“Homenagem ao Jean Wyllis” — Zé de Abreu cospe na cara de homem e mulher

José de Abreu PT

 

 

Ontem, após ver em nota do jornalista Lauro Jardim a maneira agressiva e desrespeitosa com que o ator José de Abreu usou o Twitter para tratar o educador e senador Cristóvam Buarque (PPS), ex-governador de Brasília pelo PT e um dos pouco homens de bem que restou na política deste país, escrevi uma postagem aqui. Ainda não sabia que o xará e grande amigo do ex-ministro e hoje prisioneiro da Justiça José Dirceu (PT), havia discutido num restaurante com um casal em São Paulo, também na noite de ontem.

No vídeo que viralizou na internet, já iniciada a discussão, Abreu canta o hino nacional em tom irônico, antes de se dirigir de pé à mesa do casal. Ao ser chamado de “safado” pela mulher, ele cuspiu na cara dela e depois na do acompanhante, enquanto ambos estavam sentados. O homem, que seria um advogado carioca, se levantou revoltado e teve que ser contido pelos seguranças do estabelecimento, enquanto trocava provocações e xingamentos com o ator.

Em várias postagens no Twitter (aqui) sobre o assunto, José de Abreu se referiu ao casal como “fascistas” e se vangloriou por ter cuspido tanto na cara do homem, quanto na da mulher. Ao dizer que ambos “merecem cusparada na cara”, ele ofereceu o ato “em homenagem (ao deputado federal) Jean Wyllis” (Psol).

Fez alusão ao cuspe de Wyllis sobre o colega Jair Bolsonoro (PSC), no último dia 17, durante a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara Federal. Bolsonaro havia feito provocações verbais homofóbicas ao parlamentar do Psol, que revidou com a cusparada, sendo alvo da mesma reação por parte do também deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC), filho de Jair.

Um pouco antes, ao votar a favor do impeachment de Dilma, Bolsonaro pai disse tê-lo feito “pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra”, comandante do DOI-Codi de São Paulo entre 1971 e 74, no auge da repressão da Ditadura Militar (1964/85), reconhecido por várias vítimas e declarado pela Justiça paulista como torturador. Por sua vez, em seu voto contrário ao impeachment , Wyllis se referiu àqueles que o aprovavam como “canalhas”.

Em relação ao ocorrido de na noite de ontem entre o casal e Zé de Abreu, a maioria das reações, na própria conta de Twitter do ator, foram de condenação, com ofensas e até ameaças físicas. Na certeza da ultrapassagem dos limites de civilidade de lado a lado, a preocupante dúvida sobre onde isso tudo pode terminar, com o país em grave crise econômica e passionalmente dividido por um impeachment presidencial que parece não ter volta.

Confira abaixo alguns dos twetes do ator se ufanando por ter cuspido na cara do homem e da mulher com quem discutiu, bem como de alguns dos comentários feitos, a maioria pouco amistosos, além do vídeo da confusão:

 

 

José de Abreu 4

 

 

 

José de Abreu 3

 

 

José de Abreu 2

 

 

José de Abreu 1

 

 

 

Fabio Bottrel — Minha homenagem aos senhores dessa terra

 

Sugestão para escutar enquanto lê (Youtube): Oração aos Orixás – José Siqueira

https://www.youtube.com/watch?v=w9X_6Pn2RB0

 

 

“Ave do Paraíso”, de Rcondé (reprodução)
“Ave do Paraíso”, de Rcondé (reprodução)

 

 

“Se todos os insetos desaparecessem da Terra, dentro de cinquenta anos toda a vida desapareceria. Se todos os humanos desaparecessem da Terra, dentro de cinquenta anos toda a vida floresceria.”

(Jonas Salk, 1914/1995)

 

Vi a mão de minha mãe cortar o vento apontando ao longe o rio banhando a terra até onde meus olhos não podiam alcançar. Os pássaros cantavam e dançavam sob o sol escaldante enquanto eu brincava e corria me afundar nas imensas águas límpidas. No caminho ia cumprimentando as árvores que mais gostava, colocando apelidos como fazia com os bichos, mas havia tantas árvores quanto grãos de areia e nem sabia se as que cumprimentava eram as apelidadas. Sentia as pedrinhas bem pequeninas beliscando meus pés a cada passada forte dada em direção ao rio.

