Eleição a presidente aberta ao fechamento no 1º turno?

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Após a instituição do segundo turno ser adotada no Brasil, com a Constituição de 1988, só um candidato chegou ao Palácio do Planalto em turno único. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se elegeu presidente, ainda no primeiro turno, em 1994 e 1998. Quando deu coças eleitorais em Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conferindo a este a aura de perdedor. Que já vinha da derrota no segundo turno presidencial de 1989, para Fernando Collor de Mello (hoje, PTB).

Tudo isso foi antes de o petista também se eleger duas vezes presidente, mas só no segundo turno, em 2002 e 2006. E sair do cargo aclamado como a maior liderança popular do país, desde Getúlio Vargas. Elegeu Dilma Rousseff (PT) sua sucessora, também no segundo turno, em 2010 e 2014. Após o impeachment desta, em 2016, Lula passaria 580 dias preso por corrupção na operação Lava Jato. Quando foi impedido de concorrer no pleito presidencial de 2018, cujas pesquisas liderava. E que, sem ele, elegeu também no segundo turno a Jair Bolsonaro (hoje, PL).

 

Fernando Henrique Cardoso assume a presidência da República de Itamar Franco, em 1º de janeiro de 1995, entre a esposa, a antropóloga Ruth Cardoso, que implantou o Bolsa Escola, depois transformado pelo PT em Bolsa Família, e seu vice, Marco Maciel

 

Segundo as últimas pesquisas Datafolha e Genial/Quaest, é real a possibilidade de Lula não só ultrapassar Fernando Henrique em número de mandatos de presidente e conquistar o terceiro nas eleições de outubro. Mas de finalmente também se igualar ao tucano no feito de fechar a fatura ainda no primeiro turno.

Segundo a Datafolha feita nos últimos dias 25 e 26, Lula tem 48% de intenções de voto, contra 27% de Bolsonaro. São 21 pontos de vantagem, ou 31,5 milhões de eleitores. É quase todo o estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, com seus 32,6 milhões de eleitores. Descontados os 7% de branco e nulo, o petista seria eleito presidente do Brasil ainda no primeiro turno, com 54% dos votos válidos, contra 30% do capitão.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Segundo a Genial/Quaest feita entre os últimos dias 2 e 5, Lula tem 46% de intenções de voto, contra 30% de Bolsonaro. São 16 pontos de vantagem, ou 24 milhões de eleitores. É bem mais que todo o estado de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, com seus 15,6 milhões de eleitores. Descontados os 6% de branco e nulo, o petista seria eleito presidente do Brasil ainda no primeiro turno, com 52,87% dos votos válidos, contra 34,48% do capitão.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Ainda que todas as pesquisas apontem a liderança de Lula, há aquelas que dão diferença menor entre ele e Bolsonaro. Sobretudo as que, como o PoderData (43% do petista, contra 35% do capitão, entre 5 a 7 de junho), fazem pesquisa por telefone. A Datafolha e a Genial/Quaest fazem as suas presencialmente. Onde é mais difícil ao eleitor mentir, pela exposição das suas expressões da face e corpo, do que à distância do telefone. Por este também é mais difícil consultar o eleitor mais pobre, no qual Lula se sai bem melhor que Bolsonaro.

Se não tem seu próprio instituto, como a Folha de S.Paulo tem a Datafolha, seu principal concorrente, O Estadão, tem oferecido um serviço muito relevante. É o Agregador de Pesquisas, que tira uma média das últimas consultas Datafolha, Ipec (antigo Ibope), Quaest, Paraná Pesquisas, Vox Populi, Sensus, MDA, PoderData, Ipespe, Ideia, Futura, FSB, Gerp e Real Time Big Data. As seis primeiras fazem pesquisas face a face com os eleitores, na rua ou em suas casas. As sete últimas promovem sondagens por telefone. O MDA usa os dois métodos.

 

(Infográfico: Estadão)

 

Na média atualizada desses 14 institutos de pesquisa, Lula tem hoje 46% de intenções de voto, contra 30% de Bolsonaro. São os mesmos números da Genial/Quaest, que indicam a possibilidade de o petista fechar a fatura no primeiro turno. Reforça essa tendência o fato de que a XP Investimentos, contratante da nova pesquisa Ipespe cuja divulgação estava prevista para ontem (10), foi cancelada pela corretora. O fez por pressão do governo Bolsonaro sobre a XP, após a Ipespe ter revelado em consulta da semana passada que 35% dos eleitores consideram a honestidade um atributo do petista, contra 30% que dizem o mesmo do capitão.

