Grande ator do teatro campista e produtor cultural gente boa, o Alexandre Ferram enviou por WhatsApp a programação cultural do Sesi em setembro. Ressalvado que não conheço as outras três atrações, não dá para deixar de dizer que a estrela do mês será o show do compositor, cantor e violonista mineiro João Bosco, no dia 20.
Os ingressos estarão disponíveis para venda a partir do dia 2. Antes disso, confira abaixo a programação setembrina dessa trincheira da cena cultural de Campos dos Goytacazes:
Mesmo que a imprensa tenha tido o acesso negado à assembleia na noite de ontem (26) do Sindicato dos Odontologistas do Norte do Estado do Rio (Sonerj), não foi difícil à coluna Ponto Final de hoje antecipar (aqui) seu resultado: os cerca de 450 dentistas da Saúde Pública de Campos não aderiram à greve deflagrada pelos colegas médicos (aqui) desde o último dia 7. A novidade do encontro realizado no auditório do edifício Connect Work Station foi que o presidente do Sonerj, Domingos Ferreira Junior, entregou o cargo. E propôs dissolver o sindicato, cuja representatividade foi questionada (aqui) desde que o edital de convocação da assembleia elencou como primeiro item da sua pauta o ponto biométrico. Em maio ele começou a ser instalado (aqui) no serviço público de Campos.
Além da polêmica biometria, que os servidores odontólogos garantem não estar contra, a pauta da assembleia do Sonerj tinha outros dois itens: condições de trabalho e salários. Mas, no lugar de debater os três pontos, e de acabar servindo para Domingos entregar o cargo de líder da categoria, quem esteve presente na reunião testemunhou que ela foi marcada pelas críticas à atuação do sindicato, além de bate-boca pouco produtivo entre os presentes:
— Após anos omisso, o Sonerj decide fazer uma assembleia, cancela e, então a mantém na última segunda. O presidente abriu a sessão fazendo uma recapitulação de todos esses episódios e abordando a controversa e extremamente criticada pauta. Por fim, anunciou sua renúncia à presidência do sindicato. Lamentavelmente, a necessária assembleia se dissolveu em acusações e contra-acusações desprovidas de qualquer propósito maior. A cereja do bolo será a provável dissolução da representação sindical. E assim termina a história do Sonerj. Jaz como se jamais houvesse — descreveu o dentista e servidor municipal Alexandre Buchaul.
O edital de convocação do Sonerj para a assembleia de segunda foi divulgado na última sexta (23). Após a reação negativa de dentistas e da sociedade ao fato do ponto biométrico ser colocado como primeiro item da pauta, no sábado (24) Domingos procurou a redação da Folha para anunciar que a assembleia estava cancelada, como o Ponto Final democraticamente publicou (aqui) no domingo (25). Mas, neste mesmo dia, o presidente do Sonerj pediu a uma colega que avisasse à categoria no grupo de WhatsApp “Dentistas de Campos” que a assembleia seria mantida (aqui) para o dia 26. Fechada à imprensa, o resultado foi o que os presentes puderam ver na noite de ontem.
No Folha no Ar da manhã de hoje, os professores Juraci (esq.) e Carlão falaram das suas propostas para disputar a reitoria da Uenf (Foto: Isaias Fernandes – Folha da Manhã)
“Reconhecemos que a Uenf é fruto de uma luta regional, principalmente da cidade de Campos”. Foi o que lembrou o candidato a reitor da Uenf Carlão Rezende, logo na abertura da sua entrevista no início da manhã de hoje, no programa Folha no Ar 1ª edição, da Folha FM 98,3. E foi complementado logo na sequência por seu companheiro de chapa, o candidato a vice-reitor Juraci Sampaio: “A Uenf hoje não está apenas em Campos, mas em 11 polos espalhados pelo Norte e Noroeste do Estado”.
