Sucessão de Rosinha — Folha publica pesquisa Gerp nesta quarta

Gerp

 

 

Quer saber quem está liderando a corrida pela Prefeitura de Campos, cujo primeiro turno da eleição será daqui a 12 dias? Haverá segundo turno ou não? Quem são os favoritos?

A Folha publica nesta quarta (21), com exclusividade, os resultados mais recentes da acirrada sucessão da prefeita Rosinha Garotinho (PR), na pesquisa do instituto Gerp, com 33 anos de tradição, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob número RJ-08015/2016.

 

Pro4: Carla vencerá em SJB por mais de 7 entre cada 10 votos válidos

(Infográfico de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
(Infográfico de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Por Aluysio Abreu Barbosa

 

Reservado a municípios com mais de 200 mil eleitores, de acordo com a última pesquisa do instituto Pro4, mesmo se existisse, o segundo turno seria desnecessário em São João da Barra, onde a ex-prefeita Carla Machado (PP) seria reeleita em turno único, com 79,9% dos votos válidos. Entretanto, quando comparada com a consulta do mesmo instituto feita em julho, a pesquisa mais recente, realizada entre os dias 16 e 18 de setembro, junto a 1.090 eleitores dos seis distritos sanjoanenses, revelou uma queda de Carla e a reação do prefeito Neco (PMDB).

Na pesquisa estimulada, a ex-prefeita caiu de 71,1% para os atuais 65,7% das intenções de voto, enquanto Neco subiu de 12,4% para 17,2%. Dentro da margem de erro de três pontos percentuais para mais ou menos, os eleitores que declararam votar em branco e nulo oscilaram pouco (os 3,1% de julho subiram para 4,6%), assim como os indecisos que não souberam, ou quiseram responder: de 13,4% para 12,5%.

Mas se registrou queda de 5,4 pontos percentuais na consulta estimulada das intenções de voto, curiosamente Carla cresceu quase o dobro na pesquisa espontânea: dos 50,2% em julho, para os 60,9% de setembro. Por sua vez, Neco cresceu ainda mais, de 9,9% para 16,6%. Se aqueles que se manifestaram pelo voto branco ou nulo pouco oscilaram, dos 2,3% de julho, aos atuais 3,4%, a espontânea registrou um declínio acentuado no número de eleitores que não souberam ou quiseram responder em quem votarão: de 37,1% para 19,1%.

 

(Infográfico de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
(Infográfico de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número 09108/2016, a pesquisa foi encomendada pelo próprio Pro4 Pesquisa e Mídia Ltda, que tem sofrido questionamentos e ataques nas redes sociais, por parte dos militantes da candidatura Neco. Ainda assim, segundo os números do instituto, o prefeito teve uma significativa diminuição em sua rejeição. Se, em julho, o número de sanjoanenses que não votaria de jeito nenhum em Neco bateu a espantosa marca de 73,2%, o índice negativo baixou em setembro para os atuais 58,9%. Ainda torna sua reeleição difícil, a apenas 12 dias do pleito, mas é uma queda considerável de 14,32 pontos percentuais.

Já a rejeição de Carla subiu pouco, dentro da margem de erro. Se, em julho, 11,50% dos sanjoanenses não votariam de jeito nenhum na ex-prefeita, em setembro o índice não foi além dos atuais 13,1%.

 

Página 5 da edição de hoje (20) da Folha
Página 5 da edição de hoje (20) da Folha

 

Carol Poesia — Sem tempo pra poesia

(Foto de Wendel Vasconcelos)
(Foto de Wendel Vasconcelos)

 

 

“Há muitas maneiras sérias de não dizer nada,

mas só a poesia é verdadeira”. (Manoel de Barros)

 

Diferente do que comumente se pensa, a poesia não está no papel, nem na tela do computador ou do celular. A poesia está no olhar, por isso pode estar em todo lugar. Por isso, há poetas que escrevem e outros que não escrevem. Assim como também há quem olha e olha de novo e há quem não tenha tempo para olhar.

