Rafael vai pagar 50% das gratificações e substituições aos médicos e faz propostas

 

Rafael Diniz e José Roberto Crespo (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

O site da Prefeitura de Campos acabou de divulgar (aqui) uma carta aberta do prefeito Rafael Diniz (Cidadania) aos médicos de Campos, em greve desde o último dia 7. De concreto, o anúncio de que 50% das gratificações e substituições serão pagos à categoria nesta terça (20). Como propostas, o governo acena com várias, que demandam discussão com a classe, inclusive o de trocar o plantão de 24h semanais para dois de 12h.

O blog fez contato com o presidente do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), José Roberto Crespo. Ele está se dirigindo neste momento para uma reunião com o secretário municipal de Saúde, Abdu Neme (PR), quando as propostas do governo devem ser formalmente apresentadas. O líder sindical, no entanto, adiantou que qualquer decisão só será definida em assembleia da categoria.

Abaixo, a carta aberta de Rafael aos médicos de Campos:

 

 

Carta aberta aos médicos

 

A nossa saúde está doente e o problema não é de hoje. Historicamente, o Poder Público, em todos os seus níveis, não geriu de forma eficiente o complexo sistema de saúde brasileiro. Em nossa cidade, infelizmente, os gestores que me antecederam não souberam aproveitar os vultuosos recursos dos royalties. Tiveram recursos de sobra para tornar a nossa saúde referência de qualidade, mas o que encontramos foi um sistema completamente desestruturado, inúmeras dívidas com prestadores de serviços, fornecedores, hospitais contratualizados, obras inacabadas, enfim, um verdadeiro caos.

Ao longo dos últimos dois anos e sete meses, lutamos para tentar recuperar a nossa saúde. Entregamos a UPH de travessão e a Policlínica do Servidor, ainda no primeiro ano de governo. Também implementamos a Câmara de Resolução de litígios da Saúde, diminuindo consideravelmente o número de demandas envolvendo a saúde pública. Recentemente, entregamos o tão esperado Hospital São José, um sonho da nossa baixada. 10 Unidades Básicas de Saúde estão sendo reformadas e serão entregues à população e aos profissionais de saúde em breve. Novos equipamentos e suprimentos vêm sendo entregues diariamente em nossas unidades. Através de emendas parlamentares, obtivemos recursos federais e já estamos adotando as medidas administrativas cabíveis para iniciar as reformas do Hospital Geral de Guarus e do Hospital Ferreira Machado.

Mesmo diante da difícil nova realidade financeira do Município, estamos avançando. Mas sabemos que a realidade da nossa saúde ainda é muito delicada. Não há razão para esconder os problemas e reconhecer que há, sim, erros por parte da nossa gestão. Adiar o pagamento das gratificações e substituições, independente da nossa situação financeira, é um deles e precisamos trabalhar para resolvê-lo. Temos ciência de que, apesar dos avanços, as condições de trabalho ainda não são adequadas e que isso prejudica a atuação dos nossos profissionais de saúde. Mas também não são ideais as condições que encontramos para administrar Campos, com muito menos recursos e dívidas do passado para pagar. Governar tem sido um esforço de coragem para fazer escolhas difíceis, porém necessárias.

Mas, assim como reconhecemos nossos erros, é necessário que se reconheça que, ao longo dos anos, inúmeros profissionais passaram a não cumprir integralmente suas obrigações. Infelizmente, o número de profissionais ausentes nos locais de trabalho é significativo, o que, além de prejudicar a qualidade do atendimento à população, causa significativo prejuízo aos cofres públicos.

Fato é que muitos desses problemas, de ambas as partes, acabaram camuflados pela abundância dos royalties do petróleo e agora, diante da nova realidade financeira do município, é necessário que reconheçamos as nossas falhas e tenhamos a responsabilidade de encontrarmos, juntos, um novo caminho, sustentável, para a nossa saúde.

Como forma de demonstrar minha intenção de avançamos na consolidação de um novo pacto pela saúde de Campos, informo que determinei o pagamento, amanhã (20/08), dos 50% referentes às gratificações e substituições do mês de julho. Também mantenho nosso compromisso de autorizar a fruição das férias, desde que não haja a necessidade de substituição, ficando o pagamento do terço constitucional para pagamento a posteriori.

Mas acredito que um pacto pela saúde tenha que avançar não apenas na questão financeira, mas caminhar no sentido da ampla reformulação da gestão administrativa e de pessoal, a fim de garantir melhores condições de trabalho e, consequentemente, do atendimento à população. Por isso, proponho que façamos uma discussão ampla, responsável e permanente, iniciando pelos seguintes pontos:

 

  • Extinção da Fundação Municipal de Saúde, com a centralização das atividades na Secretaria Municipal de Saúde, a fim de dinamizar os processos de contratação de insumos e materiais, bem como a gestão de pessoal da saúde;
  • Fim dos plantões de 24 horas, com exceção das localidades distantes e aos finais de semana, para garantir maior dignidade aos profissionais e evitar evasão dos locais de trabalho;
  • Fim dos plantões fixos aos finais de semana, com criação de escala de revezamento de sábado a domingo, para garantir maior dignidade aos profissionais e evitar o pagamento de substituições e contratação de RPAs;
  • Realização de nova lotação dos profissionais nas unidades de saúde, com base em critérios pré-estabelecidos;
  • Realização de novo enquadramento dos profissionais médicos dentro da carreira, levando em consideração as suas especialidades;
  • Realização de estudo para verificar a possibilidade da implantação de escala de trabalho em sobreaviso para determinadas especialidades (cirurgiões, anestesistas, etc.);
  • Modificação da forma de pagamento das gratificações/substituições, para homem/hora, com controle através do ponto biométrico;
  • Utilização temporária de 1/3 da carga horária dos profissionais atualmente em exercício nos ambulatórios para realização de plantão, a fim de diminuir a necessidade de substituição e contratação de RPAs;
  • Atualização do cronograma de reforma das unidades de saúde, de acordo com a nova realidade financeira do município, com auxílio do Sindicato dos Médicos e do Cremerj;
  • Definição em conjunto com Sindicato dos Médicos e Cremerj de novos horários de funcionamento das unidades de saúde;
  • Fim da complementação dos salários dos profissionais do estado, em razão da ausência de recursos suficientes para pagamento dos servidores do município;
  • Criação de força tarefa para realização de reparos emergenciais e manutenção das unidades de saúde do município;
  • Manutenção do RH atualizado sobre jornada de trabalho fora do poder público municipal;
  • Ampliação do horário de funcionamento dos ambulatórios existentes nas UPHs e hospitais, para atender melhor aos trabalhadores.

