada Marielle Franco (Psol), como Rodrigo Amorim em 2018. Lá, o desejo de herdar o ministério da Justiça gerou uma condenação. Que, em 2024, não deveria ser forçada para tentar decolar nas pesquisas.
Publicado hoje na Folha da Manhã.