Vivemos o fenômeno do flash, da selfie, o tão citado culto à imagem — instantânea e rapidamente obsoleta, a imagem sem precedentes ou consequências. Sofremos da falência do que se pretende eterno (palavra que foi ressignificada tendendo à cafonice) e experienciamos, todos os dias (dias? que dias? minutos!), o fortuito.

Onde fica a poesia no meio desse trânsito? Pois não paramos! Transitamos. E poesia exige mergulho, exige disposição para a imersão. Não damos conta de poesia com braçadas na superfície, movimentos repetitivos, mecânicos ou automáticos. E, nesse sentido, a arte existe para desautomatizar. Por isso é ela que nos devolve a humanidade. Por isso ela, talvez, nos devolva a saúde que perdemos no cotidiano apressado cheio de pragmatismo.

Não por acaso, o site poeme-se vende poemas em pílulas. Não por acaso, autores como Ella Berthoud & Susan Elderkin “receitam” literatura contra melancolia, depressão e excesso de peso. Não por acaso, cada vez mais neurologistas e psiquiatras receitam yoga contra os mesmos males: para desautomatizar, estabilizar a respiração, os batimentos cardíacos e nos livrar de certas ansiedades e medos.

O poeta Manoel de Barros, que neste ano de 2016 faria um século de vida, declarou que usa “entulho” e “desutensílios” para a “confecção” de seus poemas. Afinal, o mundo já está cheio de coisas úteis. Sob este ponto de vista, a poesia seria — hoje — realmente inútil; e por isso desprezada por muitos.

Mas é esta “inutilidade”, ironicamente, que a faz tão necessária e que garante a ela, frente à modernidade que nos atravessa, todo o sentido e importância. Nunca fomos tão carentes de “desutensílios”. Nunca fomos tão carentes de poesia. Por um mundo mais subjetivo!

 

 

A POESIA É INVIÁVEL

 

Poesia é paulada do alívio

é balada terrível sem pegação

poesia NÃO É SURUBA

NÃO É CARETICE

NEM É FIDELIDADE

poesia é madura liberdade

cara-metade da inadequação.

 

A poesia não cala. Não simula. Ela é.

É toda prosa, embora não carinhosa.

Incomoda, incomoda, incomoda…

 

Às vezes fico na dúvida se o que pensei a vida inteira

— poesia é o sustenta, e tenta, sedenta, não-ser —

dá lugar ao seu contrário

— algo panfletário, receita, clichê —

 

Eu sei que poesia nem é isso tudo.

Mas tudo com poesia perde o “pra quê”.

 

E essa é a vingança dos perdidos.

 

 

(Foto de Wendel Vasconcelos)
(Foto de Wendel Vasconcelos)

 

Pesquisas de SJB e Quissamã hoje, de Campos amanhã e Justiça para depois

Ponto final

 

 

Equilíbrio no debate de SJB

Pelo andar da carruagem no debate de ontem, (aqui) no Instituto Federal Fluminense (IFF) de São João da Barra, entre os dois candidatos a prefeito do município, o atual Neco (PMDB) a ex Carla Machado (PP), tudo indica que o primeiro acertou na decisão recente de subir o tom para responder às investidas da sua antecessora. Se não contribuiu à discussão de ideias e propostas administrativas, pareceu ao menos ter equilibrado o jogo político, que vinha sendo vencido nos três anos anteriores pela combatividade de Carla.

 

Tarde demais?

Mas se veio com a campanha, a partir da orientação de uma competente equipe de marketing vinda de fora, a reação de Neco talvez tenha acontecido tarde demais. Na pesquisa do instituto Pro4 feita em setembro e divulgada (aqui) na página seguinte, sobretudo quando comparada à consulta realizada em julho pelo mesmo instituto, é incontestável que o atual prefeito reagiu, crescendo nas intenções de voto e diminuindo uma espantosa rejeição. Mas nada que pareça ter vindo a tempo de mudar os rumos do pleito de daqui a apenas 12 dias.

