“Ninguém está livre não, rapaz”. Foi o que o deputado estadual e pré-candidato a prefeito de Campos, Gil Vianna (PSL) disse no dia 12, em um de seus últimos áudios (ouça no vídeo acima), antes de falecer na noite de hoje (19) de Covid-19, na UTI do Hospital da Unimed em Campos. Sem velório, por conta da doença, seu enterro será às 10h da manhã desta quarta (20) no Campo da Paz. Ele era policial militar rodoviário reformado, foi vereador de Campos duas vezes e assumiu uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) como suplente, antes de se eleger ao cargo em 2018, ocupando a liderança da bancada do PSL, ex-partido da família Bolsonaro. Tinha 54 anos, deixa viúva e três filhos. Com o mais velho, de 24 anos, chegou a falar hoje, antes de ser intubado à noite. É a 21ª morte oficial da pandemia no município, que até esta terça (19) tinha mais 10 mortes investigadas, com 382 casos confirmados e 1.065 suspeitos.
Gil começou a sentir os primeiros sintomas da Covid no Rio de Janeiro, por volta do dia 5. Lá fez o exame PCR, que confirmou a doença e veio para Campos, se internando na Unimed na noite do dia 11, inicialmente em um leito clínico. Com a piora do quadro, foi transferido à UTI do hospital na madrugada do dia 14, na qual faleceu na noite de hoje. Aliado da família Garotinho em seus dois mandatos como vereador, Gil rompeu com o governo Rosinha ao votar contra a “venda do futuro” de Campos. Nas eleições municipais de 2016, após quase compor chapa com Rafael Diniz (cidadania), foi candidato a vice-prefeito de Caio Vianna (PDT).
Reveja abaixo os três blocos a última entrevista de Gil Vianna ao Grupo Folha. Foi no programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, que foi ao ar ao vivo no início da manhã de 27 de janeiro deste ano:
“A Prefeitura discorda de ser incluída no polo passivo no caso do Hospital de Campanha, que é de única e exclusiva responsabilidade do Governo do Estado. O Hospital de Campanha, embora prometido desde início de abril, ainda não foi entregue. A Prefeitura respeita decisão judicial, entende a gravidade da situação, mas não concorda e irá recorrer. A interpretação dada pelos autores, e que foi adotada na decisão, não condiz com o que está previsto no plano de contingência. A gestão segue trabalhando nas ações destinadas ao atendimento de pacientes de Covid e da Saúde como um todo”. Foi assim que o governo municipal Rafael Diniz (Cidadania) reagiu no fim de tarde de hoje (19) à decisão liminar da Justiça de Campos da noite de ontem (confira aqui), sobre ação movida em conjunto pela Defensoria Pública e Ministério Público de Campos. Ela teve tutela de urgência acatada pelo juiz Paulo Maurício Simão Filho, para criação de mais vagas de leitos clínicos e de UTI no município, polo regional de saúde do Norte Fluminense.
— A Prefeitura de Campos foi pioneira, ao criar, no tempo recorde de cinco dias, o Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCC) de Campos. A unidade, que funcionada desde o último dia 30/03 (confira aqui), oferece 19 leitos de UTI, 5 (cinco) de unidade de pacientes graves e 40 leitos de clínica médica. Existe planejamento para ampliação de mais 10 leitos de UTI específicos para Covid-19 nos próximos dias, e mais 20 de clínica médica — disse também a nota oficial da Prefeitura de Campos. Hoje de manhã, o Ibasa, responsável pela instalação do Hospital de Campanha, e também réu da ação, além dos governos municipal e estadual, divulgou nota, prometendo (confira aqui) a inauguração da unidade para 25 de maio.
