Pudim e Pezão, hoje á tarde, no Palácio Guanabara (divulgação)
“Lá atrás, quando ninguém acreditava em mim, eu trabalhei e fui para a rua. Se você tem um sonho, tem que ir à rua trabalhar”. Genérico, mas letra para quem sabe ler o pingo, esse foi o único conselho político do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), em audiência na tarde desta terça no Palácio Guanabara, para o novo deputado estadual do seu partido: Geraldo Pudim (PMDB).
Também pré-candidato a prefeito de Campos, Pudim garante, no entanto, que o encontro não foi para tratar da eleição de 2016. Como deputado da região, ele pleiteou ao governador o reparo no trecho de 7 quilômetros da RJ 178, que liga Dores de Macabu a Quissamã. Além disso, relator de um projeto de R$ 600 milhões já aprovado para recuperação do rio Muriaé, afluente do Paraíba do Sul, emperrado por uma disputa de jurisdição entre os Ministérios Públicos Estadual e Federal, Pudim também solicitou a intervenção do governo fluminense:
— Em relação ao trecho da RJ 178, o governador ligou pessoalmente para o Angelo (Monteiro Pinto) presidente do DER (Departamento de Estradas de Rodagem), com quem terei outra audiência, ainda esta semana, para tratar do assunto, lógico que respeitando também as limitações orçamentárias do Estado. Quanto ao projeto já aprovado para recuperação das encostas do rio Muriaé e reflorestamento das suas matas ciliares, vou marcar uma reunião com o André Corrêa (PSD), secretário de Meio Ambiente, para tentar resolver essa questão que afeta diretamente municípios como Italva, Itaperuna, Cardoso Moreira, Laje de Muriaé e Santo Antônio de Pádua.
Além do conselho ouvido de Pezão, Pudim ressaltou não ter tratado de política porque o próprio governador esteve presente no último dia 24, na sede do PMDB, quando o deputado estadual se filiou ao partido e se lançou oficialmente pré-candidato a prefeito de Campos:
— Respeito quem já estava caminhando antes com Pezão e também quer se lançar à Prefeitura de Campos. É um direito legítimo. Mas hoje fui até o governador na condição deputado, levar pleitos importantes para região que represento, não para falar de eleição. Ainda é muito cedo para isso. Essas coisas terão seu tempo certo.
Um estupro, um assassinato. Quatro testemunhas, inclusive o próprio morto reencarnado, contam quatro versões diferentes dos mesmos fatos. Na primeira vez que o sol, fonte de toda a luz, foi filmado na história do cinema, a única verdade à luz real que se pode extrair, ao final da ficção de “Rashomon” (1950), é que entre todas as diferenças das nossas maneiras de olhar, no Japão feudal ou em qualquer outro lugar e tempo, a vida sempre acha uma maneira de prevalecer e nós de nos solidarizarmos com ela.
Obra prima do diretor Akira Kurosawa (1910/98), “Rashomon” foi o filme que lançou o grande mestre do cinema japonês ao público e crítica do Ocidente, onde seu filme seria agraciado com o Leão de Ouro no Festival Veneza, em 1951, e um Oscar honorário de melhor filme estrangeiro, em 52. É esse clássico que será apresentado e terá o debate mediado por mim, Aluysio Abreu Barbosa, a partir das 19h de amanhã, quarta-feira, 14 de outubro, no Cineclube Goitacá, à sala 507 do edifício Medical Center, no cruzamento da rua Conselheiro Otaviano com a avenida 13 de Maio. Como sempre a sessão e a discussão são inteiramente livres.
Considerado até pelos britânicos como pai das melhores adaptações ao cinema do teatro do inglês William Shakespeare (1564/1616), com “Trono manchado de sangue” (de 1957, versão japonesa da peça “Macbeth”) e “Ran” (1985, leitura nipônica da tragédia “Rei Lear”), Akira Kurosawa traz em “Rashomon” a talvez mais definitiva transposição às telas da resposta do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844/1900) à imposição dos fatos sobre o pensamento humano, como pretendeu no séc. 19 o positivismo do francês Auguste Comte (1798/1857): “Fatos não existem. Versões é o que há”.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, deferiu nesta terça-feira (13), de maneira liminar (provisória) o pedido feito pelo deputado do PT, Wadih Damous (RJ), em mandado de segurança para suspender o rito de tramitação do impeachment definido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com base no regimento interno da Casa. Para o deputado, o rito do impeachment depende da lei e não pode ser definido de “maneira autocrática pelo presidente da Câmara”. Na prática, a decisão impede que a oposição entre com recurso para levar a questão a plenário caso Cunha rejeite um pedido de afastamento da presidente, como o peemedebista já sinalizou que faria.
