O Palmeiras me levou para a Folha
Por Antunis Clayton(*)
Existem teses que falam da possibilidade de os seres humanos nascerem com determinadas paixões já impressas no DNA. Gente que nasce com a música no sangue, com o futebol no sangue, com o teatro no sangue. Enfim, se é fato ou não, deixo para a ciência o debate. O velho Francisco Santana, pai do meu pai, avô que não cheguei a conhecer e de onde tirei o Francisco pra formar o nome composto do meu neto Miguel Francisco, gostava muito de rádio. Papai relata que, num tempo em que o rádio era presente em poucas casas, na casa dele já havia um. E vovô se enchia de prazer na fidalguia àqueles que lá iam para ouvir os programas musicais.
Pode ser que eu tenha herdado dele a paixão pelo rádio e pela comunicação, mas também acredito que isso pode ter se dado por uma mecânica de aproximação a outra grande paixão. Eu tinha oito anos, em 1974, e vi pela televisão, uma partida de futebol. De um lado estava um time que tinha na sua formação Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei. Eu não tinha estudado geografia o suficiente pra me sentir obrigado a não me apaixonar por um Palmeiras (se dependesse só de mim voltaria a se chamar Palestra Itália) encravado no outro lado do mapa. E se tivesse estudado, meu bom gosto daria um pontapé no traseiro da geografia.
Como não vivíamos esse tempo de TV por assinatura com canais especializados em esporte, tive que recorrer ao rádio, àquelas emissoras de ondas curtas, com seu tradicional chiado. Sobretudo à noite, procurava ali as informações do Palmeiras. E me apaixonei pelo rádio sério e dinâmico de São Paulo.
Assim, em fevereiro de 1993, eu era contratado como repórter da Rádio Continental de Campos (AM 1270), realizando um sonho de criança. Entrava, assim, numa casa que aprendi a admirar, respeitar e ser grato, o Grupo Folha da Manhã. Dois anos depois, pelo jornalista e amigo Luiz Mário Concebida, chego à redação do jornal para atuar na editoria de Esporte, sendo contratado pelo jornalista Aluysio Cardoso Barbosa. E me orgulho pelo quilate do contratante, que como eu, em Campos, nutria amor pelo Clube Esportivo Rio Branco.
Aluysio Abreu Barbosa, seu filho, acabara de assumir a editoria geral da Folha, onde ficou por cinco anos, antes de ser diretor de redação. Amigo, parceiro, sempre apostando e abrindo portas àqueles que chegavam. E eu, mergulhava em todas as portas abertas. Foram muitos projetos e experiências que me fizeram crescer, com erros e acertos: Folha Dois, Folha no Ar, A Hora e a editoria geral, além dos projetos de vídeo na companhia de Kapi e Yve Carvalho.
A Folha da Manhã sempre foi uma grande escola; e comigo não foi diferente.
(*) Jornalista, radialista e ex-editor-geral da Folha
Publicado hoje (07) na Folha da Manhã