Gustavo Alejandro Oviedo — Intervenção na hipocrisia

 

 

 

A imagem acima foi extraída de um vídeo feito por um traficante da Vila Cruzeiro, em janeiro deste ano. A viatura da PM passa na frente do bandido, que ostenta um fuzil, e continua como se tudo estivesse na mais absoluta normalidade. Não dá pra enxergar com muita clareza, mas do outro lado da rua, encostado na parede verde, há um outro traficante armado.

Alguém consegue descobrir o que está errado nessa imagem? Acertou, leitor: o bandido filmou com o celular na vertical, e não deitado. Esse pessoal parece que não assiste aos jornais da Globo!

Quando aquilo que deveria ser ridículo se torna corriqueiro, ao ponto de considerarmos que o melhor que os PMs fizeram, pelo seu próprio bem, foi passar batido, é porque a linha do que se considera inaceitável tem um nível de tolerância absurdamente alto.

O poder econômico e bélico dos traficantes das favelas do Rio de Janeiro revela muitíssimas coisas. A que eu destaco, em primeiro lugar, é que esse poder somente se atinge quando você vende um produto extremamente procurado. Logo, se consume muita droga.

Mas aí, imediatamente, penso o seguinte: nos Estados Unidos, ou na Europa, as drogas também são muito consumidas — talvez até mais do que no Brasil. No entanto, ninguém imagina uma cena como a da fotografia acontecendo numa rua de Harlem, Nova Iorque, ou no bairro Gótico de Barcelona. A razão pela qual nesses países um traficante fortemente armado jamais se atreveria a filmar uma viatura passando é óbvia: ele seria detido e preso.

Aqui em Campos, por exemplo, qualquer um que queira cheirar uma carreira de cocaína sabe a que horas e em qual favela da cidade pode procurá-la. Sabe, também, o procedimento para chegar até o fornecedor sem provocar hostilidade: baixar as luzes externas e os vidros do carro, ligar a interna, etc. Afinal, o território é deles e deles são as regras. A polícia, os promotores e a justiça também sabem tudo isso, e de tanto em tanto realizam uma operação onde são apreendidos alguns papelotes e armas. Assim que a força policial se retira, a cancela da comunidade volta a se fechar e o traficante volta à sua atividade, até a próxima blitz.

O primeiro passo para eliminar a violência é encarar o nível de hipocrisia e de corrupção que existe, tanto na sociedade quanto no governo. Deveríamos nos perguntar, em primeiro lugar,  se realmente há interesse em combater o tráfico — e se as drogas deveriam ser proibidas, mas não é esse o assunto agora. Hoje, pareceria que o que se quer é apenas manter as aparências. Liberar uma rua de forma permanente e impedir que sujeitos andem ostentando fuzis não deveria ser tão difícil. É óbvio que o cerne do problema não está na viela da comunidade, e sim no escritório de alguma(s) autoridade(s).

A intervenção federal na segurança do estado do Rio é uma oportunidade para eliminar as causas que originam a violência das favelas: a incompetência, por dolo ou culpa, da polícia e do governo estadual, que estão imersos há décadas num círculo de ineficácia e corrupção. Mudando estes é que mudará o morro. Depois, sim, que venham as ações sociais — mas não dá pra ajudar sem antes pacificar. Não há garantias que venha a dar certo, mas estamos ficando sem opções, e essa ainda não foi tentada.

 

Cassação de Rafael Diniz: PRE-RJ dá negativo à “barriga” inseminada

 

 

 

Charge do José Renato publicada hoje (21) na Folha da Manhã

 

 

“Devaneios e conspirações” (I)

Em artigo publicado (aqui) no blog “Opiniões” na última quarta (14), hospedado no Folha 1, o jornalista Ricardo André Vasconcelos escreveu: “Irresignado com o ostracismo imposto após sua estadia preventiva nas cadeias de Benfica e Bangu, o ex-governador Anthony Garotinho (sem partido) ocupa a mente baldia entre devaneios e conspirações”. Apesar do diagnóstico, o caso parece ter se tornado contagioso. Na segunda (19), um áudio do radialista Barbosa Lemos foi viralizado nas redes sociais. Nele, vociferava: “O procurador regional eleitoral, dr. Sidney Madruga, já deu parecer favorável pela cassação de Rafael Diniz (PPS)”.

 

“Devaneios e conspirações” (II)

Na mesma segunda, após consulta ao seu jurídico, a reportagem da Folha chegou ao único processo sobre o prefeito de Campos que esperava parecer da Procuradoria Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (PRE-RJ). E lá estava desde 30 de janeiro. Tratava-se do recurso à decisão do juiz da 99ª Zona Eleitoral (ZE) de Campos, Eron Simas, que julgou inexistir a acusação do jurídico de Garotinho. “Entre devaneios e conspirações”, sua tese estapafúrdia era de que a vitória do prefeito, ainda no primeiro turno de 2016, teria sido fruto de um conluio entre jornais de Campos, o instituto de pesquisa Pro4 e o… Bar do Ovo.

