Jornalista destaca aquilo que existiu, independente da admissão

 

Na semana retrasada, liguei ao jornalista Guilherme Belido para perguntar do que ele trataria na sua conceituda página domical na Folha, assinada com seu nome. Mais especificamente, indaguei se trataria da última pesquisa presidencial Datafolha (aqui).

Feita entre 27 e 28 de setembro, com 2.772 pessoas, em 194 cidades do país, a consulta do insitituto apontou a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seguido do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC). Como iria escrever sobre ela numa reportagem de análise no penúltimo domingo (22), queria evitar a redudância temática na mesma edição.

Belido me disse que ainda não havia definido seu assunto. Mas me disse, gentilmente, que iria evitar aquele que já fora definido por mim. Pois hoje, já no segundo domingo após aquele, o jornalista ligou para avisar que tinha me enviado por e-mail sua própria análise sobre a minha matéria.

Com a devida licença dele, publico abaixo suas apreciações, por certo generosas. Quem quiser conferir ou reler a matéria, pode fazê-lo aqui.

 

 

Jornalista Guilherme Belido

Advertência e isenção

Por Guilherme Belido

 

Matéria longa, mas que li sem ver o passar dos minutos, me entusiasmou. Fechado o exemplar, pensei em arranjar um tempinho numa semana ‘apertada’ e enviar ao autor simplórias observações, mais de cumprimento, pela densa, abrangente e didática matéria intitulada ‘Brasil entre Lula e Bolsonaro?”, do jornalista Aluysio Abreu Barbosa.

De imediato, a primeira impressão que tive foi a de que se o referido texto fosse publicado na Folha de S. Paulo, ou em O Globo, ou no Estadão, não traria estranheza alguma ao mais exigente leitor de quaisquer daqueles jornais, que figuram na seleta lista de melhores órgãos de imprensa da América Latina.

No âmago da matéria, a advertência sobre o fenômeno Donald Trump, que está conseguindo desmoralizar a verdade, mas que se elegeu presidente do maior país do mundo atraindo o voto dos ressentidos.

Aqui, também, temos ressentidos.

Aluysio fez um apanhado geral acerca daqueles que ora se apresentam como pré-candidatos a presidente da República no pleito de 2018 — pesquisa árdua e abrangente; difícil e trabalhosa. Sobre cada qual teceu ponderações isentas, sem deixar de fornecer ao leitor, contudo, um perfil resumido de suas respectivas características. Indo ainda mais longe, conectou-os aos números de pesquisa do DataFolha.

Sobre as conversas do apresentador Luciano Huck com o DEM, crítica com pitadas de humor: “…Custa crer que a política nacional tenha regredido ao ponto de ter uma metáfora do Brasil como ‘Lata Velha’ na próxima campanha presidencial”.

Entre as análises, a pertinente observação, com traços de advertência, do avanço de Bolsonaro nas redes sociais e do erro de tratá-lo como bufão. E aqui, neste particular, reside a maior contribuição do excelente texto: do momento político em que vive o Brasil e de que o caminho para as eleições não podem ser de atalhos ou escuros, mas iluminados.

Estamos num País livre [digo eu] onde qualquer um vota em quem quiser. Se o eleitor de Bolsonaro, vota Bolsonaro, por entender que vale a pena conviver com retrocessos sociais, recuo dos direitos humanos e recrudescimento em troca, talvez, do combate mais ostensivo à corrupção e contando, quem sabe, em obter algum resgate de moralidade… tudo bem. Trata-se de opção consciente na esteira do voto soberano e livre de cada um.

Mas que entenda e não se iluda — como aponta Aluysio em seu luminoso texto — que, ao contrário do que diz Bolsonaro, no Brasil a ditadura militar existiu sim, quer ele admita ou não.

 

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