Haddad a 6 pontos de Bolsonaro, que cresce rejeição e perde no 2º turno

 

 

Charge do José Renato publicada hoje (25) na Folha

 

Haddad a 6 pontos de Bolsonaro

Desde o dia 18, o Ibope havia apontado o descolamento de Fernando Haddad (PT) de Ciro Gomes (PDT), na disputa pelo segundo lugar da corrida presidencial liderada por Jair Bolsonaro (PSL). O que não se conhecia ainda eram os tetos de crescimento do ex-prefeito de São Paulo e do ex-capitão do Exército, ambos em curva ascendente em todas as consultas. Pois na nova Ibope, divulgada ontem, o petista passou de 19% a 22% e ficou a apenas seis do líder. Ao repetir os 28% anteriores, Bolsonaro parece finalmente ter batido teto. Já o de Haddad, a 12 dias da urna, ainda segue desconhecido. A campanha do PT tem como objetivo chegar a 25%.

 

Segundo turno

Além de Bolsonaro, quem também estagnou nas intenções de voto foi Ciro, que manteve seus 11% anteriores. São tendências positivas ao petista, que teve novo crescimento real de três pontos, fora da margem de erro de dois pontos para mais ou menos. Mas ele teve outro dado favorável revelado no enfrentamento direto com seu principal adversário. Na simulação de segundo turno contra Bolsonaro, Haddad saiu de um 40% a 40%, na Ibope anterior, para um 43% a 37%. É uma vitória fora da margem de erro, que se explica pela rejeição ao capitão. Se ela já estava muito alta em 42%, teve crescimento real de quatro pontos e chegou a 46%.

 

Peso das mulheres

O aumento da rejeição do candidato do PSL se dá sobretudo por conta do voto feminino, que é maioria no Brasil. Para se ter uma ideia, enquanto 35% dos eleitores homens dizem que não votariam nele de jeito nenhum, sua rejeição chega a 54% entre as mulheres. Mobilizado nas redes sociais, o “Mulheres contra Bolsonaro” alcançou ontem a expressiva marca de 3 milhões de seguidores, adesão que aumentou após o grupo ter sido hackeado por supostos simpatizantes do capitão. No próximo sábado, dia 29, as mulheres pretendem sair às ruas de todo o Brasil, inclusive em Campos, contra o líder nas pesquisas presidenciais.

 

Dificuldades do capitão

Por conta da rejeição, Bolsonaro apareceu ontem no Ibope perdendo quase todas as simulações de segundo turno. Além de Haddad, seria derrotado também por Ciro (35% a 46%) e pelo tucano Geraldo Alckmin (36% a 41%). Curiosamente, o capitão empataria apenas com Marina Silva (Rede), única mulher candidata: 39% a 39%. Nas intenções de voto no primeiro turno, Alckmin teve uma oscilação positiva, passando de 7% a 8%. Marina, por sua vez, oscilou negativamente, caindo de 6% para 5%. João Amoêdo (Novo) registrou 3%, com 2% para Álvaro Dias (Pode) e Henrique Meirelles (MDB). Guilherme Boulos (Psol) não foi além do 1%.

 

Delírios à parte

Muitos eleitores de Bolsonaro certamente questionarão as pesquisas, que se mostram dignas de confiança apenas quando positivas ao seu candidato. Mas para quem na semana passada pretendeu reescrever a história ao afirmar em massa nas redes sociais que o nazismo foi um movimento de “esquerda”, além de classificar a revista britânica “The Economist”, bastião do liberalismo econômico, como “esquerdista”, pouca coisa pode ainda surpreender. Delírios à parte, o que o “susto” com o crescimento de Haddad pode causar é o voto útil dos eleitores de Alckmin, Amoêdo, Dias e Meirelles, candidatos do centro à direita, para Bolsonaro.

 

Mesmas tendências

Em pesquisas, até pelas diferenças de metodologia, o que há de concreto são as tendências. Ontem foi também divulgada a nova consulta FSB/BTG. E ela também constatou a estagnação de Bolsonaro, com os mesmos 33% da semana passada. Assim como o crescimento de Haddad, que foi de 16% a 23%. Com números diferentes, foram as mesmas tendências registradas pelo Ibope. Salvo o imponderável, como a facada em Juiz de Fora, é pouco provável que algo mude. No segundo turno desenhado entre Bolsonaro e Haddad, há uma tendência que nunca mudou no Brasil: o candidato mais votado no primeiro turno vence no final.

 

Vacina

A Campanha Nacional de Vacinação contra a poliomielite e o sarampo terminou na última sexta-feira (21), mas as vacinas continuam sendo disponibilizadas em salas de vacinação de Campos, para a faixa etária preconizada pelo Ministério da Saúde — de um ano até quatro anos, 11 meses e 29 dias. A população adulta também pode ser vacinada contra o sarampo, através da tríplice viral que faz parte do calendário básico de vacinação da faixa etária. As vacinas podem ser encontradas nas UBS, Centro de Referência da Criança e do Adolescente (CRTCA) I e II, além da sede da secretaria de Saúde.