Atualização às 13h22: Na blogosfera goitacá, o primeiro a noticiar aqui a liminar do STF foi o advogado e blogueiro Cláudio Andrade. Na Folha Online, o jornalista Arnaldo Neto também já havia repercutido aqui a decisão.
No roubo úmido da foto de capa do mural de Facebook do repórter-fotográfico Tércio Teixeira (aqui), meu feliz dia a todas as crianças que fomos e as que são!
Pobres e ricos. Norte e Sul. Lulistas e antipetistas. Comunas e reaças. Laicos e cristãos. Esfihas e coxinhas. Homos e héteros. Misândricas e misóginos. Negros e brancos. Ou “quase negros”, ou “quase brancos”, como cantou o mestiço Caetano?
Quando vejo até gente inteligente, que admiro, entrar nesse Fla-Flu juvenil em que o Brasil se fragmenta em convulsões desde a Copa de 2014, na qual fomos humilhados (aqui) por 7 a 1, na semifinal diante à campeã Alemanha, passando depois por uma eleição presidencial figadal de parte à parte, que parece ainda não ter terminado, recorro à sabedoria sutil dos versos do mestre grego KonstaninosKaváfis (1863/1933).
Grego nascido na egípcia Alexandria e, após a morte do pai, educado em Londres, antes de voltar à cidade natal que não abandonaria até a morte, Kaváfis foi talvez o maior poeta do Modernismo grego. E, em alguns dos seus versos com jeito de prosa, cantou o amor carnal por outros homens, como poucos poetas cantaram antes e depois qualquer amor carnado em homem ou mulher.
Como “nosso” FernandoPessoa (1888/1935), por circunstâncias curiosamente semelhantes, Kaváfis foi tão marcado pela educação formal em inglês, que usaria o idioma em seu cotidiano pelo resto da vida. Todavia, ainda mais que o grande modernista português, seu semelhante grego foi um dos maiores inovadores da língua materna. À distância segura do Egito, afastado dos embates acalorados na Grécia entre o coloquial que o Modernismo tentava impor a uma tradição linguística herdada desde Homero (séc. VIII a.C.) , pai de todos os poetas, depois reforçada por toda a milenar tradição bizantina.
Ao mesmo tempo em que o grego moderno encontrou fundamento técnico nos versos de Kaváfis, estes tinham alicerce temático na tradição clássica, na história e na mitologia grega, alexandrina e romana, elementos renascidos à luz dos sécs. 19 e 20, ainda sujos de placenta. Como católico ortodoxo grego (religião mais próxima ao cristianismo original), levava sempre o crucifixo bizantino junto ao peito e, praticante de sua fé, fazia diariamente suas orações. Em Kaváfis, o amor carnal pelo homem jamais o afastou do amor a Deus, por intersecção do Homem.
Neste Brasil varonil cor de anil, como são os céus e mares da Grécia, recomenda-se a leitura atenta do poema abaixo, na tradução da Ísis Borges da Fonseca, assim como uma prece com a mesma fé de Kaváfis por esse “Haiti” que é tão aqui, nos versos do Caetano, quanto num cartaz de banheiro na Uenf. No lugar de buscar intersecção em cada semelhante desta nossa vasta diversidade humana, quem se dedica tão radicalmente a combater seu contrário, pelo simples espelhamento, pode acabar descobrindo na eventual “vitória” uma vida desprovida de sentido, ou reflexo, ao final da sua própria.
Afinal, na dúvida de quem são mesmo esses tais “bárbaros”, a certeza de que, sem eles, não há nós…
Ameaça homofóbica em cartaz no banheiro da reitoria da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), idealizada por Darcy Ribeiro em Campos dos Goitacazes (reprodução)
ESPERANDO OS BÁRBAROS
— Que esperamos reunidos na ágora?
É que os bárbaros chegarão hoje.
— Por que no Senado uma tal inação?
Por que os Senadores estão sem legislar?
Porque os bárbaros chegarão hoje.
Que leis farão agora os Senadores?
Os bárbaros quando chegarem legislarão.