Perto de mim, numa trilha da floresta, ouvia os rapazes vangloriando Pedra do Sol por ter deixado na beira da praia um enorme tubarão pego no braço, enfiando tão forte um pedaço de pau boca adentro do bicho e arrancando com a mão suas entranhas. Havia tanta fartura de comida, pois nem se importaram em levar o belo tubarão para casa, arrancaram-lhe os dentes lá mesmo e amarraram bem forte na madeira de suas flechas com tiras de couro bovino. No caminho de volta pra casa colheram ervas venenosas e caminhavam passando o veneno nas pontas das flechas, como sempre faziam.

Na tribo, vi o alvoroço que foi quando os garotos chegaram carregando um objeto estranho, até então nunca visto. Era um pedaço macio, aparentando couro, mas era suave como algodão e tinha alguns buraquinhos como se tirinhas bem fininhas de algum tecido fossem se enrolando uma na outra até resultar naquele objeto. Era avermelhado e tinha quatro buracos grandes, sendo um maior embaixo, um menor em cima, e um em cada lado de tamanhos iguais. Os meninos haviam achado no caminho de volta para a tribo e vinham animado com a nova descoberta, enfiando o corpo dentro, que ficava todo tapado. Logo começou a correria com outros querendo enfiar o corpo naquele pedaço de coisa esquisita. Quando olhei para o cacique de nossa tribo, meu sorriso saiu sem perceber, enquanto a fogueira soltava fiascos de madeira acendendo a noite cacique olhava preocupado, provavelmente imaginando quem trouxe aquela peça para tão perto de nossa aldeia.

Durante todos os dias seguintes as rugas do rosto de cacique estiveram intactas, sem expressão, o que angustiou aos mais velhos da tribo, enquanto os mais novos continuavam brincando com o objeto desconhecido. Não demorou para a preocupação se materializar, após doze luas todos os rapazes começaram a pipocar. Suas peles criaram tantos caroços cheios de uma coisa amarela que se punham a sangrar enquanto eles coçavam sem parar, era feio de ver, ficavam tão quentes que era possível sentir o calor quando se aproximava deles. Logo todas as suas famílias começaram a ficar do mesmo jeito e cacique teve certeza do demônio que fora trazido com aquela peça. Fizemos uma fogueira, queimamos até o último fio e depois enterramos o local para que não sobrasse nada. Cacique também proibiu todos nós de aproximarmos dos mordidos pelo espírito ruim. Eles ficavam afastados, numa área delimitada pelos mais velhos da aldeia. A maioria de nossos guerreiros estavam possuídos, logo começaram a morrer, morte muito feia, como se a pele quisesse fugir do corpo.

Não demorou para que os demônios se personificassem, no amanhecer de um dia triste colocamos nossos ouvidos na terra para sentir um batuque tão forte que nunca ouvíramos, até o vento estava diferente, tinha cheiro esquisito. Cacique mandou todos os guerreiros se juntarem, mas haviam muitos possuídos, que o demônio não deixava guerrear. Logo o fim da vista ficou todo borrado de tanto cavalo e gente esquisita montada, todos com o peito tapado de peça que trouxe os espíritos ruins e bradando uma vara pontiaguda de metal. Estávamos muito doentes para lutar contra os espíritos ruins, mas não arredamos pé, éramos conhecidos pela bravura, erguemos o peito e avançamos.

Oh Tupã, quanta tristeza. De pele estourando, nossos guerreiros chorando, nossa honra foi degolada antes que os demônios chegassem até nós.

Oh Tupã, quanta tristeza. Ver meu pai, sinhô, com uma lança atravessada no pescoço. Quanta tristeza, quanta tristeza, chorar a minha mãe menina com buraco nas costas da explosão de vida finda.