 

Importante destacar que estas proposições não são definitivas. Estamos abertos ao diálogo e a sugestões, mas é necessário que avancemos nesse sentido para que possamos implementar um novo sistema de saúde mais eficiente e que garanta condições de trabalho e de atendimento à população, ao passo que se adeque a nova realidade financeira do município.

Também é nosso compromisso regularizar o pagamento aos profissionais pelos serviços prestados, tão logo as medidas do pacto pela saúde surtam os efeitos financeiros pretendidos, reequilibrando as contas públicas.

O nosso atual sistema de saúde tornou-se insustentável. Mas é justamente nos momentos de dificuldade que surgem as oportunidades para avançarmos no sentido da resolução dos problemas. Não será pelo embate, mas através do diálogo responsável que encontraremos um novo caminho para a nossa saúde. Encaminharemos ao Sindicato dos Médicos as nossas propostas, e espero que possamos avançar neste sentido. Acima dos nossos interesses está a população, que depende da nossa integração para que possa ser cuidada com dignidade.

 

Prefeito Rafel Diniz

 

Crônica do domingo — Greve dos médicos de Campos na mesa do boteco

 

 

Greve dos médicos na mesa do boteco

Por Aluysio Abreu Barbosa

 

— E a greve dos médicos? — abriu a sessão Rogério, à mesa do boteco, após o primeiro gole gelado de cerveja.

— Ficou mais dura depois que os médicos recusaram a proposta do governo. Agora é ver quem pisca primeiro! — Aníbal devolveu na tabela, antes de também molhar a palavra com cerveja.

— Por que você acha que eles recusaram?

— Acho que os médicos se tornaram reféns das mesmas redes sociais que usaram para se mobilizarem à greve, publicando fotos mostrando a precariedade das unidades de saúde.

— Como assim?

— No “pacto” assinado pelos líderes da categoria com o governo na terça, a precariedade que se repete no mínimo há 10 anos na Saúde, mas só foi lembrada quando as gratificações e substituições foram suspensas, e o ponto biométrico imposto, nem entrou na mesa de negociação. E o oportunismo foi cobrado nas redes sociais. Foi o que forçou a decisão de quarta para manter a greve. Divididos, os médicos ficaram reféns do que iniciaram.

— E agora?

— O governo já tinha endurecido quando o prefeito disse em entrevista ao Arnaldo Neto, na Folha, que descontaria as faltas dos grevistas. E voltou a jogar duro depois que os médicos recusaram a proposta. Liberou o pagamento de 50% das substituições e gratificações para todos os profissionais da Saúde, à exceção dos médicos.

— Mas os médicos também endureceram. O coordenador regional do Cremerj disse no blog do Edmundo Siqueira, da Folha, que vai levar a questão da precariedade ao Ministério Púbico Estadual e Federal. E garantiu: “Condição de trabalho é inegociável”!

— Pois é. Foi a reação das redes sociais que fizeram as condições de trabalho voltarem à pauta. Agora, como te disse, é ver quem pisca primeiro.

— E o que você acha que acontece?

Conceito de Marx legitima a greve dos médicos de Campos, que votaram em peso em Bolsonaro

— Jogo de espera. É um caso clássico da luta de classes do velho Karl Marx. Não é a única força-motriz da sociedade, como querem os marxistas. Mas existe e é legítima. Só é engraçado ver uma categoria que votou em peso em Bolsonaro a presidente, ter sua melhor tradução de legitimidade em Marx.

— Na ditadura, era famosa a figura do “marxista de axila”. Era o cara que nunca leu Marx, mas colocava “O Capital” embaixo do braço e saía gritando palavras de ordem. Agora temos os antimarxistas de sovaco. Em comum, só a ignorância de quem defende ou ataca o que jamais leu — sentenciou Rogério, em meio a risos.

— Lembra daquela polêmica foto que os formandos da Faculdade de Medicina de Campos, em apoio a Bolsonaro, tiraram e expuseram nas redes sociais em 2016? Foi dois anos antes da eleição a presidente. E evidenciou como o giro de 180º à direita, que se daria no comando do Planalto Central, aconteceu antes entre os médicos da planície goitacá.

— Acho que foi o Getúlio Vargas quem disse que, para onde Campos vai, vai o Brasil.

— Pois é. Como acho que foi José Candido de Carvalho quem disse: “campista pede, mas não quer”.

— O tempo vai dizer. O problema é com a maioria da população, que não pode pagar plano de saúde. E não pode pagar o pato dessa queda de braço.

— Sim, a greve já está afetando o serviço de Saúde Pública. No mesmo dia 13 da assinatura do “pacto”, a emergência adulta do São José, na terra de Zé Candido, chegou a ficar sem atendimento por falta de médico.

— Só que não dá nem para saber se foi por conta da greve. Em 23 de março, antes do novo hospital da Baixada ser inaugurado, o São José também já tinha interrompido o atendimento. E foi por falta de médico. Olha que naquela época ainda não tinha ninguém falando em greve.

— O ponto é o ponto?

— Não sei se é “o”. Mas que é “um”, só ignora quem soma dois e dois para achar 25. Em Macaé, depois que a biometria foi instalada por um médico no poder, 1/3 dos seus colegas de profissão pediram para sair.