— Por que nosso imperador tão cedo se levantou,
e, diante da porta mais alta da cidade, está sentado
em seu trono, solene, cingindo a coroa?
Porque os bárbaros chegarão hoje.
E o imperador espera receber
o chefe deles. Além disso, preparou
para dar-lhe um pergaminho, onde
lhe registrou muitos títulos e dignidades.
Por que nossos dois cônsules e nossos pretores saíram
hoje com suas togas vermelhas, bordadas?
Por que puseram braceletes com tantas ametistas,
e anéis com esplêndidas, brilhantes esmeraldas?
Por que empunham hoje preciosos bastões
de prata e de ouro excelentemente incrustados?
Porque os bárbaros chegarão hoje;
e tais coisas deslumbram os bárbaros.
— Por que nossos hábeis oradores não vêm como sempre
proferir seus discursos, falar sobre suas preocupações?
Porque os bárbaros chegarão hoje;
e eles se aborrecem com eloquência e arengas.
— Por que de repente começou esta inquietude
e por que a confusão? (como se tornaram graves as fisionomias!)
Wladimir Garotinho (PR) não será candidato a vereador em 2016. Caso sua mãe renuncie seis meses antes, seria para beneficiar uma eventual candidatura do vice Chicão Oliveira (PP) a prefeito, e/ou de seu pai a vereador, no sentido de puxar a legenda e garantir uma bancada forte na Câmara, necessária à sobrevivência do grupo, sobretudo se o governo municipal passasse às mãos da oposição. De uma maneira ou outra, no “jogo de xadrez” da política, Wladimir também negou que trabalhe para montar um “rolo compressor” pessoal no Legislativo goitacá, ou que vá se empenhar especialmente para nele eleger o empresário Dudu Azevedo. Sobre quem já se empenhou e elegeu, o deputado estadual Bruno Dauaire (PR), o jovem Garotinho foi assertivo para a eleição à Alerj em 2018: “Não disputarei o mesmo cargo que ele”. Representante da renovação em seu grupo, como Bruno, ou Thiago Ferrugem (PR), pré-candidato que mereceu análise particular para 2016, Wladimir disse que a Igreja Católica contribuiu para a derrocada da candidatura do senador Marcelo Crivella (PRB) a governador em Campos, apoiado por seu pai no segundo turno de 2014. Íntimo do mundo da tecnologia, mesmo quando nele flagrado em situações em que ficou “vermelho na hora” para não ficar “amarelo a vida toda”, Wladimir ressalvou: “Ferramentas facilitam o contato pessoal, mas não podem nunca substituir o olho no olho e o velho aperto de mão”.
Folha da Manhã – Em nossa última entrevista (aqui), de abril de 2014, ao projetar o que ocorreria nas eleições de outubro daquele ano, você acertou quando disse que o governo conseguiria eleger sua irmã Clarissa Garotinho (PR) e Paulo Feijó (PR) como deputados federais, enquanto a oposição local não faria nenhum. Como vê os mandatos de quem se elegeu ao Congresso Nacional? Como previu o naufrágio das candidaturas de oposição?
Wladimir Garotinho – Campos pode se orgulhar dos deputados federais que tem. Cada um, com seu estilo, vêm dando sua contribuição, seja através de projetos de lei ou de emendas que beneficiam a cidade e a região. Sobre a oposição não ter eleito ninguém à Câmara Federal, era só olhar o quadro que estava posto. Lançaram cinco candidatos e muitas outras pessoas do meio político apoiaram candidatos sem nenhuma relação com nossa cidade.
Folha – Especificamente sobre Feijó, não é segredo que ele está distante dentro do grupo, sobretudo de seu pai. Em entrevista à Folha, o deputado disse (aqui) que deve encerrar a carreira política neste mandato e afirmou: “Rosinha é a prefeita que mais realizou no nosso município (…) Mas (…) se levarmos em consideração o que Campos recebeu de royalties do petróleo nos últimos 20 anos, verificamos que o nosso município poderia ser muito melhor”. Não ficou meio dúbio? Na sua opinião, Feijó poderia ser mais aproveitado, e Campos, ser muito melhor?
Wladimir – Feijó é amigo, é leal. Ele e o Garotinho viveram os últimos quatro anos praticamente juntos em Brasília, se encontravam e se falavam toda hora para discutir questões da câmara dos deputados. Hoje, a situação é diferente, a distância é normal e a correria do trabalho de ambos não permite que estejam tão juntos. Não dá para questionar as realizações; Feijó esta certo: Rosinha é disparada a prefeita que mais realizou em Campos, isso é um fato concreto. Não podemos cair no erro dessa conta de 20 anos, pois em 13 deles o município foi conduzido por aqueles que hoje são nossos adversários, e nosso grupo não participou do governo.