 

Ibope e urnas

Segundo a consulta estimulada do Pro4 com 1.090 eleitores dos seis distritos de SJB, com margem de erro de três pontos percentuais para mais ou menos, se 2 de outubro fosse hoje, Carla seria eleita prefeita, com 79,2% dos votos válidos. E tentar desqualificar o instituto Pro4, no nível ao que militantes de Neco têm descido nas redes sociais, reproduzindo o que de pior o rio Paraíba leva de Campos ao município vizinho, tende a se tornar ainda mais irrelevante (e constrangedor) quando considerada não só a proximidade das urnas, como o fato de que o Ibope pode divulgar uma pesquisa (aqui) da disputa sanjoanense no próximo sábado, dia 24.

 

Quissamã

Embora não com a mesma vantagem, ouvindo menos gente (600 entrevistados) e, portanto, com uma margem de erro maior (quatro pontos percentuais para mais ou menos), o instituto Pro4 também apontou (aqui) uma vitória na eleição majoritária de Quissamã de outro ex-prefeito: Armando Carneiro (PSB). Liderando tanto a pesquisa estimulada (45,2%), quanto a espontânea (37,7%), ele enfrenta, no entanto, um adversário eleitoralmente mais consistente do que Neco tem se mostrado em SJB: a ex-vereadora Fátima Pacheco (PTN).

 

Diferente de SJB?

Com 36,3% das intenções de voto na consulta estimulada (8,9 pontos percentuais abaixo do ex-prefeito) e 30,3% na espontânea (7,4 pontos atrás), Fátima ostenta uma rejeição menor. Ela ficou com 9,5% no índice negativo, contra 12,2% de Armando, ambos abaixo dos impressionantes 48% do atual prefeito Nilton Furinga (PSDB). Apesar da proximidade da adversária, o representante da tradicional família Carneiro a bateria no pleito, segundo o Pro4, por 51,4% contra 41,4% dos votos válidos. Diferente de SJB, ainda dá para apostar contra.

 

Em branco ou nulo

Enquanto o eleitor se aproxima da sua decisão na urna, quem optou por não tomar decisão nenhuma foi o juízo da 76ª Zona Eleitoral (ZE). Após receber do Ministério Público Eleitoral (MPE), desde a última quarta (14), o pedido de antecipação de tutela numa Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) pela utilização eleitoral evidenciada (aqui) do Cheque Cidadão pelos Garotinho, desmembrada (aqui) no sábado (17) em ações individualizadas contra 34 candidatos governistas a vereador, cuja celeridade na decisão foi formalmente cobrada (aqui) pelo PMDB no domingo (18), o magistrado fez (aqui) a opção do eleitor que vota em branco ou nulo: delegou sua decisão a outro.

 

De presente

Só cinco dias depois do que poderia ter feito desde o início, o titular da 76ª ZE de Campos pediu seu afastamento do caso, solicitando ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) outro juiz só para julgar o que já foi condenado pela Justiça Eleitoral de Campos desde 2004. Naquela oportunidade, sem nenhuma omissão, o Cheque Cidadão foi suspenso após ser usado pelo mesmo grupo político, para a prática do mesmo ilícito, em outro pleito municipal goitacá. Se nos últimos 12 anos, os Garotinho adquiriram expertise na troca de dinheiro público por voto, ontem também ganharam mais tempo para continuar a fazê-lo.

 

Pesquisa no forno

Como a festa da democracia, essa antiga invenção grega de antes de Cristo, é o momento em que o simples cidadão mais se aproxima de quem também deveria ter como função decidir pelo melhor à coletividade, mediante a observância às leis e à própria consciência individual, mais uma pesquisa sobre a acirrada disputa da sucessão da prefeita Rosinha Garotinho (PR) é esperada para amanhã (21). Para se manter informado, basta ao leitor continuar acompanhando a Folha da Manhã.