 

Desmentido (I)

Mesmo que o ridículo do caso fosse tão gritante quanto um chute nas partes baixas, ciente da sua responsabilidade jornalística, ainda na noite de segunda a reportagem da Folha gerou a demanda por e-mail à assessoria da PRE-RJ. Que respondeu oficialmente, menos de meia hora depois: “(…) liguei para o gabinete do procurador. A assessora do Dr. Sidney me retornou agora: ela conversou com ele por telefone e disse que até agora não houve nada sobre o Rafael Diniz e, a princípio, não há nada em pauta hoje sobre ele”.

 

Inverdade assumida

Como Barbosa Lemos foi entrar nessa história rocambolesca, talvez seja um mistério tão óbvio, quanto desinteressante. Mas se alguma dúvida houvesse do que o ex-prefeito de São Francisco de Itabapoana disse ao microfone da sua rádio em Campos, ele mesmo publicou ontem (20), em seu perfil no Facebook: “Parecer favorável do Ministério Público Eleitoral à cassação do prefeito Rafael Diniz e sua vice agita a política de Campos”.

 

Como o radialista Barbosa Lemos excluiu sua postagem no Facebook, aqui a sua reprodução

 

Desmentido (II)

Falsa como uma nota de R$ 3,00, a informação foi desmentida pouco depois pelo anúncio (aqui) do parecer de Sidney Madruga. Conhecido no meio jurídico pela severidade com políticos, ele considerou: “(…) de acordo com os autos, Diniz teria utilizado matérias jornalísticas para fazer propaganda de sua candidatura (…) Mas para o Ministério Público Eleitoral, os jornais teriam informado de forma objetiva fatos que ocorreram na cidade durante o período eleitoral, não ultrapassando os limites da imparcialidade”. Salvo uma reviravolta digna de Gilmar Mendes, ninguém em sã consciência espera que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) considere diferente.

 

“Barriga” inseminada

No jargão jornalístico, “barriga” é a matéria jornalística equivocada. Pode ser extremamente desagradável, como o jornalista Esdras Pereira registrou ontem (aqui) em sua coluna na Folha, sobre a notícia inverídica da morte do comerciante Roberto Costa, querido proprietário do bar e restaurante Toca dos Amigos, internado por motivo de saúde. E fica ainda pior ainda quando a trapalhada é reincidente. Mas a qualquer comunicador com mínimo zelo pelo ofício, deveria ser ainda mais vergonhoso quando, além de falsa, a “barriga” é inseminada pelo interesse escuso de outrem.

 

“Guerras” no RJ

Segurança e Saúde sempre foram as áreas mais preocupantes no Rio de Janeiro. Na primeira, os resultados da recente intervenção federal ainda são esperados. O clima é de guerra declarada contra a criminalidade. Outro combate a ser reforçado, desta vez na Saúde, é contra a febre amarela. O informe epidemiológico divulgado pelo Governo do Estado na noite de ontem mostra que mais uma pessoa morreu da doença no RJ, elevando para 34 as mortes, entre os 77 casos confirmados só em 2018. Com o objetivo de ampliar a cobertura vacinal contra a febre amarela nos 92 municípios, a secretaria de Saúde vai realizar no próximo dia 3, um novo Dia D contra a doença.

 

Com o jornalista Rodrigo Gonçalves

 

Atualizado às 15h34

 

Publicado hoje (21) na Folha da Manhã

 

Produtores de cachaça do NF buscam qualificar produto através do IG

 

Produtores de cachaça do Norte Fluminense com representantes do Sebrae, ministério da Agricultura e da Prefeitura de Campos (Foto: Divulgação)

 

 

Produtores de cachaça do Norte Fluminense (NF) se reuniram ontem (19) no Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Campos. A ideia é desenvolver em conjunto uma Indicação Geográfica (IG) para os seus produtos.

O selo da IG é uma garantia para o consumidor. Comprova que o produto é genuíno e possui qualidades particulares, ligadas à sua origem. Os produtos que desenvolvem sua IG, via de regra, conseguem uma valorização de cerca de 30 %. Assim, se tornam passíveis de proteção legal contra uso de terceiros, em termos de propriedade industrial.

Utilizado há tempos na Europa, as IGs ganharam impulso no Brasil a partir deste século. Hoje já são mais de 40, entre elas a IGs das cachaças de Paraty (RJ) e Salinas (MG), do queijo canastra de Minas e do chocolate do Sul da Bahia.