Folha – E sobre Clarissa, qual sua avaliação do mandato de estreia da irmã na Câmara Federal? Em sua opinião, ela deve ou não se lançar nas eleições à Prefeitura do Rio, no ano que vem? E ela vai ou não para PSDB, com o qual o líder de Rosinha na Câmara Municipal, vereador Mauro Silva (atual PT do B), já namora (aqui) abertamente?
Wladimir – Clarissa tem ido muito bem, tem tido posições firmes, algumas que até têm contrariado o seu partido, mas isso é natural. Você tem que ter bom trânsito no partido e seguir algumas diretrizes, mas não pode deixar de ser você mesmo, jamais. Ela não irá para o PSDB, Mauro Silva já foi (ainda está no PT do B). Isso está decidido e acordado. A Prefeitura do Rio é um passo grande. Em primeiro lugar, a decisão tem que ser dela, a vontade dela deve ser respeitada e depois discutida. Seja nessa eleição ou em próximas, tenho certeza de que ela será candidata no momento em que se sentir preparada para tal desafio.
Folha – Quem você acha que reúne melhores condições para ser o candidato do garotismo à sucessão da sua mãe em 2016? Mauro, o vice-prefeito Chicão de Oliveira (atual PP), os também vereadores Edson Batista (PTB) e Auxiliadora Freitas (PHS), ou os secretários municipais Suledil Bernardino (PR) e Fábio Ribeiro (PR)?
Wladimir – Todos são companheiros de longa data. Já foi dito aos postulantes que a decisão será em grupo e vamos marchar unidos.
Folha – Correndo por fora, mas ganhando visibilidade pela atuação na secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, seu amigo Thiago Ferrugem tem alguma chance nessa disputa? E ela aumentaria se seu grupo lançar não uma, mas duas candidaturas a prefeito? Na sua opinião, essa tática da divisão aberta seria viável ou, dado o desgaste do governo, suicídio?
Wladimir – Thiago é um jovem promissor, ele amadureceu muito e seu trabalho tem sido elogiado dentro e fora do governo. Pode ser uma boa opção para compor a chapa majoritária e iniciar já na próxima eleição uma ampliação da renovação do grupo, mas penso que ele não deve “queimar etapa” e deverá se eleger vereador com uma boa votação. A decisão de quem irá para a disputa deverá ficar para o ano que vem. Até lá, é só suposição.
Folha – E a possibilidade de Rosinha renunciar seis meses antes, para tentar dar maior visibilidade a Chicão, caso seja ele o candidato a prefeito, ou para abrir espaço legal para que seu pai ou você possam concorrer a vereador, visando puxar legenda e formar uma bancada forte. A chance dessa última alternativa pode crescer, caso as pesquisas mais próximas ao pleito indicarem uma dificuldade maior em manter a Prefeitura?
Wladimir – Política é como um jogo de xadrez e as peças precisam ser movimentadas na hora certa e no momento certo. Uma coisa eu posso garantir: Não serei candidato a vereador.
Folha – Nessa coisa de bancada legislativa, independente do resultado da eleição majoritária, se fala que você estaria montando seu “rolo compressor” particular. Entre os vereadores eleitos, por exemplo, nele estariam aqueles que já apoiaram Bruno Dauaire (PR) ano passado para deputado estadual: Luiz Alberto Neném (PTB), Cecília Ribeiro Gomes (PT do B), Thiago Virgílio (PTC) e Jorge Rangel, licenciado da Câmara na secretaria de Limpeza Pública. Procede?
Wladimir – Não. Sou grato aos vereadores que enfrentaram muitos problemas e passaram por alguns desertos junto comigo na campanha vitoriosa de Bruno Dauiare, mas não estou montando nenhum tipo de rolo ou de bloco. Ajudarei a quem pedir minha ajuda ou achar que ela é valida, seja em reuniões, caminhadas e etc.
Folha – E como equilibrar seu apoio aos demais candidatos a vereador com aquele que, segundo já se comenta, será seu preferido: o empresário Dudu Azevedo? Não teme provocar, em 2016, a mesma ciumeira que tanto problema gerou seu apoio a Bruno em 2014?
