Pesquisas, liderança de Lula e armadilha de Bolsonaro

 

Lula e Bolsonaro (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr).

Estamos hoje a exatos 141 dias, pouco mais de quatro meses e meio, da eleição presidencial de 2 outubro. Mesmo aos eleitores mais apaixonados do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), do ex-governador paulista João Doria (PSDB), do deputado federal André Janones (Avante), da senadora Simone Tebet (MDB) e do cientista político Luiz Felipe d’Avila (Novo), entre outros menos cotados, parece não sobrar mais tempo para dúvida racional. Salvo qualquer ponto muito fora da curva — como a prisão ou a facada de 2018 —, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) disputarão o segundo turno em 30 de outubro.

Nas pesquisas dos principais institutos feitas neste mês de maio, Lula mantém sua liderança isolada, com Bolsonaro também isolado em segundo lugar, fora de qualquer margem de erro. Nas consultas estimuladas de intenções de voto, o ex-presidente apareceu com 40% contra 35,2% do atual, na Paraná feita entre 28 de abril e 3 de maio; com 44% contra 31%, na XP/Ipespe feita entre 2 e 4 de maio; com 40,6% contra 32%, na CNT/MDA feita em 4 e 7 de maio; com 46% contra 29%, na Genial/Quaest feita entre 5 e 8 de maio; e com 42% do petista contra 35% do capitão, na PoderData feita entre 8 a 10 de maio.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Em terceiro lugar em todas as pesquisas, Ciro apareceu com 7,4% de intenções de voto, na Paraná; 8%, na XP/Ipespe; 7,1%, na CNT/MDA; 7%, na Genial/Quaest; e 3,8%, na PoderData. A diferença que o separa da vice-liderança de Bolsonaro hoje é no mínimo de 22 pontos, pela Genial/Quaest. E no máximo de 31,2 pontos, pela PoderData. Em um universo eleitoral de quase 150 milhões de brasileiros aptos a votar, 22 pontos significam 33 milhões de eleitores. Enquanto 31,2 pontos significam 46,8 milhões de votos. Com o slogan “A rebeldia da esperança” criado por João Santana, ex-marqueteiro de Lula e de Dilma Rousseff (PT), haja esperança ao ex-governador do Ceará. Tanto mais a quem vem ainda depois dele.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Não tão significativa quanto a diferença aos demais, ainda assim continua considerável a que hoje separa Lula de Bolsonaro. Pela Paraná, na menor diferença das pesquisas de maio entre ambos, os 4,8 pontos que os separam significam 7,2 milhões de eleitores. Pela XP/Ipespe, a diferença de 13 pontos do ex-presidente para o atual significa 19,5 milhões de votos. Pela CNT/MDA, a diferença de 8,6 pontos do líder ao vice significa 12,9 milhões de sufragistas. Pela Genial/Quaest, na maior diferença entre o petista e o capitão, os 17 pontos entre eles significam 25,5 milhões de brasileiros aptos a votar. Pela PoderData, a diferença de 7 pontos de Lula a Bolsonaro significa 10,5 milhões de eleitores.

Se a tarefa de tentar ultrapassar Lula na corrida do primeiro turno não parece fácil nestes quatro meses e meio até as urnas, a maior dificuldade de Bolsonaro para continuar no cargo é outra. E está no segundo turno. Para se chegar lá, contam a qualquer candidato as intenções de voto. Mas, para vencê-lo, conta a rejeição, por fixar o teto de crescimento dessas mesmas intenções de voto entre os dois turnos. Como questão aritmética, não política, o vencedor final precisa alcançar o mínimo de 50% mais um dos votos válidos.

Em todas as pesquisas, a posição entre Lula e Bolsonaro no índice positivo nas intenções de voto é invertida no índice negativo da rejeição. Na Paraná, o capitão teve 52,4% de eleitores afirmando não votar nele de maneira nenhuma, contra 46,3% do petista. Na XP/Ipespe, Bolsonaro teve 60% de rejeição, contra 43% de Lula. Na CNT/MDA, o presidente teve 53,9% de rejeição, contra 44,1% do ex-presidente. Na Genial/Quaest, Bolsonaro teve 59% de rejeição, contra 43% de Lula. E, na PoderData, o capitão teve 50% de rejeição, contra 37% do petista.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Quem tem 52,4%, ou 60%, ou 53,9%, ou 59%, ou 50% de rejeição, como Bolsonaro tem, não pode alcançar 50% mais um dos votos para vencer no segundo turno. Mais uma vez, não é uma questão política, mas aritmética. Aos analistas do mundo, o limite prudencial da rejeição ao vencedor de uma eleição em dois turnos é de 35%. Lula tem mais do que isso em todas as pesquisas. Mas, até aqui, sua sorte é ter como principal adversário alguém ainda mais rejeitado, cuja vitória hoje é matematicamente inviável.