 

Com a jornalista Suzy Monteiro

 

Publicado hoje (25) na Folha da Manhã

 

Igor Franco — As eleições e o ocaso da moderação política

 

(Foto: Uriel Punk)

 

Conforme as últimas pesquisas eleitorais mostram, um cenário de segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad parece cada vez mais provável. A ascensão do petista sobre a montanha de votos do presidiário Lula foi fulminante, lançando o então segundo colocado e pretenso herdeiro dos eleitores órfãos, Ciro Gomes, para próximo da faixa de um dígito de intenções. Por outro lado, Bolsonaro mantém sua resiliência aos múltiplos ataques desferidos com mais força por Alckmin, mas também à antipatia severa da esmagadora maioria da imprensa e classe artística. O candidato pelo PSL chegou a subir acima da margem de erro segundo alguns levantamentos divulgados na semana passada, desidratando ainda mais o tucano. Num cenário dos sonhos para os dois líderes, mas de pesadelo para o grosso da classe política, diversas reações brotaram no debate público.

Numa tentativa de produzir consenso nas candidaturas verdadeiramente centristas (Alckmin, Marina, Dias e Meirelles), o ex-presidente FHC escreveu uma carta clamando por algum tipo de entendimento que resultasse numa união ao redor de um nome. Por óbvio, todos toparam, mas, claro, desde que o nome escolhido fosse o seu.

A iniciativa de FHC é apenas mais uma releitura errada do processo que está em curso na política brasileira há alguns anos: os eleitores não estão divididos entre duas visões antagônicas de mundo por falta de alternativa, mas, justamente, porque as alternativas apresentadas falharam miseravelmente em tomar posição enquanto a divisão era promovida a cada tema sensível para a política brasileira nos últimos 15 anos.

O PSDB do ex-presidente, por exemplo, passado cada processo eleitoral a partir de 2002, foi incapaz de estabelecer-se como uma oposição combativa no Congresso e muito menos programática quanto a uma alternativa ao projeto petista de poder e gestão do Estado. A patética cena de 2006 do próprio Geraldo Alckmin (ou “Alkmin”, como escreveria FHC) vestindo uma jaqueta estampada de logomarcas de estatais, a alcunha de “Zé Serra” para um candidato que tentava se passar por popular em 2010 e mesmo os votos tucanos a favor do caos nas contas públicas já na fase terminal da gestão Dilma conseguiram a proeza de desagradar sua base eleitoral e, claro, seus opositores. Não menos importante, a completa ausência do partido no debate sobre costumes que de quando em vez surge no noticiário explica em grande parte a ascensão de um Bolsonaro. Nesse aspecto, talvez os tucanos voem para refugiar-se no mesmo esconderijo onde Marina Silva se abriga a cada intervalo entre as eleições presidenciais.

Dada a total falta de perspectiva, Ciro Gomes chegou a ganhar uma capa na revista Época como uma possível terceira via. Às favas com o fato de o pedetista ter pedido a prisão de um jornalista que acabara de entrevista-lo no último fim de semana – não sem antes chama-lo de “filho da p…”. O xingamento preferido de Ciro ainda foi direcionado a Bolsonaro, que ainda mereceu a alcunha de “nazista”. O pedetista ainda teve tempo de se comparar a Churchill antes de disparar que os sulistas também seriam simpáticos às ideias de Hitler e que o uso de fuzis por jovens traficantes estaria relacionado a algum complexo quanto ao tamanho de seus órgãos sexuais.

Se a alternativa moderada a Bolsonaro e Haddad é Ciro, definitivamente, cada país tem o Churchill que merece.

 

Artigo do domingo — A explosão triunfal dos idiotas

 

“Até o século XIX o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões. Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha, ou tirar uma cadeira do lugar. Em 50, 100 ou 200 mil anos, nunca um idiota ousou questionar os valores da vida. Simplesmente, não pensava. Os ‘melhores’ pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele. Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da onipotência numérica. E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, limitava-se a babar na gravata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente etc. houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas.”

Como a mordacidade, o antimarxismo era característica marcante de Nelson Rodrigues (1912/80). Que fica bem evidenciado no trecho acima, extraído da sua crônica “A revolução dos idiotas”. Mas por mais conservador que fosse o grande dramaturgo brasileiro do séc. XX, se ele estivesse vivo neste séc. XXI, quanto tempo levaria para constatar que seu vaticínio não é exclusividade de um espectro político?

Como jornalista, Nelson se tornou conhecedor íntimo do cotidiano carioca, sobretudo o suburbano. E, como dramaturgo, talvez sua grande virtude tenha sido identificar nessa realidade o mesmo elemento trágico com que os gregos antigos criaram o teatro. Ao levar essa realidade particular e universal aos palcos, chocou a hipocrisia do seu tempo em peças como “Vestido de noiva”, “O beijo no asfalto”, “Bonitinha, mas ordinária”, ou “Toda nudez será castigada”.

Apelidado de “anjo pornográfico”, como Nelson veria, por exemplo, a cruzada contra a arte e os artistas brasileiros, liderada pela neodireita histérica do MBL, a partir da exposição “Queermuseu” no Santander de Porto Alegre, entre agosto e setembro no ano passado? Ou ao recrudescimento do movimento, com a performance “La bête” no MAM de São Paulo, em novembro? Ou aos protestos diante do Sesc Pompéia, em dezembro, em que bonecas vestidas de bruxas e com a foto da filósofa estadunidense Judith Butler, militante das questões de gênero, foram queimadas numa simulação da Inquisição? A mesma que, na Idade Média, queimou milhares de mulheres de verdade e obrigou o astrônomo italiano Galileu Galilei (1564/1642) a negar que o Sol, não a Terra, era o centro do nosso sistema estelar.