Wladmir – Como já disse, não terei candidato. A situação com Bruno foi um momento pontual, os bastidores e as histórias daquela eleição já são passado e estão superadas. Dudu Azevedo é meu amigo, ele quem me procurou falando sobre sua candidatura. Sei na pele o que é querer ser candidato e não poder, então eu apenas disse que se essa é a vontade dele, que ele siga e trabalhe desde já. Sou um entusiasta de que os jovens participem do processo político. A renovação é fundamental.
Folha – E na família, como administrar os ciúmes com as pré-candidaturas a vereador já anunciadas por seus dois primos, Helinho Nahim (DEM) e Gustavo Matheus (PV), ambos pela oposição? Sobretudo com o primeiro, a partir da sociedade na empresa Quatro Ventos e no restaurante Baviera, além do compadrio trocado no batismo dos filhos, como separar a fraternidade da política, para não repetir o mesmo erros dos seus pais? Concorda com o que Helinho disse em entrevista (aqui) à Folha: “Sabendo separar as coisas, a relação vai continuar boa”?
Wladmir – Minha amizade e meu carinho por Helinho, a quem eu chamo de Alemão, independem de qualquer circunstância. Somos primos/irmãos, temos obrigação em manter nosso elo e saber que um dia, caso sigamos por caminhos políticos, podemos estar juntos. Com Gustavo, eu não tenho a mesma relação próxima que com Helinho, até pela questão de idade. Não vejo problema algum na sua candidatura, nos falamos sempre e trocamos algumas informações. Sou de uma geração que gosta do diálogo. Se todos mantiverem essa postura, a relação continuará boa.
Folha – Indagado sobre os desentendimentos na eleição de 2014, outro entrevistado da Folha, o deputado estadual e pré-candidato a prefeito Geraldo Pudim (PMDB), disse (aqui) que você talvez “tenha ranços de um garoto mimado” e certamente atrapalhou, com seu apoio a Bruno, não só outros candidatos do grupo, como seu próprio pai na tentativa de voltar a ser governador. Procurado pela reportagem da Folha, no dia seguinte à publicação da entrevista, você se esquivou. Mas não dá para ser entrevistado sem responder a isso. Sem fugir, o que tem a dizer?
Wladimir – Eu não esquivei. Na verdade achei a repercussão (aqui) tão ruim que preferi nem comentar. Eu conheço Pudim desde que nasci. Sempre vi ele dentro da minha casa e ao lado do meu pai. Difícil imaginar uma “profunda reflexão” que em seis meses fez ele passar de candidato da “Família Garotinho” para adversário. Ele disse que o rompimento dele com o grupo não foi pelo meu apoio ao atual deputado estadual Bruno Dauaire, e não foi mesmo. Isso só ratificou minha posição e mostrou que eu estava certo. Hoje, quem deve explicação às pessoas e às lideranças é ele, não eu. Meu apoio a Bruno foi combinado em uma reunião com todos os pré-candidatos, mas talvez achassem que éramos muito “mimados” e que não teríamos conseguido chegar tão longe. Aliás, ele também disse que eu ainda não tenho “importância política”, mas meu candidato ganhou dele com mais de 10 mil votos de diferença. Talvez esteja confundindo a tal “importância política” com credibilidade. Eu prefiro a segunda opção.
Folha – E como está sua relação com Bruno depois que ele assinou um termo eximindo Pudim e Jair Bittencourt, outro deputado estadual “dissidente” do PR, de qualquer motivo para que seu pai os expulsasse do partido? Como é quase certo que você ou Clarissa concorram à Alerj em 2018, não é até natural que o jovem Dauaire busque seus próprios caminhos?
Wladimir – A política não vai estar nunca acima da minha amizade com Bruno, ou com quem quer que seja. Não disputarei a mesma cadeira que ele. Qualquer decisão que tiver que ser tomada, será conversada; somos maduros suficientes pra isso. Nos falamos quase todos os dias, eu estou sempre indo à Alerj e não tenho motivo algum para desconfiar de qualquer atitude que ele julgue necessária para manter a boa relação dentro da bancada.
Folha – Sua candidatura a deputado estadual é mesmo certa? E, independente do resultado das urnas de 2016, sua candidatura a prefeito de Campos em 2020?
