Final da Copa, Rosinha e Crivella em debate hoje no 4 em Linha

 

França ou Croácia? Independente do resultado da final hoje da Copa da Rússia, o resultado estará em debate na sexta edição do 4 em Linha. A live irá ao ar no Facebook a partir das 20h, entre Igor Franco, Gustavo Alejandro Oviedo, Alexandre Buchaul e Aluysio Abreu Barbosa. A discussão se estenderá para outros campos: a pré-candidatura de Rosinha Garotinho (Patri) para tentar voltar a ser prefeita de Campos em 2020, além da tentativa frustrada de impeachment do prefeito carioca Marcelo Crivella (PRB).

 

(Arte: Igor Franco)

Crônica do domingo — Futebol, poesia e história no boteco

 

Craques Neymar, Hazard, Viníncius e João Cabral (Montagem de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Por Aluysio Abreu Barbosa

 

— No futebol, o brasileiro é um flamenguista! — sentenciou Aníbal na mesa do boteco, garganta ainda molhada do primeiro gole de cerveja gelada.

— Flamenguista, nada! É botafoguense! O Brasil só venceu Copa com jogador do Botafogo! — protestou Paulo, para também molhar a palavra.

— Isso não tem nada a ver. Se tivesse, o Botafogo seria o Uruguai.  As glórias do passado dos dois, ninguém com menos de 80 anos viu. Isso é coisa dos anos 50 e 60 do século passado.

— E foi a melhor Seleção que o Brasil teve. Tanto que foi bicampeã do mundo em 58 e 62. E os uruguaios batem no peito para dizer que não têm dois títulos, mas quatro, porque, antes de sediarem e ganharam a primeira Copa, em 1930, já eram bicampeões olímpicos em 24 e 28. Por isso a Celeste Olímpica. Depois ainda ganharam o Brasil dentro do Maracanã, em 50.

— Não diminuo as glórias do passado do Uruguai. Nem do Brasil. Mas, se é para falar delas, a Itália também foi bicampeã, nas Copas de 34 e 38. Só que o futebol não acabou aí. Em 94 e 2002, quantos jogadores o Botafogo deu ao Brasil? Nenhum! O brasileiro é um flamenguista na fanfarronice. Tem um bom jogador, vira melhor do mundo. Em fase boa, como no Brasileirão, nem o Real Madrid segura. É isso que eu quero dizer.

— E o torcedor brasileiro é assim? Como?

— Como? Você ainda pergunta como? Para o brasileiro, a Seleção nunca perde; deixa de ganhar. Eliminado porque o outro foi melhor? Jamais! Para o torcedor, o Brasil não perde pra ninguém, só pra ele mesmo. Não foi assim em 98, quando Ronaldo teve tremelique antes de tomarmos de três da França na final?

— Mas Zidane nunca tinha feito um gol de cabeça.

— E daí? Fez e tomou tanto gosto que ainda fez mais outro. O que não dá é para baixar esse “complexo de vira-latas” em caboclo de papel carbono, e dizer que perdeu a final de 98 por um acordo com a Nike. Essa cantilena é igual a namoro à distância: longe do rabo e perto do chifre!

— Isso já tem 20 anos. E, como você mesmo disse, a gente depois levou a Copa em 2002.

Capa da Folha de 02/07/06

— Mas teve repeteco em 2006. Esqueceu das quartas de final na Alemanha? O Brasil tinha três melhores do mundo: Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Kaká. E ainda Adriano, Roberto Carlos e Cafu. Eram os bons de bola, os malabaristas. Aí veio o Zidane de novo, que todos diziam estar acabado, e tirou nosso time todo pra dançar.

— Isso é verdade. Deu lençol nos dois Ronaldos, no Fenômeno e no Gaúcho. Diante do mundo, ele pôs a gente na roda e comandou o baile funk: “quer dançar, quer dançar, o tigrão vai te ensinar”. Seja lá como se cante isso em francês.