Defensor público que moveu a ação, junto com a promotora de Justiça Maristela Naurath, Tiago Abud comentou a resposta da Prefeitura de Campos:
— Não há pedido contra o município sobre o Hospital de Campanha, que é de responsabilidade do Estado. O município foi incluído porque não cumpriu o que ele próprio planejou, que é a ampliação da oferta de leitos, cujo número também foi por ele informado. A petição inicial é clara e a decisão judicial também. Aguardamos com serenidade a interposição de eventual recurso.
Os governos do município de Campos e do Estado do Rio de Janeiro, além do Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas), responsável pela implantação do Hospital Estadual de Campanha em Campos, serão obrigados a ampliar, no prazo de 10 dias, o fornecimento de leitos clínicos e de UTI aos doentes de Covid-19 na cidade. A decisão liminar com tutela de urgência foi deferida na noite de hoje (18) pelo juiz Paulo Maurício Simão Filho, da Justiça de Campos, em atendimento à ação civil pública movida também hoje pelo defensor público Tiago Abud e a promotora de Justiça Maristela Naurath.
Pela decisão, o município de Campos, nas pessoas do prefeito Rafael Diniz (Cidadania) e sua secretária de Saúde, Cintia Ferrini, estarão sujeitos a multa diária de R$ 10 mil, além da responsabilização pessoal, se no prazo de 10 dias não providenciarem:
1) Ampliação da oferta do número na rede pública ou contratualizada, para leitos 457 leitos clínicos e 129 leitos de UTI exclusivos para Covid-19;
2) Apresentação de cronograma para a disponibilização de Hospital de Campanha, como previsto em seu plano de contingência, e;
3) Indicação de quais leitos livres ociosos e desativados de hospitais de sua rede própria e conveniada e da rede privada local podem ser requisitados para abrigar os pacientes de Covid-19, indicando ainda o cronograma de como será feita tal requisição/utilização, conforme indicado no seu plano de contingência.
Já o governador Wilson Witzel (PSC) e seu novo secretário de Saúde, Fernando Ferry, também sob pena de multa diária de R$ 10 mil e responsabilização pessoal, terão que providenciar no prazo de 10 dias
1) Seja por si, através da Iabas ou de outra contratada, a implantação e entrada em efetiva operação de todos os leitos de enfermaria e de UTI programados no Hospital de Campanha de Campos, como previsto no plano de contingência estadual, estruturando-os com todos os recursos materiais e humanos necessários;
2) Ampliação da oferta de leitos clínicos e de UTI, exclusivos para Covid-19, no município de Campos, para atender à região Norte Fluminense, como previsto no plano estadual, seja ampliando/acrescentando o quantitativo de leitos no hospital de campanha, ou contratualizando as instituições indicadas no seu plano de contingência, no total de 90 leitos de enfermaria e 68 leitos de UTI;
3) Execução a fiscalização do contrato com a contratada, de modo a garantir a existência dos equipamentos, insumos, medicamentos, materiais médico-hospitalares e recursos humanos, com o efetivo pagamento destes, para o pleno funcionamento do hospital de campanha, sem que haja ruptura na prestação dos serviços.
Já o Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas/RJ), contratado para a implantação do Hospital Estadual de Campanha, também sob pena de multa diária de R$ 10 mil e responsabilização pessoal dos seus gestores, tem que entregar a obra no prazo de 10 dias “em pleno funcionamento, mantendo-se os equipamentos, insumos, medicamentos, materiais médico-hospitalares, estrutura e recursos humanos necessários para o funcionamento do nosocômio em sua capacidade plena, até o reconhecimento do fim da pandemia ou extinção do contrato com o Estado do Rio de Janeiro, subordinando-se ao primeiro evento que ocorrer.
Réus da ação da Defensoria Pública e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), os governos Rafael, Witzel e a Iabas têm prazo de 15 dias para ofertar suas contestações, sob pena de serem julgado à revelia. Os Conselhos Regionais de Medicina, de Enfermagem, de Psicologia e de Serviço Social foram oficiados para, no prazo de 30 dias, realizarem vistorias para a Jutiça, constatando se houve o cumprimento da tutela antecipada da ação.