Wladimir – Não existe nada definido. Sou publicitário, produtor de eventos e comerciante. Sou chefe de família, bem casado e com dois filhos. Não sou político profissional e não dependo dela pra viver. Só serei candidato a algum cargo se for para conseguir ajudar e melhorar a vida das pessoas, pois terei que ter a consciência em abrir mão de uma vida estabilizada. Estando no meio político, você ainda consegue tempo para outras coisas na vida, mas, se estiver com mandato, sua missão é trabalhar “full time” para conseguir realizar os anseios de muitos.
Folha – Você também acertou, naquela última entrevista citada no começo desta, quando previu que a oposição elegeria apenas um deputado estadual, e que qualquer um que quisesse se eleger, teria que buscar votos fora de Campos. A lição valerá para você em 2018?
Wladimir – Como disse, não sei se sou candidato. Mas isso serve para qualquer postulante ao cargo.
Folha – Conhecido por trabalhar bem com a agilidade de ferramentas virtuais como o WhatsApp e outras mídias sociais, não acha que seu pai e outras lideranças do grupo envelheceram nos métodos? Já não passou da hora de renovar?
Wladimir – A melhor receita de sucesso e unir a vitalidade e agilidade da nova geração com a experiência de quem já viveu e passou por muitas batalhas na vida. Ferramentas facilitam o contato pessoal, mas não podem nunca substituir o olho no olho e o velho aperto de mão. A renovação e a transição de geração irá acontecer natural e gradativamente. Não adianta querer acelerar o processo e causar problemas que depois se tornem irreversíveis. Tudo, seja na área empresarial, econômica e até mesmo na política, precisa se reciclar ou estará fadado à extinção. Pode ser difícil para alguns aceitarem isso, porém, é o ciclo natural.
Folha – No outro lado da moeda, como se sentiu com a rápida e ampla repercussão (aqui) de um vídeo feito no último Natal, após a derrota do seu pai ao governo do Estado, no qual você foi publicamente cobrado por uma pequena multidão na Lapa, berço de Garotinho, sobre o atraso do aluguel social por parte do governo de Campos, e teve que admitir constrangido: “Está atrasando porque a Prefeitura, no momento, está sem dinheiro”?
Wladimir – Não teve multidão, foram cerca de 10 pessoas. Todos os outros que aparecem na filmagem estavam na festa de Natal que eu realizo todos os anos na Lapa. Naquela ocasião, o aluguel social estava com um mês de atraso, o governo estava fazendo cortes para enfrentar a crise e a queda da arrecadação. Em junho de 2014, o barril de petróleo era negociado a US$ 120, enquanto em dezembro do mesmo ano estava na casa dos US$ 60. Não dá para pagar as mesmas contas recebendo menos dinheiro. Eu disse a verdade. Melhor ficar vermelho na hora do que amarelo a vida toda.
Folha – Chamada de “venda do futuro”, a antecipação das receitas do município foi reprovada (aqui) por 88,7% dos campistas, em pesquisa do instituto Pro4, rejeição próxima à registrada em enquetes da Folha Online (85,1%) e da InterTV (90%).Anda assim, na ordem de até R$ 1,2 bilhão, a operação foi aprovada em sessão da Câmara em junho, julgada ilegal pela Justiça, mas aprovada novamente em setembro. Acha que vocês vão conseguir quem compre? Como Campos chegou ao ponto de ter que vender?
Wladimir – Vale lembrar que o que foi considerado ilegal pela Justiça foi o modo que a sessão da Câmara foi conduzida, pois o vereador Kellinho era suplente e não poderia ter participado dela. Não tem nada de ilegal com a operação e com a lei aprovada. Vale lembrar também que o valor da operação é calculado pela Agencia Nacional de Petróleo (ANP), baseado nas perdas reais que os municípios e Estados tiveram, não tem ninguém pleiteando valores exatos. Dito isso, eu deixo algumas reflexões: os vereadores e parte da imprensa que criaram o termo “venda do futuro” apoiaram o (Luiz Fernando) Pezão (PMDB), candidato do Sérgio Cabral (PMDB), ao governo do Estado. O Cabral fez esse tipo de operação diversas vezes, o Pezão apenas este ano já fez várias operações idênticas, dando como garantia não só os royalties de petróleo, como o ICMS do Estado, chegou ao cúmulo de pegar R$ 6 bilhões dos depósitos judiciais, para poder cobrir o buraco do Estado, e ainda assim ele próprio teve que admitir que não sabe se terá dinheiro para pagar o funcionalismo publico e o 13º salário no final do ano. E aí? Ele está certo e nós errados? É mais provável que alguns aqui na cidade estejam brincando com a inteligência das pessoas. O que é dito no jogo político precisa ser sustentando, assim que a operação for concretizada, o que deve ocorrer ainda em outubro, e o dinheiro voltar a circular na cidade, todas as pessoas terão o real entendimento da necessidade dela. Não comprometera nenhuma outra administração ou geração futura, como tentam afirmar, pois está escrito e previsto na lei que só poderá ser pago 10% daquilo que for arrecadado ao ano. Sendo assim que futuro será comprometido?