Sentada ao lado da minha mãe menina eu vi todo o meu povo morrer, os mais fortes e que não foram possuídos, eram acorrentados. Eu gritava até acabarem as lágrimas, até a voz ir tão longe pra Tupã escutar, fui a única criança a sobreviver. Me acorrentaram junto dos moços, e chorei mais quando deixei os corpos ainda quentes dos meus pais e de meus amigos com um olhar indiferente pra mim. Caminhamos muito, e quando não aguentei um dos guerreiros me carregou no colo.

Quando paramos de caminhar vimos uma enorme construção de barro branco nunca visto, com cercados de madeiras que não entendíamos pra que, mas era bonito de ver, e vários buracos também com madeira nos seus entornos. Lá de dentro saiu um casal com peças grandes do espírito ruim, a pele era clarinha tanto quanto o barro branco e tinha mais um monte de pele bem escura e cabeça baixa. Somente os espíritos ruins riam, os que ficavam próximos entristeciam. Todos da minha tribo sabiam que estávamos defronte ao monstro para qual sempre pedíamos a Tupã nos afastar, mas Tupã deve estar com a pele pocando também ou deixou de gostar d’a gente.

Sentimos medo quando os demônios desceram da construção e vieram até nós com os tristes carregando uma coisa circular fazendo sombra pra pele doente. Apertou a gente nos braços, abriu a boca pra ver os dentes e quando chegou a mim, parou, abaixou, acariciou meus longos cabelos lisos. Eu tentava me esconder atrás da perna do guerreiro e ficava brava d’eles não guerrearem, não entendia que estavam cansados e lhe foram roubada a dignidade. O espírito ruim me puxou e apertou meu corpo, não entendia por que ele me apertava naqueles lugares enquanto a mulher com a boca tão vermelha e viva, que parecia carne sangrenta em vez de beiço, me olhava com tanto ódio que teria qualquer bicho com o beiço sangrando.

Os moços da minha tribo foram para uma oca quadrada grande de madeira muito feia e suja, vi quando eles foram jogados com chutes ainda acorrentados e percebi que espírito ruim não tem honra. Queria ficar junto da minha tribo, mas fui a única a ser separada. Gritei muito antes que me pusessem num cômodo frio, sem buraco de madeira, todo escuro e ali eu me agachei e esperei Tupã, montado no trovão, vir buscar seu chão. Mas quando tudo escureceu, quem apareceu foi o demônio carregando o fogo na mão, que saía de uma vareta branca.

Todas as noites com o dente rente eu gritava

Sou Filha da Natureza

Tire de mim essa corrente

Meu corpo é goitacá

E não crescerá sua semente!

Nunca cheguei a conhecer minha beleza, desde pequena fora usurpada, agora tantos anos sem ver o sol, ainda grito enquanto o demônio aperta minha cabeça contra o barro branco todas as noites:

Sou Filha da Natureza…

Grito enquanto minhas lágrimas mancham as mãos que me apertam

Tire de mim essa corrente…

Grito enquanto me falta o ar pelas batidas na minha barriga

Meu corpo é goitacá…

Grito enquanto sou preenchida de veneno

E não crescerá sua semente…

E quando o espírito ruim vai embora carregando a luz na mão, deixando a escuridão, meu corpo escorre no barro até meus joelhos dobrarem encharcados das sementes do pele doente, e meu desejo de ver o sol grita com as minhas unhas grandes cortando a pele da palma da mão AHHHHH com os punhos cerrados AHHHHHHHH com os seios machucados AHHHHHHHHHH com as lágrimas em cascatas AHHHHHHHHHHHHH até meus cabelos saírem nas mãos AHHHHHHHHHHHHH.

Quando o último brilho da minha pele foi ofuscado, quando restaram apenas as cicatrizes e as rugas, quando toda a minha beleza se esvaiu, fui posta ao campo para trabalho, já moça. Ao ver o sol e toda a paisagem minha vista virou apenas um borrão, havia esquecido de como era e logo depois podia ver os detalhes a distância, me encantava com cada curva do mato, com as carícias do capim no meu corpo tão maltratado. Percebi meu rosto molhar, eram as lágrimas vindo olhar também. Ainda podia reconhecer alguns dos guerreiros da minha tribo, já velhos, puxando cana junto com os burros. Eram poucos, muitos morreram.