Não por outro motivo, Lula bate Bolsonaro nas simulações de segundo turno de todas as pesquisas. A despeito das besteiras que o primeiro anda dizendo, como na questão do aborto que nunca propôs ao Congresso quando presidente, ou contra o teto de gastos criado pelo ex-presidente do Banco Central dos seus oito anos de governo, Henrique Meirelles (PSD). Nada comparável à bravata da privatização da Petrobras, para Bolsonaro tentar tirar o dele da reta do constante aumento no preço dos combustíveis, ou da maior inflação do país em 26 anos.

O fato é que hoje o petista liquidaria a fatura do segundo turno sobre o capitão por 46,4% a 38,7%, na Paraná; por 54% a 34%, na XP/Ipespe; por 50,8% a 36,8%, na CNT/MDA; por 55% a 34%, na Genial/Quaest; e por 49% a 38%, na PoderData. No turno final, a menor diferença de Lula para Bolsonaro, pela Paraná, hoje seria de 7,7 pontos — ou 11,55 milhões de eleitores. A maior, pela Genial/Quaest, hoje está em 21 pontos — ou 31,5 milhões de votos. Na dúvida, a certeza: é voto pra danar!

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Mais do que tentar ultrapassar Lula no primeiro turno, a única chance real de Bolsonaro seria diminuir sua rejeição para o segundo turno. Mas, em pastiche de Donald Trump no ataque aos votos pelos correios em sua anunciada derrota eleitoral à presidência dos EUA em 2020, o capitão força o discurso no Brasil de 2022. Contra a urna eletrônica, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF). Com o apoio de parte das Forças Armadas, que na quinta (12) teve resposta firme do sereno ministro Edson Fachin, presidente do TSE: “Quem trata de eleições são forças desarmadas!”. O tom de Bolsonaro é como o termômetro do peru Sadia: quanto mais sobe, maior a certeza de estar pronto para ser fatiado e servido.

 

 

Pesquisas não são infalíveis. Ainda que a Datafolha de setembro de 2017 já apontasse que, sem Lula na corrida, Bolsonaro era o favorito a vencer a eleição presidencial de mais de um ano depois. Como foi ali, pesquisas revelam tendências. As de 2022? A primeira, Lula parece ter alcançado há alguns meses seu teto no primeiro turno, patinando na casa dos 40%. Se não falar ou fizer nenhuma nova besteira, tende a manter.

A segunda tendência? Após crescer com a herança dos votos da desistência do seu ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União), Bolsonaro também aparenta já patinar em seu teto, na casa dos 30%. Talvez rebaixado porque, após crescer nas pesquisas — as mesmas que os bolsonaristas dizem não acreditar — e se sentir empoderado, o presidente voltou ao seu manjado morde e assopra contra o estado democrático de direito.

Quanto mais radicalizar o discurso, para agradar sua bolha e desagradar o eleitor não fanatizado à direita ou à esquerda, mais o capitão que adora demitir generais, brigadeiros e almirantes ficará refém da armadilha que montou para si.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

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Este post tem 2 comentários

  1. Ulysses Cardoso Rangel

    BOLSONARO VENCE NO PRIMEIRO TURNO, COM MAIS DE 60%DOS VOTOS VÁLIDOS, PARA O DESESPERO DESSES FACISTAS VERMELHOS!

    1. Aluysio Abreu Barbosa

      Caro Ulysses Cardoso Rangel,

      Seu comentário encarna bem os delírios bolsonaristas. Lembra até os delírios petistas nos extertores do governo Dilma. Quanto aos “fascistas vermelhos”, seu conhecimento do passado e presente é tão descolado da realidade quanto sua projeção do futuro.

      Grato pela chance da exemplificação!

      Aluysio

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