Na margem de erro de dois pontos para mais ou menos da Datafolha e da Genial/Quaest, os números se traduzem a mesma tendência: a exatos 113 dias das urnas, hoje Lula estaria entre se eleger presidente no primeiro turno, ou fazê-lo sem grande dificuldade no segundo. Neste, pela Datafolha, o petista bateria o capitão no turno final de 30 de outubro por 58% a 33%. Seriam 32 pontos de vantagem, ou 37,5 milhões de eleitores. Pela Genial/Quaest, Lula bateria Bolsonaro no segundo turno por 54% a 32%. Seriam 22 pontos de vantagem, ou 33 milhões de eleitores. Qualquer uma das duas vantagens seria superior a todo o estado de São Paulo.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

O que explica a projeção da derrota de Bolsonaro para Lula numa eventual prorrogação de turno é a rejeição. O segundo turno só existe para que o candidato vencedor alcance o mínimo de 50% mais um dos votos válidos. Para passar pelo primeiro turno, valem as intenções de voto. Aos dois que chegam ao segundo turno, vale a rejeição. É ela que fixa o teto de crescimento dessas mesmas intenções de voto entre os dois turnos.

Pela Datafolha, Bolsonaro tem hoje 54% dos brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma, contra 33% de Lula. Pela Genial/Quaest, Bolsonaro tem hoje 60% de brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma, contra 40% de Lula. Para quem tem 54% ou 60% de rejeição, como o atual presidente da República tem, é aritmeticamente impossível alcançar o mínimo de 50% mais um dos votos. Entre os analistas do mundo, o limite prudencial para um candidato vencer uma eleição ao Executivo em dois turnos é 35% de rejeição.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Após seu ex-ministro Sergio Moro (União) ter desistido da pré-candidatura a presidente em 31 de março, Bolsonaro herdou naturalmente esses votos. O que foi registrado nas pesquisas. Mas, ao se sentir empoderado por essas mesmas pesquisas que os bolsonaristas agora negam, o presidente voltou a abrir a boca. E ao fazê-lo contra o Supremo Tribunal Federal (STF), o TSE e a urna eletrônica — que, desde 1996, o elegeu cinco vezes deputado federal e uma a presidente —, pode agradar ao radical de direita que sempre teve. Mas o afasta do eleitor do centro. Sem o qual nem ele, nem Lula, ganham a eleição.

 

 

Lula também voltou a abrir a boca. Após decretar que “acabou” o PSDB de onde foi buscar seu vice, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (hoje, PSB), na última quarta (8) o ex-presidente voltou a falar em censura da mídia digital, da TV e do Instagram. Pode agradar aos eleitores com amnésia seletiva de que o governo Dilma jogou o Brasil na pior recessão da sua história, agravada pela pandemia da Covid e sua péssima gestão por Bolsonaro. Ou que acreditam que o impeachment da ex-presidente foi “golpe”— mas não o de Collor em 1992. Ou que o STF atestou a inocência da “alma mais honesta desse país”. Mas não atrai a quem, sem crer em nada disso, não quer mais quatro anos do capitão.

 

 

Salvo uma queda de avião, uma prisão, uma facada ou um golpe de fato e com validade real de laticínio, a eleição de outubro parece sorrir a Lula como a Fernando Henrique em 1994 e 1998. E pelos mesmos motivos que elegeram o tucano após ele capitanear a estabilização econômica do país com a implantação do Plano Real como ministro da Fazenda no governo Itamar Franco (então, MDB). Num Brasil com sua pior inflação nos últimos 26 anos e sua pior queda de renda na última década, bastaria ao petista comparar seus dois governos de prosperidade ao de Bolsonaro. Com foco na sentença mais famosa de James Carville, estrategista do ex-presidente dos EUA Bill Clinton: “É a economia, estúpido!”.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Sem um terceiro colocado na casa dos dois dígitos — o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) tem 7% de intenções de voto na Datafolha e Genial/Quaest —, a eleição realmente parece aberta à possibilidade de fechamento no primeiro turno. Você, empresário e/ou que ganha acima dos 10 salários mínimos, com base em sua bolha nas duas únicas faixas em que Bolsonaro vence fora da margem de erro, não crê? Pense de novo e responda: quantas mulheres pretas, entre 16 e 24 anos, com ensino fundamental, que ganham até dois salários mínimos, fazem parte do seu convívio sem ser como empregadas? Porque elas são as eleitoras majoritárias de Lula.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

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Este post tem 2 comentários

  1. César Peixoto

    Pelo que eu entendi dos resultados da pesquisas ser corrupto no Brasil compensa, então vamos todos aplaudir o ex presidente Lula.

    1. Aluysio Abreu Barbosa

      Caro César Peixoto,

      Se o segundo turno existir, será entre um ex-presidente preso por corrupção e um presidente e sua família atolados até o pescoço em rachadinhas, com um governo marcado pelo desvio de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), com pastores sem cargo público exigindo dentro do MEC propina em barras de ouro. Sem contar o Orçamento Secreto, que comprou o Congresso ao custo de R$ 16 bilhões do dinheiro público só em 2021, para fazer do Mensalão uma gorjeta. Mas, diferente de 2018, a questão de 2022 não parece ser mais a corrupção. Na sentença mais famosa de James Carville, estrategista do ex-presidente dos EUA Bill Clinton: “é a economia, estúpido!”.

      Abraço, grato pela participação e a oportunidade de diálogo!

      Aluysio

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