Dois dos assessores mais próximos do prefeito de Campos, Rafael Diniz, testaram positivo para a Covid-19: o procurador-geral José Paes Neto, e o superintendente de Comunicação, Thiago Bellotti. Os dois se recuperam bem e nenhum deles chegou a ficar internado.
O quadro mais grave se deu com José Paes, que no último dia 10, domingo retrasado, começou a sentir febre de até 39º, dor de cabeça e no corpo, nariz entupido, perda de paladar e cansaço. Ele usou dipirona para a febre, que durou até quinta (14). No dia anterior (13) fez uma tomografia que revelou pequeno comprometimento do pulmão, fez o teste PCR e começou a se tratar com cloroquina, azitromicina, por cinco dias, além de anticoagulante, por 15 dias.
No sábado (16), o teste do procurador deu resultado positivo. Hoje (18), o único sintoma que mantém é um pouco de cansaço. As médicas que o trataram foram a infectologista Andreya Moreira, chefe da Vigilância em Saúde do município, e a pneumologista Patrícia Meireles.
Já Thiago Bellotti começou a manifestar sintomas um pouco antes. No dia 7, uma quinta, ele começou a sentir febre de 38,5º, que tratou por conta própria com tylenol. Também manifestou inflamação na garganta, nariz entupido e perda de olfato.
No dia seguinte, sexta, dia 8, Bellotti fez uma tomografia, que revelou os pulmões limpos. E começou a tomar azitromicina e invermectina, receitados também por Andreya Moreira e por Luiz Otávio Mota, clínico geral. Na segunda, dia 11, ele fez o teste PCR, que deu resultado positivo na quarta (13). Hoje, o único sintoma que mantém é a perda de olfato.
Tanto José Paes quanto Bellotti mantém o isolamento social em suas casas, pelo prazo de 14 dias, contando da primeira manifestação da Covid-19.
Em meio à pandemia da Covid-19, que hoje ultrapassou a marca dos 15 mil mortos no Brasil depois de dois ministros da Saúde demitidos em menos de um mês, alguns militantes bolsonaristas de Campos planejam uma manifestação às 9h da manhã deste domingo (17). O local inicial da concentração seria a praça São Salvador, mudado à noite para a av. Nilo Peçanha, em frente ao Hospital de Campanha. A manifestação também foi convocado por comerciantes para sair em carreata do Shopping 28, do lado oposto do Hospital de Campanha. O objetivo é protestar contra o lockdown anunciado ontem (confira aqui) pelo governo municipal. Que passa a vigorar nesta segunda (18) na tentativa de desacelerar a contaminação da doença. Cientes das convocações para o protesto e suas mudanças, os promotores de Tutela Coletiva de Campos, Maristela Naurath e Marcelo Lessa, recomendaram no início da noite de hoje ao prefeito Rafael Diniz, ao comando do 8º BPM e às delegacias de Polícia Civil, que as manifestação sejam acompanhada. E, no caso de aglomeração em desrespeito às regras sanitárias, que os infratores sejam encaminhados à 134ª DP e autuados no Código Penal.
A decisão de endurecer as regras da quarentena em Campos foi tomada após suas quatro mortes por Covid-19 registradas de quinta (14) para sexta (15), somando 16 óbitos confirmados, mais oito em investigação, com ocupação de 100% dos leitos de UTI do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCC) de Campos. O lockdown foi recomendado em estudo da Fiocruz desde o último dia 6 (confira aqui) para todo o estado do Rio de Janeiro e já foi adotado por outros municípios fluminenses. Na última segunda (11), o governador Wilson Witzel determinou (confira aqui) que a Polícia Militar dê apoio a todos os municípios do estado do Rio que decidirem pelo lockdown.