Como meu corpo estava fraco, me colocaram para colher algodão, mas o sol era quente e havia desacostumado, minha pele estava tão sem cor que cheguei a pensar se já não estava morta também. Os primeiros dias foram duros, mas logo meu corpo se acostumou a toda aquela luz. Os pés de algodão ficavam ao lado d’onde fiquei tanto tempo trancada, o que me fazia tremer sempre ao chegar os pés de algodão mais próximos. O espírito ruim que sangra pelo beiço sempre fica a me olhar que parece o sangue subir para os olhos. Depois olha para o demônio da mesma maneira enquanto ele também me olha. Eu tentei por vários dias compreender aquele sentimento, mas não consegui entender, é tudo tão diferente, tentei falar com um dos tristes, moço por que essa gente é tão demente, mas das nossas bocas saem sons diferentes e ninguém me entende, só os da minha tribo.

No dia seguinte, enquanto colhia os algodões, o espírito que sangra pela boca desceu e veio até mim, me rodou, me olhou, e foi-se falar com o outro espírito de couro na cabeça protegendo a pele doente do sol e um chicote pra bater no meu povo quando estivermos cansados. Eu não entendia o que diziam, tampouco eles me entendiam. O espírito de couro na cabeça não parava de me olhar enquanto ela falava, todos me olhavam com raiva e eu não entendia. Oh, Tupã, quanto ódio nasce nesse povo!

Naquela noite o espírito de couro na cabeça me levou para a construção de madeira que eu passara a dormir desde então, apoiou o fogo da mão num toco ao lado e me empurrou para a parede, tirou uma faca, apertou em meu pescoço, e enquanto meu sangue jorrava eu disse minhas últimas palavras, feliz por voltar pra minha terra:

— Meu sangue cai onde é meu lar.

Vá se embora d’aqui moço, não é seu lugar.

Logo após a minha morte, foi tanta dor, tanta dor, tanta dor, meu sinhô, que os antigos guerreiros da minha tribo junto com os tristes não suportaram tanta dor, de peito exposto enfrentaram todos da construção de barro branco e conseguiram sua honra de volta. O casal de espírito ruim foi encurralado e morreram antes de medo, Pedra do Sol enfiou-lhe um pedaço de pau tão forte boca’dentro e arrancou-lhe as entranhas com a mão. Muitos dos tristes e da tribo morreram no confronto, os poucos que restaram morreram logo depois de doença diferente. Anos depois, seus corpos adubaram o solo e deles nasceram lindas flores que harmonizaram o barulho dos rios límpidos, dos pássaros livres… a paz… jaz… az… z… .:.

 

No caso de dúvida, fica a certeza sobre o Abreu xará do Dirceu

Josés de Abreu e Dirceu (foto: divulgação)
Josés de Abreu e Dirceu (foto: divulgação)

 

Embora o tenha na conta de bom ator, confesso que há algum tempo passei a nutrir asco à figura pessoal de José de Abreu, não pelo ideário, mas pela maneira acrítica (de si) e odienta (do outro) com que milita politicamente. Amigo fiel do seu homônimo José Dirceu (PT), ora hospedado no sistema prisional de Curitiba, que mês passado teve seu registro de advogado cassado pelo Conselho Federal da OAB, o Abreu resolveu encarnar o vilão na vida real contra o educador e senador Cristóvam Buarque (PPS), ex-governador do PT em Brasília, onde foi um dos criadores do Bolsa-Família.

Cristóvam usou sua conta no Twitter para aconselhar Dilma Rousseff (PT) a parar de insistir no discurso de golpe, que a (ainda) presidente voltou a usar hoje com jornalistas em Nova York, ameaçando seu próprio país (aqui) com sanções econômicas do Mercosul e da Unasul, caso o Senado confirme a clara tendência de considerar crime de responsabilidade as “pedaladas” fiscais com as quais o governo federal quebrou o Brasil e tentou maquiar. Pois, em resposta ao senador, o ator xará do Dirceu usou também o Twitter para mostrar o lado mais canastrão da sua cidadania:

— O  deveria parar com esse discurso de querer calar a Dilma. Censura rima com ditadura. Que velhinho babaca!