A intenção dos produtores de cachaça da região é desenvolver uma IG do seu produto, baseando-se na tradição de mais de 300 anos da produção de cana e cachaça no Norte Fluminense. Para desenvolver o registro da IG “Cachaças do Rio de Janeiro – Norte”,  junto ao Instituto Nacional de Produção Industrial (INPI), os alambiques contarão com as consultorias do Sebrae e do ministério da Agricultura, que apoiou a criação da IG de da Cachaça de Paraty.

A intenção é buscar apoio tambem junto à Universidade Estadual do Norte Flumiense (Uenf), à Universiddade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRuRJ), e ao Instituto Federal Fluminense (IFF), além das prefeituras da região.

Estiveram presentes na reunião de ontem os produtores das cachaças Telura e Barra Velha, de Campos dos Goytacazes; Bousquet, de Bom Jesus do Itabapoana; Barão Dourado, de Santa Maria Madalena, e 7 Engenhos e Alcantilado, de Quissamã. Também participaram do encontro representantes do Sebrae, do ministério da Agricultura e da Prefeitura de Campos.

 

 

 

História da cachaça

Nenhuma bebida alcoólica produzida no Brasil tem sua história tão entrelaçada com a do próprio país quanto a cachaça. Como a nossa colonização pelos portugueses se deu, no início do séc. XVI, com a introdução e cultivo da cana-de-açúcar, seu natural destilamento fez da cachaça um dos primeiros ítens de venda e consumo produzidos nas Américas.

Com sua produção difundida em todo o Brasil, em consequência da economia colonial voltada à exportação de açúcar, desde o começo a cachaça teve seu consumo atrelado às camadas mais baixas da população. Para atender a esta demanda, parte da produção da bebida se industrializou no séc. XX, utilizando alambiques de aço.

Mas foi nos tradicionais destiladores de cobre, como nos alambiques do Norte Fluminense, que a qualificação da produção elevou o nível da bebida nas útimas décadas. Tanto que, a partir de 2013, os EUA e vários outros países passaram a reconhecer oficialmente: apesar da existência de outros destilados de cana, como o rum, apenas o Brasil pode produzir cachaça.

 

PRE desmente boatos e dá parecer favorável a Rafael e contra Garotinho

 

 

 

Apesar dos boatos lançadas por uma rádio de Campos, e rapidamente viralizados nas redes sociais, a assessoria da Procuradoria Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (PRE-RJ) divulgou agora o parecer contrário contra uma ação movida pelo grupo político do ex-governador Anthony Garotinho (sem partido) contra o prefeito de Campos, Rafael Diniz (PPS).

Conhecido no meio jurídico pela severidade com políticos envolvidos em irregularidades, o procurador regional eleitoral Sidney Madruga não enxergou nenhum traço de verdade na acusação ainda relativa às eleições municipais de 2016, vencida por Rafael no primeiro turno, após quase três décadas de garotismo no governo de Campos.

Garotinho, seus aliados e advogados pretendia sustentar que uma mirabolante conspiração entre jornais locais — incluindo a Folha da Manhã —, o instituto de pesquisas Pro4 e até um bar de Campos, teria favorecido o vencedor da eleição a prefeito. Com o parecer contrário do procurador, tudo indica que a decisão de primeira instância, do juízo da 99ª Zona Eleitoral do muncípio, seja agora mantida no Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

A assessoria informou que, “de acordo com os autos, Diniz teria utilizado matérias jornalísticas para fazer propaganda de sua candidatura ao executivo municipal. Mas para o Ministério Público Eleitoral, os jornais teriam informado de forma objetiva fatos que ocorreram na cidade durante o período eleitoral, não ultrapassando os limites da imparcialidade”.

Confira abaixo a nota oficial da PRE-RJ:

 

 

PRE/RJ se posiciona contra a cassação do prefeito de Campos (RJ)

Rafael Diniz (PPS) é acusado de abuso de poder econômico e compra de votos

 

A Procuradoria Regional Eleitoral no Rio de Janeiro (PRE/RJ) defende que seja mantida a decisão da 99ª Zona Eleitoral, em Campos dos Goytacazes, que absolveu o prefeito da cidade, Rafael Diniz (PPS), a vice, Conceição Sant’Anna, e outros 13 réus das acusações de abuso de poder econômico, compra de votos e abuso dos meios de comunicação nas eleições de 2016. A ação de investigação judicial eleitoral foi movida pela coligação “Frente Popular Progressista de Campos”, que recorreu da decisão ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE/RJ).

De acordo com os autos, Diniz teria utilizado matérias jornalísticas para fazer propaganda de sua candidatura ao executivo municipal. Mas para o Ministério Público Eleitoral, os jornais teriam informado de forma objetiva fatos que ocorreram na cidade durante o período eleitoral, não ultrapassando os limites da imparcialidade.

