Pulga atrás da orelha petista

Não só aos eleitores, mas dentro do próprio PT, tem causado estranheza o fato das placas de Marcão, candidato petista à Câmara Municipal de Campos, não virem acompanhadas de nenhuma referência ao candidato do partido na eleição majoritária, Makhoul Moussallem. No último dia 8, houve uma reunião da executiva municipal do PT junto ao candidato a vereador, no sentido de enquadrar sua campanha às demandas políticas e até legais do partido.

Makhoul também está ciente do problema. Segundo ele, Marcão primeiro teria alegado que a pessoa que lhe doou as placas, só o fez na condição de nelas não constarem o nome de Makhoul, mas depois teria usado da justificativa de que o candidato a prefeito nada fez para ajudar sua campanha a vereador. Dentro deste contexto, Makhoul garantiu que já liberou 100 placas com o nome de ambos para Marcão, muito embora esse novo material ainda não tenha sido visto espalhado pela cidade.

Coligado na eleição proporcional com o PSL do também candidato a vereador Claudeci, o PT trabalha para eleger dois edis em outubro, mas na pior das hipóteses, não abre mão de pelo menos garantir o mandato que hoje possui na Câmara, conquistado por Renato Barbosa e, após seu falecimento, desempenhado por Odisséia Carvalho. Marcão sempre pertenceu ao grupo de Renatinho, que chegou a migrar para Odisséia e depois sair, para tentar eleger candidato próprio. Todavia, o grupo depois sofreu uma divisão interna, já que o irmão de Renato, Luiz Antônio Barbosa, também se lançou a vereador pelo PV.

Ainda sobre o pleito proporcional de 2008 e a correlação que isso pode ter com o de 2012, o que tem deixado muita gente uma pulga atrás da orelha é o apoio que teria sido dado por Garotinho à eleição de Gil Vianna (PR), então no PSDC coligado com o PT ao Legislativo. Ao vislumbrar a possibilidade, depois confirmada, de PT/PSDC fazerem dois vereadores, Garotinho teria visto em Gil não só um opositor mais dócil do que Renato e Odisséia, mas alguém que poderia ser depois cooptado, como de fato ocorreu. À parte suas muitas divisões, nenhum petista admite que a história se repita em 2012.

(Foto de Phillipe Moacyr)
(Foto de Phillipe Moacyr)

Homenagem a Aluysio e agradecimento

Só hoje fui ver que o pessoal do “Estou procurando o que fazer” colocou um link fixo no blog à versão virtual do Ponto Final, como uma homenagem póstuma ao jornalista Aluysio Cardoso Barbosa, titular da coluna desde a fundação da Folha, em 8 de janeiro de 1978. Em meu nome e no dos jornalistas Aloysio Balbi e Alexandre Bastos, que ficamos responsáveis pela coluna após a morte do meu pai, bem como no dele próprio e da Folha, agradeço pela lembrança, por certa merecida a quem não mais escreve o Ponto Final, mas sempre vai sobreviver como sua maior referência e fonte de inspiração. O agradecimento vai não só para a jornalista Jane Nunes, idealizadora da homenagem e uma das tantas “crias” do velho Barbosa no jornalismo de Campos, mas também aos demais responsáveis pelo blog: Sérgio Mendes, Rose David, Sérgio Roberto Cardoso Moreira e Professora Luciana.

Entre irmãos

Embora tenha movimentado o noticário da Folha e dos blogs independentes, a troca de “gentilezas” verbais entre os irmãos Anthony Garotinho (PR) e Nelson Nahim (PPL) é só a ponta do iceberg de uma disputa que vem sendo travada a ferro e fogo nos bastidores da campanha para vereador. Estrategista eleitoral de brilho, ainda que geralmente alheio aos limites éticos, Garotinho estaria investindo pesado para tirar votos de Nahim num dos fortes redutos deste, a 249ª Zona Eleitoral (ZE).