Se há dúvida sobre quem é o babaca nessa história, uma certeza: José de Abreu tem 69 anos.

Abaixo as duas postagens:

 

(Reprodução do Twitter)
(Reprodução do Twitter)

 

Fonte: Lauro Jardim

 

Tomou susto com a Câmara Federal? Bem vindo ao Brasil!

E se você é um daqueles que se surpreendeu, em 17 de abril de 2016, com o nível de uma Câmara Federal empossada desde 1º de janeiro de 2015, o desabamento ontem (21/04) de parte da ciclovia Tim Maia, na cidade do Rio de Janeiro, provocando a morte de duas pessoas cujos corpos foram dar na praia de São Conrado, diante de banhistas impassíveis que continuaram a bater sua bolinha no feriado de Tiradentes, é mais uma chance para finalmente apresentá-lo, caro leitor:

— Bem vindo ao Brasil!

 

Bolinha no feriado de paria ao lado dos cadáveres de Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos, e Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 (foto de Guilherme Leporace - O Globo)
Bolinha no feriado de praia ao lado dos cadáveres de Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos, e Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 (foto de Guilherme Leporace – O Globo)

 

Pela engenharia da História, onde foi que nos perdemos?

Viaduto Rei Alberto em 1920, quanto foi construído, e em 21 de abril de 2016, desnudo pelo desabamento da ciclovia Tim Maia (reprodução)
Viaduto Rei Alberto em 1920, quanto foi construído, e em 21 de abril de 2016, desnudo pelo desabamento da ciclovia Tim Maia (fotos: reprodução)

 

Na democracia irrefreável das redes sociais, não demorou para que fosse feita a associação entre o viaduto Rei Alberto, construído em 1920, e a ciclovia Tim Maia, inaugurada em 17 de janeiro deste ano da Graça de 2016. O primeiro, erguido em homenagem ao rei da Bélgica que visitava o país naquele início o século 20, teve sua estrutura exposta depois que caiu parte da passarela da ciclovia, ontem, matando duas pessoas e expondo a diferença na qualidade de duas obras separadas por 96 anos.

Se impressiona quantas ressacas já suportou o viaduto de quase um século, diante da fragilidade fatal demonstrada pela ciclovia em pouco mais de três meses, a elegância dos três arcos romanos desnudos da primeira construção remetem a outra, muito mais antiga e também ainda de pé contra a força das águas. Erguida no século I d.C., a Ponte Romana da belíssima cidade de Córdoba, no sul da Espanha, oferece passagem segura há dois mil anos entre as duas margens do rio Guadalquivir.

 

Ponte Romana de Córdoba (foto: reprodução)
Ponte Romana de Córdoba (foto: reprodução)

 

Com seus 16 arcos na mesma sensualidade das curvas do viaduto carioca, a Ponte Romana de Córdoba tem 247 metros, quase a mesma extensão da Barcelos Martins (270 m), sobre o rio Paraíba do Sul. Construída em 1847, a ponte campista também vai muito bem, obrigado.

 

Ponte Barcelos Martins (foto de Rodrigo Silveira - Folha da Manhã)
Ponte Barcelos Martins (foto de Rodrigo Silveira – Folha da Manhã)

 

Desde o tempos dos antigos romanos, cruzando sobre as águas os séculos 19 e 20 até este início do 21, mesmo para quem não conheça nada de engenharia ou História, a pergunta que parece óbvia é: onde foi que nos perdemos? E em nome de quê?

 

Guilherme Carvalhal — Moedas douradas

porquinho

 

 

 

Para cada golpe dado, Ezequiel guardou uma moeda. Depositou a primeira aos dezesseis anos quando embarcava como punguista e deu continuidade quando na mocidade enveredou para o contrabando. Apesar da longa data passando incólume pela lei, mudou de área aos 40 e fez maior sucesso atuando nos bastidores da política.

Reinaldo vacilou antes de quebrar a porca guardada a vida inteira pelo pai. Primeiro, pela natureza escusa de seus atos. A mãe o afastou de sua influência e a lembrança do velho pilantra não passava de memória remota. Segundo, se ele depositou moedas ao longo da vida, provavelmente não havia ali nada de significativo, apenas um punhado metálico sem valor após tantas mudanças de planos econômicos. No máximo amealharia alguns trocados em algum antiquário.