Segundo a PRE, em razão das graves consequências jurídicas da ação, como a cassação do mandato e a declaração de inelegibilidade, é imprescindível que o processo esteja baseado em um sólido conjunto de provas. “É preciso formar uma segura convicção acerca da ocorrência dos ilícitos, da efetiva responsabilidade e de benefícios auferidos pelos acusados”, argumenta o procurador regional eleitoral Sidney Madruga. “As provas, no entanto, não demonstram os fatos apresentados na ação e não justificam a aplicação das severas penalidades”, defende o procurador.

 

Alexandre Buchaul — Quem poderá nos defender?

 

Bandeira do Brasil hasteada pelas forças de Segurança Pública no alto do Morro do Alemão, em 28 de novembro de 2010

 

 

 

Há mais de trinta anos nos perguntamos isso, há mais de trinta anos ouvimos promessas, discursos inflamados e presepadas de todo tipo. Agora, será diferente?

Desde Brizola o crime só tem feito crescer sob nossos narizes, cansei de, ainda criança, assistir aterrorizado as cenas de arrastões nas praias do Rio de Janeiro e, ainda mais incrédulo, ao governador de então dizer que o problema era social, chegou-se, salvo engano, a construir, ou planejar construir, piscinas nos morros, como solução para os arrastões. Medida duplamente cretina, por acusar os moradores dos morros de terem o comportamento criminoso como cultura e por transferir para a desigualdade social e, portanto, para a sociedade, a responsabilidade pelo comportamento criminoso de alguns indivíduos.

Moreira Franco, Marcelo Alencar e Benedita tiveram atuações tão apagadas que chego a me esquecer que foram governadores. Muito embora, não sei o que foi pior, se a atuação “sem sal” desses ou a catastrófica a ponto de deixar traumas dos demais. De Brizola a Pezão, passando pela greve de fome do Garotinho, que chegou a se nomear secretário de segurança no governo da esposa, o Rio sempre teve o dedo podre para escolhas políticas e, talvez sirva de atenuante, poucas opções além do de sempre.

 

ECO 92, quando líderes mundiais se reuniram no Rio de Janeiro ocupado pelas Forças Armadas brasileiras

 

As atuações das forças armadas sempre se deram para apaziguar o Rio nos períodos de grandes eventos, o primeiro de que me lembro foi a ECO 92, tínhamos uma excursão da escola para a capital, eu estava na então quinta série, tinha apenas 11 anos quando isso aconteceu, mas me lembro com clareza que a segurança era motivo de apreensão. Durante o evento o Rio parecia o paraíso, após, volta tudo a ser como antes. Assim também o fora em todos os demais eventos de grande proporção e repercussão internacional visita do Papa, Copa do Mundo, Olimpíada…

Estatíticas oficiais da expansão das milícias pelo Estado do Rio

O desespero do cidadão fluminense com a escalada de violência é tamanho que quando do surgimento das milícias houve comoção social, as matérias na imprensa noticiavam que militares aposentados ou de folga estavam fazendo o que o Estado não fazia, tinham se unido para expulsar os traficantes das favelas… deu no que deu. Boa parte de nosso legislativo, alguns falam em 38%, tem ligação com grupos criminosos (milicianos). Por falar em deputados, onde eles estavam nos últimos 30 anos? Temos deputados que se reelegem para a Alerj ao longo de boa parte dessas três décadas, são sócios de todos os governos desde lá, são cúmplices das mazelas por que passa o Rio, mas agora posam indignados com dedos apontados ao governador.

Estados vizinhos já temem pelo resultado da intervenção federal, que apesar de necessária, não sana os problemas. Assim como a ação conjunta de Colômbia e Estados Unidos enfraqueceu os cartéis colombianos, mas fortaleceu os mexicanos. A atuação pontual no Rio pode favorecer facções criminosas de outros estados, mesmo dentro do Rio isso já acontece, a atuação policial numa favela a faz ser em seguida tomada por membros de outra quadrilha ou por milicianos.

Quem, como eu, se emocionou com o hasteamento da bandeira do Brasil no topo do Morro do Alemão espera por soluções, mas com a safra de políticos que temos, tenho medo de que a resposta à pergunta do título “E agora, quem poderá nos defender?” seja respondida com “ Eu, o Chapolin Colorado!”

 

Cineclube Goitacá reabre nesta quarta com “Dunkirk”, indicado ao Oscar

 

(Arte de Gustavo Alejandro Oviedo)

 

 

O Cineclube Goitacá abre sua programação de 2018 nesta quarta-feira (21/02). Sempre a partir das 19h, na sala 507 do edifício Medical Center, no cruzamento das ruas Conselheiro Otaviano e 13 de Maio. Por conta da expectativa pela entrega do Oscar, no próximo 4 de março, decidi apresentar “Dunkirk”, de Cristopher Nolan, que recebeu oito indicações, incluindo melhor filme e diretor. A entrada à sessão, assim como a participação no debate de depois, é livre.