No que é particular à chapa 11 “Avança, Uenf: Ciência e Sociedade”, Carlão e Juraci deram detalhes da proposta central da sua campanha: “A universidade pública brasileira vem sofrendo inúmeras investidas para alterar o seu modelo de funcionamento. A pior delas é a que pressiona pela descontinuidade das políticas de financiamento público. A nossa chapa defende a universidade pública, gratuita, de excelência e socialmente referenciada”.
Na pauta comum aos outros dois candidatos a reitor da Uenf, Raul Palacio e Enrique Medina, que serão respectivamente entrevistados no Folha no Ar destas quarta (28) e quinta (29), Carlão e Juraci falaram sobre a autonomia financeira da universidade (saiba mais aqui), o legado do seu fundador Darcy Ribeiro, a relação com o governo estadual Wilson Witzel (PSC) e a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), a integração do campus Leonel Brizola com Campos, as parcerias com a iniciativa privada e o momento difícil que as universidades vivem no Brasil e no mundo, com a onda de negacionismo e ataques ao conhecimento científico.
Os representantes da chapa 11 pela reitoria da Uenf também falaram da importância simbólica da Casa de Cultura Villa Maria. Construído em 1919, pelo arquiteto italiano José Benevento, o palacete foi um presente do usineiro e engenheiro Atilano Chrysóstomo de Oliveira à sua esposa, D. Maria Queiroz de Oliveira. Conhecida como Dona Finazinha, por ter nascido no Dia de Finados, e por seu interesse na promoção de atividades culturais, ela morreu em 1970, quando deixou o prédio em testamento para que viesse a funcionar como sede da futura universidade no Norte Fluminense. Antes da instalação da Uenf em 1993, a Villa chegou a ser sede da Prefeitura de Campos.
As respostas de Carlão e Juraci sobre essa pauta comum podem ser conhecidas nos vídeos do programa ao final desta postagem, ou na edição da Folha da Manhã desta quarta. Nos dias seguintes, em rádio e jornal, o mesmo espaço será ofertado aos representantes das duas outras chapas.
A eleição começa já no sábado (31), na Fundação Centro de Educação à Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cederj). E, na próxima terça (03/09), atinge seu clímax no campus de Campos, e no campi avançado da universidade em Macaé. O universo é de aproximadamente 8 mil alunos, divididos entre cerca de 300 professores, 600 técnicos e 7 mil alunos. Na definição do próximo reitor da Uenf, nos quatro anos seguintes, os votos dos professores terão peso de 70%, cabendo 15% aos alunos e os outros 15% aos técnicos.
Independente do resultado das urnas, Carlão traçou o tamanho do desafio: “A gente vai precisar de união para superar coisas que ainda vêm pela frente. E não só união não dentro da Uenf. União com o IFF (Instituto Federal Fluminense), união com a UFF (Universidade Federal Fluminense), com as outras instituições daqui. Campos tem que ter muito orgulho não só da Uenf, mas do que ela se tornou ao longo dos últimos 27 anos: o segundo polo universitário do Estado do Rio de Janeiro (…) As pessoas têm que perceber que a Uenf é da cidade, é da região”.
Leia a entrevista na edição desta quarta (28) na Folha da Manhã
Folha no Ar receberá, de terça a quinta, os candidatos a reitor da Uenf: Carlão de Rezende, Raul Palacio e Enrique Medina (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
A partir desta terça (27), sempre às 7h da manhã, o programa Folha no Ar 1ª edição, da Folha FM 98,3, entrevistará individualmente os três candidatos a reitor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf). A eleição começa já no sábado (31), na Fundação Centro de Educação à Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cederj). E, na próxima terça (03/09), atinge seu clímax no campus Leonel Brizola, em Campos, e no polo avançado da universidade em Macaé. Nesta terça, o convidado do programa de rádio mais ouvido de Campos e região será o candidato Carlão de Rezende, seguido de Raul Palacio na quarta (28), fechando com Enrique Medina na quinta (29).