— Se ensinou, não aprendemos nada. Em 2010, nas quartas de final contra a Holanda, o Brasil estava jogando bem e ganhando de 1 a 0. Aí tomamos dois gols, o time deu panca e Dunga não tinha opção no banco para mudar o jogo. Por quê? Porque levou Kleberson e deixou Neymar. Naquela época, sim, um menino. Mas já jogava bola igual a gente grande. Resultado? Ferro!

— E, em 2014, ninguém precisa falar nada. Aqueles 7 a 1, em pleno Mineirão, foram a maior humilhação da história do futebol. Talvez de todos os esportes. E é provável que nunca seja superada.

— Aí é que está. Para o brasileiro, parece não ter sido nada. Bastou Tite entrar, tirar o Brasil de sexto nas Eliminatórias da América do Sul, classificar o time em primeiro, que todo mundo já dava o título na Copa em 2018 como favas contadas.

— Nesse ponto eu concordo. E não é nem coisa só de flamenguista ou botafoguense, mas também qualquer tricolor ou vascaíno que ganhasse o Carioca e, depois disso, saísse bravateando que seu time era favorito ao Brasileirão.

— O resultado? Mais uma Eurocopa na Copa do Mundo!

— Mas o Brasil quase chegou na semifinal. Se não fosse o Courtois trocar de mão para espalmar aquela bola de Neymar, no finalzinho… Ia no ângulo!

— O que ia e não foi é a história do futebol. Tem até a do que ia e foi mesmo. Só que de outra maneira. Quer um exemplo?

— Chuta aí! — rolou Paulo.

— Quem foi assistir ao Brasil e Bélgica esperando ver um camisa 10 driblador, rápido, inteligente, caindo pela esquerda do ataque para acabar com o jogo, enxergou. Só que foi o Hazard, não Neymar. E, para completar, os dois têm quase a mesma altura e idade.

— Neymar joga mais que Hazard!

— Como meme, ninguém no mundo duvida. No campo, não é nem na habilidade que Neymar leva vantagem, mas na malemolência no drible. Só que Hazard é mais inteligente na escolha das jogadas. Mesmo quando em diagonal, o belga mira a vertical, como um barco à vela. Não é barroco como o brasileiro. O drible é o verso do futebol. Concorda?

Poetas Modric, Mbappé, Pushkin e Maiakóvski (Montagem de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

— É uma boa imagem. Pode ser…

— Pois então. Se Neymar fosse um poeta brasileiro da geração de 45, seria o Vinícius. O de maior talento natural, que deixou de desenvolver sua plenitude literária para ser um pop-star da MPB. Hazard é João Cabral. Pelo menos nesta Copa, foi um poeta maior. O narcisismo de Neymar foi o whisky de Vinícius. Amigo enganoso que sugou a poesia pelo lado interno da garrafa! — ressalvou Aníbal, antes de pedir ao garçom mais uma cerveja.

— Futebol não é só poesia! E Neymar e Hazard já rodaram da Rússia!

— Mas Modric e Mbappé ainda estão rabiscando na relva de Pushkin e Maiakóvski.

— Poesia à parte, e essa história de nazismo na Croácia?

— Alguém estaria falando da Croácia se ela não tivesse chegado à final da Copa? Isso só cola com quem nunca abriu um livro de História para descobrir o que foi a República de Vichy. A França bateu continência a Hitler para manter suas colônias na África. Depois veio De Gaulle, a Guerra da Argélia e os estudantes de 68. Mas isso é papo tão antigo quanto as glórias do Botafogo!

 

Publicado hoje (15) na Folha da Manhã

 

Eleição da mesa interfere, mas não altera votação das contas de Rosinha

 

 

 

Votações cruzadas

Com razão, se comenta que a eleição de prefeito de Campos, em 2020, passará pelo pleito de outubro deste ano. Sobretudo pelos desempenhos que terão entre os campistas o presidente da Câmara Municipal, Marcão Gomes (PR), e o filho do casal de ex-governadores Wladimir Garotinho (PRP). Ambos são pré-candidatos a deputado federal. Pela mesma lógica, não está errado quem aposta que a eleição da nova mesa diretora da Câmara, esperada para agosto, será definida pela votação das contas da ex-prefeita Rosinha Garotinho (Patri) na próxima quarta-feira (18).