Para quem ainda não assistiu ao filme, ou quiser revê-lo, fique abaixo com a reprodução da crítica publicada na Folha da Manhã e (aqui) neste Opiniões, no último 30 de julho :

 

 

 

 

“Dunkirk” — Grandes vencedores da II Guerra Mundial (1939/45), EUA e Rússia (herdeira majoritária da extinta União Soviética) são ainda hoje, 72 anos depois, com razão considerados os dois países belicamente mais poderosos do mundo. E o que você, leitor, diria se os dois juntos fossem derrotados em campo de batalha por uma outra nação da Terra, sozinha, com direito à conquista de Washington ou Moscou? E se tudo isso acontecesse no espaço de apenas cinco semanas?

Talvez só através desse paralelo se possa hoje dimensionar o que sentiu quem vivia no mundo em 1940, quando os exércitos da Alemanha entraram em Paris como conquistadores, marchando vitoriosos sob o Arco do Triunfo construído por Napoleão. Era 14 de junho daquele ano, exatos 35 dias após os alemães iniciaram a “Batalha da França”, na qual, além desta, tomaram Bélgica, Holanda e Luxemburgo, derrotando a reboque a BEF (British Expedicionary Force, Força Expedicionária Britânica).

Grandes vencedoras da I Guerra Mundial (1914/18), França e Grã-Bretanha eram consideradas em 1940, com igual razão, o que hoje são EUA e Rússia. Mas diante da revolucionária “blitzkrieg”, a “guerra relâmpago” baseada em mobilidade desenvolvida pela Alemanha, seus mais poderosos adversários, preparados para uma anacrônica guerra de trincheiras, não deram nem para a saída na Batalha da França.

Como, cinco anos depois, os alemães sobreviventes cruzariam a fita de chegada da II Guerra Mundial como perdedores, há que se supor que erros foram cometidos pela nação comandada pelo líder nazista Adolf Hitler. E o primeiro deles talvez tenha sido permitir a evacuação à Inglaterra, pelo Canal da Mancha, de quase 340 mil soldados aliados, ainda atônitos pela velocidade da sua contundente derrota inicial, encurralados sob bombardeio na praia francesa de Dunquerque. Se não fosse a retirada em segurança desses soldados, na “Operação Dínamo”, o resultado final do maior conflito da história humana poderia ter sido outro.

Se nunca saberemos, o certo é que o espírito cívico britânico foi fundamental ao resgate dos soldados presos na França. Com receio de perder seus navios de guerra necessários à resistência contra a invasão alemã considerada inevitável, mas que nunca houve (em outro erro capital de Hitler), a Grã-Bretanha segurou o leme da sua armada rumo ao único atracadouro de Dunquerque, alvo fácil para os bombardeios e torpedos inimigos.

Como a Inglaterra é uma ilha, numerosas eram suas pequenas embarcações civis, capazes de navegar sem problema nas águas rasas à beira mar. E, voluntariamente, cerca de 700 atenderam à demanda de sobrevivência militar do país. Vários foram os casos de barcos não maiores que uma sala que cruzaram o Canal da Mancha para resgatar os soldados aliados presos em Dunquerque. Sua única cobertura era dada pelo ar com os caças Sptifire da RAF (Royal Air Force, Real Força Aérea Britânica) que travaram combates encarniçados contra os caças Messerschmitt Bf 109 da Luftwaffe (Força Aérea da Alemanha) nos céus da França.

Por terra, ar e mar se desenvolvem e entrecruzam as células narrativas de “Dunkirk”. E se basear em dramas individuais, ou de pequenos grupos, para neles evidenciar os aspetos mais trágicos do evento, é a grande virtude do diretor e roteirista anglo-estadunidense Chistopher Nolan, mais conhecido pela trilogia recente de “Batman” (2005, 2008 e 2012).

Se não há super-heróis em “Dunkirk”, o filme exemplifica o que há de melhor e pior no homem, de acordo com as circunstâncias extremas da guerra. Mais referências individuais nos três palcos da batalha, do que propriamente protagonistas, o jovem soldado britânico Tommy (Fion Whitehead) é o fio condutor da ação por terra, enquanto outro jovem, o piloto da RAF Collins (Jack Lowden), o faz pelo ar; cabendo o mar ao veterano navegador civil Mr. Dawson, interpretado por Mark Rylance — Oscar de ator coadjuvante por “A ponte dos espiões” (2015), de Steven Spielberg.