Folha – A Folha vem fazendo uma série diária de matérias, ouvindo especialistas de cada área, para apontar princípios à próxima administração municipal. Em resumo, quais compromissos o sucessor da sua mãe deveria assumir em questões como dependência dos royalties, transparência de governo, enxugamento da máquina, infraestrutura, comércio, indústria, agropecuária, cultura, esportes e lazer, sem contar a saúde e a educação, na qual Campos fica entre as últimas posições, no Ideb e Ioeb, entre os 92 municípios fluminenses?
Wladimir – São muitas questões importantes para serem tratadas em uma única pergunta, o que eu gostaria de ressaltar é a importância do diálogo com a sociedade e com as instituições. O governo precisará ser mais horizontal e estar atento as opiniões e as necessidades de cada segmento. Programas importantes e que vem dando bons resultados como os Bairros Legais, Passagem Social, Vilas Olímpicas, programa de imunização com várias vacinas gratuitas, Micro Crédito pelo Fundecam, novas escolas e creches, programa habitacional e tantos outros precisam ser mantidos e ampliados, dentro da nova realidade financeira imposta pela crise nacional e pela crise da região do petróleo.
Folha – Ainda em relação àquela sua última entrevista, que abriu esta, você a encerrou em 2014 projetando a sucessão de Rosinha para 2016: “São muitas condicionantes. Se Garotinho ganhar a governador, é uma coisa. Se ele não ganhar, será outra”. Pois ele perdeu ainda no primeiro turno, amargando no segundo a derrota (aqui) em cinco das sete zonas eleitorais de Campos, ao apoiar Marcelo Crivella (PRB). E agora, como será?
Wladimir – A vitória de Pezão em Campos no segundo turno teve um componente mais do que simplesmente político. A Igreja Católica emitiu um comunicado oficial pedindo aos fiéis que não votassem no Crivella e, no domingo pela manhã, do dia da eleição, em várias igrejas, os padres reforçaram o pedido. Garotinho não venceu a eleição e já estamos vivendo a situação que havia dito em 2014. Primeiro tentaram controlar a câmara de vereadores para fazer o governo ficar de joelhos, algo semelhante ao que faz Eduardo Cunha com Dilma. Em seguida, alguns que eram aliados trocaram de lado. Sem dúvida a eleição será muito disputada. Ainda teremos cenas e capítulos a serem escritos nesse um ano até o pleito.
Em sua coluna de estreia em O Globo (aqui), a ocupar a primeira dobra da edição dominical de hoje do jornal carioca, o colunista Lauro Jardim começou quente. E sua principal notícia abalou não só os já soçobrados pilares da República, como também aqueles em que alguns alguns ainda tentam equilibrar dogmas anacrônicos, em nome de um suposto projeto político em benefício dos pobres, não para transformar um punhado deles em milionários com dinheiro público.
Aguardado como grande delator do esquema do PMDB fluminense no Petrolão, o operador Fernando Soares, o “Baiano”, afirmou em delação premiada que pagou despesas pessoais de R$ 2 milhões para Fábio Luís Lula da Silva, o “Lulinha”, filho mais velho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki homologou na sexta-feira o depoimento de Baiano, preso em Curitiba, por ordem do juiz federal Sérgio Moro.
Ex-monitor do zoológico de São Paulo, com salário mensal de R$ 1,6 mil, Lulinha passou a ser apontado, após o pai e o PT assumirem a presidência da República, como um empresário de sucesso no ramo das comunicações e da pecuária, ao que o Lula certa vez respondeu: “Não posso fazer nada se Lulinha é um Ronaldinho (Fenômeno) do mundo dos negócios”.
Contra o (até quando?) presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB), enrolado até a alma com a descoberta das suas contas e da esposa na Suíça usadas para despesas pessoais, Baiano, por enquanto, revelou pouco.