Outro italiano, o filósofo e semiólogo Umberto Eco (1932/2016) escreveu um grande livro sobre a herança grega no Ocidente, a Idade Média e a Inquisição: “O nome da rosa”. Foi contemporâneo de Nelson Rodrigues, mas viveu mais e teve tempo para pegar as novidades recentes da tecnologia na disseminação da informação. Em junho de 2015, ao receber o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura da Universidade de Turim, Eco foi contundente: “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel”.

Na última semana, foi através das mídias sociais que legiões de imbecis brasileiros fizeram o país passar vergonha aos olhos do mundo. Primeiro, após a embaixada da Alemanha publicar um vídeo contra o extremismo de direita e lembrar a experiência daquele país com o nazismo (1933/45), a direita tupiniquim usou as redes sociais para tentar reescrever a história. Não só afirmando que o regime de Adolf Hitler (1889/1945) seria de “esquerda”, como tentando negar até o Holocausto, no qual 6 milhões de judeus foram assassinados em campos de extermínio. Depois, a revista britânica The Economist, bastião do liberalismo econômico, foi chamada de “esquerdista” por essa mesma direita ruminante, após a publicação de uma matéria de capa alertando ao perigo da eleição de Jair Bolsonaro (PSL).

Tentar ensinar história da Alemanha aos alemães, ou lecionar liberalismo econômico à Economist, são feitos talvez sem precedentes. Ridículo à parte, têm o valor prático do obeso que diz à balança ter uma opinião diferente sobre o seu peso.

Embora genial, Nelson estava errado. Não há monopólio ideológico na imbecilidade que Eco viu ecoada nas redes sociais. Ela está, por exemplo, na direita que não quer o lulopetismo de volta ao poder, mas vota em Bolsonaro, melhor adversário para Fernando Haddad (PT) no segundo turno. Como está na esquerda que prega #EleNão, mas vota em Haddad, melhor adversário para Bolsonaro no segundo turno.

De um jeito e do outro também, exala o cheiro da gasolina ateada à “explosão triunfal dos idiotas”.

 

Publicado hoje (22) na Folha da Manhã

 

Hamilton Garcia — Os candidatos e suas estratégias para superação da crise política

 

 

A 15 dias do primeiro turno, faço uma pequena pausa nas reflexões acerca dos desvãos da esquerda (“A evolução da esquerda” e seguintes), para discutir os projetos que se descortinam nas eleições presidenciais-congressuais que se aproximam visando superar o impasse aberto por um Congresso Nacional dominado por interesses corporativos que ameaçam a própria governabilidade do país.

A crise política que estamos vivenciando tem múltiplos aspectos e determinantes, mas nenhum deles associado ao protagonismo da extrema-direita ou dos militares — pelo menos até aqui. Na verdade, o fenômeno político do bolsonarismo-olavismo e a reemergência do militarismo, fazem parte dos corolários da crise, embora prometam, a partir de agora, ter um papel ativo no jogo armado pelo eleitor em 2019.

Tampouco a crise por vir deriva exclusivamente das características do presidenciável a ser ungido pelas urnas, como alguns analistas insistem em afirmar — geralmente por falta de empatia com algum candidato. Ela afetará a todos — não obstante assuma diferentes contornos e desdobramentos a depender do eleito — e isto por um motivo conhecido. O parlamento a ser eleito, de acordo com as normas conhecidas, num cenário político anômico (gestado nos 13 anos de desmandos do lulopetismo no poder), em presença de uma cultura política não reformada — pautada no favor —, tende a produzir o mesmo efeito político observado desde 2003: uma crescente autonomização do parlamento com base no protagonismo dos “300 picaretas”, no qual Lula se apoiou para surfar a onda chinesa das commodities e ressuscitar o mito do “pai dos pobres” — que o PT tanto penou, nos anos 1980-90, para sepultar.

A crise, da qual falo, não tem nada a ver com a refração natural de uma assembleia democrático-pluralista tendente a moderar as exacerbações plebiscitárias da eleição presidencial — como a literatura internacional prescreve nas democracias-liberais avançadas —, mas com um corpo de representantes desnaturados, baseados em partidos majoritariamente esvaziados de significado próprio, que substituem os laços orgânicos com a sociedade por laços mecânicos, por meio da corrupção ativa/passiva e do aparelhamento (debilitante) da máquina pública, tornando-se, assim, incapazes de representar e processar adequadamente as demandas eleitorais.

É sob tal superestrutura que a super-coligação de Alckmin não serve como antídoto para a crise de governança que vivemos, que tende a se desdobrar em ingovernabilidade em face do esgotamento do modelo parasitário (neopatrimonial) de governo. Ao contrário, a solução tucana — na difícil hipótese de chegar ao segundo turno — pode ser vista como mais propensa a agravar a crise dada, justamente, as características de sua coalizão eleitoral, cujos partidos, em sua grande maioria, se nutrem da manipulação irracional do gasto público.