 

TCE unânime contra Rosinha

Valessem apenas os critérios técnicos, o contundente parecer do novo Tribunal de Contas do Estado (TCE), seria suficiente para rejeitar as contas de Rosinha, relativas ao exercício administrativo de 2016. Depois de ser saneado pela prisão de cinco dos seus seis conselheiros, mais um ex, na operação “Quinto do Ouro”, da Polícia Federal (PF), o TCE rejeitou por unanimidade as contas da ex-prefeita de Campos. O relatório da conselheira substituta Andrea Siqueira Martins tem 110 páginas. Nelas constam 22 determinações, sete irregularidades, 13 impropriedades e três recomendações.

 

Vereadores “estudam”

Em qualquer democracia do mundo com mínimo de zelo pela coisa pública, seria suficiente para rejeitar as contas de Rosinha, deixando-a inelegível por oito anos, conforme a lei 64/90, além de abrir sua responsabilização cível e criminal pelas diversas irregularidades apontadas. Ainda assim, devido a questões meramente políticas, 11 vereadores ainda estão “estudando” o relatório. São eles: Igor Pereira (PSB), Marcelo Perfil (PHS) Jorginho Virgílio (PRP), Silvinho Martins (PRP), Josiane Morumbi (PRP), Cabo Alonsimar (PTC), Renatinho do Eldorado (PTC), Eduardo Crespo (PR), Juninho É Show (PTC), Álvaro Oliveira (SD) e Neném (PTB).

 

Mesa de “estudo”

Dos 11, Neném é o único que confirmou a tendência de votar com o relatório unânime do TCE e rejeitar as contas de Rosinha. Aos demais, a suposta indecisão se deve à eleição da nova mesa diretora da Câmara. A maioria governista já definiu Fred Machado (PPS) como novo presidente, Abdu Neme (PR), como primeiro vice-presidente, e Genásio (PSC), como primeiro secretário. Mas os vereadores debutantes Igor e Perfil, que ficariam com a segunda vice-presidência e a segunda secretaria, pleiteiam os cargos que estariam destinados a Abdu e Genásio.

 

G-5 e “desaparecidos”

Em tese, Igor e Perfil contariam com o apoio do G-5 para uma posição mais generosa na nova composição da mesa. Muito embora Perfil tenha abandonado o grupo “independente”. E seu substituto, o experiente vereador Marcos Bacellar (PTB), já tenha adiantado que votará pela rejeição das contas de Rosinha. Os demais edis do G-5 são Jorginho, Silvinho e Enock Amaral (PHS). Este, como Álvaro César (PRTB) e Joilza Rangel (PSD), não foram encontrados, nem responderam aos contatos da reportagem da Folha. Segundo assessores, Joilza estaria com os netos, em local sem celular. De Enock e Álvaro, até as assessorias desapareceram.

 

Próximos atos

Apesar de já ter declarado ser pré-candidata para tentar voltar a ser prefeita, em 2020, Rosinha deve ter as contas rejeitadas e ficar inelegível. Para isso, serão necessários nove votos. E 11 edis declararam à Folha que seguirão o parecer do TCE. Além de Bacellar, Marcão, Fred, Adbu e Genásio, são eles: Zé Carlos (PSDC), Abu (PPS), Cláudio Andrade (PSDC), Pastor Vanderli (PRB), Paulo Arantes (PSDB) e Ivan Machado (PTB). Com isso confirmado, é provável que a eleição da nova mesa seja antecipada ainda para este mês, antes da volta do recesso. Depois, serão as convenções e a eleição de outubro. E, dois anos depois, 2020 sem Rosinha. A ver.

 

Em debate

A violência obstétrica foi tema do segundo Café com o Conselho, nessa sexta-feira, no Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. Na ocasião, a obstetra Leila Werneck, a secretária de Desenvolvimento Humano e Social, Sana Gimenes, e a jornalista Daniela Abreu debateram as formas de violência antes, durante e depois do parto. Com o auditório repleto de mulheres, que relataram casos e opinaram na busca de soluções, ficou evidenciado que, além de adequações nas maternidades públicas e privadas, há a necessidade de que profissionais de saúde tenham mais conhecimento relatos dessa violência naturalizada às mulheres ao longo dos tempos.

