Como será o amanhã?
Por Orlando Thomé Cordeiro
“Como será amanhã?
Responda quem puder
O que irá me acontecer?
O meu destino será
Como Deus quiser”
Os versos acima são do samba enredo que a União da Ilha no carnaval de 1978. Sucesso no desfile e eternizado na interpretação de Simone. Toda vez que faço ou leio análises de cenários e tendências essa música me vem à mente.
Nesta semana foram divulgadas novas pesquisas de alguns institutos com dados sobre a avaliação do governo federal, do Congresso Nacional, do STF, além de intenção de votos para 2022.
A primeira informação é a manutenção do desgaste das instituições republicanas que representam os poderes Legislativo e Judiciário. Segundo o PoderData, 38% consideram ruim/péssimo o trabalho do STF enquanto 19% apontam como ótimo/bom. Na série histórica, iniciada em junho de 2020, verifica-se que a avaliação negativa sempre superou largamente a positiva.
No caso do Legislativo Federal, o mesmo instituto nos apresenta os seguintes resultados: o Senado com 45% de ruim/péssimo e 11% de ótimo/bom, e a Câmara com 46% de ruim/péssimo e 12% de ótimo/bom. Nos últimos seis meses apenas em uma ocasião a avaliação negativa ficou abaixo de 40% nas duas Casas.
Por outro lado, chama a atenção o percentual de apoio à participação de militares no governo. Para 41% é “bom para o Brasil” enquanto para 35% é “ruim para o Brasil”, representando uma virada em relação aos resultados apurados em agosto quando os percentuais foram, respectivamente, 32% e 52%.
A combinação dos resultados acima permite algumas reflexões, entre as quais percebermos que ainda é culturalmente muito forte na sociedade a perigosa ideia das FFAA como uma tábua de salvação.
Sobre a avaliação do governo Bolsonaro, além do PoderData, tivemos os resultados da Quaest e do Ideia Big Data. Todas elas apontam para uma reversão na trajetória de queda na aprovação que vinha sendo verificada nos últimos meses, mas não é possível afirmar que seja uma tendência definitiva já que a desaprovação segue alta, em percentuais iguais ou superiores a 50%, sendo que a diferença entre negativo e positivo varia de 26% a 32%.
Por fim, temos os dados relativos às eleições de 2022 indicando uma folgada liderança de Lula, seguido por Bolsonaro e com Sergio Moro se consolidando na terceira posição, a uma distância de 15% em média para o segundo colocado. Revelam também que Ciro e Doria, em que pese toda exposição, não têm conseguido chegar a dois dígitos. E os demais postulantes não ultrapassam 1% de intenção.
Com base nesses cenários, penso ser possível apontar algumas tendências. A primeira constatação relevante é que o Ideia Big Data, a exemplo do que havia sido detectado pelo Instituto Atlas na semana passada, mostra um descolamento entre a aprovação do governo (25%) e da figura do presidente (31%). Ou seja, a preço de hoje, Bolsonaro continua sendo um fortíssimo candidato para chegar ao segundo turno.
Já Lula tem aparecido com percentuais elevados a ponto de algumas análises apontarem para sua possível vitória sem necessidade de segundo turno. Acho essa hipótese improvável. Afinal, mesmo em 2002 e 2006, no auge de sua popularidade, não conseguiu maioria absoluta de votos no primeiro turno. Por outro lado, em todas as eleições desde 1989, à exceção de 1994 e 1998 quando FHC foi eleito no primeiro turno, o PT esteve presente. Assim, é possível afirmar que essa situação se repetirá no próximo ano.
Para muita gente, as cartas desse jogo já estão definidas com a disputa ficando restrita aos atuais dois primeiros colocados. Porém, há uma novidade representada pela entrada de Sergio Moro que, apoiado em uma largada muito forte, briga para ser uma cunha e se colocar como uma alternativa competitiva.
