Do Planalto à planície
Por Alexandre Buchaul
Trazendo à nossa terra as reflexões levadas a termo por Ricardo Amorim, na brilhante palestra (aqui), apresentada no Trianon, na quarta-feira, 21 de agosto. Peguei-me comparando os atores políticos nacionais a seus “similares” campistas. Guardadas as devidas proporções, diria que Campos reflete bem o que se passou no cenário nacional, tempos de bonança desperdiçada antecedendo crises e novamente ciclos de bonança que acabaram alimentando o populismo e criando novos tempos de crise. Vejamos:
Arnaldo Vianna (de volta, aqui, ao PDT) simbolizaria o nosso Lula. Assumiu uma prefeitura enxuta, com poucas obrigações, e receita subindo como um foguete. Há os que queiram dizer que sua receita total do último ano de mandato fora de apenas R$ 600 milhões. E, aí, cabe um parênteses. Se atualizada pela taxa Selic essa receita seria o equivalente, hoje, a algo em torno de R$ 3 bilhões e a bagatela de R$ 46 milhões gasta com os devaneios materializados na praça São Salvador corresponderiam a pouco mais de R$ 200 milhões, dinheiro suficiente para quase 20 hospitais São José. Diferente de Lula, Arnaldo contou com um judiciário benevolente e está inelegível há bons anos. Estivesse submetido aos rigores com que a Lava Jato trata os corruptos atualmente, certamente teria sido condenado a penas mais duras — provavelmente à prisão, assim como o Lula.
Rosinha Garotinho seria a nossa Dilma Rousseff. Usou e abusou do orçamento para manter políticas insustentáveis, inflou programas sociais com fins eleitoreiros, não mostrou qualquer respeito pela saúde fiscal do município. A operação Chequinho da Polícia Federal, a rejeição das contas pelo TCE-RJ e pela Câmara puniu os Garotinho, como o impeachment puniu a ex-presidente Dilma. A derrota nas urnas deu o claro recado de que a recessão que se iniciava tinha um preço alto. Um preço que nenhuma antecipação de receita (“venda do futuro”) seria capaz de cobrir.
Rafael Diniz, nosso Michel Temer. Ao contrário do ex-presidente que assumiu com popularidade já não elevada, Rafael assume com ares de salvador da pátria e, parafraseando o Ricardo Amorim, expectativas altas não atendidas geram frustrações igualmente elevadas. A perda de popularidade de Rafael o colocou em situação próxima à do Temer, o presidente brasileiro com maior índice de rejeição da história recente. Ferido de morte pela delação do Joesley Batista, o presidente ainda conseguiu, à custa de forte recessão, sanear alguns dos pilares de nossa economia e deixar ao sucessor condições de governo melhores que as que encontrou. Rafael parece querer deixar um legado de saúde fiscal/administrativa melhor que o recebido de Rosinha (Dilma) Garotinho. Mas, não tem tido aparente sucesso.
Uma vez mais, me valendo dos ensinamentos do jornalista e economista Ricardo Amorim, ousarei dizer que Rafael, agora com rejeição “temerária”, erra nos dois principais fatores que levariam ao sucesso de um empreendimento: time de execução e timing.