Seu antípoda natural, Haddad — este com chances de chegar à próxima etapa —, atado à “Ideia”, se eleito, será prisioneiro dela sem a margem (desperdiçada) por Dilma, o que tende a colocá-lo no mesmo pântano de Alckmin, embora em termos bem menos orgânicos, dado que seu partido (PT) é de inserção ainda mais recente no sistema neopatrimonial de poder que o PSDB — o que eleva seu pedágio de aceitação, como se viu no Mensalão-Petrolão. Claro, ele poderá enfrentar o “golpismo” da sua “base aliada” com os poderes hipnóticos do Osho[i] petista, no ministério e na mobilização popular, mas, para tal, precisará da ajuda do STJ e do STF — o que pode não ser suficiente para evitar uma crise ainda mais grave.

A novidade em termos do enfrentamento do impasse anunciado está, na verdade, nos outros três candidatos competitivos, Bolsonaro, Ciro e Marina, que apresentam alternativas ainda não testadas para superar o escolho parlamentar do neopatrimonialismo.

Marina, em trajetória cadente mais uma vez, postula a construção de uma frente ampla de forças republicanas vocacionada para enfraquecer o poder do centrão, diminuindo os custos do governo e abrindo brechas para a autorreforma do Estado. Mas, seu ponto fraco foi a falta de protagonismo pré-eleitoral, desperdiçando as oportunidades abertas pelo cismo popular de 2013 para fincar os fundamentos de seu projeto frentista, deixando-se consumir na tarefa endógena de construção da Rede — aparentemente entendida por seu grupo como uma operação não-integrada à luta política geral.

Já Ciro, cerceado pelo mito que ajudou a cultivar, flerta com a ideia do novo bloco histórico dispondo-se a formar coalizões de classe (de caráter desenvolvimentista) articuladas a projetos políticos nacionais, mas, assim como Marina, não soube traduzir este propósito em ação efetiva pré-eleitoral no contexto acima apontado — o que também pode lhe custar caro na disputa pelo segundo turno.

Por fim, Bolsonaro, consolidado em primeiro lugar, exatamente por ter feito seu dever de casa pré-eleitoral, denunciando, desde 2003, a esquerda golpista (bolivariana), os devaneios identitários e a cumplicidade tucana, pretende enfrentar o centrão empunhando a espada de Dâmocles do intervencionismo militar. Ocorre, porém, que esta espada, pode ter dois gumes, como nos mostram os desencontros observados na própria campanha do capitão depois do atentado por ele sofrido: pode tanto servir para domesticar a bancada fisiológica do congresso, como para podar seu próprio poder em proveito dos generais do Alto Comando Militar. Das candidaturas competitivas, é a dele que apresenta o maior grau de imprevisibilidade — vide o efeito ilusivo de Paulo Guedes sobre o “mercado” —, não obstante ser também aquela que melhor proveito pode tirar do poder dissuasório dos militares, se conseguir apaziguar sua própria retaguarda.

Até que ponto e em qual momento a ingovernabilidade sistêmica, contratada pela ausência de reforma político-eleitoral, vai se apresentar ao candidato vitorioso, não é possível determinar, mas é certo que o fará em algum momento — Ciro fala numa janela de seis meses de sincronismo parlamentar com o presidente eleito —; naturalmente, a depender do grau de resistência que seu programa encontre na sociedade e no Estado.

O fato, contudo, é que o tempo político foi encurtado pela crise econômica e não há pela frente nada que se assemelhe à bolha econômica providencial do período Lula (2003-2008), muito pelo contrário, como nos mostra a disputa comercial entre EUA e China. Isto faz com que o próximo presidente tenha que jogar suas fichas no curto-prazo, como Ciro tem defendido, torcendo para que elas sejam capazes de neutralizar o poder de veto do parlamento para uma virada em direção a um novo patamar de desenvolvimento que sustente os gastos públicos racionais e os anseios de prosperidade da maioria da população pelo trabalho.

 

[i] Mestre indiano que, nos anos 1960, desenvolveu, nos EUA, uma técnica de relacionamento com a espiritualidade sem que fosse necessário negar os hábitos e vícios do mundo material, como o sexo livre e o dinheiro; vide <www.nexojornal.com.br/expresso/2018/03/30/Quem-foi-Osho.-E-por-que-est%C3%A3o-fazendo-uma-s%C3%A9rie-sobre-sua-vida> em16/09/18.

 

Após Ibope e Datafolha, Ciro Gomes e Anthony Garotinho têm chance?

 

 

 

Ciro e Garotinho têm chance?

O segundo turno da eleição presidencial está definido entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Ou Ciro Gomes (PDT) ainda tem chance? O segundo turno da eleição a governador do Estado do Rio está definido entre Eduardo Paes (DEM) e Romário Faria (Podemos). Ou Anthony Garotinho (PRP) ainda tem chance? Se há certeza dos primeiros colocados nas duas corridas eleitorais, respectivamente Bolsonaro e Paes, o contraste entre as últimas pesquisas Ibope e Datafolha deixou dúvidas sobre a disputa do segundo lugar. Elas se deram menos nas diferenças dos números, do que das tendências.

