Caio líder em empate com Wladimir? Ibope dirá!
Eleições, por vezes, são marcadas por surpresas. Esta eleição de Campos, atípica pela pandemia da Covid, ainda não havia trazido nenhuma. A passagem de Wladimir Garotinho (PSD) e Caio Vianna (PDT) pelo primeiro turno de 15 de novembro foi adiantada neste mesmo espaço semanal de análise (confira aqui) desde 10 de outubro, ainda sem nenhuma pesquisa registrada na disputa pela Prefeitura de Campos. Assim como foram aqui adiantadas a revelação que seria a Professora Natália (Psol) e a votação consistente de Dr. Bruno Calil (SD), fruto da força da campanha coordenada pelo deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD) e responsável pela existência do segundo turno daqui a oito dias. Mas, na manhã de ontem, uma pesquisa do instituto Paraná divulgou (confira aqui) que o clã Vianna, além dos Bacellar, teria ultrapassado também o clã Garotinho. O que surpreendeu muita gente. Sobretudo a quem ficou desatento ao empate técnico entre os 52,6% de intenções de votos válido atribuídos a Caio e os 47,4%, a Wladimir. Na margem de erro de 3,5 pontos, ganhe quem ganhe no dia 29, o instituto “acertará”.
Não se deve entrar na negação de pesquisas, como faz a baixa bolsonaria, fingindo ignorar que a DataFolha registrou (confira aqui) entre 27 e 28 de setembro de 2017, mais de um ano antes do primeiro turno presidencial de 2018, que Jair Bolsonaro era o favorito no cenário sem Lula. Nem se deve apelar ao serviço baixo de desinformação, como os lacaios a soldo do garotismo, que passaram ontem a divulgar que a pesquisa Paraná com a liderança em empate técnico de Caio teria sido impugnada pela Justiça. Quando, na verdade, o instituto teve uma outra pesquisa barrada pelo juízo da 76ª Zona Eleitoral de Campos, por tirar Wladimir das duas opções de segundo turno, poder que só tem o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Que, com o ministro Luís Felipe Salomão como relator, julgará talvez na quinta (26) a condição de “Anulado Sub Judice” (entenda o caso aqui) da votação de Wladimir, por conta da desincompatibilização fora do prazo do seu vice, Frederico Paes (MDB), da direção do Hospital Plantadores de Cana (HPC).
O que se pode e se deve fazer, para saber como de fato está a disputa pela Prefeitura de Campos, é comparar a Paraná do segundo turno com a Paraná do primeiro. Neste, o instituto projetou (relembre aqui) 28,1% de intenções de voto (ou 36,4% dos votos válidos) a Wladimir. E ele teve nas urnas 42,94% dos votos válidos — 6,54 pontos percentuais a mais. Já Caio, recebeu da Paraná no primeiro turno 23,5% das intenções de voto (30,5% dos votos válidos). E ele teve de fato 27,71% dos votos válidos — 2,7 pontos percentuais a menos. A margem de erro daquela Paraná do primeiro turno eram os mesmos 3,5 pontos da sua pesquisa divulgada ontem, para o segundo. Em 15 de novembro, a projeção do instituto ultrapassou esta margem ao errar com Wladimir, para baixo. Com Caio, dentro da margem, errou para cima.
Ao ser divulgada ontem pelo blog Opiniões e na manchete do site Folha1, a pesquisa Paraná que apontou a liderança de Caio em empate técnico com Wladimir gerou muita repercussão, comentários e análises. Inclusive no grupo de WhtasApp do blog e do programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3:
— Esse segundo turno é um desafio à alma e à mente do campista. Já disse que acho que o governo de Arnaldo foi o pior para mim por conta do seu legado aos gastos públicos. Mas, como movimento político, o garotismo é um mal pior. Mas acredito que os filhos não, necessariamente, devem ser punidos por seus pais. Mas isso está em jogo nas eleições. No quesito experiência, Wladimir ganha, em razão de sua boa passagem pela Câmara Federal. Mas pode ser que o passado dos pais defina o nosso presente, a favor ou contra Garotinho — disse o advogado Carlos Alexandre de Azevedo Campos, professor da Uerj, do Isecensa e ex-assessor do Supremo Tribunal Federal (STF).
— Se eles (do instituto Paraná) estiverem certos, e observe que na pesquisa anterior eles acertaram na ordem de colocação dos candidatos, talvez isso se explique pela rejeição ao garotismo e ao perfil da oligarquia Vianna, mais descentralizada e agregadora, ao contrário da oligarquia Garotinho, mais centralizadora e exclusivista. É claro que para enfrentar a crise atual, mais vale uma centralização racionalizante do que uma descentralização irracional, mas é tudo muito especulativo, à luz da história dessas oligarquias — analisou o cientista político Hamilton Garcia, professor da Uenf.