 

Publicado hoje (20) na Folha da Manhã

 

Corrida às prefeituras de São João da Barra e Quissamã nesta terça na Folha

Pro4 logo

 

Quer saber quem está liderando a disputa pelas prefeituras de São João da Barra e Quissamã? Então leia, amanhã (19), a edição impressa da Folha, com todos os dados das pesquisas Pro4 nos dois municípios.

Em São João, foram 1090 entrevistados, entre os dias 16 e 18 de setembro. Já em Quissamã, a consulta foi feita com 600 eleitores, no dia 14.

 

 

SJB e Quissamã

 

Fabio Bottrel — Um piscar de olhos

 

Sugestão para escutar enquanto lê: Balé A Morte do Cisne, música Camille Saint-Saëns, Coreografia M. Fokine e bailarina Luiza Del Rio.

 

 

 

 

Bottrel 17-09-16

 

 

Quando Eugênio deu o primeiro grito nesse mundo o céu estava imundo de poeira, fumaça e pedaços de sonhos destruídos. Num quarto da Beneficência Portuguesa uma lágrima escorria de sua mãe ao ver a face do filho pela primeira vez, o chão frio e cinza era palco dos passos calmos do médico enquanto dava tapinhas em seu corpo para circular o sangue recém-nascido.

Quando Eugênio abriu os olhos tinha 5 anos, estava deitado num banco do Jardim São Benedito e media a abertura das pálpebras com a luz do sol rente ao seu rosto. Tinha dentro de si as bilhões de estrelas do céu, que saíam do seu peito para preencher a noite. Os seus lábios desenhavam os sorrisos de quem vê em tudo a novidade, sentia o cheiro doce das árvores, o calor do sol na pele, as cores vivas das folhas caindo com o balanço do vento, tudo como se fosse a primeira vez, cada dia de vida era o mundo se mostrando, se iluminando em cantos e sabores. Fechou os olhos para sentir o pulmão se encher com o ar puro da árvore que em silêncio lhe sombreava o rosto.

Quando Eugênio abriu os olhos tinha 25 anos, estava sentado numa carteira do IFF procurando novidade nas mesmas palavras ditas pela professora a sua frente, nas mesmas escritas na louça que tantas vezes apagara as mesmas letras, há 4 anos respondendo as mesmas perguntas feitas a todos da sua turma como se fossem uma só pessoa, desanimando da vida como desanima alguém que não é livre para escolher o próprio destino, perdendo o sabor da vida a cada estalar de dedos para lhe aprisionar a atenção. Odiava cada dia que chegava à sala de aula e as vozes de seus professores lhes causavam náuseas, batia a caneta firme na madeira da carteira como se expurgasse seus anseios e se lamentava que deveria ter feito tudo diferente quando ainda não houvera feito 20 anos, devia ter estudado para outro curso, agora, depois de tantos anos sem fazer vestibular e quase se formando não podia mudar, tinha que continuar. Queria ter criado a coragem de realizar o seu sonho, ter largado tudo e viajado o mundo tocando violão na esquina, lavando prato na cantina e sorrindo porque a vida importaria mais que essa conta ridícula na sua escrivaninha. Fechou os olhos para respirar fundo e se acalmar, em sua cabeça era só um momento a que tinha de passar…

