“As redes sociais deram voz à legião de imbecis. O drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”, constatou em 10 de junho de 2015 o filósofo, semiólogo, professor e escritor italiano Umberto Eco.
Em qualquer texto publicado na internet, sobretudo naqueles abertos a comentários em redes sociais, a constatação de Eco se reforça em escala geométrica. A grande maioria dos leitores não ultrapassa a leitura do título. E, mesmo se atendo a ele, se confunde nos comentários. Que evidenciam o dilema dessa gente: não tentou aprender a ler antes de tentar escrever.
Como a maneira mais sábia de reagir a isso talvez seja a ironia, o blog e sua reprodução em redes sociais passarão a eleger, sem periodicidade obrigatória, embora pudesse ser diária, uma reunião dos comentários mais desinteligentes gerados em suas postagens. Para, a partir deles, conferir um prêmio simbólico: o Mamadeira de Alfafa.
Para evitar maior constrangimento, os nomes dos comentaristas serão preservados. Até porque bastam o conteúdo dos comentários e suas contradições óbvias para revelar o “idiota da aldeia” atrás de cada representante da “legião de imbecis” ecoada por Eco.
Durante a semana, para dar multiplicidade de visões sobre megaoperação policial do dia 28 nos complexos de favelas do Alemão e da Penha, na cidade do Rio e com saldo de 121 mortos, o blog chamado Opiniões publicou textos de opinião de convidados.

Concorrente nº 1:
Na quarta (5), o blog publicou (confira aqui) o artigo do sociólogo José Luis Vianna da Cruz, professor da UFF. No Instagram, o link “José Luis Vianna da Cruz — Círculo vicioso no Alemão e na Penha” (confira aqui) teve seu autor devidamente identificado tanto no título quanto ao final do resumo do texto. Ainda assim, um comentarista ignorou e escreveu destinado ao jornalista que apenas editou:
— Caro jornalista. É sua opinião, como tb é a opinião da maioria não só do estado como tb das comunidades ao qual (sic) foi atingida (sic) apoiar a operação.
Como o “idiota da aldeia” sempre fala pela “legião de imbecis” que representa, o comentário teve 17 curtidas. Todas, aparentemente, de pessoas com a mesma incapacidade cognitiva para identificar o autor identificado, em língua portuguesa, no título e no texto que se prestam a comentar.
Concorrente nº 2:
No sábado (8), o blog finalmente trouxe a opinião do jornalista seu titular sobre o assunto. Com base em testemunho e nas pesquisas de opinião (confira aqui, aqui, aqui e aqui) acerca da ação policial do dia 28 contra a facção criminosa Comando Vermelho, o artigo foi intitulado (confira aqui) “Megaoperação e urna — É o trabalhador pobre da periferia, estúpido!” E, no Instagram (confira aqui), gerou o comentário :
— E esses dados das pesquisas dizem respeito aos entrevistados, não à totalidade de cariocas, fluminenses e brasileiros…
Feito por um comentarista de esquerda, mostrou o quanto essa pode ser tão “idiota da aldeia” quanto a direita bolsonarista, no mesmo negacionismo tosco das pesquisas de opinião. Basta, como criança mimada, que a torcida pessoal seja contraposta pela opinião coletiva. No caso, francamente favorável à operação, seja no país, no estado e no município do Rio de Janeiro.
Concorrente nº 3:
No mesmo link do artigo de sábado no Instagram, outro comentarista, notoriamente identificado na cidade como a personificação do tiozão de bolha de WhatsApp, soltou uma da sua coleção de pérolas:
— O governador Cláudio Castro fez um enorme favor a população daquela região tirando de circulação 121 vagabundos da piores (sic) espécie, essa narrativa esquerdista que tenta fazer a população enxergar esse episódio como um crime contra a humanidade, nada mais é do que uma manipulação ridícula, de uma narrativa ridícula também.
No afã de pedir publicamente o extermínio de criminosos, a desinteligência do comentarista foi tanta que acabou colocando também os quatro policiais mortos na operação, contabilizados entre seus 121 óbitos, entre os “vagabundos da piores (sic) espécie”. Para identificar, de fato, o “idiota da aldeia”. E a espécie da “legião de imbecis” que representa.