 

Números a presidente

Comparadas as duas últimas Ibope a presidente, divulgadas nos dias 11 e 18, Bolsonaro e Haddad cresceram. O primeiro foi de 26% a 28%, enquanto o petista teve crescimento real de 8% a 19%, mais que dobrando as intenções de voto. Já Ciro tinha 11% e com 11% ficou. Comparadas as duas últimas Datafolha presidenciais, divulgadas nos dias 14 e 19, Bolsonaro e Haddad também cresceram. O primeiro igualmente foi de 26% a 28%, enquanto o petista teve crescimento real de 13% a 16%. Já Ciro tinha 13% e com 13% ficou.

 

Mesmas tendências

As tendências são as mesmas nos dois institutos: Bolsonaro cresceu dentro da margem de erro, e Haddad, além dela. Ciro, por sua vez, permaneceu estagnado. Como, então, o candidato do PDT pode ter saído do jogo na quarta e ter voltado a ele, na quinta? Simples: Haddad cresceu 11 pontos no Ibope, mas só três, no Datafolha. Outra diferença relevante está no recorte de tempo em que as pesquisas foram feitas. A última Ibope, entre os dias 16 e 18. A última Datafolha, de 18 a 19. É, portanto, a mais atual. Em outras palavras, Ciro ainda está no jogo, mas sai dele caso continue empacado, ou caia, e Haddad continue a crescer.

 

Números a governador

Da disputa pelo Palácio do Planalto ao Guanabara, a lógica é a mesma. Mas aponta incertezas maiores. Entre as duas últimas Ibope, divulgadas nos dias 10 e 19, Paes cresceu e Romário diminuiu. O primeiro foi de 23% a 24%, enquanto o segundo, de 20% a 18%. Terceiro, Garotinho manteve os mesmos 12%. Nas Datafolha divulgadas nos dias 6 e 20, a estagnação coube a Romário, que manteve os 14% e a segunda colocação. Apesar de líder, Paes caiu de 24% a 22%, enquanto Garotinho, ainda terceiro, foi o único a crescer: de 10% a 12%.

 

Tendências diferentes

As tendências foram diferentes entre os candidatos a governador. No Ibope, Paes oscilou para cima, Romário para baixo e Garotinho estagnou. No Datafolha, Paes oscilou para baixo, Garotinho para cima e Romário empacou. Tudo ficou dentro da margem de erro, que nas pesquisas a governador é de 3%, acima dos 2% nas consultas presidenciais. Líder nos dois institutos, Paes está em empate técnico com Romário no Ibope, mas isolado no Datafolha. Nas duas consultas, Romário está em empate técnico com Garotinho. Por mais contratempos que colecione a cada dia com a Justiça, o político de Campos ainda está no jogo.

 

Primeiro turno

A liderança de Bolsonaro na corrida presidencial é mais destacada que a de Paes, na disputa a governador. Entretanto, o ex-capitão do Exército tem em Haddad um segundo colocado em franca ascensão. Bem diferente do que o ex-prefeito do Rio enfrenta num Romário estagnado, ou em queda. Mas é nos terceiros que estão as maiores diferenças. Correndo por fora em suas respectivas provas, Ciro tem uma substancial vantagem sobre Garotinho. E não é nem nas intenções de voto.

 

Segundo turno

No Datafolha, Ciro teve apenas 22% de rejeição, contra 43% de Bolsonaro e 29% de Haddad. Por isso, o cearense venceu as simulações de segundo turno contra o capitão (45% a 39%) e o petista (42% a 31%). Já para governador, o Datafolha deu 41% de rejeição a Garotinho, bem mais do que os 34% de Paes, ou os 29% de Romário. Por isso, o campista seria massacrado num eventual segundo turno, independente do adversário: 25% a 43% contra Paes, e 26% a 39%, contra Romário. Lutando para ficar vivo no primeiro turno presidencial, Ciro é o mais forte no segundo. Nos dois turnos ao Palácio Guanabara, Garotinho tem o fogo e a frigideira.

 

Publicado hoje (21) na Folha da Manhã

 

Paula Vigneron — Pelos cantos

 

Atafona, fim de tarde de 16/01/18 (Foto: Aluysio Abreu Barbosa)

 

A fotografia era o único registro que havia sobrado. Antônia aparecia sorrindo. Um bom observador notaria diferenças entre aquele sorriso e o que estava em destaque na foto ao lado, que tinha mais de cinco anos. Vivacidade. Leveza. Tudo o que, nos tempos finais, havia deixado para trás. Cícero apegara-se à imagem como se fosse uma extensão de seu corpo. A ideia da última memória o perseguia desde que Antônia o deixara, sem aviso prévio e palavras sobre o futuro caminho. Apenas saíra, levando as malas e um retrato do marido e filhos. Ele acordou e, ao procurá-la pela casa, encontrou um bilhete próximo à cafeteira:

“Não sairia sem preparar o seu desjejum, arrumando a mesa de acordo com suas ininteligíveis vontades. Afinal, foi para isso que servi durante os vinte anos em que ficamos juntos. Pedidos e mais pedidos desmedidos. Mas você se esqueceu de olhar para o lado. E eu, Cícero?”

O recado o deixou confuso. Como ela é capaz de enxergá-lo de maneira tão insensível? Vivera intensamente o casamento, dando a ela mais do que podia.