 

Com a jornalista Daniela Abreu

 

Publicado hoje (15) na Folha da Manhã

 

França de Mbappé e Croácia de Modric disputam hoje a final da Copa

 

Mbappé e Modric disputam hoje a Copa do Mundo e o título de craque do torneio (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Antes da disputa do terceiro lugar da Copa da Rússia, conquistado ontem (aqui) pela Bélgica, a França que a derrotou já era apontada como favorita à final de hoje, ao meio-dia, contra a Croácia. E a relativa facilidade com que os belgas derrotaram ontem a Inglaterra, por 2 a 0, reforça esse aparente favoritismo francês entre os dois finalistas, sobreviventes de duas chaves desiguais na força dos adversários.

Contra a vantagem teórica da França, a Croácia demonstrou outra no campo: capacidade de reação. Após vencer todos os jogos na fase de grupos — o que os franceses não fizeram — os croatas saíram em desvantagem no placar em todos os jogos das fases eliminatórias. Ainda assim, deixaram para trás Dinamarca, Rússia e Inglaterra, todos após prorrogação, pelo direito de jogarem hoje a final. Embora tenha despachado adversários mais fortes — Argentina, Uruguai e Bélgica —, a jovem seleção da França não saiu atrás no placar em nenhum dos seus seis jogos até aqui.

Nos valores individuais, as duas seleções se equivalem. E têm como destaques seus respectivos camisas 10. Além do título, eles hoje travam um duelo particular na disputa de craque da Copa. Na França, a camisa que já foi de Zidane não tem pesado às costas do jovem e veloz atacante Mbappé. É o primeiro jogador com menos de 20 anos, depois de Pelé, a marcar mais de um gol em jogo eliminatório de Copa. Na Croácia, a 10 é envergada por um dos maiores meias do futebol mundial: o experiente e cerebral Modric. É capaz de determinar as ações de seu time, como talvez nenhum outro jogador, entre as 32 seleções que se apresentaram na Rússia.

Apesar do brilho individual dos seus astros, os times finalistas estão longe de se resumirem a eles. Entre os croatas, Modric é escudado no meio de campo por Rakitic. Os dois unem em sua seleção grande parte do poder de criação do Real Madrid e do Barcelona. No ataque, os destaques são o perigoso centroavante Mandzukic e Perisic, pela esquerda, melhor jogador das semifinais contra a Inglaterra. Ele não treinou ontem junto de seus companheiros, mas é pouco provável que não entre hoje em campo.

Do meio para a frente, Mbappé também tem um grande parceiro: como ele, Griezmann já marcou três gols no Mundial. Em contrapartida, o centroavante Giroud perdeu vários, não marcou nenhum e terá sua última chance hoje de desencantar. Mas é na meia cancha que a França demonstra, se não a mesma qualidade da Croácia, um grande equilíbrio: o clássico meia Pogba vem em desempenho crescente e ainda não mostrou tudo que sabe na Rússia. Isso sem contar Kanté, melhor volante do Mundial.

Na posição, Brozovic pode não estar no mesmo nível, mas equilibrou a marcação no setor para liberar Modric e Rakitic à criação. Atrás deles, a Croácia tem uma sólida dupla de zaga, com Lovren e Vida — à altura dos franceses Varane e Umtiti. Na lateral-direita, também há equilíbrio entre o francês Pavard e croata Vrsaljko. No lado oposto, a França mantém o nível alto com Hernández, enquanto os adevrsários talvez tenham em Strinic o ponto fraco da sua defesa. Por fim, o meia-esquerda Matuidi e o direita Rebic não têm sido destaques individuais em suas respectivas equipes, mas nelas desempenham importantes funções táticas.

Nos últimos 20 anos, França e Croácia conquistaram desempenhos de mais destaque que seleções com muito mais tradição do mundo da bola. Desde que ganharam a Copa pela primeira vez, em 1998, contra o Brasil, os franceses disputarão sua terceira final. Em 2006, eles perderam o título para a Itália, depois que Zidane perdeu a cabeça.