— Acha que pode acontecer o mesmo por aqui?

— Cidades diferentes, contextos diferentes. Em Macaé há muita população flutuante, o que não ocorre em Campos. Só acho que essa “briga” tinha que ter sido comprada pelo governo lá atrás, quando tinha mais capital político. Não só com os médicos, mas com toda a folha de servidores inchada no tempo das vacas gordas dos royalties. Que nunca mais vai voltar. Como na Reforma da Previdência, a conta não fecha. E uma hora alguém em Campos vai ter que ter a coragem para encarar isso de frente.

— Sim. Mas melhor esperar o Congresso votar a Reforma Administrativa, para saber como vai ficar a estabilidade do servidor. Rodrigo Maia, presidente de fato do Brasil, já disse que será depois da Reforma Tributária. Agora, em Campos, o governo peita os médicos pelo menos nobre dos motivos: falta de dinheiro. Foi um erro estratégico. A conta pode vir na eleição de 2020.

— A conta só não pode ser paga agora por quem depende da Saúde Pública para definir entre sua vida e sua morte. Nessa história de ver quem pisca primeiro, é lembrar o questionamento de Mahatma Gandhi ao Velho Testamento: “olho por olho e acabará todo mundo cego”! — advertiu Aníbal, enquanto seus pelos eriçavam com um mau pressentimento. Que engoliu com a cerveja.

 

Publicado hoje (18) na Folha da Manhã

 

“Era uma vez em… Hollywood” — As feministas não vão gostar, mas… é filmaço!

 

 

Ao centro, Tarantino uniu pela primeira vez em um filme os dois maiores galãs de Hollywood na atualidade, Brad Pitt e Leonardo Di Caprio

“Era uma vez em… Hollywood” — Logo após assistir a “Cães de Aluguel” (1992), disse com muita convicção a meu pai, também cinéfilo, a quem mostraria o filme, ainda no antigo VHS: “o cinema agora se divide em antes e depois de Quentin Tarantino”. Logo na cena inicial, sua assinatura: a câmera circula sobre os bandidos de terno e gravata negros, à exceção do chefe da quadrilha, sentados na mesa de uma lanchonete. Enquanto o próprio Tarantino faz dublê de ator ao explanar a teoria do diretor e roteirista sobre a música “Like a Virgin”, de Madonna. Pela tese, como pelo fato das mulheres quase não aparecerem no filme — estreia mais impactante de um diretor desde “Cidadão Kane” (1941), de Orson Welles —, Tarantino foi acusado de machista. A pecha é reforçada por seu novo filme, “Era Uma Vez em… Hollywood”. Estreou na última quinta (15) no Brasil, incluindo Campos, na sala 5 do Kinoplex, no Shopping Av. 28.

 

 

O segredo da genialidade de Tarantino reside no fato dele dialogar abertamente com tudo que veio antes no cinema. E, ainda assim, fazer algo absolutamente original. É mais ou menos o que Aristóteles de Estagira fez na Grécia Antiga, ao enciclopedizar a filosofia que veio antes dele para determinar a que veio depois. Guardadas, óbvio, as devidas proporções. Mas nem tanto, levado em conta que Tarantino é nome derivado de Taranto. A cidade no salto da bota italiana foi colônia fundada por Esparta, antes de Roma se tornar Roma, quando o sul da Itália era conhecido como Magna Grécia.

 

 

Com herança genética greco-romana e o fenótipo de um atendente de vídeo-locadora de Los Angeles que realizou o sonho de todo cinéfilo, ao se tornar roteirista e diretor de cinema, Tarantino reagiu à pecha de machista em seu terceiro filme, “Jackie Brown” (1997). O segundo foi o também revolucionário “Pulp Fiction — Tempo de Violência” (1994), com que ganhou a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar, por melhor roteiro original.

 

 

“Jackie Brown” foi protagonizado pela personagem título, interpretada por Pam Grier, estrela esquecida do blaxploitation — cinema negro independente dos EUA nos anos 1970 — que o diretor resgatou do ostracismo. Como fizera com John Travolta em “Pulp Fiction”. Antes dele, profeticamente, Pam tinha sido tema de um dos muitos diálogos marcantes de “Cães de Aluguel”.

 

“Cães de aluguel”, que Tarantino escreveu e dirigiu em 1992, foi o maior filme de estreia de um cineasta desde “Cidadão Kane” (1941), de Orson Welles

 

Além da explosão de Tarantino, os anos 1990 também marcariam a fundação das ações afirmativas na política de cotas dos governos Bill Clinton. Desde lá, sempre foi difícil não tomar benção e agradar ao “politicamente correto”. Exemplo disso, o diretor branco de “Jackie Brown” foi acusado pelo colega negro Spike Lee de “apropriação cultural”. Ao que Tarantino respondeu à época: “Admiro muito Spike e o cinema dele. Mas quer dizer que ele pode (filmar ao estilo blaxploitation), porque é negro, e eu não posso, por que sou branco? Ele que suba em um banquinho e beije minha bunda!”. Nos EUA, a expressão popular “kiss my ass” não tem conotação sexual. É apenas pejorativa.

Endosso de como a classificação de machista incomoda Tarantino, ele reproduziria sua quarta obra em quinta: “Kill Bill — Volume I” (2003) e “Kill Bill — Volume II” (2004). Ambas foram estreladas por uma das personagens femininas mais fortes da história do cinema: Beatrix Kiddo, também conhecida como “Mamba Negra” ou “A Noiva”. Era interpretada por Uma Thurman, que já havia protagonizado com Travolta a icônica cena do concurso de dança, em “Pulp Fiction”. Por quem o diretor teve a deferência de esperar a gravidez para começar a filmar “Kill Bill”.

