Bolsonaro e o agronegócio
Com a crise entre os Poderes da República, manifestações bolsonaristas em 7 de setembro, aumento dos juros, da cesta básica, dos combustíveis e da energia elétrica, 14,7 milhões de desempregados, fuga dos investidores internacionais e o governo Jair Bolsonaro (sem partido) em queda nas pesquisas, o agronegócio do país deu seu recado. Bastião do bolsonarismo, sete entidades do setor alertaram na segunda (30): “O Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo. Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter”. E em Campos, como o agronegócio, analistas de mercado e políticos reagiram?
Agronegócio de Campos (I)
Após patrocinar outdoors pela cidade em apoio a Bolsonaro, o Sindicato Rural de Campos (SRC), por meio do seu presidente, Ronaldo Bartholomeu dos Santos, ficou onde estava. Prestou solidariedade “ao movimento ‘Brasil Verde e Amarelo’, apoiou o manifesto publicado pelo mesmo e não coabita com a posição das entidades que publicaram manifesto na mídia na noite do dia 30”. No manifesto “verde e amarelo” em resposta ao manifesto do agronegócio brasileiro, consta: “O manifesto de entidades do agronegócio em defesa do Estado Democrático de Direito não foi bem recebido por parcela da base produtora agrícola”.
Agronegócio de Campos (II)
O apoio integral a Bolsonaro não foi comungado por outros representantes do agronegócio goitacá. Que bateram na ferradura, mas também no cravo do capitão. “O texto (do agronegócio) é um chamamento aos três Poderes e não uma carapuça para único personagem. Todos são responsáveis no tensionamento que desassossega a todos nós. As bravatas diárias do presidente não são o que se espera de um chefe de estado. Como não pode o Supremo fazer avisos do tipo ‘mexeu com um, mexeu com todos’”, ponderou Geraldo Hayen Coutinho, presidente do Sindicato da Indústria Sucroenergética do Estado do Rio de Janeiro (Siserj).
Agronegócio de Campos (III)
As críticas também foram divididas entre os Poderes da República pelo presidente da Associação Norte Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan). Que se manifestou pelo seu presidente, Tito Inojosa: “Concordamos integralmente com a manifestação de entidades do setor agroindustrial ao afirmar que ‘o desenvolvimento econômico social do Brasil, para ser efetivo e sustentável, requer paz e tranquilidade’. O caminho está claramente expresso no parágrafo primeiro, do artigo primeiro da Constituição: ‘Todo o poder emana do povo e em seu nome é exercido’. E não por tresloucados, com ou sem togas”.
Visão da economia
Economista e professor da Uenf, Alcimar Chagas também optou por dividir as responsabilidades pela crise institucional que atravessa o país: “O Brasil não pode se curvar às dualidades direita x esquerda, vermelhos x amarelos. Invasões públicas e práticas nocivas ao fortalecimento da democracia precisam ser definitivamente eliminados. Que não se repitam atos de invasão a órgãos públicos, como em 2014 pelo MST, como quaisquer atos que temos presenciado recentemente de ataques às instituições. O grito das lideranças do setor de agronegócio precisa ser ecoado por outras instituições públicas e privadas deste país”.
Visão das finanças
Especialista em finanças e professor do Uniflu, Igor Franco considerou a posição do agronegócio um alerta à possibilidade de ruptura do mercado com o governo Bolsonaro: “A nota de segunda pode ser um ‘ponto de não-retorno’ dos principais atores do PIB a um desembarque do apoio a Bolsonaro, que insiste em polêmicas que não interessam à nação. Com a disparada dos juros, a péssima imagem internacional e o desempenho sofrível dos ativos brasileiros, o presidente ganhou também antipatia dos principais agentes econômicos. A percepção é a de que abandonou qualquer compromisso com a estabilidade econômica”.
Ciência política
Cientista político, sociólogo e professor da UFF-Campos, George Gomes Coutinho foi ainda mais crítico, não só a Bolsonaro, como ao setor do agronegócio brasileiro que agora ameaça abandonar o presidente: “Foi uma crítica dentro do conservadorismo. Pelo que entendi, Bolsonaro está sendo ruim para os negócios. Mas não há uma crítica estrutural, até porque foi esse setor, do agronegócio, que bancou o governo Bolsonaro. E agora reconhece que o funcionamento das instituições é importante. O que é um consenso, pela opção que se fez no Ocidente da junção entre economia de mercado e democracia representativa liberal”.
Bolsonaro e Lula em Campos
Bolsonaro foi eleito presidente em 2018 com 64,87% dos votos válidos dos campistas, contra 35,13% de Haddad (PT). Na última pesquisa em Campos, feita pelo instituto Prefab Future com 600 eleitores, entre 22 e 24 de julho, o capitão bateu 31,33% das intenções de voto, seguido pelo ex-presidente Lula (PT), com 25,67%. Bolsonaro teria hoje, no primeiro turno, menos da metade dos votos campistas que teve no segundo, três anos atrás. Já no pleito goitacá de 2020, os candidatos a prefeito e vereador que contaram só com a onda bolsonarista para tentarem se eleger, morreram todos na praia. Como os que tentaram nadar nas costas de Lula.
Publicado hoje, na Folha da Manhã
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