Em Macaé, uma manifestação (confira aqui) que ocorreria hoje (16) contra o fechamento do comércio, também organizada por militantes bolsonaristas daquele município, foi cancelada pela Justiça. No programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, na manhã da última sexta, a promotora Maristela Naurath revelou (confira aqui) que pretende entrar na Justiça na próxima semana para pedir o lockdown também nos municípios de São João da Barra, São Francisco de Itabapoana e São Fidélis, o mais afetado pela pandemia (confira aqui) em todo o Norte e Noroeste Fluminense.
Mãe de três filhos, Capitulina era ainda moça quando morreu naquele início de século 20. Em sua breve vida, foi uma intelectual que fazia tradução de revistas francesas ao português. Campista da gema, morava no entorno da praça do Santíssimo Salvador, em cima do prédio da Lira de Apolo. Apesar de competente boticário, função que na época equivalia a um misto de clínico geral e laboratório farmacêutico, seu marido, Francisco, não conseguiu salvá-la da gripe espanhola. Hoje mais conhecida por H1N1 e imunizada por vacina, estima-se ter matado até 100 milhões de pessoas no mundo, inclusive em Campos, entre 1918 e 1920. Foi a última pandemia enfrentada pela humanidade até 100 anos depois aparecer o Sars-Cov-2, vírus da Covid-19.
No correr desta semana avançando sobre a segunda quinzena de maio, como o novo coronavírus avançando sobre Campos, região, estado do Rio e Brasil, o programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, teve a chance de entrevistar três pessoas dedicadas, cada qual em sua área, a entender e combater a pandemia da Covid. O primeiro entrevistado sobre o assunto foi o médico infectologista Nélio Artiles. Na terça (12), ele alertou (confira aqui) sobre a necessidade de lockdown, do “fechamento total” em Campos e municípios vizinhos:
— O lockdown também vai acontecer em Campos. Eu acho que é inevitável. E qual é o critério? É estatístico, você observar a questão da internação, dos leitos que estão sendo utilizados. Isso são decisões que você tem que tomar. No Rio de Janeiro, quando você tem filas para internação, filas esperando a UTI, eu penso sinceramente que a atitude de demorar um pouco, a cada dia que demora, serão mais mortes que acontecerão. O lockdown tem que ser imediato na cidade do Rio de Janeiro. E aí você deve avaliar de acordo com o local, você deve ter a autonomia de cada gestor, a responsabilidade. O problema é que muitos gestores não têm essa responsabilidade, não têm bom senso. E aí a gente fica naquela: quem é que vai tomar a atitude pelo outro?
Adiante na entrevista, feita no sistema de home office pela Folha FM desde 30 de março, o médico infectologista falou da inutilidade de se fazer um lockdown em Campos, enquanto municípios vizinhos, como São Fidélis e São Francisco de Itabapoana, sequer fecham seus comércios. E de como a falta de responsabilidade do gestor contribui para agravar a crise na saúde. Ele citou o exemplo do presidente da República, Jair Bolsonaro, considerado pelo mundo como o pior líder de um país na gestão da pandemia da Covid-19:
— O pior é que casos graves que acontecem em nosso entorno acabam sobrando para Campos. Não adianta. O lockdown da gente vai ficar quebrado pelos municípios vizinhos. Infelizmente, nem todos têm o bom senso de tomar a atitude. O ministério da Saúde vinha com o (Luiz Henrique) Mandetta numa linha. E por incompatibilidade política e de entendimento racional, se muda o ministro e entra o (Nelson) Teich. Que mantém a mesma linha, porque cientificamente ele tem que manter, não pode mudar. Mas aí o exemplo do gestor maior, que é o presidente, acaba atrapalhando muito essa questão dos outros gestores — apontou Nélio, na mesma terça em que foi anunciado que a Justiça havia determinado o fechamento do comércio em São Fidélis, irresponsavelmente mantido aberto pelo prefeito Amarildo Henrique Alcântara. Inspirado pelo presidente que quatro dias depois faria Nelson Teich, na sexta (15), pedir demissão do ministério da Saúde.