Foi com Uma vestida com o mesmo traje esportivo amarelo com listra negra usado por Bruce Lee em “Jogo da Morte” (1978), seu último filme, que as mulheres extrapolaram no cinema os limites de “Medeia”. Peça do grego Eurípedes e base da dramaturgia do Ocidente, nela a esposa mata os filhos para se vingar do marido. A noiva, em busca da filha, foi além.

No universo de Tarantino, nem seus cânones são onipotentes. Nele, um Bruce Lee arrogante (Mike Moh) surge levando a pior numa luta com o dublê Cliff Both (Brad Pitt), em cena polêmica. A maneira como o ator chinês, nascido nos EUA, foi retratado em “Era uma vez em… Hollywood”, sofreu críticas da sua filha, Shannon Lee. Como do ex-astro negro do basquete Kareem Abdul-Jabar, que contracenou com o asiático Bruce em “Jogo da Morte”.

 

Bruce Lee e Kareen Abdul Jabar em “Jogo da Morte”, de 1978

 

O filme mais atual se passa em 1969, ano de profundas transformações na sociedade e na cultura dos EUA e do mundo. Mas que também seria marcado por um crime bárbaro: o assassinato a facadas da jovem e belíssima atriz Sharon Tate, grávida de oito meses, mais quatro amigos, na casa da rua Cielo Drive. Fora alugada por seu marido, o diretor polonês Roman Polanski, que estava ausente. Nas paredes da casa, com o sangue de Tate, os assassinos escreveram “death to pigs” (“morte aos porcos”).

 

Assassinos usaram sangue das vítimas para pichar a parede da casa de Cielo Drive, em 1969: “death to pigs” (“morte aos porcos”)

 

Os autores dos homicídios foram jovens hippies de uma seita liderada pelo ex-presidiário e aspirante a músico Charles Manson, nome que se tornou quase sinônimo de psicopata nos EUA. O motivo foi um acaso infeliz para a atriz. Na verdade Manson mandou seus seguidores ao endereço porque queria se vingar do produtor Terry Melcher, que não levara a sério a pretensão musical do candidato a messias e alugara a casa aos Polanski.

 

Veterano Al Pacino tem participação curta, mas marcante, em “Era uma vez em… Hollywood”

 

Os fatos reais são pano de fundo à ficção de Tarantino. Nela, Leonardo Di Caprio vive Rick Dalton, astro de seriado de western para TV em decadência, vizinho na Cielo Drive do casal Tate (Margot Robbie) e Polanski (Rafal Zawierucha). E, na pele de Marvin Schwarz, tem como agente Al Pacino. Como dublê, motorista e faz-tudo nas horas vagas, o Both de Pitt. Dalton e ele vivem o que hoje se chama bromance, relação de intimidade entre homens, geralmente não sexual.

 

Sharon Tate e sua intérprete, Margot Robbie

 

Ao lado de Dalton e Both, Tate é um dos três condutores da história. Mas, diferente dos dois primeiros, ela merece poucas falas do roteirista e diretor, reavivando as acusações de machismo. Que realmente se confirmam em outras cenas do filme. Como no destino da ex-esposa de Both, ou no papel que Dalton representa após ser reduzido a vilão de outra série de western para TV. Enquanto ele grava, Both mantém contato com a “família” Manson, indo até o rancho nos arredores de Hollywood em que seus integrantes residiam.

Em grande parte das suas 2h45, é de longe o filme mais ameno de Tarantino, que só surge como mestre da violência estilizada na sequência final. Nela, como já tinha feito em “Bastardos Inglórios” (2009), ao matar Hitler com uma rajada de metralhadora na cara, dentro de um cinema, o roteirista e diretor não demonstra constrangimento ao reescrever a história.

 

Tarantino reescreve a história ao matar Hitler a rajadas de metralhadora, dentro de um cinema, em “Bastardos Inglórios”, de 2009

 

Woody Allen, judeu crucificado pelo politicamente correto de Hollywood

O resultado não vai agradar às feministas. O que pode ser pecado capital, levado em conta que Hollywood talvez seja hoje o maior reduto mundial do politicamente correto. A ponto de crucificar um diretor como Woody Allen pela acusação de pedofilia em que foi inocentado por dois inquéritos policiais dos EUA. E essa bandeira política de Hollywood é solenemente ignorada em uma homenagem pungente a Hollywood.

O Both de Brad Pitt é realmente a encarnação do macho heterossexual e opressor, que tem tanto pudor de se impor pela força física, quanto seu criador em reescrever fatos históricos pela ficção. Até a história do próprio cinema, ao colocar o Dalton de Di Caprio no clássico “Fugindo do Inferno” (1963), de John Sturges. E no lugar de Steve McQueen, que também está em “Era uma vez em… Hollywood”. Na pele de Damien Lewis, ele lamenta por uma mulher.

No título, o novo filme de Tarantino é também homenagem a uma de suas maiores influências. O mestre italiano Sergio Leone dirigiu “Era uma vez no Oeste” (1968) e “Era uma vez na América” (1984). E foi avatar do “spaghetti western”, que refundou na Europa o gênero cinematográfico mais típico dos EUA. Mas nem Leone, que catapultou a carreira de outro ator de western para TV nos anos 1960, um tal Clint Eastwood, escapa da sátira como destino de Dalton.

 

“Era Uma Vez no Oeste” (1968), do mestre Sergio Leone, é o maior clássico do spaghetti western

 

Em Tarantino não há espaço para “vacas sagradas”. Nem “touros”. Sejam do politicamente correto, do feminismo, do machismo, da história, ou até do cinema por quem esse grande criador devota amor a cada nova obra. Suscetibilidades à parte, “Era uma vez em… Hollywood” é um filmaço.

 

 

Confira abaixo o trailer do filme:

 

 

Publicado hoje (18) na Folha da Manhã

 

Hamilton Garcia — Costeando o alambrado, Bolsonaro ruma à “normalidade”?