“Coisas materiais, amigo, eu também posso dar à sua mulher. E a atenção que ela sempre busca? Alguém, um dia, pode oferecer a ela. E aí, meu irmão, você vai perder”, alertou-o Milton, companheiro de trabalho desde a juventude.

“Não. Eu dei tudo. Dei atenção, carinho e ouvidos quando ela precisava. Onde errei?”, questionou. O silêncio da manhã o incomodou. A esta hora, a casa começava a borbulhar com os passos de Antônia misturados ao som de sua voz vazia de frases interessantes.

“Mas essa era a minha rotina. A vida a que eu estava acostumado. E agora?”

Andou pela cozinha. Continuava a pensar na possibilidade de ela ter lhe pregado uma peça. Desde o começo do relacionamento, brincava de assustá-lo. Ele sabia que Antônia gostava, mas não conseguia se lembrar de um momento específico. Brincadeiras existiam, principalmente nos primeiros meses.

“Você se recorda da viagem à cachoeira? Eu escorreguei, e você quase morreu de rir. Quando viu que me machuquei, foi me socorrer, com remorso.”

“Não. Não consigo encontrar essas histórias na minha memória.”

Desde a partida de Antônia, cada dia deixado para trás levava mais um trejeito dela de sua mente. Cícero sabia que ela adorava cozinhar e escutar música, mas não ouvia mais os sons que ecoaram pela casa durante dias e noites; semanas, meses e anos. Apenas o movimento da boca estava registrado em sua retina. E uma boca que não tinha voz.

Ele correu ao quarto e tocou na foto. Precisava se certificar da existência de uma realidade em que a mulher ainda transitava. Confirmou sua suspeita e voltou à cozinha. Tomava apenas um café com leite e seguia para trabalhar. Mas, por ser sábado, não sabia bem o que fazer depois de acordar. A esta hora, ela estaria cozinhando com o pequeno aparelho de som sintonizado em uma estação de rádio qualquer, enquanto interpretava a composição da vez. Embora soubesse que o estilo musical favorito de sua esposa era MPB, não havia memorizado, em vinte anos, as canções de que ela mais gostava.

As mãos ágeis seguiam o ritmo dos instrumentos. Como eram seus dedos? Cícero correu, novamente, para olhar o retrato. O que desejava não havia sido registrado pela máquina. Acabara de perder, definitivamente, mais uma parte de Antônia. Buscava, em todos os recônditos da memória, os traços dela, mas eles desapareciam pouco a pouco. Desta vez, carregou a foto em seu bolso.

Seguiu em direção à sala. Ligou a televisão e parou em um canal desconhecido. Um casal vendia joias, contando os benefícios do uso de um produto de primeira linha.

“Quando puder, você me dá um assim?”, perguntou Antônia, em uma tarde de descanso.

Os dois estavam acompanhando a programação da emissora. Ele não respondeu. Ficou em silêncio, seguindo o rito de convívio em sua casa. Os filhos, adultos, viviam em outros bairros. Haviam dito à mãe que não suportavam o descaso.

“Descaso é a mente torta de vocês”, respondeu, tarde demais, Cícero. Assim como Antônia, eles não estavam ali para ouvi-lo. Teria sido mesmo um marido catastrófico como queriam fazê-lo acreditar? Não, não. Cultivava detalhes da história dos dois.

Por minutos, pegou-se tentando reviver o primeiro beijo. O pedido de namoro. A viagem ao Rio de Janeiro. O passeio pelas praias. O casamento. O nascimento do primeiro filho. Todas as imagens haviam se transformado em frases que construíam precariamente sua trajetória. Não conseguia ver o filme da vida sobre o qual todos falavam. Sua memória era um amontoado de palavras perdidas.

“Bobagem!”, e retornou à cozinha. Três meses se passaram desde que Antônia se despedira definitivamente dele. Cícero, no entanto, sabia que ela voltaria. “É só uma ridícula maneira de tentar chamar a minha atenção. Ela fazia isso sempre. Costumava ir ao salão para ficar bonita e atrair meu desejo”, comentou, sozinho, enquanto planejava o almoço do dia. Apertou o cabo de uma panela. A força equivalia à necessidade de se lembrar dela nos dias em que se arrumava. Como era? Como ficava? Qual era o cheiro, o gosto, o tato?

Fechou a geladeira, desistindo de comer àquela hora. Seu estômago estava embrulhado com as lembranças espaçadas. Nem as cenas de sexo passavam diante de seus olhos. Só os fatos eram narrados em sua cabeça por uma voz desconhecida. Seria a de Antônia? Sentou-se à mesa. Estiveram ali, quinze anos antes, para comprar a casa. O corretor de imóveis, um homem de cabelos brancos, ainda dividia o espaço com um Cícero agora envelhecido. Mas, ao lado dele, Antônia deixara de existir. Recorreu à fotografia. Não reconhecia mais o rosto da esposa; da mulher com quem dividira bons dias e noites; daquela que escolheu para construir uma vida.

Ainda com os dedos fechados sobre a foto, refez o percurso para o quarto. Ele estava impregnado dela. Em todos os cantos, havia um pertence esquecido. Brincos, anéis, papéis de cartas, que estiveram em orelhas, mãos e entre dedos hoje desfeitos. A quem pertenciam? Deitou-se. O coração apertado reforçava a ideia do retorno de Antônia. Mas quem era Antônia? Fechou os olhos, invocando pernas, peitos, quadris, rosto. Falas, frases. Tons. Cabelos. Pretos, brancos? Olhares, escolhas. Falhas, acertos. Pés, unhas, sorriso. Os dentes. Eram tortos? Alinhados? Eram?