Principais herdeiros da antiga Iugoslávia, clássica escola do futebol, os croatas conquistaram o terceiro lugar logo em seu primeiro Mundial como nação independente. Foi em 98, quando perderam a semifinal justamente para a França, numa virada de 2 a 1. Mas, dali em diante, a Copa passou de sorrir a quem disputa sua final pela primeira vez —  como foi o caso também da Espanha, em 2010.

No retrospecto, a vantagem é dos Bleus. Em quatro jogos disputados, eles tiveram três vitórias — incluindo a semifinal de 98 —, com um empate. Hoje, a maior consistência e a juventude entrarão em campo com a França. A experiência e capacidade de superação, com a Croácia. Pátria de soldados e poetas, a Rússia não esquecerá nenhum dos dois.

 

Página 12 da edição de hoje (15) da Folha

 

 

Publicado hoje (15) na Folha da Manhã

 

Melhor futebol da Copa, Bélgica conquista 3º lugar contra a Inglaterra

 

De Bruyne abraça Hazard e Mertens, após o gol marcado pelo segundo, eleito pela Fifa como melhor em campo (Giuseppe Cacace – AFP)

 

Ao meio-dia deste domingo (15), França e Croácia decidirão o campeão e o vice da Copa do Mundo. Mas se nenhuma das suas seleções tiver uma atuação de gala amanhã, o time de melhor futebol na competição acabou de conquistar agora o terceiro lugar. Com a merecida vitória de 2 a 0 sobre a Inglaterra, a Bélgica encerrou sua participação como a iniciou: com o jogo mais lúdico e ofensivo entre as 32 seleções que se apresentaram na Rússia.

Como fizeram diante do Brasil, nas quartas, e da França, na semifinal, os belgas dominaram o primeiro tempo contra os ingleses. O gol saiu logo aos 4’ de jogo. Mesmo sem estar em dia inspirado, o centroavante Lukaku dominou a bola no meio de campo e enfiou na esquerda para o ala Chadli, que cruzou na área para o ala oposto. Depois de fazer falta contra os franceses, Meunier voltou ao time para se antecipar a Rose e estufar as redes do bom goleito Pickford.

O restante do primeiro tempo se deu para confirmar a força dos times da chave da Bélgica e da França (e do Brasil), sobre aquela em que a Croácia saiu finalista. Totalmente dominada nos primeiros 45 minutos, a Inglaterra voltou do intervalo com as entradas dos atacantes Dela Alli e Rashford. E, sem mais nada a perder, se mandou em busca do empate na segunda etapa.

Os ingleses chegaram a colocar o goleiro Courtois para trabalhar. Aos 25’, o volante Dier chegou a vencê-lo, num toque por elevação em penetração pela direta da área, mas o zagueiro Alderweireld tirou a bola em cima da linha do gol. Por sua vez, mesmo que deva sair da Copa como seu artilheiro, Harry Kane também não estava em seu dia.

Aos 35’, num contra-ataque da defesa belga à área adversaria, saiu um dos lances mais belos do Mundial: numa tabela de pé em pé — e calcanhares de Hazar e De Bruyne —, a bola cruzada por Mertens serviu a Meunier em outra penetração pela direita. O chute forte, de primeira, permitiu uma bela defesa a Pickford.

Dois minutos depois, em outro contra-ataque, De Bruyne serviu a Hazard. Eleito com justiça pela Fifa como melhor em campo, ele não deu chances ao jovem goleiro inglês e conferiu números finais ao placar. Impossível saber como jogarão neste domingo os franceses Mbappé, Griezmann e Pogba, ou os croatas Modric, Rakitic e Pericic, mas Hazard saiu de campo hoje como candidato a craque da Copa.

 

 

Guiomar Valdez — Não me Khalo, Chê, sou uma antiprincesa

 

 

No mês de março/2018, recebi mensagens e informações nas redes sociais do lançamento naquele mês (‘da Mulher’) da boneca ‘Barbie Frida Kahlo’, dentro do programa da marca, ‘Barbies — Mulheres inspiradoras’!