— Independente de quem vença o segundo turno, o município perde de lavada. A gastança desenfreada dessas duas famílias, que disputam o segundo turno, colocou a cidade em estado de coma. Veremos o que farão sem a fartura de dinheiro de outrora — ressaltou o jornalista Wellington Cordeiro, presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC).
Fora do grupo, em seu próprio blog, o empresário Christiano Abreu Barbosa, diretor do Grupo Folha, deteve sua análise (confira aqui) sobre a própria pesquisa. E, noves fora qualquer fraternidade de sangue e espírito, ele está entre os melhores analistas de pesquisa e apuração eleitorais de Campos, ao lado do também empresário e colunista da Folha Murillo Dieguez, cujo instituto Pro4 faz tanta falta para acompanhar as eleições municipais deste ano:
— Os novos números do Paraná corroboram a tese de alguns analistas políticos e de aliados de Caio, de que Wladimir repetiria candidaturas anteriores dos Garotinhos, chegando próximo ao teto já no primeiro turno, fato ocorrido duas vezes com Pudim. Porém, isto não ocorreu com Rosinha, parte pela bem sucedida estratégia de não mostrar Garotinho na campanha, tática repetida agora. Também não era o que indicavam os números de rejeição de Wladimir e Caio nas pesquisas, mesmo os do próprio Paraná. Wladimir sempre teve uma rejeição maior que Caio nas pesquisas, mas jamais na proporção de 5 para 1 — questionou Christiano.
Para um analista de menor capacidade, mas que ainda assim antecipou em um dia a vitória de Joe Biden (confira aqui) na eleição presidencial dos EUA, assim como antecipou o próprio TSE na noite longa de 15 de novembro, confirmando (confira aqui) o segundo turno entre Wladimir e Caio com apenas 43,7% das urnas do primeiro apuradas, a resposta está no que estas mostraram em suas quatro Zonas Eleitorais. Wladimir ganhou Caio em todas. Entre elas, apenas a diferença na 98ª ZE, na chamada “pedra”, foi e é desprezível: 28,35% a 28,32%. Nas 76ª e 129ª ZEs, o candidato dos Garotinho levaria já no primeiro turno: respectivamente, por 50,37% a 25,39% e por 53,98% a 25,37%. Já na 75ª, a diferença foi menor: 41,24% contra os 30,62% do candidato dos Vianna. A ZE da mítica “Baixada da Égua” deve definir a eleição. Onde a vantagem de Wladimir para Caio foi de 10,62 pontos percentuais. É mais que os 6,54 pontos da diferença entre os votos que a Paraná disse que o primeiro teria e os que de fato ele teve em 15 de novembro.
Alguém que conhece como poucos a Prefeitura de Campos e nutre igual antipatia pelos dois nomes que a disputam, confidenciou após a divulgação da Paraná: “No voto, acho difícil Wladimir não levar”. Se a definição fosse pelos vereadores eleitos por outros grupos políticos e atraídos por uma das duas candidaturas a prefeito no segundo turno, o placar seria 7 a 1 contra Caio. Que, no entanto, tem neste “1” o campeão de votos nas eleição legislativa: Abdu Neme (Avante), que teve 5.574 eleitores. Do outro lado, Anderson de Matos (Republicanos, 4.905 votos), Igor Pereira (SD, 3.271 votos), Rogério Matoso (DEM, 3.086 votos), Marcione da Farmácia (DEM, 2.278 votos), Silvinho Martins (MDB, 2.194 votos), Helinh Nahim (PTC, 2.171 votos) e Raphael Thuin (PTB, 1.738 votos), que declararam apoio a Wladimir após o primeiro turno, tiveram nele, somados, 19.643 eleitores.
Quase sinônimo de pesquisas eleitorais no Brasil, o Ibope tem uma no forno sobre a disputa do governo dos mais de 507 mil campistas, mais de 360 mil deles aptos a votar daqui a oito dias. Com divulgação prevista para esta quarta-feira (25), a quatro dias das urnas, veremos o que dirá. A Paraná registrou ontem que trará uma nova pesquisa para o dia seguinte, na quinta (26). Como garoto mimado, o instituto tentará dar a última palavra. Mas não terá o mesmo peso.
Publicado hoje (21) na Folha da Manhã
Eu acredito mas na opinião do jornalista Christiano, do que na pesquisa Paraná.