Dado interessante no uso de atores é o papel destinado ao talentoso Tom Hardy, mais conhecido como o protagonista de “Mad Max: Estrada da fúria” (2015), de George Miller. Se já estava irreconhecível ao ser dirigido por Nolan em “Batman: o Cavaleiro das Trevas ressurge”, quando o britânico engordou 14 kg para interpretar o vilão Bane, Hardy atua em “Dunkirk” com o rosto coberto quase o tempo inteiro, na pele do altruísta aviador da RAF Farrier.

Essa curiosidade no ocultar ocorre também com os “vilões” do novo filme: a não ser quando suas silhuetas surgem anônimas no horizonte de Dunquerque, para capturar o Farrier já desvelado na face de Tom Hardy, os alemães não são dados a ver em nenhum outro momento. E, como acontece antes do peixe assassino de Spielberg finalmente se revelar em “Tubarão” (1975), o suspense do desconhecido torna ainda mais temíveis os guerreiros do nazismo.

Como já deu inúmeras provas em sua filmografia, Nolan é capaz de prender o espectador na poltrona do cinema nos momentos de tensão. E a “cola” ainda parece mais forte quando se dimensiona que tudo aquilo, sob bombardeio nas areias desesperançadas de Dunquerque, no porão escuro e inundado de um navio torpedeado, ou na claustrofóbica cabine de um avião metralhado, aconteceu de verdade. E, em sua grande maioria, com jovens entre 18 e 20 e poucos anos. Seja pela excelência técnica do diretor, ou do roteiro que ele amarrou na tessitura do evento real, é difícil desviar os olhos da tela nos 106 minutos de “Dunkirk”.

No competente uso ficcional da realidade por Nolan, talvez caiba ressaltar o impacto psicológico causado pelo ecoar estridente da sirene no bico dos bombardeiros de mergulho Stuka. Pensado pelos alemães para levar terror ao inimigo antes mesmo das bombas caírem, com êxito fartamente testemunhado nos relatos dos sobreviventes, é uma viagem no tempo intimidante, mesmo a quem assiste em segurança no outro lado da tela.

O hábito do cineasta em trabalhar com atores veteranos, em papeis aparentemente menores, se mantém com o ator e diretor shakespeariano Kenneth Branagh na pele do comandante Bolton, baseado no capitão britânico William Tennant, personagem capital e real na retirada de Dunquerque. Como também aconteceu de fato uma das muitas cenas marcantes do filme: quando um soldado entra caminhando no mar, até sumir nas ondas de desespero da praia francesa.

Há quem não goste de filmes de guerra. Mas “Dunkirk” é, sobretudo, uma história de sobrevivência. De quase 340 mil jovens soldados e do mundo que suas vidas construíram.

 

Confira o trailer do filme:

 

 

Artigo do domingo — Com cocar e sem computador

 

Índios na comissão de frente da Imperatriz Leopoldinense, no desfile de 2017 na Apoteose

 

 

Por Aluysio Abreu Barbosa

 

No Carnaval, o politicamente correto tentou ser mais real que Momo. A despeito da liberdade no nome, o site Catraca Livre listou fantasias proibidas a quem não quisesse “ser machista e preconceituoso, além de apropriar da cultura de povos marginalizados”: 1) índio ou índia, 2) cigano ou cigana, 3) empregada doméstica ou enfermeira, 4) “nega maluca”, 5) Iemanjá e 6) muçulmano. Estas, além do sétimo pecado capital: homem se vestir de mulher.

 

 

Virtualmente, a “lista negra” — e, aqui, a infeliz lembrança do Macartismo talvez não seja fantasia —  causou mais impacto pela majoritária reação contrária do que pela minguada aprovação dos já convertidos. E, na realidade dos blocos de rua do Rio e do Brasil, tiveram o eco de qualquer outro balido censor em meio à anarquia dos rebanhos foliões: nenhum!

Ainda assim, na seara virtual, os ditames politicamente corretos ganharam reforço com o vídeo gravado e divulgado pela artista e ativista índia Katú Mirim. Nas redes sociais, ela lançou a campanha “índio não é fantasia”:

 

Ativista Katú Mirim no vídeo da campanha “índio não é fantasia”

 

— Usar fantasia de índio é racismo porque discrimina nossa raça, reforça estereótipos, a hipersexualização da mulher indígena. O movimento indígena sempre sofreu com a invisibilização. Nós não somos uma fantasia. Pessoas não são fantasia, nossa cultura não é fantasia. Ela existe, nós existimos.

Do que existiu na recepção à campanha, bisando no surdo a (ausência de) adesão à lista do Catraca Livre, Katú classificou:

—  Algumas pessoas estão refletindo, mas 98% dos comentários são racistas.