Meu incômodo não é com a produção e com a comercialização dessa mercadoria ‘inspiradora’; e, nem me espanta. Minha frustração foi constatar em muitos comentários, de fortes e inteligentes pessoas de lutas político-sociais, que elas acharam ‘menos mal’, que ‘gostou da ideia’, ‘que para o bem ou para o mal, representa avanço’, que ‘pode ser um resgate do melhor dessa boneca’, que ‘quero uma agoooora’, etc, etc, etc.

Ou seja, quem produziu, por que produziu, como está sendo ‘vendida’, nada, nada disso e muito mais, não importam. O que importa é compartilhar rápido, é opinar rápido, é adquirir rápido o símbolo ‘Frida Kahlo’ e ficar tranquilos, pois acredita estar contribuindo para o progresso da justiça, da liberdade e das lutas das Mulheres, por exemplo.

Realmente vivemos no apogeu de uma sociedade-sistema do ‘fetichismo da mercadoria’. Vejamos:

O que é MERCADORIA? É o que se produz para o Mercado; para a venda, e, não, para o uso imediato de quem produziu.

Mercadoria existia antes da sociedade-sistema que vivemos há mais ou menos 200 anos? SIM. Qual a ‘novidade’? É que o nosso sistema, revolucionou, potencializou infinitamente, a maneira de produzir para o Mercado, transformando tudo, com o tempo, em Mercadoria. Inverteu-se revolucionariamente a lógica da produção, não é a necessidade (valor de uso) que dita a produção; é a demanda da produção que dita o consumo (valor de troca).

A própria vida humana foi mercantilizada. Sabem por quê? Porque tudo foi reduzido a um VALOR que pode ser medido em DINHEIRO; e, uma das primeiras dimensões humanas a se transformarem em Mercadoria foi o Trabalho, a força de Trabalho.

Como é vista por nós a MERCADORIA, uma boneca, por exemplo? Como algo de vontade independente de seus produtores; o movimento das mercadorias, das coisas no mercado acontece como se fosse um movimento automático, independente da vontade das pessoas; e, paradoxalmente, o Mercado e as mercadorias, são, digamos assim, ‘humanizados’ – o mercado está ‘nervoso’, a boneca ‘subiu’, o petróleo ‘caiu’, etc.

O ‘fetichismo da mercadoria’ constitui-se, sem percebermos, num fenômeno social e psicológico, numa relação social entre pessoas, mediada por coisas/mercadorias…é como se as pessoas agissem como coisas, e, as coisas, como pessoas. Aspectos subjetivos, imateriais, são transformados em objetivos, em coisas reais, na aparência da mercadoria.

Dominados pelo ‘fetiche’ e pela ‘reificação’, é possível compreender a capacidade do nosso sistema produtivo, transformar até aquilo que o critica e o combate, em Mercadoria. Observem como o ‘símbolo Chê’ aparece como mercadoria em camisetas, bonés, etc., completamente desarticulado do conteúdo histórico-crítico ou vestido como mera e frágil contestação – vende e vende muito, até em grifes.

Vejam que essa capacidade ‘criativa-destrutiva’ no modo de produzir, tem uma capacidade de transformação impressionante no campo cultural. Da mesma forma que acontece com o ‘Chê’, realiza-se, dentre outros, nos movimentos musicais de caráter popular e de periferia e nas artes cênicas, em especial, na dança. É desapropriada a expressão crítica, libertadora, no momento em que se transforma em Mercadoria. Pois o ‘valor’ pode ser medido em dinheiro, ok?

E, se tiver o potencial consumidor público-alvo, melhor ainda …

Até aspectos dos movimentos político-sociais, têm uma ‘medição mercantilizada’, e, na proporção em que se fragmentam, contribuem na reprodução da forma e conteúdo da sociedade-sistema em que vivemos. A opressão, a violência, o preconceito, a falta ou a perda de direitos, a desigualdade, é sentida e vivida isoladamente. O ‘fetichismo’ impede a unidade, e, alimenta-os (movimentos) com novas Mercadorias afinadas aos interesses de cada fragmento atomizado.

