Hoje, um amigo e torcedor raiz de futebol, que não brota só na nutela servida de quatro em quatro anos, perguntou sobre um suposto complô contra a Seleção Brasileira na Copa da Rússia. É o mesma tipo de conversa surgida após a crise convulsiva de Ronaldo Fenômeno, antes da final da Copa de 1998, vencida com integral justiça pela França de Zinédine Zidane.
É como se o Brasil não pudesse perder um jogo por uma infelicidade. Ou simplesmente porque teve pela frente um time melhor. Particularmente, julgava que esse “complexo de vira-latas” às avessas tivesse sido sepultado pela humilhação dos 7 a 1 impostos pela Alemanha na última Copa, em pleno Mineirão. Mais eis que, após o empate de 1 a 1 com a Suíça, ele parece ressurgir dos mortos, como zumbi de filme B.
A CBF fez hoje uma queixa formal à Fifa, que já confirmou ver acerto nas decisões do árbitro mexicano Cesar Ramos. Ela se refere à não utilização do recurso do VAR (árbitro assistente de vídeo) e suas 33 câmeras em dois lances polêmicos: o empurrão trocado entre o zagueiro Miranda e o meia Zuber, no lance do gol suíço; além do suposto pênalti do zagueiro Akanji, que envolveu com os braços o atacante Gabriel Jesus, antes do brasileiro cair dentro da área.
Sobre essas queixas, tratadas desde ontem aqui, na matéria sobre o jogo, mas também sobre o futebol apresentado pela Seleção Brasileira na Copa da Rússia, algumas observações talvez sejam pertinentes:
1 – Como mostra a foto, o uso dos braços entre Miranda e Zuber foi recíproco, no contato que existe dentro da área em qualquer lance de bola parada, desde que ela é redonda. Depende de interpretação afirmar se foi suficiente para tirar o zagueiro do lance. De concreto: não seria se ele estivesse marcando o adversário, não a bola.
2 – Miranda não acusou o empurrão de imediato. Assim como os demais jogadores brasileiros, ele só passou a se queixar ao árbitro após o lance ser reprisado no telão do estádio. Ironicamente, jogando pelo São Paulo, o zagueiro usou o mesmo recurso de Zuber, em gol validado contra o Corinthians, na semifinal do Paulistão de 2009. Confira abaixo:
3 – Inquestionável que Akanji envolveu Gabriel Jesus com os braços dentro da área. Mas se o motivo da queda foi o zagueiro suíço ter agarrado por trás o jovem atacante brasileiro, como este caiu para frente? Não depende de interpretação, mas de lógica: não foi pênalti.
4 – Ao contrário do que se pensa, o VAR não fica nos estádios da Rússia, mas numa central em Moscou. E funciona como via de mão dupla: tanto o árbitro de campo pode acioná-lo, quanto ser acionado por ele. Se o juiz Cesar Ramos não foi acionado, é porque o VAR não constatou evidência contrária à sua decisão. E lances de gol ou suposto pênalti têm checagem obrigatória.
5 – Noves fora o mi-mi-mi da arbitragem, como também foi constatado na matéria após o jogo de ontem, Neymar sofreu 10 das 19 faltas contra o Brasil. Destas, quatro foram relativamente próximas à área suíça, não as outras seis. Neymar sofre muitas faltas ou chama muitas faltas? Se for o segundo caso, qual a finalidade de forçá-las longe da área?
6 – Neymar atua pelo lado esquerdo do campo. No Brasil, joga com Marcelo atrás, Phillipe Coutinho ao lado e Gabriel Jesus (ou Firmino) à frente. São todos habilidosos, leves e rápidos. Por que, então, forçar tanto as jogadas individuais? Cercado de jogadores de características semelhantes, dividir a posse da bola não seria mais inteligente? Tite vai fazer algo a respeito?
7 – O Brasil não tem um organizador no meio de campo. É o tipo de jogador bem representado no espanhol Iniesta, no francês Pogba, no croata Modric, no alemão Kross e no belga De Bruyne. A sobrecarga de Phillipe Coutinho por ter que fazer também essa função, voltando para buscar a bola, pode ter sido a causa da sua sensível queda de rendimento no segundo tempo.
8 – Tite foi criticado em suas substituições. Mas agiu certo ao colocar Fernandinho no lugar de Casemiro, que tinha cartão amarelo e seria forçado a marcar faltas pela necessidade do Brasil atacar, após o empate da Suíça. Ao colocar Renato Augusto no lugar de Paulinho, ele tentou dar a criatividade que faltava ao seu meio de campo, mas pelo menos ontem não surtiu efeito.
9 – A dúvida entre Gabiel Jesus e Firmino é tão difícil quanto o lance entre Miranda e Zuber. Na Major League, Firmino fez 15 gols em 37 jogos na última temporada pelo Liverpool, onde é titular. Reserva do argentino Agüero no Manchester City, Gabriel fez 13 gols em 29 partidas. Na Seleção, Gabriel foi melhor: 10 gols em 18 jogos, contra os 6 gols em 22 partidas de Firmino.
10 – Como registrou a matéria que anunciou aqui o Brasil x Suíça, nada indicava vitória fácil, com placar elástico. Até ontem, o confronto direto entre as duas seleções marcava três empates, três vitórias brasileiras e duas suíças. Grandes Seleções Brasileiras, como a de 1950, de Zizinho; e a de 82, de Zico; empataram com a Suíça. Agora, com mais um empate, se reforça o equilíbrio.
11 – Contra a Costa Rica, adversária do time de Tite às 9h da manhã desta sexta (22), a estatística aponta uma história bem diferente. Em 10 jogos, foram nove vitórias brasileiras, nenhum empate e uma derrota. Atual líder do Grupo E, a Sérvia só conseguiu bater a Costa Rica com um gol de falta. Fazer mais é obrigação de qualquer candidato sério à conquista da Copa.
Bacana demais a reportagem, inclusive assisti o bate papo no YouTube com Alexandre Buchaul, Gustavo Oliviedo e Igor Franco!