Alguns fatores jogam a favor do ex-juiz. O primeiro, paradoxalmente, é ser uma figura pela qual o mundo político institucional demonstra alta rejeição, pois isso pode ser o gatilho que atraia aquela parcela do eleitorado que se move pelo sentimento antissistema.
Outro dado é a recuperação no imaginário da população da bandeira de combate à corrupção, cujo auge foi durante a Lava Jato. Aliás, as recentes decisões do Judiciário, anulando condenações dela decorrentes, servem como combustível para isso.
Adicionalmente, o comportamento de Bolsonaro durante seu mandato, culminando com sua adesão inconteste ao Centrão, tem gerado uma sensação crescente de frustração entre boa parte dos eleitores que o apoiaram em 2018.
Por isso, ouso afirmar que, se nas pesquisas de março/abril, Moro aparecer com índices próximos de 20%, terá início uma migração a seu favor de parte significativa daquelas pessoas que vêm declarando voto tanto em Bolsonaro quanto em Lula simplesmente pelo desejo de evitar a vitória de um deles. Poderá ser uma onda irresistível que o leve ao segundo turno, mas somente mais adiante saberemos como será o amanhã.
Publicado hoje na Folha da Manhã.
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Porque será que o líder Lula não sai pra rua,já que ele vem liderando essas pesquisas desde do começo,alguma coisa tem de errado nessa pesquisa.
Caro Cesar Peixoto,
A única coisa que não uma, mas todas as pesquisas presidenciais têm de “errado” é a ducha de água gelada na pretensão de reeleição do seu “mito”. Que, ainda assim, continua forte candidato, como o artigo registra.
Grato pela chance de ressaltar o óbvio!
Aluysio
Essa pesquisa só pode ter sido feita com a imprensa quebrada, com os ex-mamadores da Lei Rouanet, com militantes de esquerda e outros que sugavam os cofres da nação, o Mito, Presidente sem igual, será reeleito desta vez no primeiro turno, os corruptos estão desesperados, jornais e emissoras fechando porque a sangria foi estancada, a choradeira é geral, os que vão criticar minha postagem se é que vão publicar, são justamente aqueles que perderam a vaca gorda do Lula o maior ladrao da história do Brasil.
Caro Genildo Siqueira,
Por favor, tentar ler antes de tentar comentar. Não é “essa pesquisa”. São essas. No caso, três pesquisas da semana passada que foram analisadas pelo Orlando: PoderData, Quaest e Ideia Big Data. Que revelam a mesma coisa de todas as outras: Lula, Bolsonaro e Moro isolados, respectivamente, em 1º, 2º e 3º lugares na corrida presidencial de 2022. Assim como todas registram a rejeição do seu “mito” acima de 50% do eleitorado, o que torna a reeleição dele no segundo turno aritmeticamente impossível. Mas, para constatar isso, lógico, além de aprender a ler antes de tentar escrever, vc também que teria que aprender a fazer contas. Quanto à possibilidade de vitória no primeiro turno, hoje ela só existe para Lula. Por sua vez, Bolsonaro hoje luta desesperadamente, usando e abusando do dinheiro público em conluio espúrio com o Centrão, para não ser ultrapassado por Moro.
Grato pela chance de desmentir suas fake news!
Aluysio
Elas tem errado sem aspas desde a eleição de 2018,e agora vem com o morno goela abaixo,pobre imprensa ,cada vez menos escrevendo para o mundo real.
Caro Neilton Barreto,
Não é porque você vota em Bolsonaro que precisa mentir descaradamente como ele. No mundo real, desde setembro de 2017, portanto mais de um ano antes da urnas de outubro de 2018, pesquisas e imprensa registravam que, sem Lula, Bolsonaro era o favorito naquela corrida (no caso de dúvida real, confira o link abaixo). Na qual, quatro anos depois, está hoje imprensado abaixo de Lula e (ainda) acima de Moro.
https://opinioes.folha1.com.br/2017/10/22/brasil-entre-lula-e-bolsonaro/
Grato pela chance de desmentir suas fake news!
Aluysio