24 de Janeiro. 3×0. Rojões na Paulista. Seria hipocrisia demais sustentar que fogos deveriam ser disparados para qualquer condenação de um político corrupto. Os rojões tinham um alvo e motivo específico, único. Eles são o extravasamento de quem passou mais de uma década contra a parede. Com o acirramento dos ânimos a partir de 2013, alcunhas como “fascista” e “racista” fazem os “elitistas” de ontem sentirem saudade do tratamento anterior dispensado pelos petistas a quem quer que discordasse de quaisquer de suas políticas.
Os fogos pela condenação do corrupto Lula não aconteceram, por exemplo, quando da visão gratificante de Cabral algemado, sendo transferido da prisão onde era rei. A arrogância do malandro carioca, difusa, sempre contrastou com a arrogância do primeiro presidente operário (logo primeiro presidente presidiário), direcionada para um inimigo coletivo, mas que seus asseclas sempre souberam individualizar nos ambientes acadêmicos, de trabalho, de convívio social.
24 de Janeiro. 3×0. Lula preso amanhã. História sendo escrita. Pela primeira vez, um político de peso é réu por crimes de corrupção em tribunais comuns. Longe do compadrio histórico dos tribunais superiores, a fantasia do condenado Lula foi desmascarada com didatismo por cada um dos desembargadores: o tríplex foi preparado, com o conhecimento e consentimento do ex-presidente, sendo fruto da árvore podre semeada no fértil terreno em que se davam as relações da Petrobrás com as empreiteiras apaniguadas. A peculiaridade de um apartamento reformado sob medida para o gosto de um cliente especial, somada às centenas de documentos e às dezenas de depoimentos prestados ao longo do curso do processo construíram uma sólida convicção de sua culpa. A foto de Lula vistoriando o tríplex, cujos documentos foram encontrados em sua própria casa – aos quais o presidente atribuiu à já falecida esposa – foram apenas a cereja do bolo.
A farsa do perseguido político era continuamente golpeada pela leitura do voto do relator, o qual pareceu ter sido uma descrição literal de cada prova elencada pelo MP e como ela se ligava à seguinte. A coesão dos votos dos desembargadores não foi à toa: a profundidade das investigações da Lava Jato e a quantidade de informações cruas descobertas pela PF e MP tornam virtualmente impossíveis toda negativa da defesa. A cada contraposição dos advogados de Lula, a acusação responde com vários documentos aliados a depoimentos de testemunhas e de réus – em colaboração ou não.
Não à toa, também, a defesa de Lula é o ataque. No mais recente revival da teoria da conspiração preferida do petismo, o corrupto Lula seria a vítima coletiva – o povo – encarnado num bode expiatório, o cordeiro a ser sacrificado pela elite econômica, a mesma que foi fartamente beneficiada nos governos petistas por centenas de bilhões de reais em incentivos e subsídios. A retórica religiosa, obviamente, só funciona para os convertidos mais radicais. Após mais esse vexame para a narrativa, até os moderados já pulam do navio em naufrágio. Se agarrarão às primeiras boias de salvação atiradas ao mar: Ciro ou Boulos – para os mais atrevidos – que secretamente anseiam serem abraçados por aqueles que buscam uma saída à esquerda para o espetáculo farsesco ao qual aderiram.
24 de Janeiro. 3×0. Lula preso amanhã. A menos que consiga uma liminar salvadora dos tribunais amigos – algo que, aparentemente, nem mesmo os mais petistas dos ministros do Supremo parecem dispostos a conceder neste momento, Lula, na melhor das hipóteses, estará inelegível. Sua ausência tende a ser positiva para aliviar a radicalização do debate. Dos benefícios, o menor. A maior herança do julgamento está expressa na epígrafe da sentença histórica de Sergio Moro: “Não importa o quão alto você esteja, a lei ainda está acima de você”.
24 de Janeiro. 3×0. Lula preso amanhã. Sabor de 7×1, para o Brasil.