Sobre a campanha “índio não é fantasia” e os conceitos de raça e racismo da sua cunhatã-propaganda, outro vídeo foi divulgado por outra ativista indígena: Ysani Kalapalo. Ela ressalvou não haver uma “raça índia” no Brasil, mas 305 etnias ainda sobreviventes, e observou:

 

Atisvista Ysani Kalapalo também gravou vídeo sobre fantasias de índio no Carnaval

 

— Pelo que eu vivi e vi, não tem nada demais usar cocar e adereços indígenas no carnaval (…) Quando um branco vai para a nossa tribo, ele usar cocar e adereços e a gente não acha nada de ruim. E quando a gente vai para a cidade, a gente usa roupa, óculos, tênis de marca (…) Racismo é quando o branco chama o índio de ‘bicho’ e ‘incapaz’ e tira o índio de sua terra.

Além da retórica, Ysani fez a analogia cultural do Carnaval com os rituais chamados Hagaki e Uluki:

 

Coletoras do Xingu trocam artefatos e presentes durante o Uluki

 

— O Uluki é uma cerimônia em que fazemos trocas com outras tribos, de bens e de conhecimentos. Isso faz parte. A Hagaka é um momento em que a gente se fantasia de várias culturas, de bichos e de não indígenas também. É parecido com o Carnaval. Se você for analisar a história da humanidade, o que a gente mais faz é troca. Troca de objeto, de conhecimento, de cultura, entre pessoas e nações.

Livro do historiador israelense Yuval Noah Harari é best-seller internacional e transformou seu autor em referência para líderes mundias

Alheio às discussões do Carnaval brasileiro — mas não à ideia de apropriação cultural fundada sobre conceitos do filósofo Michel Foucault (1926/84) e do historiador Roger Chartier, ambos franceses —, o historiador israelense Yuval Noah Harari também seguiu o conselho da Ysani. Ao “analisar a história da humanidade”, ele escreveu e intitulou um best-seller internacional: “Sapiens — Uma breve história da humanidade”.

Professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, Harari se tornou referência aos públicos acadêmico e leigo mundo afora. Assim como de lideranças globais, como o ex-presidente dos EUA Barak Obama, o presidente da França, Emmanuel Macron, e o criador do Facebook, Mark Zuckerberg. O livro sobre a “breve história” da nossa espécie (Homo sapiens) deu e dará artigos melhores do que este. Sobre o todo da obra, fica só o endosso: é leitura necessária!

O historiador credita a globalização ao afunilamento gradativo de três criações humanas: o dinheiro, as religiões e os impérios. Sem contar que ele considera o humanismo também como religião — pela crença em uma ordem sobre-humana nas suas versões capitalista e socialista —, o capítulo 11 (“Visões imperiais”) traz o subcapítulo “Mocinhos e bandidos da história”. Nele, no que interessa às polêmicas do último império de Momo nas terras de Vera Cruz, o autor israelense adverte ao final do segundo parágrafo:

— Todas as culturas humanas são, em parte, legados de impérios e civilizações imperiais, e nenhuma cirurgia acadêmica ou política pode remover o legado sem matar o paciente.

Como a própria classificação “índio” deriva de um erro do “descobridor” da América, o navegador genovês Cristóvão Colombo (1451/1506), que morreu acreditando ter chegado às Índias, o exemplo usado por Harari é oportuno com a polêmica carnavalesca:

— A conquista e ocupação da Índia pelos britânicos custou a vida de milhões de indianos e foi responsável pela humilhação, exploração contínua de outras centenas de milhões. Ainda assim, muitos indianos adotaram, com o entusiasmo dos convertidos, ideias ocidentais, como autodeterminação e direitos humanos (…) Os britânicos mataram, feriram e perseguiram os habitantes do subcontinente, mas também uniram um mosaico desconcertante de reinos, principados e tribos em guerra (…) Eles assentaram as bases do sistema jurídico indiano, criaram sua estrutura administrativa e construíram a rede de ferrovias que foi fundamental para a integração econômica. A Índia independente adotou a democracia ocidental, em sua versão britânica, como forma de governo. O inglês ainda é a língua franca do subcontinente (…) Quantos indianos, hoje em dia, gostariam que houvesse uma votação para destituí-los da democracia, da língua inglesa, da rede de ferrovias, do sistema jurídico (…) utilizando o argumento de serem legados imperiais? (…) Se o nacionalista extremo hindu fosse destruir todas as construções deixadas pelos conquistadores britânicos (…) o que faria com as estruturas deixadas pelos conquistadores muçulmanos, como o Taj Mahal?

 

Taj Mahal, construído no séc. XVII pelos conquistadores muçulmanos da Índia e considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco

 

 

De cima para baixo: Clint Eastwood, Lee Van Cleff e Eli Wallach no clássico western de 1966 “O bom, o mau e o feio” (“Três homens em conflito”, na tradução brasileira), do diretor Sergio Leone

Harari encerra com uma instigante (in)definição histórica entre mocinhos e bandidos, que lembra os westerns do mestre Sergio Leone (1929/89), reinventor italiano do gênero cinematográfico fundado nos EUA, em outra apropriação cultural:

— Ninguém sabe ao certo como resolver a questão espinhosa da herança cultural. Qualquer que seja o caminho escolhido, o primeiro passo é reconhecer a complexidade do dilema e aceitar que a divisão simplista entre mocinhos e bandidos não leva a lugar nenhum. A menos, é claro, que estejamos dispostos a admitir que costumamos seguir o exemplo dos bandidos.

