Gustavo Alejandro Oviedo — Notas inflamáveis

 

 

 

Pedro Parente, o presidente da Petrobras, está sendo atacado por sanear as contas da empresa, reverter a situação deficitária em que se encontrava e posicioná-la novamente como a maior companhia do Brasil. A lógica por trás das criticas é que nada disso é importante se os combustíveis não são vendidos a preços mais camaradas. Afinal, para que é a Petrobras uma empresa estatal, se não pode renunciar ao lucro e à eficiência em favor dos motoristas? Por que ela tem que ser uma empresa de economia mista, com sócios privados minoritários e com ações na bolsa de Nova Iorque, quando poderia ser uma decadente e generosa empresa pública – como os Correios, por exemplo?

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Muitos aproveitaram os eventos dos últimos dias para alertar, nas redes sociais, do perigo da ‘mão invisível do mercado’ e do livre comercio, tomando como base os aumentos expressivos dos produtos que ficaram escassos.  Convém recordar aqui que Adam Smith defendia o livre mercado, mas não o caos. “O exercício da liberdade natural de algum indivíduo que faça perigar a segurança de toda a sociedade é e deve ser impedido pelas leis de todos os governos”, escreveu em A Riqueza das Nações. Quando alguém impossibilita um produtor de comercializar seus produtos sob a ameaça de queimar o caminhão que os transporta, tal atitude não parece se enquadrar num ambiente de liberdade.

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Tenho pavor a uma fila. Por isso, me recusei a perder tempo perto dum posto quando a falta de gasolina começou semana passada,  e me recuso agora, quando a lenta normalização provoca tumultos ao redor das bombas. A necessidade locomoção está sendo resolvida com o álcool de limpeza 92,8º, adquirido na mercearia da esquina, que o meu pequeno carro flex aceita sem reclamar.

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Falando de etanol, não deixa de ser irônico que a nossa região, que já foi e poderia voltar a ser uma das maiores processadoras de cana de açúcar, dependa dos caminhões pipa que vem de Duque de Caxias para suprir a necessidade de combustível. O deputado Mendonça Filho (DEM) apresentou nesta segunda um projeto de lei que libera a venda de etanol pelas usinas, sem a intermediação das petroleiras/distribuidoras.  Segundo Mendonça Filho, isto poderia significar uma redução de 10% no preço do produto.

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Acrescentaria a essa boa ideia outra que venho matutando há algum tempo (desculpem insistir): a desvinculação da venda de etanol dos postos que vendem gasolina. Se uma usina puder ter seu próprio posto, por exemplo, poderia vender seu produto ao preço que quiser, e não necessariamente a 70% do preço da gasolina, como acontece hoje.

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A greve/locaute dos caminhoneiros demonstrou como a população acompanhou com simpatia um movimento que provocou desabastecimento, encareceu produtos, coagiu aqueles que não queriam aderir ao protesto e clamou por uma intervenção militar. O balanço foi positivo, ao menos, do ponto de vista do estudo sociológico.

 

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