 

 

Hamilton Garcia, cientista político e professor da Uenf

Costeando o alambrado: rumo à “normalidade”

Por Hamilton Garcia

 

O clã político de Bolsonaro, como se sabe, tem origem no que se convencionou chamar de “baixo-clero” de alcance regional, não obstante as pautas corporativas nacionais (segurança e defesa) e o anticomunismo radical, que acabou por lhe facilitar o caminho ao poder em meio aos desatinos petistas.

Os vícios que acumularam os Bolsonaro são quase nada diante do modus operandi do “alto clero” no “presidencialismo de coalizão” — conceito genérico onde se enquadra nosso presidencialismo de cooptação —, que impera desde a redemocratização. Na ausência de um sistema efetivo de partidos, nossa experiência democrática estagnou na semirrepresentação e degenerou no patrimonialismo ampliado (democratizado), cujo ápice foi o “modo petista de governar”. A reação, gostemos ou não, veio com o Capitão.

Bolsonaro, todavia, aferrado no terreno ético do familismo, tende a desidratar a imagem contestatória e destemida que o levou ao atual mandato. A alta política brasileira, eivada dos vícios de origem de nossa aristocracia agrária — o principal deles a indistinção entre público e privado —, tem, por meio do filhotismo, uma oportunidade de ouro para se conectar ao Presidente, cujo clã, em seus mandatos parlamentares, ao que parece, chafurdou nas ilegalidades de praxe dos legislativos locais e regionais. Ao usar seu Governo para blindar o clã, o Presidente excede a tradição, que teve em Sarney um patrono, circunscrevendo seu familismo explícito ao plano estadual.  

Há que se considerar também que o atavismo oligárquico de Bolsonaro surge em meio a indícios de que o “Pacto pelo Brasil”, proposto pelo Governo em maio, pode ter sido apenas o biombo do Pacto pelo Poder — tão ansiado por alguns —, que levaria ao fim do palanquismo e a “volta da normalidade política”, unindo a banda patrimonialista do STF à do Parlamento em prol de “estancar a sangria” aberta pelo “tenentismo de toga” — que, justiça seja feita, nos livrou, com a punição ao Mensalão e ao Petrolão, de uma dominação criminosa à moda venezuelana.

No caso de Flávio, Bolsonaro compactua com um freio nas operações na qual surfou para chegar ao poder, em troca de um improvável abafamento dos malfeitos do filho na Alerj. O golpe aplicado na Lava Jato, e habilmente debitado na conta do Capitão, é justificado pelos donos do poder como fundamental para manter a “harmonia entre os poderes”, o “Etado democrático de direito” e as “garantias individuais”, mas, na verdade, visa apenas manter os privilégios estamentais da Corte republicana, vale dizer, do sistema de poder patrimonialista e sua comunidade de domínio[i], que nunca digeriu plenamente o liberalismo anglo-saxão, com seu Estado democrático e seu direito igualitário, preferindo sempre, ao longo de nossa história, o Estado oligárquico e o direito estamental.

A prática das trocas de informações entre órgãos de controle do Estado democrático, para o fim de sufocamento do crime de colarinho branco, sempre os repugnou e agora, tanto a alta magistratura, ainda não investigada em suas redes parentais de escritórios de advocacia — onde se suspeita, segundo a revista Crusoé, que circulem milhões de reais vinculados à processos julgados por pais, tios e maridos —, como o sistema financeiro, conivente com depósitos ilegais em seus cofres — cuja Justiça já levou à prisão um punhado de gerentes de grandes bancos, segundo a mesma revista —, como era de se esperar, ao entrarem na mira do MPF, desencadeiam a “resistência democrática” de fancaria que se vê.

Mas, ao contrário do que afirmou Toffoli, os cidadãos que, afinal, arcam com os custos de tal sistema e não se distraem com ideologias de boteco, anseiam pelo Estado democrático de direito verdadeiro, que Bolsonaro encampou com êxito depois das frustrações das expectativas de mudança com o PT, cuja degeneração — antecedida pela do MDB e do PSDB —, acoplada ao patrimonialismo, tornou o sistema insustentável por sua inclusão, num “ganho de escala” da ineficiência e da despoupança do Estado que esterilizaram as políticas de bem-estar social.

Já no caso de Eduardo, o esforço de aprovação no Senado de sua nomeação à embaixada nos EUA, terá, para além do oxigênio à velha política, o agravante de tensionar as FFAA na medida em que pode atrelar a política externa do país às diretivas norte-americanas, tendente ao envolvimento militar na Venezuela entre outros conflitos capitaneados pelos EUA na busca da manutenção de sua supremacia internacional, posta em cheque pela reaproximação geopolítica entre China e Rússia.

As FFAA brasileiras, como se sabe, concebem seu projeto de potência com base na dissuasão e na superação do subdesenvolvimento econômico-social, não no parti pris ideológico e na economia de guerra. É com base nisto que os militares mantêm seu apoio ao Governo, não obstante a declaração de guerra dos olavistas aos generais da reserva no governo (Mourão, Cruz e Heleno), prontamente rechaçada pela maior liderança da caserna (Villas-Bôas) e pela cúpula militar, que vetou a promoção do porta-voz do governo (Barros) ao Alto Comando do Exército.

Focados em sua missão, de viabilizar o sucesso dos projetos de desenvolvimento nas áreas sob seu comando — o que, naturalmente, é convergente com a perspectiva estratégica da corporação, com a valorização de seus quadros especializados e seu projeto de nação —, os militares buscam o centro político, desde a redemocratização, e não parecem abrir mão disso, como o indica a movimentação recente do vice Mourão — rechaçada pelo clã como “golpista” —, vista pela caserna como garantia última de continuidade de seu projeto.

Voltando ao Presidente, é sabido que sua popularidade, em nosso sistema político, afeta diretamente a governabilidade, fazendo pender a balança do equilíbrio entre os poderes. No caso de Bolsonaro, o fato é mais acentuado em função do problema estrutural de seu mandato, baseado no ataque à velha política, que tem o condão de reunir toda a velhacaria contra si, ao mesmo tempo que ativa as naturais forças opositoras.