Apesar das entrevistas do Folha no Ar serem geralmente feitas em clima mais descontraído de bate-papo, os três candidatos serão indagados sobre temas comuns. Entre eles, a sonhada autonomia financeira da universidade, o legado do seu fundador Darcy Ribeiro, a relação com o governo estadual Wilson Witzel (PSC) e a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), a integração do campus com a cidade que o sedia, as parcerias com a iniciativa privada e o momento difícil que as universidades vivem no Brasil e no mundo, com a onda de negacionismo e ataques ao conhecimento científico. Sobre estes temas comuns, as entrevistas serão transcritas nas respectivas edições dos dias seguintes da Folha da Manhã: Carlão na quarta, Raul na quinta e Enrique na sexta.
Pré-candidato a prefeito de Campos pelo PSC, Marcelo Mérida fecha a semana do Folha no Ar na sexta (Foto: Folha da Manhã)
Após concluir o ciclo de três entrevistas com os candidatos a reitor da Uenf, em cujo processo de instalação a Folha da Manhã foi uma trincheira no início dos anos 1990, o Folha no Ar 1ª edição fechará a semana com o empresário Marcelo Mérida. No último dia 14, ele assumiu (aqui) a presidência municipal do PSC, partido de Witzel, pelo qual pode vir como candidato a prefeito de Campos em 2020.
Médico e ex-secretário municipal de Saúde, Geraldo Venâncio analisou na manhã de hoje, na Folha FM 98,3, a greve da sua categoria na Saúde Pública de Campos (Foto: Isaias Fernandes – Folha da Manhã)
Deflagrada no último dia 7, a greve dos médicos da Saúde Pública de Campos é um clássico conflito entre patrão e empregado. A constatação é do ex-secretário municipal de Saúde do governo Rosinha Garotinho (hoje, Patri), ex-vereador, atual diretor do Hospital Álvaro Alvim e médico gastroenterologista, Geraldo Venâncio. Ele foi o entrevistado do início da manhã de hoje do programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3. E garantiu que a instalação do ponto biométrico não é uma das causas do movimento. Embora tenha sido listada (aqui) como primeiro item da pauta dos dentistas e servidores municipais, cuja categoria tem marcada, cancelada e reconfirmada (aqui) às 19h de hoje.
Geraldo comentou a visita que hoje (aqui) conselheiros estaduais do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) fazem a Campos, para avaliar a greve. Ela só terá fim, na visão do experiente médico e político, com base no diálogo. E apontou o ponto que julga fundamental para que os médicos voltem a trabalhar: o pagamento das gratificações, cujos 50% do último mês foram depositados na conta dos médicos no último dia 22, após atraso de um dia motivado pelo bloqueio jurídico da conta da Prefeitura. As substituições, outro pleito da categoria, para Geraldo interessam mais aos servidores da enfermagem e serviço paramédico. Mas admitiu: “a greve tem o momento de começar e o momento de terminar”.
Questionado sobre a ironia da sua categoria em Campos ter votado em peso a presidente em 2018 no anticomunista Jair Bolsonaro (PSL), mas ter a legitimidade da greve no conceito da luta de classes, presente em qualquer conflito entre patrão e empregado, fundado por Karl Marx, Geraldo respondeu com outra ironia: “voto com o relator”. Como professor de gerações de médicos na Faculdade de Medicina de Campos (FMC), ele também analisou a mudança no perfil da carreira, menos humanizada nos últimos anos, no que se refere ao tratamento dos pacientes, depois que passou a ser mais buscada por interesse pecuniário do que por vocação pessoal.
Geraldo também questionou condução do governo Rafael Diniz (Cidadania), que em seu entender endureceu o discurso antes da greve, após os médicos já terem manifestado seu descontentamento com a suspensão do pagamento das gratificações e substituições, por motivo de contingenciamento de gastos, com a queda das receitas do petróleo. Embora tenha defendido realizações do governo Rosinha, que integrou, ele não questionou o desperdício de dinheiro público na época das “vacas gordas” dos royalties, em obras desnecessárias como o Cepop, erguido a R$ 100 milhões.