Assim, ao contrário da maioria dos postulantes governistas à Câmara Municipal, que têm reclamado bastante da falta de apoio, os candidatos Thiago Virgílio (PTC) e Miguelito (PP) estariam sendo privilegiados na ajuda às suas campanhas. Não porque elegê-los interessaria mais a Garotinho que outros candidatos da situação, mas porque ambos têm boa penetração em bairros da 249ª, como Pq. Aurora, São Benedito, Capão e Pq. Rosário.

Nahim já usou a tribuna da Câmara para confirmar o movimento de Garotinho para enfraquecê-lo na 249ª. Em relação a Thiago Virgílio, o presidente do Legislativo foi enfático: “Ele recebeu R$ 20 mil mensais, durante boa parte do governo Alexandre Mocaiber (PSB), para aplicar na Ong Grêmio Recreativo Fernando Jamelão, e nunca ninguém do Pq. Aurora viu nada funcionando lá. Garotinho sabe muito bem disso, pois ele e eu denunciamos isso juntos, várias vezes, na rádio. Agora, para tentar me prejudicar, ele é capaz até de esquecer daquilo que dizia ser escandaloso”.

Levadas em consideração as observações de Nahim, baseadas em programas de rádio de até bem pouco tempo atrás, a estratégia de Garotinho parece baseada no velho dito popular: “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Muito embora, no caso, os “amigos” sejam meramente circunstanciais e o inimigo (sem aspas), o próprio irmão.

As chances de Arnaldo no TRE

Quer saber quais as chances do candidato Arnaldo Vianna (PDT) ser julgado hoje no TRE, cuja sessão começa às 15h, e de lá conseguir ou não reverter o indeferimento do seu registro na 99ª Zona Eleitoral de Campos? Basta ler aqui, o Alexandre Bastos, e aqui, a Suzy Monteiro…

Atualização às 18h42: Quer saber como foi o dia no TRE? Basta clicar o sempre competente trabalho de apuração da Suzy aqui e aqui. Agora, a expectativa ao julgamento do registro não só Arnaldo, mas também Makhoul Moussallem (PT), Betinho Bauaire (PR) e Octávio Carneiro (PP), respectivamente candidatos a prefeito em Campos, São João da Barra e Quissamã, além dos embargos declaratórios da prefeita Rosinha Garotinho (PR) à sua condenação, ficam para a sessão da próxima quinta…

E no Ponto Final…

Garotinhos elegem Makhoul (I)

Ao trabalhar sempre com pesquisas internas, embora na maioria das vezes não as
divulgue, Anthony Garotinho profissionalizou o fazer político de Campos, num nível
que ainda não foi acompanhado por seus opositores. Nesta eleição, sobretudo depois do
início da propaganda eleitoral gratuita na TV, quem mais parece ter se aproximado é o
médico e candidato petista Makhoul Moussallem.

Garotinhos elegem Makhoul (II)

Por um motivo e o outro também, não é risco apostar que Makhoul será eleito, no lugar
de Arnaldo Vianna (PDT), como alvo preferencial da sanha acusatória dos governistas.
Característica mais de vila que de profissional, é a face política amadora de Garotinho.
Não só nunca conseguiu se livrar dela, mesmo após passar a pregar também a bíblia,
como ninguém conseguiu impor os limites do bom senso à prática ecoada por todo seu
grupo, passivo a tudo que vem do líder e ativo contra qualquer um que ele aponte.

Coincidência?

Não é só em Campos que a discussão política só pode se travada com a tradução devida
do juridiquês. Se os campistas esperam que o TRE, depois de barrar Rosinha Garotinho
(PR), se pronuncie, talvez hoje, sobre as candidaturas de Arnaldo e Makhoul, oposição e
situação de São João da Barra e Quissamã também aguardam ansiosos, respectivamente,
as definições de Betinho Dauaire (PR) e Octávio Carneiro (PP). Será coincidência que
municípios abastados pelos royalties do petróleo estejam submetidos a tanta incerteza?