Na quarta (13), o convidado do Folha no Ar foi (confira aqui) Leandro Rabello Monteiro, professor de biologia evolutiva da Uenf, à qual voltou após lecionar quatro anos na Universidade de Hull, na Inglaterra. Indagado se uma segunda onda da Covid-19 poderia ocorrer, como há suspeita de estar se iniciando na China e na Coréia do Sul, com base no que ocorreu com a gripe espanhola que matou Capitulina no começo do séc. 20, o entrevistado fez ressalvas do ponto de vista da ciência do início do séc. 21:
— Uma coisa que os coronavírus diferem dos vírus Influenza, que é de uma outra família, é que a taxa de mutação dos coronavírus é menor. O que determina essas ondas de infecção é o parâmetro do R0, a medida de transmissibilidade média. Isso depende muito de quantas pessoas há doentes, quantas saudáveis, suscetíveis e quantas imunizadas. Essa imunização pode ocorrer porque a pessoa teve a doença e se recuperou, ou porque foi vacinada. Então, os epidemiologistas estão tentando fazer medidas para mudar esse parâmetro, para tentar evitar o espalhamento dessa doença, sem você ter a ferramenta da vacina. O número de doentes, suscetíveis e imunizados vai variando ao longo do tempo. É claro que você pode ter uma segunda onda. Mas, por enquanto, não tem nenhuma evidência que essa segunda onda seja de um vírus geneticamente diferente dessa primeira onda que está indo.
Mesmo se o Sars-Cov-2 não sofrer mutação, o que nada até agora indica, a questão do isolamento social ainda vai variar de acordo com a diminuição e o aumento do número de casos, para evitar o colapso dos sistemas de saúde do mundo. Foi o que Leandro explicou:
— Com o isolamento, as pessoas estão deixando de pegar o vírus agora e vão pegar mais para frente, numa segunda situação. É de se esperar que, com o isolamento sendo relaxado, você vá tendo outras ondas acontecendo. Mas se você não mudar grande coisa no vírus, o que parece ser por enquanto o caso, essas ondas não serão tão grandes assim. Mas vão acontecendo e esse isolamento tem que ser reimposto para você ter certeza de não sobrecarregar o sistema de saúde. Por isso os países estão pensando em relaxar, mas têm que ficar de olho para não sobrecarregar o sistema de saúde. Enquanto você não tiver como mudar a proporção de pessoas imunizadas, por vacinação, você tem que ficar fazendo esse controle para evitar o colapso.
Na sexta (15), a convidada do Folha no Ar foi (confira aqui) a promotora de Justiça Maristela Naurath. Ela é responsável do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) pela fiscalização da saúde em Campos, São João da Barra, São Fidélis e São Francisco. Até a manhã de sexta, dia em que vencia o prazo, nenhum desses governos municipais havia enviado ao MPRJ o estudo técnico pedido uma semana antes para endossar a decisão de cada prefeito em adotar ou não o lockdown. Que, na omissão dos gestores, a promotora planeja pedir na próxima semana para que seja determinado pela Justiça nos quatro municípios:
— Eu vou me basear tanto no estudo da Fiocruz (que, desde o último dia 6, alertou o governador Wilson Wiztel sobre a necessidade de decretar o lockdown em todo o estado do Rio), como outros, que foram disponibilizados pelo nosso centro de apoio operacional, para instruir uma ação solicitando ao Judiciário a adoção do lockdown. Temos recomendações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional de Saúde (CNS), instruindo para essa demanda. E tentaremos (na Justiça) uma decisão favorável. Vou levar em conta o percentual de ocupação de leitos, tantos ambulatoriais e de UTI, a inércia do poder público, o aumento geométrico do número de casos e a letalidade. Acho que na próxima semana a gente vai entrar num nível bastante crítico. Inevitável que os sistemas de saúde entrem em colapso e o sistema funerário também. A gente vê que as pessoas estão nas ruas, os comércios estão abertos. Então há necessidade de medidas mais drásticas, de fiscalização mais rigorosa. Para ter uma nova abertura, há a necessidade de que os índices de letalidade e de ocupação de leito melhorem. Temos que pensar o contrário: em isolar, em fechar, em lockdown.