Embora se possa ter dúvidas acerca do significado da nova política pregada pelo Governo — não da velha, sobejamente conhecida —, o fato é que, com todas as suas contradições, dificuldades e incongruências, o presidente, até aqui, foi capaz de cumprir a agenda, mantendo o Congresso e o STF sob pressão de modo a não só aprovar uma reforma da previdência de proporções significativas, como de promover a Operação Lava Jato à política de Estado; estratégia posta em risco diante do inusitado pacto espúrio.

No caso de refluxo do poder mobilizatório-popular do Presidente, a mudança conjuntural ensaiada pela Câmara, no sentido do enfrentamento das grandes pautas nacionais — praticamente ignoradas pelo Legislativo nas últimas duas décadas —, pode refluir ou arrefecer, agravando a percepção social do déficit de representatividade do sistema e de seu sequestro pelas oligarquias de sempre.

O jogo de Maia, flertando à direita e à esquerda, na tentativa de construir um “novo centro político” capaz de ocupar o espaço deixado vago por PT, PSDB e o próprio Bolsonaro, depende, em grande medida, da disposição do Centrão de agir programaticamente — milagre até aqui possível graças, paradoxalmente, à mobilização bolsonarista. A “normalização” política de seu governo pode pôr tudo a perder, a não ser que risco maior suceda, como no período Itamar, depois do impeachment de Collor, quando se temia o caos e a volta do protagonismo militar na política.

Talvez Bolsonaro, o mais improvável de todos os presidentes desde Collor, não perceba, em meio às brumas do poder, mas o mesmo movimento que o catapultou ao poder pode agora dilapidá-lo ou defenestrá-lo, a depender do impacto de seu pacto sobre a opinião pública, sobejamente intolerante com estelionatos eleitorais.

Com Bolsonaro costeando o alambrado em proveito de seus interesses privados, e sem condições simbólicas e materiais de compensar o desalinho programático por via espúria (assistencialista) ou corporativa (desonerativa) — pois a crise impõe a solução radical pelo bem público —, as chances de fracasso político aumentam, a não ser que o crescimento econômico o acuda em meio ao descrédito público.

 

[i] Expressão usada por Raimundo Faoro para diferenciar a camada parasitária dominante no Brasil, da elite dirigente dos países liberais; vide Os Donos do Poder formação do patronato político brasileiro (vol. I), ed. Publifolha, SP/2000, pp. 103-104.

 

Wladimir consegue R$ 6 milhões/ano a leitos de bebês e mães no HPC. E ajuda Prefeitura

 

(Foto: Divulgação)

 

Em 12 de junho, a Folha noticiou (aqui) uma reunião do deputado federal Wladimir Garotinho (PSD) com o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM/MS), em que o primeiro informou que havia conseguido a reclassificação de leitos de UTI neonatal e maternidade, como o credenciamento de novos leitos de UTI, no Hospital dos Plantadores de Cana (HPC). Pois esta semana o parlamentar de Campos confirmou a informação, que será publicada ainda esta semana em Diário Oficial (DO), liberando diretamente do governo federal até 6 milhões/ano, ou R$ 500 mil/mês, para o hospital de Campos, referência da cidade e da região em obstetrícia.

 

Wladimir na reunião de 12 de junho com o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (Foto: Divulgação)

 

— São mais 6 milhões em benefício da população para leitos de UTI neonatal e UTI materno adulto para gestantes. É uma demanda antiga do Hospital dos Plantadores de Cana que conseguimos destravar através do nosso bom relacionamento em Brasília. Em apenas sete meses de mandato já realizamos ações diretas (aqui) para os quatro grandes hospitais filantrópicos da cidade. A próxima missão é credenciar a Santa Casa de Misericórdia para mais leitos de cirurgias vasculares e o Álvaro Alvim para cirurgia bariátrica — projetou Wladimir

Frederico Paes, diretor do HPC

Ao todo, o HPC tem 50 leitos que foram atendidos pela ação do deputado federal junto ao governo Jair Bolsonaro (PSL). Os 10 novos leitos de UTI Neonatal para os bebês e outros 10 novos leitos da Unidade Convencional Intermediária Canguru (Uninca), para atender às mães, foram credenciados pelo ministério da Saúde. E os 30 leitos mais antigos do hospital, entre UTI Neonatal e Unidade Covencional Intermediária (Uninco), foram reclassificados para facilitar o aporte de verbas federais.

— Foi uma inciativa muito importante do deputado Wladimir. Que acabou beneficiando não só o hospital, mas a Prefeitura de Campos. Desde que foram inaugurados há dois anos, esses 20 novos leitos vinham sendo custeados com repasse de verbas do governo Rafael (Diniz, Cidadania). E agora passarão a ser pelo ministério da Saúde. Parece até que foi combinado entre os dois. Não foi, mas bem que poderia ter sido. Essa parceria pela comunidade, acima das diferenças políticas, é uma coisa tão boa que tinha que ser rotineira. É o que está sendo feito nesse caso. Mas que bom para a cidade se fosse em tudo — observou Frederico Paes, diretor do HPC.

Em sua página na internet, o deputado federal Aureo Ribeiro (SD, de Duque de Caxias) divulgou aqui, com direito a vídeo com o ministro Luiz Henrique Mandetta, que o projeto dos leitos do hospital de Campos seria dele. O blog entrou em contato com Aureo, que esclareceu que a iniciativa foi mesmo do deputado de Campos:

— O “pai da criança” foi mesmo Wladimir. E nós consideramos que a questão é tão importante que reforçamos o pleito em audiência com o ministro. Faz parte do jogo legslativo um deputado reforçar os pleitos do outro — explicou o parlamentar da Baixada Fluminense.