Se tudo na/da Vida é transformado em Mercadoria, a Morte também o é. Armas, Guerras, Drogas, Órgãos humanos, etc., já foram transformados em Mercadorias há muito! Elas têm o seu valor transformado em dinheiro, em riqueza, e, também em poder, mas não apenas. O ‘fetiche’ desarticula nossa compreensão mais aprofundada, e, ficamos neste tema e no seu combate, reduzidos ao tráfico e a corrupção — fenômenos da aparência dessas Mercadorias!

É isso! Ao refletir naquele momento, sobre o Dia Internacional da Mulher, reconheço avanços histórico-culturais, SIM! Mas, insuficientes! Insuficientes em qualidade e em quantidade! Ainda somos, a maioria de nós, ‘fetichizadas pela ideia de princesas’ e dos seus encantos de vida, que já morreram e não foram enterrados! Enquanto isso, vivemos como fantasmas…

Por isso, não me ‘KAHLO’!

Assinado: uma ANTIPRINCESA!

 

PS: A QUEM INTERESSAR POSSA … as bonecas estão sendo vendidas (em março) a partir de R$249,99 e fazem parte do Barbie Shero Program, “iniciativa que já transformou em bonecas outros ícones femininos da atualidade.”

 

Blog elege seleção, técnico, craque, jogo e gol mais bonitos das semifinais

 

Faltam só mais jogos para a Copa da Rússia acabar: a disputa pelo terceiro lugar, às 11h de sábado (14), entre Bélgica e Inglaterra; e a final ao meio-dia de domingo (15), disputada entre França e Croácia. Antes, o blog não pode deixar de registrar sua seleção entre as quatro que se apresentaram nas semifinais. E também o melhor técnico, o craque, o melhor jogo e o gol mais bonito da rodada encerrada ontem (11). Vamos a eles:

 

Goleiro: Thibaut Courtois (Bélgica)

 

Lateral-direito: Kieran Trippier (Inglaterra)

 

Zagueiro: Dejan Lovren (Croácia)

 

Zagueiro: Samuel Umtiti (França)

 

Lateral-esquerdo: Lucas Hernández (França)

 

Volante: N’Golo Kanté (França)

 

Meia: Paul Pogba (França)

 

Meia: Luka Modric (Croácia)

 

Meia: Eden Hazard (Bélgica)

 

Atacante: Kylian Mbappé (França)

 

Atacante: Ivan Perisic (Croácia)

 

 

Técnico: Didier Deschamps (França)

 

 

Craque: Luca Modric (Croácia)

 

 

Melhor jogo: Croácia 2×1 Inglaterra (11/07)

 

 

Gol mais bonito: Kieran Trippier, primeiro do Croácia 2×1 Inglaterra (11/07)

 

 

Confira aqui, aqui e aqui, respectivamente, as seleções, os técnicos, os craques, os melhores jogos e os gols mais bonitos da fase de grupos, das oitavas e quartas de final.

 

Paula Vigneron — Quando duas mulheres pecam

 

 

O próximo sábado, 14 de julho, marca o centenário do cineasta sueco Ingmar Bergman. Morto em 2007, no mesmo dia do também cineasta Michelangelo Antonioni, Bergman foi enterrado na Ilha de Farö, onde passou seus últimos anos recluso. Entre suas obras mais conhecidas, estão “O sétimo selo”, “Morangos silvestres”, “Fanny e Alexander” e “Persona”, esta protagonizada por Liv Ullmann, uma das muitas esposas do diretor, e Bibi Andersson, também ex-mulher do sueco e parceira em 13 de seus filmes.

Em uma ilha, duas mulheres, antes desconhecidas, convivem e revivem histórias e segredos. Vindas de um hospital, as estranhas abrem-se uma a outra. Cada qual a seu modo. Uma permanece em silêncio. A outra conduz o relacionamento unilateral com palavras nunca ditas antes. As personagens se conheceram durante a internação da atriz Elizabeth Vogler, interpretada por Liv, que, durante três meses, ficou em absoluto silêncio.

