Carta a Barbosão
Por Jane Nunes
Campos dos Goytacazes, oito de Janeiro de 2018.
Querido Barbosão, que saudade!
Tantas coisas para te contar, tantas para relembrar, tantas a perguntar, muitas a agradecer. O Trump foi eleito presidente dos EUA. Hilary Clinton não levou. O Temer golpeou a Dilma e mais uma vez o PMDB chegou ao poder sem voto. Garotinho perdeu a eleição para o neto de Zezé Barbosa no primeiro turno. Rafael Diniz é o nosso prefeito. Os royalties daquele petróleo que você anunciou a descoberta estão minguando. Ah, como queria conversar com você…
Estamos vivendo uma época de polarização extrema Até aqui na planície existem os prós Trump e Kim Jong-un e os contra, é claro. Essa polarização é geral, em todas as áreas. As pessoas parecem que não querem mais pensar, buscar outros caminhos; ou é isso ou aquilo. Não há espaço para sonhos ou ideologias, mas geral aqui no Brasil está rotulada de coxinha ou mortadela. Faltam pessoas como você para brigar pelo legítimo direito do bolinho de arroz.
Há uma cultura de ódio e intolerância assustadora. A guerra se trava principalmente na internet. É tudo tão rápido que já não poderíamos dividir o velho computador.
As mulheres continuam lutando contra a violência, por melhores condições de trabalho e igualdade de salários. E aí como não me lembrar e ser grata a você que na década de 80 abriu as portas de seu jornal para uma jovem estudante de jornalismo que se tornou a primeira mulher a assumir a editoria geral da Folha da Manhã?
Lembra, Barbosão, da primeira edição que fechei sozinha porque o editor faltou? Você me disse que chamaria alguém para “me ajudar” e eu te respondi que não precisava porque eu só estava esperando a agência JB mandar a matéria com o novo valor do salário mínimo e que esta seria a nossa manchete em oito colunas.
Eu me lembro de sua expressão de espanto. Ficou rondando a mesa, verificando se estava tudo certo mesmo. Constatado que sim, ficou aliviado e feliz. Deu aquele sorrisinho bobo e disse: “então eu já vou.” Foi emocionante para nós dois. Eu tive a sensação de parir um filho e sei que você a de ver sua cria crescida. Adelfran Lacerda e Moacir Cabral foram irmãos exigentes.
Sua cria que depois enveredou para a vida pública foi capaz de captar e gerir milhões sem que, apesar de todas as perseguições de Garotinho (esqueci de te contar, ele foi preso!) responda processos por dano ao erário ou improbidade também aprendeu muito com a mestre na arte de administrar, nossa Diva. Muito obrigada aos dois. Vida longa à família Folha da Manhã!
(*) Jornalista e ex-editora geral da Folha da Manhã
Publicado hoje (07) na Folha da Manhã