Indagada sobre a perspectiva de 20% do total de infectados, que foram e serão obrigados a recorrer à internação, entrando em um hospital sem saber se sairão ou voltarão a ver seus entes queridos, a promotora revelou uma característica que falta a alguns governantes e suas seitas: empatia, capacidade de se colocar no lugar do outro. Assumindo-a, Maristela disse:
— É assustador! É assustador! Entrar no hospital com uma suspeita de Covid, olhar para os leitos ao lado e ver todas as pessoas sentindo os sintomas, a falta do ar, sendo levado para uma UTI e intubado, é uma perspectiva tão assustadora… É realmente muito complicado!… É difícil!… É difícil! É difícil! Não gostaria de estar no lugar dos médicos que estão ali, os enfermeiros, os técnicos de enfermagem, dentre outros que estão ali na ponta, correndo um sério risco de se contaminar, de estarem no mesmo lugar, ocupando o mesmo leito, passando pelos mesmos problemas… É uma emoção, uma emoção ruim!… Ah, me desculpa, é muito complicado isso — desabafou, visivelmente emocionada.
Capitulina deixou três filhos ao morrer precocemente em Campos. Filho do filho da sua filha mais velha, seu bisneto pensava nela desde que a pandemia da Covid chegou à mesma cidade, 100 anos depois da gripe espanhola. Sempre gostou de história e essa era a sua. Tentou lutar contra as sombras do obscurantismo, esterco em forma de pensamento e caráter de gente, fértil à propagação do novo vírus. E se descobriu também suspeito de o ter contraído. Pelas Capitulinas refletidas em olhos embargados de Maristelas, respirou fundo, deu graças por isso e seguiu em frente.
No Folha no Ar do início da manhã de hoje, na Folha FM 98,3, a promotora de Justiça Maristela Naurath disse que entraria na semana que vem com ações na Justiça na próxima semana para pedir o lockdown nos municípios de Campos, São João da Barra (SJB), São Francisco de Itabapoana (SFI) e São Fidélis(SF), com objetivo conter a aceleração da pandemia da Covid-19. No final da tarde de hoje, o prefeito Rafael Diniz se antecipou e decidiu (confira aqui) pelo lockdown em Campos a partir da próxima segunda (18). Encarregada da fiscalização da saúde nos quatro municípios, pela 1ª e 3ª Promotorias de Tutela Coletiva da comarca, Maristela explicou que o endurecimento das regras de quarentena é para tentar evitar o colapso das suas redes de saúde e funerárias dos municípios:
— Eu vou me basear tanto no estudo da Fiocruz (que, desde o último dia 6, alertou o governador Wilson Wiztel sobre a necessidade de decretar o lockdown em todo o estado do Rio), como outros, que foram disponibilizados pelo nosso centro de apoio operacional, para instruir uma ação solicitando ao Judiciário a adoção do lockdown. Temos recomendações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional de Saúde (CNS) instruindo para essa demanda. E tentaremos (na Justiça) uma decisão favorável. Vou levar em conta o percentual de ocupação de leitos, tantos ambulatoriais e de UTI, a inércia do poder público, o aumento geométrico do número de casos e a letalidade. Acho que na próxima semana a gente vai entrar num nível bastante crítico. Inevitável que os sistemas de saúde entrem em colapso e o sistema funerário também. A gente vê que as pessoas estão nas ruas, os comércios estão abertos. Então há necessidade de medidas mais drásticas, de fiscalização mais rigorosa. Para ter uma nova abertura, há a necessidade de que os índices de letalidade e de ocupação de leito melhorem. Temos que pensar o contrário: em isolar, em fechar, em lockdown.