Quando Eugênio abriu os olhos tinha 50 anos, levantava-se toda segunda-feira esperando a sexta-feira, escovava os dentes para sujá-los mais tarde com comida fast-food num canto da solidão, perdendo de si a própria razão de ser. Gostava de quando chegava o fim do dia, não fazia o que queria, mas não tinha de se torturar em trabalhado de vida finda. Havia seguido os conselhos dos falecidos pais e família, escolheu um trabalho sem sentido para fazer depois o que valia, mas já não tinha ânimo para fazer do tempo passado um presente, gastava maior parte do tempo desperdiçando a vida em desejo de gente morta e reclamando que deveria ter mudado quando era tempo, quando ainda tinha 25 anos. Sentado no sofá com um hambúrguer como jantar e uma amiga mosca a sussurrar com as asas frenéticas perto dos seus ouvidos, Eugênio fecha os olhos para a noite passar levando consigo os pensamentos combalidos…

Quando Eugênio abriu os olhos tinha 70 anos, estava aposentado de uma vida inteira indesejada, sentado na sua cadeira de balanço balançava os pensamentos e lembrava os dias em que colocara em sua cabeça: era só um momento a que tinha de passar… Queria ter mudado tudo aos 50 anos, mas os momentos passaram e com eles a vida também passou, ele amou, mas não se entregou, sofreu, mas não chorou. Nas aulas da faculdade que ele torcia para acabar, nos dias no trabalho que ele torcia para passar, mal imaginava: torcia para a vida acabar.

Quando Eugênio fechou os olhos para imaginar a vida que deixara passar estava no mesmo lugar quando a vida houvera começado, deitado no banco do Jardim São Benedito, medindo a abertura das pálpebras com a luz do sol. Via crianças brincando em torno da Academia Campista de Letras, e imaginava se uma delas conseguiria ser livre, dona do própria destino, acima das imposições sociais e ter a liberdade de ser diferente, quem sabe, até mesmo feliz. Eugênio tentava manter os olhos abertos, mas o corpo secular cansa com coisas tão mansas…

Quando Eugênio fechou os olhos tinha 90 anos, estava na sua varanda, com sua mão em trança, a cadeira que balança seu corpo também balança seus pensamentos, no mesmo lugar de onde enxergou o primeiro dia de vida aos 70 anos. E pensava nas coisas que podia ter vivido quando se-tenta, mas deixou se levar pelas reclamações do corpo, mais uma vez a vida passou e ele nada pode fazer para tornar o passado presente, o tempo é algo mesmo complicado. Eugênio tentava manter os olhos abertos enquanto o vento gostoso lhe acaricia o rosto, olhava as crianças lá embaixo e imaginava se uma delas seria sábia o suficiente para respeitar a vida e não afastá-la resmungando como uma criança mimada… Um raio de sol começa a surgir pelas rugas em sua orelha, deslizando pelo seu rosto até chegar aos olhos lacrimejantes. Eugênio lembrou do começo da vida enquanto media a abertura das pálpebras com a luz do sol.

Quando Eugênio fechou os olhos eles não mais se abriram, não havia mais brilho, e num piscar de olhos a vida havia partido. Ainda estava um sol quente quando o sepultamento no cemitério Campo da Paz terminou, a terra quente banhada em lágrimas escondia o corpo de Eugênio embaixo dos pés dos familiares e amigos. O vento levava o mesmo cheiro doce das árvores quando todos foram embora, ainda havia sol e um corpo frio, como tantos outros que passaram a vida tentando fazer sentido. Quando o vento parou, da mesma forma que a árvore – Eugênio – silenciou.

 

Ponto Final — Eleição com Cheque Cidadão não dá garantia de mandato

Ponto final

 

 

Quem usa quem?

Ontem, num programa da mesma TV Record que divulgou (aqui) a pesquisa do instituto Paraná sem (aqui) a rejeição dos seis candidatos a prefeito de Campos, a atual ocupante do cargo, Rosinha Garotinho (PR), pareceu antecipar (aqui) o que, em tese, deveria caber ao juízo da 76ª Zona Eleitoral (ZE) do município: “A Justiça não será usada para tentar acabar com um programa que existe há oito anos em meu governo”. O programa é o Cheque Cidadão, cuja suspensão durante o período eleitoral foi pedido (aqui) em tutela antecipada numa Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) do último dia 14, assinada por seis dos sete promotores eleitorais de Campos.