Diante da insistência da esposa, rachou o porco e se surpreendeu. Ao invés de guardar moedas correntes, o velho colecionou pequenas peças douradas cunhadas com suas iniciais, todas em formas bastante semelhantes, seguindo um molde único durante seus 60 anos de atividade. Aí sim ele viu algo de valor.

Após vender o conjunto de moedas em uma casa de penhores, trocou de carro, comprou uma bela casa e ainda aplicou uma quantia em um investimento financeiro, contando em futuramente enviar os dois filhos para a faculdade de medicina. Se o velho não marcou presença durante a vida, pelo menos na morte cumpriu um pouco seu papel de pai.

Quando recebeu o telefonema de Humberto, dono da casa de penhores, não compreendeu ao certo seu questionamento. Explicou que quatro compradores das moedas faleceram poucas semanas após e isso rendeu perguntas por parte da polícia. Nada demais, tendo em vista limitarem-se a casos fortuitos: uma picada de cobra durante uma pescaria no Mato Grosso, uma falha de freio na estrada, um ataque cardíaco e uma queda no banheiro. Não havia correlação alguma, mas mesmo assim o caso chamava atenção pela morte de quatro colecionadores de relíquias em prazo pouco largo:

— Estão amaldiçoadas — disse em tom crente e assustado de quem perdeu bons clientes. O dono chegou a sugerir o destrato desejando retornar a maldição ao antigo dono, mas Reinaldo não estava disposto a abrir mão do seu novo padrão de vida.

Mal esperava pelas consequências. Poucos meses depois, enquanto saía do trabalho para seu horário de almoço, Reinaldo recebeu uma ligação da esposa avisando sobre o desespero de Humberto segurando uma bolsa ameaçando se jogar de cima de um prédio. Correu para as imediações e encontrou os bombeiros tentando convencê-lo a desistir e a multidão em polvorosa gritando “Pula! Pula!”. Ao longe ele lançava seus gritos, porém Reinaldo não conseguia captar suas palavras, essas abafadas pelo clamor da multidão. Então Humberto abriu sua bolsa e começou a jogar as moedas, iniciando uma forte confusão entre as pessoas, essas caindo ao chão e se digladiando para catá-las. Lançou-se e se acabou em meio àquele tumulto.

As palavras da viúva após o velório soando a desabafo lânguido provocaram uma atmosfera perturbadora em torno dos ânimos. Ela relatou detalhadamente o infortúnio do marido, cada vez mais apegado àquelas moedas e acompanhando a morte de outras pessoas que as compraram. Então decidiu parar de vendê-las e, nesse ato de loucura, jogou-as e se matou.

A partir daí, Reinaldo estabeleceu a meta de prestar contínua atenção nas páginas policiais e no obituário. Cada acidente de carro, homicídio, doenças fatais súbitas e situações congêneres ele tentava associar a algum dos novos donos das moedas.

Envolveu-se tão ferrenhamente em acompanhar obituários que se aproximou mais da morte e se afastou da vida. Converteu-se em um vulto estranho à própria esposa, sempre envolto em associações e conjecturas estapafúrdias. Apenas após bastante tempo imerso em suas suposições ele conseguiu lembrar claramente do sorriso cínico do pai e sentiu-se mais uma mera peça em seu jogo sórdido do qual o velho não se cansou nem após a morte.

 

“Governo Rosinha foi o melhor que Campos teve; disparado!”

A partir da experiência à frente do Fundecam e, nos últimos quatro anos, na secretaria de Agricultura, Eduardo Crespo chegou por último entre os pré-candidatos governistas à sucessão da prefeita Rosinha Garotinho (PR), a quem credita “o melhor (governo) que Campos já teve”. Com críticas a uma oposição que entende só fazer críticas, ele enxerga no estímulo à iniciativa privada o caminho de um futuro sem a mesma capacidade de investimento dos royalties.