O Rio de Janeiro chegou a um ponto de insegurança, que não há tempo de minimizar a questão da violência de outra forma, a não ser enfrentando as organizações criminosas do jeito que der pra resolver. Acho até que o governador Cláudio Castro está fazendo essa mudança de postura não só pela população, mas tb pelos efeitos eleitoreiros que essa ação poderá render. Seja lá como for, tá valendo. Como tb não concordo que quem pense diferente seja intitulado” idiota”. Se os policiais não se defendessem à bala, seriam eles as maiores vítimas desse triste episódio. Acho que a maioria das pessoas não deseja matança de ninguém, mas há momentos em que não se tem escolha, é matar ou morrer! E a criminalidade no Rio de Janeiro como em todo país, está levando as autoridades a implementarem uma guerra contra o tráfico; e guerra é guerra! Infelizmente há que se desmontar o governo paralelo do narcotráfico, que diga-se de passagem, é mais organizado e com mais poder de fogo do que as instituições constituídas, que a meu ver, estão mais preocupadas com as famílias dos bandidos mortos do que com as milhares de famílias que perdem seus entes queridos todos dias pela violência urbana! Logo, precisamos parar de romantizar a delinquência como vítimas da sociedade e implementarmos programas sociais que os ensinem a pescar e não só darem o peixe, como também investir na educação de base, pagando melhor aos professores, mudando a base do ensino, pois só assim é que se transforma um país. Enquanto houver essa estrutura oportunista é populista de política, seja de direita ou de esquerda, nunca seremos uma nação de fato.
Cara Luiza,
Peço que releia o texto da postagem. Não se trata de rotular de “idiota” quem pensa diferente, o que é fundamental ao jornalismo e à democracia. Tanto que o blog, como de hábito, trouxe opiniões de terceiros com visões tão opostas quanto complementares sobre o mesmo assunto: a megaoperação do dia 28 no Rio. Assim como o resumo de três pesquisas sobre o fato, revelando a opinião coletiva do país, do estado e do município do Rio sobre o mesmo caso.
Na dúvida, confira as opiniões individuais diversas aqui:
https://opinioes.folha1.com.br/2025/11/02/johnatan-franca-de-assis-chacina-sob-aplausos/
https://opinioes.folha1.com.br/2025/11/04/igor-franco-a-guerra-que-fingimos-nao-ver/
https://opinioes.folha1.com.br/2025/11/05/jose-luis-vianna-da-cruz-circulo-vicioso-no-alemao-e-penha/
Na dúvida, confira a opinião coletiva aqui:
https://opinioes.folha1.com.br/2025/11/01/voz-da-favela-mais-de-8-entre-cada-10-apoia-operacao-do-rio/
https://opinioes.folha1.com.br/2025/11/05/lula-chama-de-matanca-acao-policial-aprovada-pela-populacao/
https://opinioes.folha1.com.br/2025/11/05/operacao-no-rio-foi-desastrosa-a-lula-e-sucesso-a-maioria/
https://opinioes.folha1.com.br/2025/11/05/lula-quer-investigar-mortes-e-populacao-quer-mais-operacoes/
Isso posto e reposto, o objetivo é usar a definição do “idiota da aldeia” de Umberto Eco a quem ela, de fato, se destina: gente que precisa tentar aprender a ler antes de tentar escrever, com incapacidade cognitiva de identificar um autor identificado, em língua portuguesa, no título e texto que comenta. E/ou pensa poder travestir como comentário qualquer estultice que lhe venha à mente, sem nenhuma base lógica, bom senso ou consequência. Nos dois casos, a pedagogia de Eco é uma necessidade.
Em resumo, como também comentou nas redes sociais outro leitor de direita: “Idiota não tem lado político”.
Grato pela chance de tentar esclarecer.
Aluysio
Iniciativa didatica. Já passou ate da hora . São muitos idiotas escrevendo absurdo todo dia em comentario de redes sociais
Adorei kkkkk Se for fazer camisa caneca e boné do mamadeira de alfafa anuncie que quero comprar
Caro Oswaldo,
Já tinham sugerido algo parecido. Se rolarem camisas, canecas e bonés do prêmio Mamadeira de Alfafa aos comentaristas mais bisonhos das redes sociais, pode me cobrar. Rs.
Obrigado pela sugestão.
Aluysio
Nesse contexto, talvez tenha me equivocado.Mas o meu comentário sobre quem pensa diferente, se deu em razão do seguinte comentário da esquerda “essa pode ser tão “idiota da aldeia” qto a direita bolsonarista”. Realmente não me aprofundei no tema, mas gosto de acompanhar a política através de seus artigos, e no mais, todo esclarecimento é válido.
Cara Luiza,
Vc é uma leitora assídua, crítica e participativa, o que é o desejo de qualquer jornalista ao escrever. Mas a comparação teve uma especificidade: “um comentarista de esquerda mostrou o quanto essa pode ser tão ‘idiota da aldeia’ quanto a direita bolsonarista, no mesmo negacionismo tosco das pesquisas de opinião”.
De fato, sempre que os números das pesquisas se contrapõem à mera torcida de um ou outro lado, o negacionismo costuma ser tão tosco quanto semelhante. Mesmo que os lulopetistas de 2018 e os bolsonaristas de 2022 tenham questionado as pesquisas com o mesmo previsível destino: chorar no quente da cama com o resutado da urna.
Obrigado pela chance do debate.
Aluysio