Ainda assim, Geraldo fez elogios aos pré-candidatos a prefeito de Campos em 2020 Wladimir Garotinho (PSD), deputado federal, e Caio Vianna (PDT). Mas acredita que Rafael, apesar do pouco tempo para se recuperar do desgaste pelo não atendimento das expectativas, também esteja no páreo. Ele demonstrou menos crença na força do deputado estadual Gil Vianna (PSL), pela perda de popularidade que sofre quem, em tese, seria seu principal cabo eleitoral: o presidente Jair Bolsonaro.
Veja nos três blocos abaixo a íntegra da entrevista de Geraldo Venâncio ao Folha no Ar:
Desmarcada no sábado, a assembleia dos odontólogos foi confirmada em grupo de WhtasApp
Para os cerca de 450 dentistas da Saúde Pública de Campos, o que seria e deixou de ser, voltou a ser. Anunciada aqui, neste blog, na última sexta (23), a assembleia do Sindicato dos Odontologistas do Norte do Estado do Rio de Janeiro (Sonerj), marcada para às 19h desta segunda (26), tinha na pauta três itens: 1) ponto biométrico, 2) condições de trabalho e 3) salário. E gerou grande repercussão. Tanto que, no sábado (24), o presidente do Sonerj, Domingos Ferreira Junior, procurou a redação da Folha para comunicar que a assembleia estava desmarcada, o que foi democraticamente anunciado (aqui) na coluna Ponto Final de domingo (25). Só que, no mesmo dia, Domingos pediu a uma colega que postasse no grupo de WhtasApp “Dentistas de Campos”, do qual não faz parte, que a assembleia da categoria vai ocorrer, sim, nesta segunda. E o presidente do Sonerj confirmou a informação ao blog:
— Nós marcamos a assembleia em edital de convocação. Mas a maneira como a pauta foi noticiada gerou reações de dentistas servidores que disseram não se sentirem representados pelo sindicato. E a declaração de um deles, que comparou o servidor que não quer o ponto biométrico com um empresário corrupto gerou muita repercussão negativa. Ninguém é contra a biometria. Temos que trabalhar as horas semanais para que fomos aprovados em concurso. A questão é como a biometria vem sendo feita. E as condições de trabalho, que também estão na pauta. Por conta da reação, procuramos a Folha no sábado para comunicar o cancelamento da assembleia de segunda. Mas como não conseguimos publicar o edital de cancelamento nos classificados do jornal, que já tinham fechado, fomos aconselhados por motivos jurídicos a manter a assembleia. E fomos pressionados também pelos mesmos que disseram não se sentir representados pelo sindicato. Daí pedi a uma colega que avisasse à categoria no grupo de WhatsApp “Dentistas de Campos”, porque não faço parte dele — explicou o presidente da Sonerj.
O local da assembleia é o mesmo marcado incialmente: no auditório do edifício Connect Work Station, na rua Saldanha Marinho, 458. Abaixo, o edital de convocação do dia 23, que foi cancelado no dia 24 e confirmado no dia 25 para o dia 26:
Estátua do bobo da corte Yorick em Stratford-upon-Avon, cidade em que Shakespeare nasceu e morreu
A figura do palhaço de circo remonta o bobo da corte, o bufão, o clown imortalizado tanto nas comédias, quanto nas tragédias de William Shakespeare. Em “Hamlet”, é o crânio do bobo da corte Yorick desenterrado no cemitério que o príncipe da Dinamarca toma nas mãos para resgatar suas memórias mais caras da infância. E mergulhar na efemeridade humana enquanto encara as órbitas vazias do crânio do bobo da corte, momento alto da dramaturgia ocidental. Está na cena 1 do ato 5 da peça. Ainda assim, talvez por seu impacto visual, há quem coloque o encontro no solilóquio do “ser ou não ser”, que está na cena 1, mas do ato 2 de “Hamlet”.