 

Como se usou

Após quatro operações da fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), nos dias 28 (aqui) e 29 (aqui) de agosto, e 2 (aqui) e 6 (aqui) de setembro, os representantes do Ministério Público Eleitoral (MPE) de Campos formaram a convicção de que os Garotinho têm utilizado abertamente a máquina pública do município, não só para eleger o sucessor de Rosinha na Prefeitura, mas dezenas de candidatos governistas a vereador. Segundo a nota gerada (aqui) pela assessoria do MPE, no Rio, o esquema rosáceo “é tão abrangente que foram encontrados registros de sua existência na maioria dos bairros de Campos”.

 

Eis a questão

Nos bastidores jurídicos, se comenta que o juízo da 76ª ZE estaria pressionado entre atender ao pedido dos promotores e suspender temporariamente um programa social que fortes evidências apontam ter sido convertido em cocho de curral eleitoral, ou não fazê-lo. Neste caso, na paráfrase do que ontem Rosinha disse na Record, a pressão residiria em permitir que a Justiça também seja usada por quem parece não ter o menor constrangimento em utilizar eleitoralmente um programa de governo.

 

Jurispridência

Fosse o caso de ganhar tempo, o juízo da 76ª ZE solicitaria do MPE que cada um dos responsáveis pelo esquema na Prefeitura, além das dezenas de candidatos beneficiados pelo loteamento do Cheque Cidadão, fosse alvo de uma Aije individualizada por parte dos seis promotores que assinaram a original, cuja tutela de urgência foi pedida há três dias, mas ainda aguarda decisão. Para quem hoje não entende a demora, talvez fosse o caso de lembrar dos ataques à juíza Denise Appolinária, quando ela decidiu suspender o mesmo programa, usado pelo mesmo grupo para a prática do mesmo ilícito, durante a eleição municipal de 2004.

 

E se todos soubessem?

Seja pela decisão judicial da 76ª ZE ou do próprio TRE, na Aije original ou em suas derivantes individualizadas — caso sejam necessárias à passagem do tempo, nestes 15 dias que nos separam das urnas de 2 de outubro —, dois outros fatos merecem destaque. O primeiro é que, se os candidatos governistas a vereador beneficiados pelo loteamento eleitoral do Cheque Cidadão não passassem de 40, como se sentiriam os outros 260 do total de mais de 300 que descobrissem estar concorrendo ao mesmo cargo, pela bandeira do mesmo governo Rosinha, mas sem contar com o mesmo tipo, digamos, de “ajuda”?

 

Cheque Cidadão = mandato?

O outro fato merece ainda mais destaque. Como os promotores eleitorais de Campos pediram na Aije “a declaração de inelegibilidade dos investigados e a cassação do registro e/ou diplomação dos envolvidos”, em caso de condenação, parte dos cerca de 17 vereadores governistas cuja eleição é projetada em 2 de outubro, poderia acabar substituída por caras bem diferentes (e menos aquinhoadas) nas coligações. Quem for eleito pelo esquema do Cheque Cidadão não tem mais a garantia de assumir ou concluir o mandato.

 

Publicado hoje (17) na Folha da Manhã

 

MPE cerca esquema dos Garotinho que troca Cheque Cidadão e RPA por voto

Ponto final

 

 

Cheque Cidadão pelo voto?

Sob pretexto de beneficiar a população carente, o uso do Cheque Cidadão pode ser usado a toque de caixa pelo governo Rosinha Garotinho (PR) não só para tentar eleger seu sucessor na Prefeitura, como também dezenas de candidatos governistas a vereador? Desde a última quarta-feira (14), quando seis dos sete promotores eleitorais do município assinaram uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), pedindo com tutela de urgência a suspensão da distribuição do Cheque Cidadão em Campos durante o período eleitoral, se aguarda que o juízo da 76ª Zona Eleitoral (ZE) da comarca goitacá decida a questão.