Após problemas na apresentação do espetáculo “Electra”, quando perdeu a voz no palco, Elizabeth isola-se do mundo em sua quietude. Internada, mas sem danos mentais ou físicos, ela recebe o conselho de uma psiquiatra, que compreende o seu novo modo de vida e os motivos que a levaram a segui-lo, e se muda, com a enfermeira Alma, personagem de Bibi, para a casa de praia de médica, em uma ilha.

Em português, “Persona” foi batizado como “Quando duas mulheres pecam”. Nas primeiras cenas do filme, Alma, em uma tentativa de se aproximar de Elizabeth, discorre sobre sua vida, ideal à primeira vista: enfermeira formada há poucos anos, casada e apaixonada pelo marido. O convívio íntimo, já na ilha, no entanto, faz com que a perfeição de sua história seja desconstruída por meio de relatos mantidos, até o momento, em segredo. O pecado do título, então, refere-se às verdades contadas pela mulher, que afirma que o amor acontece somente uma vez e, por isso, ela deve ser fiel ao marido e ao suposto sentimento nutrido por ele.

Com o passar dos dias, a relação se torna mais forte. Alma começa a se comunicar, à sua maneira, com Elizabeth, que responde com pequenas reações faciais e corporais. À medida que dividem as horas do dia, entre cigarros, bebidas e revelações, as identidades das mulheres parecem se fundir diante do espectador. Em uma sequência, à noite, Alma tenta dormir quando Elizabeth invade o seu quarto. Nela, com movimentos uniformes, roupas e expressões semelhantes, elas têm uma atípica troca, simbolizando a fusão entre ambas. As transferências das personagens – propositalmente confusas – são mais visíveis em cenas finais, principalmente durante a aparição do senhor Vogler (Gunnar Björnstrand). “É tudo mentira e imitação”, vocifera a então perturbada enfermeira.

O ato de revelar o interior leva Alma a um estado de angústia que a diferencia da Alma do início da história, cuja aparência transparecia leveza. As mudanças de comportamento ficam mais intensas após a enfermeira ler, à revelia de Elizabeth, uma carta da atriz enviada à psiquiatra. Ela lhe conta os segredos revelados pela companheira e afirma que é ótimo poder analisá-la. A quietude da artista torna-se insuportável para a parceira. Somente quando ameaçada, Vogler diz uma das únicas frases proferidas por Liv Ullmann em “Persona”: “não faça isso”. Um susto. Um pedido desesperado. Um chamado à realidade.

Certas passagens do filme mostram que Elizabeth e Alma se tornam o inferno da outra; o enfrentamento com os piores medos, verdades e fatos sobre suas respectivas vidas; a impossibilidade de negação, que era possível até o encontro das personagens. A transição violenta entre fatos e imaginação.

Proposital, a opção por apenas observar a realidade e as pessoas que dela fazem parte provém da dificuldade de se encaixar no mundo em que vive. Em contato com a psiquiatra, Elizabeth ouve da mulher as verdades que geraram seu novo modo vida: o conflito entre se mostrar e se esconder; entre ser e parecer. Em resposta, por escrito, a concordância: “Eu viveria assim para sempre. Em silêncio, vivendo uma vida reclusa, com poucas necessidades, sentindo minha alma finalmente se acalmar”.

Em seu primeiro filme com Bergman, ao lado da já consagrada Bibi Andersson (com mais uma atuação magistral), Liv Ullmann traduz, em seus olhos e expressões, toda a carga de emoção da personagem – uma das características do cinema produzido pelo homem, sempre relacionado aos mais complexos e profundos sentimentos. Em um monólogo, Liv, norueguesa de então 25 anos, escuta os segredos de Alma. Apenas escuta. Silencia em todos os momentos, fazendo com que a mulher tenha a oportunidade de, sozinha, conhecer a si mesma em um quase exercício socrático. O método é aplicado, também, à atriz, quando ela se depara com seus demônios interiores, e ao público, que é levado a viver e compreender os conflitos de ambas a partir de sua própria realidade.