Puxou o cobertor, ajeitou os travesseiros. Trechos de cenas desconexas passavam por sua cabeça. Posicionou-se. Respirou fundo para aquietar pensamentos e coração. Inspirava, expirava. Expirava, inspirava. Aprendera com alguma colega de trabalho que a técnica poderia ser essencial em momentos de tensão. O rosto dela, agora, dominava a sua mente. Seria dela ou de sua mulher? Virou de lado na cama. À sua frente, o espectro de Antônia o observava adormecer.

 

Paes e Romário à frente no Ibope confirmam decadência de Garotinho

 

 

Novo Ibope a governador

A nova consulta Ibope de ontem, para governador do Estado do Rio, não trouxe muita variação para a anterior, divulgada nove dias antes. Líder em todas as pesquisas, Eduardo Paes (DEM) oscilou um ponto para cima e agora tem 24% das intenções de voto. No limite máximo da margem de erro, de três pontos para mais ou menos, ele está no empate técnico com Romário Faria (Podemos), que perdeu dois pontos e agora tem 18%. Novamente esticada a margem de erro, o ex-gênio do futebol também está no empate técnico com Anthony Garotinho (PRP), que manteve seus 12%.

 

Evolução das pesquisas

Na série de três pesquisas Ibope, divulgadas em 20 de agosto, 10 e 19 de setembro, Garotinho está empacado: não sai dos 12% de intenções de voto há quase um mês. É uma evolução bem diferente de Paes e Romário. O ex-prefeito do Rio saiu de 12%, foi para 23% e agora tem 24%. Por sua vez, o senador pulou de 14% a 20%, antes de registrar os 18% de ontem. O político de Campos só não está pior nas pesquisas porque nenhum dos candidatos abaixo teve crescimento real. Após repetir 5% nas duas primeiras Ibope, Tarcísio Motta (Psol) ontem registrou 4%. Já Indio da Costa saiu de 3%, antes de repetir 4% nas duas últimas.

 

Poucas mudanças

Atrás de Tarcísio e Indio, mas em empate técnico com ambos, estão Pedro Fernandes (PDT), Márcia Tiburi (PT) e Wilson Witzel (PSC), os três com 2%. Na margem de erro, estão todos embolados com os demais quatro candidatos: Marcelo Trindade (Novo), André Monteiro (PRTB), Dayse Oliveira (PSTU) e Luiz Eugenio (PCO) têm todos 1%. O que explica a pouca mudança nos números e posições, sobretudo nas duas últimas pesquisas Ibope, é foram os números de indecisos: em 10 de novembro, eram 20% os brancos e nulos, com 9% de não sabe ou não respondeu. Ontem, respectivamente, eles eram 20% e 8%.

 

Segundo turno

Pesquisa a pesquisa, Garotinho parece ainda mais longe do Palácio Guanabara do que ficou em 2014, quando assistiu ao segundo turno ser disputado por Luiz Fernando Pezão (MDB) e Marcelo Crivella (PRB). Mas, mesmo que tivesse alguma chance de avançar na disputa após as urnas de 7 de outubro, o campista não teria motivos para ficar animado. Nas simulações feitas ontem pelo Ibope, ele perderia de lavada o turno final tanto para Paes (24% a 41%), quanto Romário (25% a 38%). No provável confronto final entre os dois líderes das pesquisas, o ex-prefeito do Rio venceria o senador, mas no limite máximo da margem de erro: 37% a 31%.

 

O rejeitado

O motivo de Garotinho ter estagnado nas intenções de voto, mesmo distante da possibilidade de segundo turno, se deve ao que nele decreta sua derrota em todas as simulações: sua rejeição é de 48%. Em palavras, praticamente metade dos eleitores fluminenses não votaria nele de jeito nenhum. A rejeição de Paes é 31%, enquanto Romário tem apenas 22%. Não bastasse, ontem a vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques de Medeiros, recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para reverter a liminar que suspendeu a inelegibilidade do político de Campos.

 

Condenações

Os motivos alegados pelo segundo homem da Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE) são três. Garotinho foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) pelo desvio de R$ 234 milhões da Saúde, durante o governo estadual de Rosinha. Ele também foi condenado pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), como chefe de quadrilha armada em associação com a máfia dos caça-níqueis, também quando sua esposa era governadora. Por fim, o político da Lapa teve uma condenação transitada em julgado, por calúnia contra o juiz federal Marcelo Leonardo Tavares, a quem acusou publicamente de corrupção e prevaricação.

 

Decadência

Político marcado pela agudez do pensamento, desde que foi eleito prefeito de Campos a primeira vez, em 1988, Garotinho tem impressionado nos últimos anos pela desinteligência. Em 2014, chegou a liderar as pesquisas a governador, mas não foi nem ao segundo turno. Coincidência ou não, a partir desta derrota, o governo de Rosinha em Campos se converteu no desastre que possibilitou a vitória da oposição no primeiro turno da eleição municipal de 2016. Sem os cofres do município e após ser preso três vezes, forçou em 2018 uma nova candidatura ao Palácio Guanabara. E, aparentemente sem chances, pode acabar preso mais uma vez.