 

Abuso de poder econômico e político

O Ministério Público Eleitoral (MPE) de Campos cobra a apuração “de possível abuso de poder político e econômico decorrente de um grande esquema organizado pelos atuais gestores públicos de Campos dos Goytacazes, incluindo a prefeita Rosinha Garotinho, para a obtenção de votos em favor de candidatos por eles apoiado”. A convicção se deu a partir de farto material apreendido em quatro operações da fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

 

As apreensões

Em 28 de agosto (aqui), num galpão da av. Alberto Lamego com adesivos da campanha de Dr. Chicão; em 29 de agosto (aqui), na casa do vereador Ozéias (PSDB), que chegou a ser preso em flagrante por suspeita de compra de voto; e em 6 de setembro (aqui), na casa do vereador Albertinho (PMB); a fiscalização apreendeu material que comprovaria o ilícito eleitoral. Mas foi, sobretudo, na operação (aqui) do MPE e do TRE na secretaria municipal de Desenvolvimento Social e em três Centros de Referência de Assistência Social (Cras), em 2 de setembro, que o esquema rosáceo se descortinou por inteiro aos seis promotores eleitorais de Campos.

 

O esquema

Segundo nota emitida ontem (aqui) pela assessoria do MPE, no Rio de Janeiro, em Campos “o esquema consiste na irregular inclusão de inúmeros beneficiários ao Cheque Cidadão sem que estivessem preenchidos os requisitos mínimos exigidos, ou seja, sem o perfil de vulnerabilidade social devidamente constatado. Tal fato causa enorme desfalque aos cofres públicos municipais e acarreta sérios prejuízos à população que, possuindo cadastro regular, passa a não ter segurança quanto à correta execução do programa”.

 

Na maioria dos bairros

Ainda segundo a nota do MPE, o esquema eleitoral montado pelos Garotinho “é tão abrangente que foram encontrados registros de sua existência na maioria dos bairros de Campos, convertidos em redutos eleitorais de determinados candidatos a vereador, fato narrado de forma detalhada na ação assinada por seis promotores eleitorais. Por tais razões, o MPE requer ainda a punição dos gestores responsáveis pelo uso indevido da máquina pública e, em consequência disso, a suspensão do benefício até o fim das eleições, o que estancaria a sangria das verbas públicas, mal utilizadas em período eleitoral, que podem chegar a R$ 3,5 milhões por mês”.

 

Reincidência

Para se ter uma idéia da dimensão atual do esquema, na eleição municipal de 2004, houve a apreensão de pouco mais de 200 Cheques Cidadãos em Campos, que teriam sido distribuídos com fins eleitorais pelo governo estadual Rosinha Garotinho, gerando então a suspensão temporária do programa. Já entre o período pré-eleitoral e eleitoral de 2016, os números apontam à distribuição de mais de 17 mil Cheques Cidadão em Campos pelo mesmo grupo político. E os promotores encontraram agora fortes indícios de loteamento de parte considerável do benefício entre os candidatos a vereador governistas.

 

RPAs também na mira

Enquanto se espera que o juízo da 76ª ZE decida a tutela de urgência pedida na Aije do Cheque Cidadão, outra variante de utilização eleitoral ilícita da máquina pública de Campos está na mira da fiscalização. Ontem, a partir de um mandado deferido pelo juízo da 75ª ZE do município, foi realizada (aqui) a pedido do MPE a busca e apreensão em órgãos da Prefeitura de Campos. Nela, o alvo foram os Recibos de Pagamento Autônomo (RPAs), que teriam sido assinados pelo então subsecretário de Governo Thiago Godoy (PR) e trocados por votos pelo vereador Jorge Magal (PSD). Há suspeita até de falsificação de documentos para burlar o prazo legal de contratação.

 

Publicado hoje (16) na Folha da Manhã