Na última sexta (08), a promotora pediu (confira aqui) aos prefeitos de Campos, São João, São Francisco e São Fidélis o envio de estudo técnico para fundamentar a decisão de decretar ou não lockdown por conta própria. O prazo venceu hoje, sem que nenhum tenha atendido à solicitação do Ministério Público. Campos porque decidiu pelo lockdown. Dos outros três, apenas São Fidélis pediu ampliação do prazo de envio para segunda-feira (18).
Por decisão própria, Rafael e Carla Machado, prefeita de SJB, decidiram fechar seus comércios desde março. O de São Fidélis, com população de 38.669 habitantes e 114 casos confirmados de Covid-19 até a tarde de hoje, é o município mais infectado de todo o Norte e Noroeste Fluminense, com índice de um caso da doença a cada 339,2 moradores. Ainda assim, por decisão do prefeito Amarildo Henrique Alcântara, o comércio fidelense se mantinha aberto. E só foi fechado na quarta (13) por decisão judicial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), que na segunda (11) acatou a o pedido da Defesa Pública pelo fechamento. Governado por Francimara Barbosa Lemos, São Francisco ainda mantém o comércio aberto.
Indagada no Folha no Ar de hoje sobre a perspectiva de 20% do total de infectados, que foram e serão obrigados a recorrer à internação hospitalar, entrando sem saber se sairão ou voltarão a ver seus entes queridos, a promotora revelou uma característica que falta a alguns governantes: a empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro. Assumindo-a como ser humano, Maristela disse:
— É assustador! É assustador! Entrar no hospital com uma suspeita de Covid, olhar para os leitos ao lado e ver todas as pessoas sentindo os sintomas, a falta do ar, sendo levado para uma UTI e intubado, é uma perspectiva tão assustadora… É realmente muito complicado!… É difícil!… É difícil! É difícil! Não gostaria de estar no lugar dos médicos que estão ali, os enfermeiros, os técnicos de enfermagem, dentre outros que estão ali na ponta, correndo um sério risco de se contaminar, de estarem no mesmo lugar, ocupando o mesmo leito, passando pelos mesmos problemas… É uma emoção, uma emoção ruim!… Ah, me desculpa, é muito complicado isso — desabafou, visivelmente emocionada.
Com os trechos da matéria extraídos do terceiro bloco, confira os três abaixo nos vídeos do Folha no Ar de hoje com a promotora de Justiça Maristela Naurath:
A cultura de Campos pode não ter uma torcida proporcionalmente tão numerosa quanto às dos clubes cariocas Flamengo e Vasco. Mas, como as do Fluminense e Botafogo, compensa qualquer inferioridade numérica com a paixão e o compromisso na defesa da sua bandeira. Foi o que evidenciou o Folha no Ar do início da manhã de hoje (14), com a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Cristina Lima. Através do WhatsApp e de comentários pelo streaming do programa no Facebook, a interatividade dos ouvintes e telespectadores foi intensa. Todos na defesa do Museu Histórico e do Arquivo Público de Campos, que tiveram atividades e RPAs suspensos em decreto municipal, por conta da pandemia da Covid-19, em decreto municipal de 6 de maio.
— O primeiro decreto, estabelecendo um atendimento não presencial e trabalho interno e home working, data de 18 de março. Para todos os equipamentos culturais. Nós temos o Teatro Trianon, o Teatro de Bolso Procópio Ferreira, a Casa de Cultura José Cândido de Carvalho em Goitacazes, a Casa de Cultura Poeta Antônio Silva em Conselheiro Josino, nós temos o Museu e o Arquivo. Os equipamentos culturais começaram a cumprir o primeiro decreto. E como temos neles a presença do servidor em regime de recebimento de pagamento a autônomo (RPA), o último decreto do prefeito (de 6 de maio) estabeleceu o plano de suspensão emergencial, naturalmente atingiu todas essas instituições que eu acabei de citar. Mas nunca, em momento nenhum desse processo, nós tivemos a a intenção de não voltar com esses equipamentos. O tempo todo foi dito que seria temporário. Não foi corte, foi suspensão. Que trouxe essa ansiedade muito grande, essa preocupação, até bastante compreensível e legítima. Mas em momento algum foi aventada a hipótese de não reabrir ao fim dessa pandemia — disse Cristina em sua primeira participação no programa.
