A ONU divulgou essa semana o ranking dos países mais felizes do mundo. De um a dez, os mais ditosos foram Noruega, Dinamarca, Islândia, Suíça, Finlândia, Holanda, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Suécia.
Não parece ser casualidade que os primeiros no ranking sejam também aqueles países onde melhor se vive. Como não surpreende que o último seja a República Centro-africana. Todavia, o ranking da ONU vai de encontro a várias crenças pseudofilosóficas sul-americanas, como aquela que sustenta que nós deveríamos ser mais felizes que os europeus, em especial daqueles europeus que encabeçam a lista, os escandinavos, tidos sempre como circunspectos, pouco amistosos e suicidas.
Afinal, somos latinos! E isso significa que rimos e choramos com maior intensidade do que noruegueses ou dinamarqueses, e por algum misterioso motivo acreditamos que a intensidade das paixões vale mais do que a parcimônia. A nossa reação sobre um acontecimento pareceria ter mais importância do que o acontecimento em si.
Bem, ao que parece, a ONU não compartilha nosso entendimento. Os países mais felizes têm populações chatas: anglo-saxões e nórdicos. São sociedades que decidiram renunciar às alegres instabilidades produzidas pelas lutas pelo poder dos políticos, à diversão dos ajustes econômicos e à refrescante vivacidade da violência social.
Dos dez primeiros, oito decidiram que o seu líder será um monarca, um sujeito um pouco absurdo que será considerado o soberano, para assim não ter que se submeter às ambições ‘caudilhescas’ de políticos, generais e empresários que podem resultar, além de igualmente absurdos, eventualmente malucos e perigosos. A monarquia constitucional desses países se baseia na premissa de que é melhor um fantoche decorativo sem poder do que um palhaço que se pretende dono do circo. Parece que funciona.
Harry Lime, o cínico personagem de Orson Welles em “O Terceiro Homem”, estava errado: a entediante Suíça (4ª no ranking), produtora de relógios de cuco, é mais feliz do que a efervescente Itália (48º lugar), com seu Renascimento, suas guerras e sua latinidade.
Um cantor argentino tem uma música onde sustenta que ‘la buena felicidad dicen que no se nota’. É verdade: a felicidade e a nossa percepção dela não costumam ser contemporâneas. Mas, às vezes, a desgraça tampouco é percebida, e a costume nos faz confundir mediocridade com normalidade. Acontece com algumas pessoas. E também com certos países.
Gostei muito artigo .Excelente análise .”Éramos felizes e não sabíamos ”
A Felicidade é feita de pequenas ações.