O príncipe Hamlet de Mel Gibson encara o crânio do bobo da corte Yorick
Em Stratford-upon-Avon, cidade inglesa que conserva boa parte da arquitetura medieval dos tempos em que Shakespeare lá nasceu e morreu, inclusive a casa onde ele viveu, é a estátua de Yorick que está na praça central. Com a perna direita para o ar, equilibra no dedo indicador da mão esquerda a cabeça de um boneco. Representa a do próprio Yorick, antes da terra consumir-lhe as carnes. Mas é o reconhecimento vivo da cidade de Shakespeare à importância do seu personagem. E ao fato de que é necessário talento para ser um bobo da corte.
Neste final de semana, o blogueiro do Folha1 Edmundo Siqueira me enviou um vídeo divulgado no Facebook por um doutor da Saúde Pública de Campos. Nele tenta ironizar a cobertura da Folha sobre a greve dos médicos da Saúde Pública de Capos, inclusive a do Edmundo, tentando reduzi-la à questão do ponto biométrico. Na verdade, como é comum aos hipócritas, não aos bobos da corte, pretendeu vender uma questão que é sua, ou da classe que arroga representar, como se fosse do jornal. E se resposta merece, é aqui, na circunscrição do blog, com o anonimato à vaidade fútil de quem não merece ter o nome lembrado.
Sobre as diferenças entre noticiário e opinião em qualquer jornal do mundo, ou da opinião de um blogueiro, colunista ou articulista de um jornal, para a opinião do jornal, coube a esta fazer as distinções devidas. Foi na coluna Ponto Final (aqui) do último dia 10. Que se tornou necessária pela ressalva ali feita: “Não se espera que médicos saibam sobre jornalismo mais do que jornalistas sabem sobre medicina”. A mesma que depois concluiu: “ É opinião do jornal, por exemplo, que o governo errou ao implantar o ponto biométrico, ao mesmo tempo em que suspende as gratificações e substituições dos médicos”.
Mesmo diante disso, o vídeo do doutor se denunciou como resposta ressentida ao adjetivo “famigerado”. Foi utilizado aqui, para falar sobre o ponto biométrico em postagem na sexta (23) do blog “Coxinha de mortadela”, do Edmundo. Na verdade, o blogueiro abordou a vinda de conselheiros estaduais do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) a Campos, nesta segunda (26), para tratar da greve dos médicos. E o doutor se apegou ao detalhe para julgar o todo — naquilo mais conhecido como sofisma das partes — e tentar fazer graça. Talvez da própria capacidade cognitiva de interpretação.
Mas o vídeo do doutor parece ter sido também motivado por uma postagem deste blog (aqui), no mesmo do dia 23. Ela tratou da convocação do Sindicato dos Odontólogos do Norte do Estado do Rio de Janeiro (Sonerj) para uma assembleia da categoria, entre os dentistas da Saúde Pública de Campos, que também se daria nesta segunda. Publicado na postagem, o edital de convocação tinha como primeiro item da pauta o… ponto biométrico. Sobre isso também foi publicada a analogia de alguém insuspeito, por também odontólogo e servidor municipal de Campos:
— O servidor que se nega a ter fiscalizadas suas horas de trabalho, pelas quais firmou contrato pessoal com a Prefeitura assim que se inscreveu no concurso público, tem pouca ou nenhuma diferença para o empresário corrupto que vende mil garrafas d’água ao poder público, mas só entrega 500 ao respeitável público que pagou pelas mil.
Pelo impacto negativo do evidenciado no edital de convocação do Sonerj — um documento, que não costuma mentir como as testemunhas —, as reações foram fortes e imediatas. E o blog, democraticamente, acresceu a postagem do contraditório externado pelos odontólogos e servidores municipais Beto Miranda e Rafael Correa. Ainda assim, o incômodo foi tanto que o presidente do Sonerj, Domingos Ferreira Junior, procurou a Folha no sábado (24) para anunciar (aqui) que havia desmarcado a assembleia da categoria. Mas voltou a confirmá-la (aqui) hoje (25) para esta segunda (26), no grupo de WhatsApp “Dentistas de Campos”.