 

Atualizado às 21h24, para acréscimo de informações

 

Rafael oferece a médicos pagar 50% das gratificações e substituições, e abonar faltas

 

Rafael Diniz e José Roberto Crespo (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

O pagamento de 50% das susbstituições, 50% das gratificações, abono das faltas no setor ambulatorial durante a greve e férias liberadas, desde que não signifique custo adicional ao poder público municipal. É o que foi acordado agora, após mais de três horas de reunião na Prefeitura, para que os profissioais da Saúde Pública de Campos encerrem a greve deflagrada no último dia 7. A decisão da categoria se dará em assembleia na noite desta quarta (14), provavelmente no Hospital Geral de Guarus.

Em queda de arrecadação nas receitas de petróleo (leia aqui o levantamento do blogueiro Cristiano Abreu Barbosa), principal fonte de receita do município, a oferta só foi possível após o anúncio hoje (aqui) de que os cerca de R$ 35 milhões de Participação Especial (PE) serão pagos também nesta quarta. A partir disso, o prefeito ofereceu duas opções aos profissionais da Saúde para encerrar a paralisação: ou pagar agora 100% das susbtituições, sem as gratificações, ou pagar 50% das gratificações e 50% das substituições. E os represetantes dos profissionais da Saúde escolheram a segunda opção.

Abaixo, a ata da reunião na Prefeitura, sobre o que foi definido, apos mais de três horas de reunião, entre o prefeito Rafael Diniz, seu secretário de Saúde, Abdu Neme (PR); o presidente do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), José Roberto Crespo; do coordenador do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj), Rogério de Souza Bicalho Filho; dos médicos Cyntia Azeredo Cordeiro e Luis Alberto Mussa Tavares; e da advofada do Simec, Anara Guedes Coenzey:

 

(Reprodução)

 

Após a reunião na Prefeitura, o líder sindical José Roberto Crespo falou ao blog:

— A gente acabou de sair da reunião na Prefeitura. E a gente fez um acordo lá de não descontar os dias parados, com a reposição dos dias parados, de férias liberadas, 50% para gratificação e 50% para substituição. E o ambulatório, a gente vai continuar discutindo com o secretário (de Saúde, Abdu Neme) as questões do quantitativo e da produtividade.

Por sua vez, a superintedência de Comunicação (Supcom) enviou a posição oficial da Prefeitura, na qual fala em “pacto pela Saúde”:

“O prefeito Rafael Diniz e representantes do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec) e do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) assinaram um pacto pela saúde do município nesta terça-feira (13). A ata será colocada em votação em uma assembleia dos profissionais. Na reunião, que teve a sua primeira parte na segunda-feria (12), o prefeito expôs o atual momento da cidade, que sofre com a drástica redução das receitas oriundas dos royalties do petróleo e das participações especiais.

— É sempre importante afirmar e reafirmar que acima da Prefeitura, do prefeito e dos médicos está a população. Continuamos a reunião hoje e decidimos por esses termos que estão sendo apresentadas nessa ata, que foi assinada por todos e vai ser apresentada pelo sindicato aos profissionais — disse o prefeito Rafael Diniz.

A ata da reunião foi assinada por todos os presentes e aceita pela presidência do Sindicato. O documento, que ainda será levado a votação em assembleia, prevê o pagamento de 50% das substituições e gratificações contingenciadas dos profissionais da saúde no mês de julho na próxima sexta-feira (16). Também há uma proposta para abonar as horas não trabalhadas durante o estado de greve dos profissionais que atendem em ambulatórios, com a reposição das mesmas.

Outro ponto abordado na proposta é sobre a autorização do gozo das férias por parte dos profissionais, sem o pagamento imediato do 1/3 de férias. Com isso, não haverá impacto em custos adicionais ao município, conforme previsto no decreto 183/2019, publicado no Diário Oficial do dia 12 de julho.

— Todo mundo tem que entender que a realidade financeira do município é completamente outra e nós temos que nos adaptar urgentemente. Por isso, a importância desse grande pacto pela saúde de Campos. Todos os atores devem estar envolvidos na transformação — completa Diniz”.

Além do release da Supcom, o prefeito Rafael, como José Roberto, também falou diretamente ao blog:

— Não estou aqui em uma briga com os médicos, categoria pela qual tenho o mais profundo respeito. Mas eles, como toda a população campista, têm que entender que a realidade financeira do município mudou, pela queda na arrecadaçao dos royalties. Não fizemos o contigenciamento de gastos do município (aqui, publicado no Diário Oficial de 12 de julho) por vontade. Fizemos por necessidade, para continuar pagando todos nossos 13 mil servidores em dia. Não é o que eu fiz como prefeito, mas o que qualquer prefeito teria que fazer no meu lugar, depois que a “venda do futuro” (aqui) de quem ocupou a Prefeitura antes de mim, comprometeu as receitas do petróleo de Campos até 2026. Essa dívida não foi feita por mim. E continuará sendo paga mesmo depois de mim, por todos os campistas.

 

Após desconto de faltas, médicos pedem abono, negociações avançam e política se acirra

 

Charge do José Renato publicada hoje (13) na Folha

 

Médicos: greve x faltas

A greve dos médicos da Saúde Pública de Campos continua. Pelo menos até hoje, quando nova reunião ocorrerá entre o prefeito Rafael Diniz (Cidadania), seu secretário de Saúde, Abdu Neme (PR), e o presidente do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), José Roberto Crespo. Na que eles tiveram até às 21h de ontem (12), as negociações avançaram (aqui). Mas dados técnicos ficaram de ser levantados para hoje. Entre eles o do pleito de abono das faltas de quem aderiu à greve deflagrada (aqui) no dia 7. O endurecimento do prefeito, que anunciou o desconto das faltas em entrevista à Folha (aqui) no domingo (11), parece ter surtido efeito no dia seguinte.