Dando início à participação dos leitores e ouvintes, a diretora do Museu Histórico de Campos, Graziela Escocard, perguntou por WhatsApp:
— Como será feita a manutenção dos espaços do Museu, do Arquivo e do Trianon, lembrando que os funcionários públicos concursados, são em sua maioria da educação, cedidos e sem conhecimento técnico?
— É uma situação que nós estamos analisando, buscando uma alternativa. Porque na verdade, na rede, nós temos os DAS, que permaneceram. Então se essa preservação do acervo não puder ser feita por essas pessoas que ficaram, que não sofreram os efeitos do plano emergencial de suspensão, nós já estamos desde ontem (13) analisando a questão. E vendo qual atitude nós vamos poder tomar (…) Estamos analisando, junto com a professora Rafaela (Machado, diretora do Arquivo Público), inclusive. E pensando numa alternativa que atenda à necessidade de manutenção do acervo. Toda essa situação é muito nova para todos nós, é muito inusitada. Nunca tínhamos experimentado uma coisa parecida com isso. É preciso que agora a gente se junte, com espírito coletivo. E busque através do diálogo, com serenidade e equilíbrio, para que se possa pensar numa alternativa para atender a essa questão, que é muito preocupante. A gente sabe que uma casa fechada se deteriora mais rápida que com ela aberta — respondeu a presidente da FCJOL.
Citada por Cristina, Rafaela Machado também se manifestou no streaming do programa. E pontuou à entrevistada do Folha no Ar:
— As demandas da cultura são legítimas e durante muito tempo não foram ouvidas ou não foram consideradas importantes. Acho que é hora de entendermos que essa questão, a manutenção e sobrevivência desses espaços, é também pauta essencial de discussão hoje — disse a diretora do Arquivo Público.
— Na verdade, as demandas hoje da cultura em Campos são muito grandes. Nós temos vários prédios municipais carentes de manutenção, como é o caso do Arquivo, da Casa de Cultura em Goitacazes, que demandam um investimento muito alto. O grande desafio do prefeito Rafael Diniz é atender às demandas mais urgentes, relacionadas ao servidor, à saúde, à educação. Então, essas demandas vindas da cultura são muito altas. A gente já fez um levantamento. Por exemplo, o Teatro de Bolso, são todos equipamentos que têm muito tempo de vida. O mais novo aí, seria o Trianon, com 21 anos, já requerendo uma série de manutenções no seu maquinário. Eu vejo hoje que nós estamos caminhando para uma situação em que as questões culturais vão ter que recorrer às parcerias público-privadas (PPPs) e às leis de incentivo. O que está acontecendo é que as prefeituras estão cada vez mais inadimplentes para suportar essa demanda. A Prefeitura vai ter que buscar essas parcerias, como já viemos buscando na cultura com a secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, na questão da economia criativa, na questão de projetos vindos de alunos bolsistas, que focaram inclusive na questão do patrimônio histórico e cultural, no prédio do Arquivo. As prefeituras vão se tornando cada vez mais sem condições de bancar toda essa necessidade e carência.
Com trechos da matéria extraídos do primeiro e segundo blocos da entrevista, confira abaixo em vídeo todos os três do Folha no Ar de hoje com Cristina Lima. Em sua maior parte ditado democraticamente pelas intervenções dos ouvintes e telespectadores. Como provaram hoje seus defensores, em atuação de time grande, a cultura de Campos é capaz de gerar tanta audiência e interesse quanto jogo de futebol: