Por Aluysio Abreu Barbosa
Quem tem alguma experiência em relações amorosas deve saber. Até acontece, mas poucas vezes saímos de um relacionamento porque nos apaixonamos por outra pessoa. O motivo geralmente é porque não aguentamos mais conviver com quem um dia amamos, sendo a recíproca quase sempre verdadeira.
Tudo indica que Jair Bolsonaro (PSL) será eleito hoje presidente da República. Para os analistas políticos, a maior dúvida é saber qual será a margem dessa vitória. Na sexta, o instituto Paraná a projetou em 60,6% dos votos válidos, contra 39,4% de Fernando Haddad (PT). Ontem CNT/MDA (56,8% a 43,2%), Datafolha (55% a 45%) e Ibope (54% a 46%) diminuíram essa vantagem.
Com a maior bancada eleita na Câmara Federal, o PT briga para perder dentro de uma margem máxima de 10 pontos de diferença. Já o ex-capitão do Exército, que elegeu a segunda maior bancada federal em 7 de outubro, sonha hoje superar o recorde dos 61,27% dos votos válidos que Luiz Inácio Lula da Silva estabeleceu ao se eleger presidente a primeira vez em 2002.
Desde o primeiro turno, a disputa foi polarizada entre Bolsonaro e Lula, que ungiu Haddad como candidato. A única alternativa que se mostrou competitiva foi Ciro Gomes (PDT). Mas foi sabotado por Lula. Mesmo preso desde 7 de abril, ele mandou às favas o legado de Miguel Arraes (1916/2005), figura tão importante quanto o ex-metalúrgico na história da esquerda brasileira.
Sem nenhum constrangimento, a cabeça de Marília Arraes, neta de Miguel, foi entregue por Lula de bandeja ao PSB de Pernambuco. Deu certo para o grupo político do falecido Eduardo Campos (1965/2014), que reelegeu Paulo Câmara (PSB) a governador no primeiro turno. Se dará certo ao PT, as urnas hoje responderão.
Nessa barganha pouco ética, Lula recebeu como paga o isolamento nacional de Ciro, seu ex-ministro, que contava com o apoio do PSB. Como Anthony Garotinho (PRP), o líder petista não gosta de aliados com luz própria. Daí a escolha de Haddad, chamado de “poste” durante a campanha. Ainda que sua luz seja muitas vezes inflamável, Ciro era o candidato com melhores chances contra Bolsonaro.
Isolado o cearense, Lula demonstrou sua impressionante capacidade de transferência de votos a Haddad. Mas ainda mais impressionante é a rejeição adquirida por quem já foi o político mais popular do Brasil, desde o também ex-presidente Getúlio Vargas (1882/1954).
Foi esse antipetismo que Bolsonaro soube surfar melhor do que qualquer outro. E o tsunami se espraiou sobre as eleições a governador, senador e deputados em quase todas as unidades da Federação.
Para não ir muito longe, o presidente da Câmara Municipal de Campos, Marcão Gomes (PR), fez quase 41 mil votos a deputado federal. Mas não se elegeu por conta força do PSL. Só no Estado do Rio, o partido de Bolsonaro elegeu uma dúzia exata à Câmara Federal. E o 12º conquistou a vaga com apenas 31.788 votos.
Além do antipetismo, Bolsonaro fincou as pernas do seu tripé no anti-establishment e na reação conservadora aos avanços das minorias. Quem respondeu a isso chamando o candidato de fascista, machista, misógino e homofóbico pode até ter suas razões. Mas, ainda assim, é o principal responsável pelo que deve definir hoje o próximo presidente do Brasil.
Em matéria de análise sobre a eleição presidencial deste ano, publicada na Folha em 22 de outubro de 2017, se buscou alertar (aqui): “Foi tratar Bolsonaro como bufão que o promoveu, de rival do deputado federal Jean Wyllys (Psol), para surgir hoje como sério opositor do político mais popular do Brasil”. Isso foi escrito há mais de um ano. Mas a esquerda brasileira grita mais do que ouve. Estão aí Cid Gomes e Mano Brown para sanarem quaisquer dúvidas.
No processo de desgaste que começou nas “Jornadas de Junho” de 2013, o eleitor médio brasileiro parece ter simplesmente olhado para o lulopetismo e decidiu pular fora da relação. Foi mais isso do que paixão pelo capitão.
Confirmada hoje a vitória de Bolsonaro, a lua de mel com seu eleitor só durará se houver resposta à enorme expectativa gerada, sobretudo no bolso. Como ensinou o estrategista Jim Carville ao ex-presidente dos EUA Bill Clinton: “É a economia, estúpido”.
Se ela não vier, o mesmo eleitor que hoje votará no “mito” talvez olhe para ele, lá entre agosto de 2019 e janeiro de 2020, como o sujeito que encontra ao acaso, depois de anos, alguém por quem já foi apaixonado. E indaga a si mesmo: “Que diabos eu vi nessa pessoa?”.
Publicado hoje (28) na Folha da Manhã
Parabéns a folha parabéns e aos dois candidatos que venceram as eleições, e os outros dois que foram derrotados nas urnas, e que os vencedores de um bom exemplo de governabilidade para todos nós, porque o Brasil é um País que tem tudo para dar certo, e que Deus continue abençoando o nosso povo.