Na dúvida, curioso constatar que a ativista contrária às fantasias de índio no Carnaval foi adotada ainda criança por um casal de São Paulo e batizada como Kátia Rodrigues. Ela resgatou as origens indígenas já adulta, ao adotar o nome Katú Mirim, em cerimônia na aldeia Guarani Mbya, no Jaraguá, em São Paulo.

Em contrapartida, Ysani Kalapalo nasceu na aldeia que leva como sobrenome, no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso, da qual saiu para ter contato pela primeira vez com não índios e a língua portuguesa aos 12 anos. Hoje vivendo entre a cidade e sua tribo, ela defende que “uso de cocar no Carnaval é troca, não discriminação”.

Revogada a troca entre culturas, com cada uma mantendo apenas para si o que criou, difícil saber onde estaríamos. Na analogia entre a Índia e seus conquistadores ao longo dos tempos, os resultados seriam ainda mais radicais do que a destruição de ferrovias e do Taj Mahal.

 

Evolução entre culturas (ou apropriação cultural?) dos algarismos indo-arábicos

 

 

Como exemplo, por volta de 400 d.C. os algarismos de 0 a 9 foram estabelecidos na Índia. Adotados por seus conquistadores árabes, que também conquistaram Espanha e Portugal, chegaram à Europa no séc. X. Daí o nome indo-arábicos. Sem eles, toda a ciência da computação — depois desenvolvida por britânicos, alemães e estadunidenses, com a base binária indiana do 0 e do 1 — simplesmente não existiria.

Aos críticos da apropriação cultural, talvez fosse a apoteose. Com cocar e sem computador.

 

Publicado hoje (18) na Folha da Manhã

 

George Gomes Coutinho — Carnaval e os pés de barro… da mídia

 

Michel Temer reproduzido como vampiro, representando o governo do Brasil após o impeachment de Dilma Rousseff

 

 

Carnaval e os pés de barro da… mídia!

Por George Gomes Coutinho(*)

Após os festejos sob o domínio de Momo espero que meu público leitor tenha sobrevivido aos eventuais excessos permitidos nesta data. E como sabemos, sendo o Carnaval um de nossos ritos periódicos mais marcantes do calendário, agora 2018 arromba a porta. Não que indícios do que será esse ano não tenham sido apresentados em janeiro e na primeira quinzena de fevereiro. As peças do tabuleiro continuaram se movimentando. Algumas mais discretamente, afinal, os bastidores jamais pararam. Outras de maneira mais notória, vide o julgamento de Lula em segunda instância no final de janeiro.

Contudo há algo que chamou a atenção durante o período momesco e surpreendeu analistas, o que pode ser um indicativo de força política discursiva emergente para a conjuntura. O fato impossível de ser ignorado foi o desfile da escola de samba de São Cristovão no Rio, a Paraíso do Tuiuti. O desfile ocorrido na madrugada de segunda apresentou uma narrativa que estava sufocada pela grande mídia oligopolista, o que trouxe óbvio constrangimento para seus porta-vozes. Ao assistir o desfile carnavalesco o público atônito pode, mediante a catarse típica do festejo, se ver e trazer o “não dito”, o “impensé” lacaniano que pulula no inconsciente político. Tudo com uma eficiência comunicativa de dar inveja aos atores tradicionais da política.

Não se trata de novidade a crítica alegórica durante o Carnaval. Mesmo antes da Paraíso do Tuiuti blocos em todos país apresentaram críticas mandando às favas os conservadores. Contudo, o impacto simbólico provocado pelo pessoal de São Cristóvão em plena Sapucaí nos convida a uma reflexão. Os pés de barro da grande mídia foram expostos.

Não obstante o esforço metódico, entediante, monocórdico e totalitário da mídia tradicional em “vender seu peixe”, o que implica a defesa intolerante, acrítica e nada plural das reformas, aparentemente não houve a conquista do imaginário social. A Paraíso do Tuitui mostrou uma fratura no discurso, algo já apontando em pesquisas onde é evidente o rechaço à pauta conservadora. Se eu fosse membro das elites econômicas brasileiras veria o ocorrido como sinal amarelo. É preciso negociar com os de baixo. A outra opção é a barbárie e nada mais.

 

(*) Professor de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da UFF/Campos dos Goytacazes

 

Publicado ontem (17) na Folha da Manhã