Como qualquer leigo é capaz de constatar, o assunto é complexo. E sério demais para se tentar fazer graça. Mas, se fosse o caso, como a cidade de Shakespeare adverte na estátua de Yorick, é necessário algum talento para ser bobo da corte.
Gustavo Alejandro Oviedo, advogado, publicitário e crítico de cinema
Morreu o tio rico
Por Gustavo Alejandro Oviedo
Imagine que você tem um tio milionário. Esse tio gosta de você pra caramba, mais do que seus próprios filhos. Gosta tanto que lhe dá uma boa mesada, tão boa quanto o que você ganha fazendo seja lá o que você faz da vida.
Você está feliz com essa mesada de seu tio, e como tem certeza que ele sempre vai gostar de você — porque os dois compartilham certo porra-louquismo — considera quase impossível que ele venha parar de lhe passar dinheiro.
Mas um dia seu tio morre. E acontece que, como o sujeito era tão porra-louca, se esqueceu de fazer testamento para favorecer você, seu sobrinho amado. A grana toda vai para os filhos.
Só nesse momento você se depara com o fato de que, agora, sua receita caiu pela metade. E suas despesas são altas, do valor equivalente à soma do seu salário, mais a extinta mesada. Você nunca poupou nem investiu esse dinheiro extra que seu tio lhe passava. O gastou em viagens, em festas, no aluguel do apartamento de luxo e na manutenção do seu carro importado. Em vez de ajustar o seu estilo de vida à nova realidade, você foi ao banco e tirou um empréstimo para pagar o IPVA do BMW.
Você já deve ter sacado esta pobre parábola: você é a Prefeitura de Campos, e o seu tio se chamava Royalties.
Foram mais de 20 anos fazendo sambódromos e parques de diversões, transformando praças em pátios de granito, “revitalizando” valas, pagando bons cachês a artistas nacionais para que venham cantar no Jardim São Benedito, e quem sabe quantas outras cositas que nem percebemos. É verdade que também foi feito algum hospital, umas avenidas e umas casinhas. Mas havia grana para tudo! Poupar? Para com isso…
Neste mês de agosto, Campos recebeu (aqui) 24% menos de royalties do que o mês anterior, e 38% menos do que agosto do ano passado. A Bacia de onde se extrai “nosso” petróleo já está madura, e ainda por cima teremos em novembro o julgamento da constitucionalidade da lei que pode repartir os recursos para todos os municípios do Brasil. Não me parece que o tio venha a ressuscitar.
Há 20 anos o orçamento da Prefeitura de Campos era de R$ 95 milhões. Em 2014, o orçamento atingiu R$ 2,8 bilhões. Um aumento nominal de 3.000% (três mil por cento). Naquele 2014 a Prefeitura recebeu mais de R$ 1,3 bilhões de royalties, e finalizou o exercício com superávit de mais de 166 milhões de reais*. Dois anos depois, o governo Rosinha já tinha efetuado três operações de crédito, porque não tinha condições de fechar as contas.
Para 2019, se estima que a receita de royalties apenas vá ultrapassar os 500 milhões de reais, 62% a menos do que se recebeu em 2014. E, ainda por cima, 10% desses 500 milhões vão para a Caixa Econômica Federal, para pagar a “venda do futuro”.
Ainda temos tempo de acordar e perceber que não podemos ter o mesmo nível de despesas que tínhamos quando éramos o queridinho de nosso tio. A (nem tão) nova realidade exige que se reavalie o papel da Prefeitura, não apenas para que haja uma melhor distribuição dos recursos, mas também para que se reflita sobre qual é o seu papel essencial no desenvolvimento da cidade. O bom senso financeiro que não se teve durante 20 anos virá agora, queiramos ou não, por força da realidade impiedosa da aritmética.
*Dados do Relatório Anual Interno da Prefeitura de Campos, de 22/04/2015.