Publicado hoje na coluna Ponto Final, na Folha da Manhã

Renascido dos ventos

Atafona, manhã ensolarada e fria do final de junho de 2008. Depois de esperá-la descer a Serra do Mar serpenteando às margens do Muriaé em sua afluência ao Paraíba do Sul e deste ao oceano Atlântico, havia dormido com ela, grande paixão de uma vida inteira, talvez a única, duas noites antes. Duas depois, trazia ainda frescas as memórias de mais uma das nossas tentativas de reconciliação, plenas em cama, pele, cheiros, olhos nos olhos, mas inconciliáveis em tudo mais.

De qualquer maneira, era uma sexta-feira, completaria 36 anos no dia seguinte e a comemoração estava marcada para começar desde a noite daquele, no Pontal, na velha casa de barcos dos Aquino transformada em bar, que quatro anos depois não resistiria ao avanço do mar. Havia chamado ela, lógico, assim como outras pessoas, que começariam a chegar dali a algumas horas.

Precisava, pois, pegar a picape e agir as coisas. Na rua de pista dupla que começa na antiga caixa d’água, à beira mar, e acaba na madeireira do Jacuí, às margens da BR 356, o celular apita no console do carro, anunciando o torpedo com o suspense dos grandes naufrágios.

Era ela! Com a certeza dos amantes, eu sabia, mesmo antes de conferir a mensagem, na qual concentrava toda a atenção que devia dedicar à direção. Como também já sabia, ela não viria. Vi nos signos de cristal líquido aquilo que já havia lido no castanho dos seus olhos, na manhã anterior, em mais uma das nossas despedidas.

Por um segundo, senti reabertas as feridas mais profundas até então rasgadas num coração de poeta, protegido nos modos de homem rude, seguindo os ensinamentos de paixão e mar que Hemingway lecionou em vida e prosa. Pela janela do motorista sempre aberta à brisa de Atafona, deixei que o vento que entrava no carro o fizesse também em mim, para aliviar aquele conhecido ardume dentro do peito, como um sopro de mãe nos tempos de ralado e mertiolate. Queda e redenção de um homem condensadas no espaço de um segundo.

Ainda com o telefone à mão direita, percebi algo além dele enroscado entre os dedos, me despertando ao tempo da realidade. Só aí notei aquele fio longo de cabelo ruivo, balançando na brisa e iluminado do sol que invadia o pára-brisas, tudo adoçado pelo cheiro de maresia, enquanto “The Blower’s Daughter”, sussurrada na voz rouca de Damien Rice, tocava ao acaso no rádio do carro. Tantos sinais me deram a certeza — uma certeza tão rara quanto a verdadeira paixão.

Devolvi o celular e o fio de cabelo ao console onde minha mão os encontrou, liberando-a para aumentar ao máximo o volume do som, ao mesmo tempo em que acelerava a picape e a velocidade do vento. Sem dolo ou culpa, sorri como sorriu a personagem da Natalie Portman, na última cena do filme “Closer”, autêntica “filha dos ventos” liberta no hermetismo anônimo da multidão.

Minha vida era minha de novo!

closer

(p/ branca)

ao volante da picape,
um naufrágio de torpedo
atravessa damien rice,
à imagem do seu canto.

o hermético, dos ventos,
dita planos diferentes,
à longitude dos destinos
entre a foz e o afluente.

um coração em déjà vu,
quando partido, se areja
pelo sopro da janela
no motorista que acelera

e, de leveza, até sorri,
ao notar entre seus dedos
— acaso do tato no ato final —
aquele fio longo de cabelo,
só e sangue como o sol.

passa a musa e o chapéu:
“i can’t take my mind…
my mind… my mind…
til i find somebody new”.

atafona, 05/07/08