 

Publicado hoje (20) na Folha da Manhã

 

Eleição afunila entre Bolsonaro e Haddad, cuja chance é rumar ao centro

 

 

Bolsonaro e Haddad

Nesta página de opinião, um artigo publicado no último domingo (16) afirmava (aqui) desde o título: “Brasil à beira do segundo turno entre Bolsonaro de Haddad”. É o que parece cristalizado a cada nova pesquisa. Na do Ibope divulgada ontem, Jair Bolsonaro (PSL) chegou a 28% e continua líder isolado. Por sua vez, Fernando Haddad (PT) se descolou na segunda posição, com 19%. Na série Ibope, o ex-capitão do Exército chegou ao atendado à faca, no dia 6, com 22%. Foi a 26% no dia 11 e, agora, subir mais dois pontos. No mesmo dia 11 em que foi ungido candidato, Haddad tinha 8%. E de lá para cá cresceu nada menos que 11 pontos.

 

Ciro, Alckmin e Marina

Se parecia ser a última esperança real para evitar a polarização Bolsonaro/Haddad, Ciro ficou bem para trás dos líderes. Tinha 11% das intenções na última consulta Ibope. E com 11% continuou. Geraldo Alckmin (PSDB) caiu de 9% para 7%. E agora vai ter que tentar segurar a debandada dos partidos do Centrão. Marina Silva (Rede) aparenta queda livre: passou de 9% para 6%. Caso estanque a perda de intenções de voto, ela periga se juntar ainda mais ao bloco de trás. Na margem de erro de dois pontos para mais ou menos, já está em empate técnico com Álvaro Dias (Pode), João Amoêdo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB), 2% cada.

 

Largada no dia 11

Líder das pesquisas presidenciais há dois, Bolsonaro só ficou abaixo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste período. Preso desde 7 de abril por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, todos sabiam que o petista teria sua candidatura barrada pela Lei do Ficha Limpa, que ele mesmo sancionou quando presidente. A decisão inevitável do TSE veio na madrugada do dia 1º deste mês. E, ainda assim, o PT esticou a corda até o dia 11 para confirmar Haddad. Curiosamente, no mesmo dia saiu a Ibope que pela primeira vez apontou (aqui): candidato forte no primeiro turno, Bolsonaro passou a ser candidato competitivo também no segundo.

 

Segundo turno

Todas as pesquisas posteriores passaram a retratar a possibilidade de Bolsonaro também ser vencedor no turno final. Na Ibope de ontem, ele só perdeu a simulação de segundo turno para Ciro, mas em empate técnico por diferença mínima: 39% a 40%. Seu empate foi numérico nas simulações contra Haddad (40% a 40%) e Alckmin (38% a 38%). E ele ganharia já acima da margem de erro de Marina (41% a 36%). Índice considerado fundamental para a definição do segundo turno, a rejeição também tem Bolsonaro como líder isolado, com 42%. Mas isto não parece estar fazendo diferença. Até porque Haddad já é o segundo no índice negativo: 29%.

 

Voto útil

O que tem consolidado a polarização entre Bolsonaro e Haddad é o voto útil ainda no primeiro turno. O mesmo que tem esvaziado Marina e Alckmin e, por enquanto, estagnado Ciro. Dentro do cenário exposto pelo Ibope, são 7% de eleitores os que ainda não sabem em quem votar, além dos 14% que declararam intenção de votar branco ou nulo. Mas caso se definam até 7 de outubro por uma opção válida, o mais provável é que sigam o efeito manada na opção por um dos dois pólos dominantes da eleição. A apenas 18 dias da urna, o que não se conhece ainda são os tetos de Bolsonaro e Haddad.

 

Primeiro turno?

Enquanto as pesquisas apontavam cinco candidatos competitivos, a eleição em dois turnos era certa. Mas isso pode mudar, caso Marina e Alckmin continuem a cair. E se Ciro resolver segui-los. Ontem, esta coluna advertiu (aqui): “o voto útil pode transformar a eleição daqui a menos de 20 dias em mero plebiscito: anti-Lula ou anti-Bolsonaro. Neste caso, a possibilidade de definição em primeiro turno, ainda altamente improvável, deixa de ser delírio”. Em outra Folha, a de São Paulo, a jornalista Mônica Bergamo viu parecido (aqui): “Analistas experimentados acham que a possibilidade de Bolsonaro levar no primeiro turno, num acirramento, tornou-se real”.

 

Rumo ao centro

Ciente do perigo que corre, Haddad já começa a isolar os aloprados do seu partido, talvez principais responsáveis pela gênese de Bolsonaro. Ontem ele já disse “não ao indulto” de Lula, anunciado no dia anterior pelo governador mineiro Fernando Pimentel, em típico açodamento petista. Com ou sem segundo turno, Haddad só terá chance se caminhar ao centro. Para isso, tem que readotar o perfil “tucano” que o elegeu prefeito de São Paulo em 2012. Além de abandonar revanchismos mesquinhos como o controle do Judiciário, do Ministério Público e da imprensa, propostos no plano de governo do PT a partir de 2019.

 

Publicado hoje (19) na Folha da Manhã