Como em todas as demais pesquisas entre junho e agosto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) também encurtou a vantagem da liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na aguardada Datafolha divulgada na noite de ontem (18), a exatos 45 dias das urnas de 2 de outubro. Que trouxe como diferencial o fato de ter sido a pesquisa a ouvir presencialmente o maior universo de eleitores (5.744) até aqui, entre terça (16) e quinta (18). Com margem de erro de 2 pontos para mais ou menos, Lula manteve seus 47% de intenções de voto na consulta estimulada ao 1º turno, percentual em que patina desde junho, enquanto Bolsonaro cresce gradativamente: dos 28% de junho, aos 29% de julho, aos 32% de agosto. A diferença entre os dois, que era de 19 pontos em junho, hoje é de 15 pontos. O crescimento mais recente de 3 pontos do capitão se deu entre os evangélicos e a classe média. Mas ainda sem alteração entre os pobres, com renda até 2 salários mínimos, a partir do novo Auxílio Brasil pago desde o último dia 9.
VOTOS VÁLIDOS E TETO
Com 51% dos votos válidos contra 35% de Bolsonaro na Datafolha, Lula ainda ganharia a eleição no 1º turno, mas o crescimento do presidente em todas as pesquisas torna esse cenário a cada dia menos considerado pelos analistas sérios. O petista claramente bateu no seu teto de intenções de voto, o capitão ainda não. Mas o espaço vai se estreitando, com 75% dos eleitores dizendo já estar totalmente decididos no voto a presidente, percentual que sobe a 80% nos eleitores de Lula e Bolsonaro.
SEGUNDO TURNO E REJEIÇÃO
Na projeção do Datafolha ao 2º turno de 30 de outubro entre os dois, o ex-presidente venceria o atual por 54% a 37%, uma diferença de 17 pontos. Que era de 25 pontos em junho: 58% a 33%. Índice considerado fundamental à definição do 2º turno, o capitão lidera a rejeição em todas as pesquisas, mas também vem caindo. Na Datafolha, dos 55% de junho, aos 53% de julho, aos 51% brasileiros que não votariam nele de jeito nenhum em agosto. Lula, em sentido oposto, vem crescendo a sua: dos 35% de rejeição em junho, aos 36% de julho, aos 37% de agosto.
VOTO EVANGÉLICO
Com a pressão de pastores evangélicos ligados ao governo, fake news dizendo que Lula vai fechar templos se for eleito presidente e a retórica neopentecostal da primeira-dama Michelle Bolsonaro associando o PT ao demônio, o capitão cresceu nesse segmento, que representa 27% do eleitorado. Pela Datafolha de junho, Bolsonaro tinha 40% dos votos evangélicos, contra 35% de Lula. Essa diferença de 5 pontos subiu em julho para 10 pontos (43% a 33%). E chegou em agosto aos 17 pontos: 49% a 32% a favor do presidente.
VOTO DA CLASSE MÉDIA
Como efeito da sensação de redução do preço dos combustíveis e, talvez, da queda nas altas taxas de desemprego, o presidente também melhorou nas intenções de voto da classe média, com renda entre 2 a 5 salários mínimos. Pela Datafolha de julho, Lula tinha 40% das intenções de voto desse eleitor, contra 34% de Bolsonaro. O petista caiu 2 pontos em agosto, para 38%, contra 41% do capitão. Que ganhou substanciais 7 pontos e assumiu, em empate técnico na margem de erro, a liderança dentro dessa faixa.
VOTO DOS POBRES
Apesar do novo Auxílio Brasil já ter chegado ao bolso da população pobre, Bolsonaro ainda não colheu dividendos eleitorais do benefício federal que passou de R$ 400,00 a R$ 600,00 em agosto. Pelo Datafolha, Lula cresceu 1 ponto nesse eleitor, dos 53% das intenções de voto de julho, aos 54% de agosto, enquanto o capitão caiu 3 pontos, dos 26% de julho aos 23% de agosto. A diferença entre eles hoje é de 31 pontos nessa faixa. Na faixa análoga dos que recebem até 2 salários mínimos e representam 51% do eleitorado brasileiro, Bolsonaro manteve em agosto os mesmos 29% de julho. Entre eles, Lula também cresceu 1 ponto, dos mesmos 53% aos mesmos 54% do Auxílio Brasil.
Pela nova Datafolha, o voto dos pobres majoritário a Lula tem equilibrado, até aqui, o avanço de Bolsonaro nos evangélicos e na classe média.
ANÁLISE DO ESPECIALISTA
— A maior pesquisa realizada até aqui nesta eleição, com quase 6.000 eleitores em 281 cidades do país, confirma o crescimento de Bolsonaro e a redução da diferença para Lula. Em maio, a distância era de 21 pontos, em julho, de 18 pontos, e agora, em agosto, de apenas 15 pontos. Na estimulada, quando são apresentados os nomes de todos os candidatos, Lula alcança 47% dos votos, contra 32% do atual presidente. Nos votos válidos, Lula alcança 51% e mantém chance de vencer ainda no 1º turno. Em caso de 2º turno, porém, Lula seria eleito para um terceiro mandato com 54% dos votos, contra 37% de Bolsonaro. Isso porque 51% dos eleitores entrevistados declararam não votar em Bolsonaro de jeito nenhum, contra 37% em Lula. A pesquisa mostra ainda que Lula é o preferido dos mais pobres, dos que se declaram pretos e dos que vivem no Nordeste, onde vence por 65% a 25%. 55% dos eleitores com renda até 2 salários mínimos e 56% dos que recebem ou moram com alguém que recebe Auxílio Brasil preferem Lula. Já Bolsonaro é o favorito dos mais ricos (mais de 10 salários mínimos), dos brancos e dos moradores do Centro-Oeste (ganha por 48% a 46%) e do Norte (vence por 48% a 47%). Também é o preferido por 49% dos evangélicos — analisou William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatísticas do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.