 

Eduardo Crespo (foto de Rodrigo Silveira - Folha da Manhã)
Eduardo Crespo (foto de Rodrigo Silveira – Folha da Manhã)

 

Governo Rosinha – Foi o melhor que Campos já teve; disparado! Foi fundamental a experiência dela como governadora do Estado do Rio. Em curto espaço de tempo, já no primeiro mandato, foi implantado até maio de 2009 a passagem a R$ 1,00. Seu maior marco foi o desfavelamento. Fomos o único lugar do país, nos últimos anos, que alcançamos esse patamar, a partir do “Morar Feliz”. Outro quesito foi o investimento de infraestrutura básica, em Donana, em Ururaí, com o “Bairro Legal”. Mais de uma Quisssamã foi erguida em Campos com as novas obras. Na continuidade do seu mandato (a partir de 2013), isso foi estendido a outras localidades. O resgate da Prefeitura em parcerias com o governo federal atraiu recursos em projetos na saúde e educação. Nós mesmos, na secretaria Agricultura, fizemos projetos como o “Kit Mais Leite”, fornecendo tanques de resfriamento de leite e botijões de sêmen, para melhoramento genético, com recursos do ministério de Agricultura. Antes, não podíamos fazer por falta de certidão negativa, na herança que ela (Rosinha) tinha encontrado.

Oposição – Acho a oposição muito fragilizada, por falta de uma visão realista do futuro, com a discussão de propostas. O que nós vamos fazer no governo até as prévias (de maio a julho), quando avaliaremos criticamente o que fizemos e o planejaremos o que vamos fazer. Na minha visão, temos que focar em como vemos Campos em 2020, e no que podemos fazer para ter essa meta alcançada. O que a prefeita vem realizando é fruto de um plano de governo. Infelizmente, há quatro anos, ninguém sabia o que iria acontecer, com a queda do barril de petróleo, forçando-nos a readequar o plano de governo. A oposição é vazia! São acusações pelas acusações, para confundir a opinião pública. Mas a sociedade, vide o que acontece hoje em Brasília, já está sabendo diferenciar isso.

“Independentes” – Acho que estão esperando para que lado a coisa vai pender. Está igual a meteorologia: espera para ver se vai chover, se vai dar sol, para ver que roupa vai usar.

Vir de vice – Não sei avaliar. É uma definição para o grupo. Isso estaria atrelado a quem for indicado como candidato a prefeito. Será inteligente a complementação de perfis numa mesma chapa. Somos hoje oito pré-candidatos, todos preparados para exercer uma candidatura a prefeito e vice. Saindo a definição de prefeito e vice, todos têm que se comprometer a apoiá-los, assim como as propostas discutidas.

Vice – Pela lógica da complementação, a experiência que adquiri no Fundecam (três anos e meio) e, sobretudo, na Agricultura, capilarizaram meu nome no interior. Se seu for candidato a prefeito, o ideal é que o vice fosse alguém com capilaridade na “pedra” (área central).

Fogueira das vaidades – Não vejo isso em nosso grupo, em nossos pré-candidatos. Vejo pessoas com vontade de trabalho, de acertar, a partir das visões e experiências diferentes. Cheguei agora (29 de março, quando foram anunciadas as prévias) e a receptividade, o tratamento das pessoas, é muito bom. A proposta é tratar as coisas com transparência e chamar para o debate, chamando a sociedade, para ouvi-la. Eu, particularmente, não tenho vaidade nenhuma. Acho que a oposição é que está muito envaidecida. Se sustentam na crítica pela crítica, tendo como alvo nossa liderança, que é o Garotinho, mas não na discussão dos nossos problemas. Temos problemas? Lógico! Mas como revolvê-los? Só a política do antagonismo não leva a nada.

Experiência administrativa – O poder de investimento que tínhamos com os royalties não vai voltar mais. Quem pode alavancar o desenvolvimento da cidade é o setor privado, na cidade e no campo. Você não pode fazer uma pessoa se transformar num empreendedor, mas pode criar o meio para quem é empreendedor aparecer naturalmente. Esse é o nosso desafio!

 

Página 2 da edição de hoje (21/04) da Folha
Página 2 da edição de hoje (21/04) da Folha

 

Publicado hoje (21/04) na Folha da Manhã