Com Roberto, dono da Toca dos Amigos, morre um tempo melhor

 

Roberto e sua inseparável companheira Isabel, na Toca de muitos amigos

Após uma semana vertigionosa de trabalho, da negativa de Habeas Corpus (HC) no Supremo Tribunal Federal (STF) até a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o início desta se deu com uma péssima notícia: o empresário (e amigo) Roberto Alves da Costa, proprietário do tradicional bar e restaurante “Toca dos Amigos”, morreu (aqui) na manhã de hoje (09), aos 67 anos. Ele estava internado há cinco dias no Hospital Álvaro Alvim.

Por conta de um tumor no cérebro, descoberto em dezembro do ano passado, Roberto teve que se submeter a várias cirugias. Aparentemente, elas foram bem sucedidas. Mas ele passou mal na última quinta (05) e voltou a ser internado, até falecer por insuficiência respiratória. O velório está se dando desde às 16h no Campo da Paz, onde o enterro ocorrerá às 10h da manhã desta terça (10).

Conhecia Roberto há alguns anos, como frequentador eventual de seu bar. E nos tornamos amigos desde que me tornei cliente mais assíduo, quando em 2010 voltei a residir perto do seu estabelecimento, numa área da cidade de cara memória afetiva, onde já havia morado em grande parte da minha infância e adolescência.

Essa sensação de pertencimento físico foi reforçada no convívio humano com Roberto, sua esposa Isabel, sempre ao caixa, os garçons e demais frequentadores do bar. Pela proximidade, a Toca dos Amigos funcionava nos últimos anos quase como uma extensão da minha própria casa. Acho que esse era o sentimento de todos seus clientes, franqueado pelo próprio Roberto, que, além de dono, fazia as vezes de relações públicas do local.

A Toca tinha algumas figuras carimbadas. Era difícil ir lá e não topar com o odontólogo Luís César Lusitano, o jornalista Joca Muylaert, ou o advogado Fabinho Lontra Costa. De fato, quando o bar estava mais vazio, as conversas entre Roberto e Lusitano eram uma atração à parte. Ver aqueles senhores implicando com as manias um do outro, como se fossem adolescentes, endossava entre gargalhadas a crença de que a amizade, quando sincera, não envelhece.

Como um dos organizadores do Cinecube Goitacá, desde que ele abriu suas atividades em 2013, muitas de nossas confraternizações de final de ano se deram na Toca, local invariavelmente proposto por mim. Os demais cineclubistas até brincavam se eu não recebia 20% da conta da mesa ao final.

Na Toca dos Amigos, com o violão e voz do Lolô Alves Gusmão ao fundo, muitas vezes presenciei e participei de típicas conversas de botequim. Nelas se falava de tudo: política, futebol, fatos do cotididano. E quase sempre em clima de paz, de descontração, de quem pode discordar e rir, no lugar de odiar. Nestes dias de polarização acéfala e raivosa em que vivemos, com Roberto morre também uma era. Com a saudade assumida que bate forte desde já, foi um tempo melhor.

Vá em paz, meu amigo!

 

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Este post tem 2 comentários

  1. George Gomes Coutinho

    Roberto fará enorme falta. O conheci quando eu ainda estava na graduação da UENF e realmente senti a pedrada q foi a sua partida. Excelente ouvido, piloto de fogão e um dos caras mais fraternos que já pude conhecer.

    Lastimo junto de seus entes queridos a perda desse cara fantástico. Hj não é dia de cerveja. Mas, abri uma em homenagem ao companheiro. Torço que esteja em bom lugar. Certamente está.

  2. Geraldo Lopes Raphael

    A Toca dos Amigos foi pra mim, um retorno aos anos 90 no Cantinho do Poeta, do também amigo, Cláudio Sardinha. Eu me encontrava com muitos amigos todos bem recalchutados. Amigos tipo carburador com charme de bico injetor. Meu saudoso e amado irmão por vezes tocava lá. Eros Jr com seu temperamento dificil, do tipo Pedrinho Mattar, só tocava musicas que ele gostava e rotulava como “classe AA”. Por lá, nas quintas e sextas, no fim de noite, as conversas eram bem sadias. Ah, que saudade do Eros, do Lolô e do Roberto. O França, outro grande amigo, brigou comigo por ter falado mal do campeoníssimo Presidente Bozo, seu estadista preferido. Mas eu o amo assim mesmo. Enfim, os dias eram assim. Hoje, nao consigo mais passar naquele bar, naquela mesa. O Toca dos Amigos agora esta em outro endereço, onde todas as noites tem musica ao vivo com Lolô e Eros sob o comando do simpatico Roberto.

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