 

Lutas de classe e política

Após a reunião de ontem na Prefeitura, José Roberto foi à Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia (SFMC). Levou o que foi discutido ontem e o que será hoje. E a decisão da categoria foi manter a greve. Presente em qualquer disputa de patrão e empregado, a luta de classes faz seu jogo de espera. Mas a luta política se acirra. Líder governista, o vereador Genásio (PSC) anunciou ontem (aqui) que Abdu vai à Câmara debater Saúde com a oposição, em audiência pública ainda sem data marcada. E o edil garotista Álvaro Oliveira (SD) entrou (aqui) com denúncia no Ministério Público Federal (MPF), contra o que classificou de “descaso” com a Saúde.

 

O bolso e o paciente

A coluna advertiu (aqui) no sábado (10): “Como todo médico sabe, a diferença entre o remédio e o veneno é a dosagem”. Com justiça contrariados pela suspensão das gratificações e bloqueio das substituições, mas sem nenhuma razão contrariados com a biometria, os médicos talvez tenham se excedido ao postar nas redes sociais flagrantes de precariedade das unidades de Saúde. Não porque não existam, mas porque “não vêm de hoje”, como José Roberto admitiu (aqui) em entrevista ao Folha no Ar, da Folha Fm 98,3. Ou porque só foram lembradas quando o sintoma se deu sobre o bolso, não quem deveria interessar: o paciente que não pode pagar saúde privada.

 

O bolso, o voto e a corda

Acuado, o governo partiu para dentro com o corte das faltas dos grevistas. Estrategista de campanha do ex-presidente dos EUA Bill Clinton, Jim Carville imortalizou a sentença entre bolso e voto: “É a economia, estúpido!”. Pode ter valido agora para os médicos. A certeza talvez se tenha ainda hoje, ou nos próximos dias. Mas também pode ter consequências mais adiante, no pleito de 2020. Influentes em todos os setores sociais, os médicos geralmente compõem a chamada “pedra”, eleitorado original de Rafael. Na lei universal da ação e reação, a hora talvez seja de baixar a corda. Antes que ela arrebente (mais) sobre a população.

 

No PSC

Está marcada (aqui) para hoje, às 15h, a filiação do presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Rio de Janeiro (FCDL), Marcelo Mérida, no PSC do governador Wilson Witzel, com a presença do presidente nacional da legenda, Pastor Everaldo. Candidato a deputado federal pelo PSD em 2018, Mérida não se elegeu e busca protagonismo em uma agremiação fortalecida com a eleição de Witzel. O lojista ensaia uma candidatura própria a prefeito, mas vai para o partido do deputado Bruno Dauaire, que já declarou apoio a outro pré-candidato, o amigo Wladimir Garotinho (PSD).

 

Destaque

O Festival de Petiscos de Farol de São Thomé, em Campos, pode se tornar patrimônio cultural imaterial do Estado. Pelo menos, esse foi o projeto de lei que o deputado estadual Gil Vianna (PSL) apresentou na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O evento é organizado pela Associação de Comerciantes, Hotéis e Similares do Farol e acontece anualmente desde 2013, atraindo milhares de turistas para o litoral campista, aquecendo a economia local. O parlamentar tem boa expectativa para que o texto seja aprovado.

 

Comemoração

O XIV Aniversário do Jeep Clube de São João da Barra promete atrair um grande público no próximo fim de semana – 17 e 18 de agosto –, das 8h às 17h, na estrada da Restinga, nos fundos do Balneário de Atafona. Na programação passeio off-road, exposição de jipe, atrações musicais, campanhas ambientais e provas de obstáculo e arrancadão. A programação será aberta com o Desafio Espartano, com os competidores correndo a pé na pista de obstáculo dos jipes. O evento atrai jipeiros não só da região, mas também de outros estados.

 

Com Aldir Sales e Mário Sérgio

 

Publicado hoje (13) na Folha da Manhã

 

Médicos e Prefeitura: negociações avançam e reiniciam na terça, mas greve continua

 

Acabou há poucos minutos a reunião entre os representantes dos profisionais da Saude Pública e o governo Rafael Diniz (Cidadania), com presença do prefeito e seu secretário de Saúde, Abdu Neme (PR). As negociações avançaram e seguem nesta terça, após levantamento de informações relativas à possibilidade de abono das faltas dos grevistas e outros pontos, como férias. Mas nada ficou definido. Deflagrada no último dia 7, a greve dos médicos continua. Após a reunião na Prefeitura, foi o que a categoria deliberou agora no auditório da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia (SFMC).

 

Rafael Diniz e José Roberto Crespo (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Abaixo, as notas geradas pelo superintendência de Comunicação (Supcom) e a assessoria do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec):

“O prefeito Rafael Diniz, acompanhado pelo secretário de Saúde, Abdu Neme; recebeu nesta segunda-feira (12) uma comissão de médicos e o presidente do sindicato da categoria, José Roberto Crespo. O encontro segue na terça-feira (13), quando serão apresentados dados técnicos e informações adicionais para melhores esclarecimentos. A reunião foi ‘produtiva, responsável e respeitosa, como é a minha relação com a categoria’, disse o prefeito”.

 

Após se reunir na Prefeitura, José Roberto (de costas) deliberou com os colegas médicos que a greve contnua. Pelo menos, até esta terça (Foto: Marcus Pinheiro)

 

“A reunião foi boa, mas nada de efetivo foi definido. Eles possuem os seus argumentos, e nós (médicos) os nossos. De concreto temos apenas o compromisso do prefeito Rafael em nos reunirmos novamente amanhã”, disse o presidente do Simec, José Roberto Crespo.

Ao blog, o prefeito Rafael acrescentou, além da nota oficial:

— Como tenho dito, acima da Prefeitura, do prefeito e dos médicos está a população. Campos vive uma nova realidade financeira para os próximos anos, como aponta a própria ANP na questão dos royalties e Particpações Especiais (PEs) do petróleo. Precisamos nos adaptar a isso. Decidimos continuar com a reunião nesta terça, inclusive para termos alguns detalhes e informações técnicas necessárias para avançarmos.

 

Leia mais sobre a Saúde Pública de Campos aqui.