“Vejo uma insistência descabida de candidatos a prefeito de Campos em negarem o fato de que a educação municipal está tomando o rumo certo, conforme refletido no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, confira aqui e aqui) 2023. É nítido que há uma torcida contra o avanço da educação se o mérito não couber em um modelo narcisista”. Foi o que disse hoje o professor Marcelo Feres, que se afastou da secretaria de Educação do governo Wladimir Garotinho (PP) para ser candidato a vereador pelo PDT.
Divulgado no dia 14, o aumento da nota de Campos no Ideb foi comemorado na semana passada por Wladimir, em vídeo postado (confira aqui) no Instagram. Que foi mostrado em vídeo do professor Jefferson de Azevedo (confira aqui), ex-reitor do IFF e candidato do PT a prefeito de Campos, ironizando e questionando o prefeito também no Instagram.
Na quarta (21), os questionamentos de Jefferson foram questionados não por adversários políticos, mas por (confira aqui) dois colegas seus da academia: Eduardo Shimoda, professor de Estatística e de Indicadores de Qualidade da Educação no Mestrado e Doutorado em Planejamento Regional e Gestão da Cidade da Universidade Candido Mendes; e o cientista político George Gomes Coutinho, professor da UFF-Campos.
— O Ideb de Campos não mostrou resultado muito bom, mas de fato melhorou. O município era o 85º entre 91 municípios fluminenses na nota Saeb de 2021. E, em 2023, passou para 69º entre 92 municípios. ‘Pedalada’ seria aumentar o nível de aprovação, que em Campos subiu muito pouco, de 91% a 95%. Se os alunos passassem sem saber, seria inútil, porque o Ideb tenderia a cair em 2025. A aprovação não é a causa do aumento do Ideb. Foi a nota Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), ao subir de 5,13 a 5,74, demonstrando uma proeficiência melhor dos alunos, que aumentou a aprovação. Não foi maquiagem, os alunos é que estão sabendo mais — concluiu o estatístico Shimoda. Que também advertiu: “o resultado será explorado politicamente em ano de eleição municipal”.
— O PT de Campos só não explicou por que, se há problema no Ideb, ele não está no instrumento de avaliação do MEC? Que está nas mãos do PT, o (ministro) Camilo Santana é um quadro do PT. Ao tentar desmoralizar o prefeito, se desmoraliza o instrumento. O PT local resolveu, por tática eleitoral, atacar Wladimir. Se houver um hipotético 2º turno sem o PT, ele vai apoiar a candidatura de Madeleine, de extrema-direita de fato? São 5.565 municípios no Brasil. Se maquiar é tão simples, por que não tivemos a explosão no Ideb Brasil afora? — questionou o cientista político George Coutinho.
Após ser questionado na quarta, Jefferson reforçou seus questionamentos (confira aqui) na quinta (23). E, sem nominar, criticou diretamente Feres como “ex-secretário de Educação”:
— O resultado do Ideb é mais uma maquiagem do governo Wladimir Garotinho e a educação do município continua nas piores colocações do Norte Fluminense, mesmo com um orçamento gigantesco. Diferentemente do que foi afirmado pelo ex-secretário de educação, o maior valor de aprendizagem, medido pelo Saeb em português e matemática na nossa rede municipal, foi em 2007, com um valor de 6,23, o que supera o de 2023, no valor de 5,74. Porém, o único valor histórico que poderia ser anunciado em forma de ‘petáculo’ deveria ser o da taxa de aprovação, que, em 2023, foi de 95% — dobrou a aposta Jefferson.
Ex-colega de Jefferson no IFF, onde lecionou até 2017, antes de se integrar ao IF Brasília, Feres também ocupou vários cargos no ministério da Educação, de 2008 a 2016, nos governos Lula e Dilma Rousseff, chegando a secretário nacional de Educação Profissional e Tecnológica. Ao ter seu trabalho criticado, o ex-secretário de Educação de Campos classificou como “teses insustentáveis” as críticas do colega de magistério e hoje opositor político, ainda que sem nominar Jefferson:
— A defesa de teses insustentáveis via narrativas políticas ignora análises científicas de especialistas imunes a viés político partidário (como é o caso de Shimoda e George), que comprovam que os alunos da rede municipal alcançaram notas mais altas na prova Saeb de língua portuguesa e matemática. Esse resultado é fruto do esforço e da competência dos alunos, professores e gestores da rede municipal. O questionamento do Ideb 2023 de Campos foi uma encenação precipitada, irônica e sem base científica — disse Feres. Que foi além:
— Como afirmado por uma liderança do PT local, tal questionamento foi uma opção política de quem entende que “não é possível deixar de analisar o conteúdo político para adotar apenas uma leitura técnica sobre os dados do Ideb” (declaração do candidato a vereador do PT Gilberto Gomes). Preocupa que políticos com experiência na área de educação se manifestem a partir de narrativas políticas, típicas de não especialistas, em detrimento das evidências científicas e da ética da boa ciência — alfinetou o ex-secretário de Educação de Campos, que ascendeu no ministério da Educação nos governos do PT.
Quem também se posicionou sobre a polêmica do Ideb foi a professora Auxiliadora Freitas, ex-vereadora e também ex-secretária de Educação de Campos de 1997 a 2003, nos governos Anthony Garotinho e Arnaldo Vianna:
— O Ideb é apenas um indicador, sujeito a falhas tanto na variável de fluxo escolar quanto na variável do Saeb, mais relacionado ao grupo de estudantes que efetivamente faz as provas. Entendo que o índice tem relevância, mas sou totalmente contra o sensacionalismo político criado em torno do Ideb. A qualidade da educação deve ser avaliada e analisada com mais profundidade. Quando o índice fica baixo tentam colocar como se a educação fosse péssima e quando fica um pouco melhor, como se fosse ótima. As análises precisam ser mais consistentes, menos simplistas, com fins que não sejam a qualidade da educação — cobrou Auxiliadora. Que foi além:
— Como educadora que torce pela educação de nossos pequenos e pequenas, que bom que a rede municipal conseguiu melhorar o Ideb. Fico feliz pelos esforços de todos nessa conquista. Os resultados deveriam ser diagnósticos, como eram no início. Os resultados eram enviados, indicando as fraquezas no desempenho dos estudantes, para que os sistemas de ensino e as escolas promovessem as mudanças necessárias — lembrou a ex-secretária de Educação de Campos.