Arthur Soffiati — Jacques Tati e seu Hulot, o “Carlitos” francês

 

Jacques Tati em seu mais famoso personagem, Monsieur Hulot 

 

Arthur Soffiati, historiador, ambientalista, escritor e crítico de cinema

Presença de Jacques Tati

Por Arthur Soffiati

 

Jacques Tati (1907-1982) parece ter tentado criar um personagem de humor como Carlitos, Buster Keaton e Harold Lloyd. Seria a França dando a sua contribuição para a comédia no cinema. Ele chegou tarde e não conseguiu o sucesso alcançado pelos Estados Unidos. Os curtas “On demande une brute” (1934), “Gai dimanche” (1935), “Cuida da tua esquerda” (1936) e “Escola de carteiros” (1947) não criaram um personagem. Mas revelaram seu caráter de mímico e a grande agilidade de Tati.

“Carrossel da esperança” (1949), seu primeiro longa, retoma o personagem do carteiro diligente e atrapalhado que se esforça por imitar um carteiro norte-americano. Algumas cenas de “Escola de carteiros” são retomadas no filme. Tati começa a revelar suas qualidades de comediante e diretor. “Carrossel da esperança” foi filmado em preto-e-branco e em cores. Esta segunda versão foi encontrada muitos anos depois. Foi o primeiro filme em cores da França. A restauração foi um trabalho de pesquisa e de artesanato. Mas Tati ainda não encontrara seu lugar.

Finalmente, em “As férias do senhor Hulot” (1953), ele cria um personagem que vai imortalizá-lo como um dos grandes comediantes do cinema. Hulot é um homem desajeitado e trapalhão fora do seu tempo. Ele não faz crítica explicita à modernidade, mas, com simplicidade, mostra que os tempos modernos excluem o ser humano. Hulot vive o presente como se estivesse no passado. Daí as situações cômicas que ele cria.

Em “Meu tio” (1958), Hulot alcança seu momento mais lírico. O filme tem um roteiro explicito. É claro o contraste de uma França antiga e uma França que se americaniza. Hulot vive uma vida simples, morando numa casa com acesso complicado. Sua irmã casou-se com o executivo de uma empresa de tubos de borracha que, para demonstrar sua posição social, tem uma casa toda automatizada e um automóvel moderno. O filho do casal gosta do tio porque ele representa a liberdade e a simplicidade. Até mesmo o cachorro do casal gosta da liberdade que Hulot lhe proporciona de viver entre vira-latas.

Mas o executivo considera Hulot um vagabundo e mau exemplo para o filho, conseguindo-lhe um emprego na fábrica de tubos. As cenas decorrentes de um desajeitado tentando um emprego moderno são impagáveis. O filme mereceu um Oscar e rendeu recursos de bilheteria.

Num esforço descomunal, Tati reuniu todos os seus recursos para “Playtime” (1967), filme ambicioso. Para tal, construiu uma cidade a fim de fazer um filme “limpo”, em que entrasse apenas o que o diretor desejava. Mais uma vez, Hulot se movimenta num mundo moderno de modo antigo. Não há crítica explícita à modernidade, como em “Tempos modernos”, de Chaplin. Hulot se limita a criar situações impagáveis num mundo dominado por uma tecnologia que ultrapassa a escala humana. Quem se formou num mundo analógico entenderá bem as dificuldades de Hulot num tempo que ainda não é digital.

O filme não foi bem de bilheteria. Começa o declínio de Tati, que morrerá endividado. O curta “Aula noturna”, de 1967, nada acrescenta à sua filmografia, sendo mesmo uma espécie de retorno a seus primórdios. Mas seu personagem marcante retorna em “As aventuras do sr. Hulot no tráfego louco” (1971). Ele não mais financia seus filmes, mas continua a viver à moda antiga num mundo novo.

Um traço que observei na filmografia de Hulot e que ainda não encontrei comentado: sua relação com as mulheres. Elas são moças esbeltas e discretas que entram na vida do comediante, produzindo uma forma de encantamento. Mas não existe aproximação mais íntima.

Por fim, “Parada” (1974), seu canto do cisne. O centro do filme não é mais o senhor Hulot, mas o próprio Jacques Tati, que, aos 67 anos, demonstra toda sua agilidade e capacidade mímica. Ele volta aos tempos em que imitava lutadores de boxe e tenistas, além de outros. O filme foi produzido na Suécia. É pequena a filmografia do grande diretor e ator francês.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Confira o trailer de “Meu tio”, momento mais lírico de Jaques Tati:

 

Christiano Fagundes — Cecília Meireles em “intimidade com a morte”

 

Cecília Meireles (Foto: O Globo)

 

Christiano Fagundes, advogado, professor de direito, autor de 24 livvros e membro da ACL

Cecília Meireles: “uma tal intimidade com a morte”

Por Christiano Fagundes

 

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu, no Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901. Órfã de pai e mãe, desde os 3 anos de idade, foi criada pela avó materna. No ano de 1919, estreia em livro, com a obra Espectros. Trata-se de um livro de poemas que foi bem recebido pela crítica.

Pode-se afirmar que a produção literária de Cecília Meireles é ampla, pois, conquanto seja mais conhecida como poetisa, escreveu contos, crônicas e literatura infantil.

Um dos traços fundamentais da poesia de Cecília Meireles é a sua consciência da fugacidade do tempo, da transitoriedade da vida, das coisas. A seguir, um comentário feito pela própria escritora:

“Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos 3 anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno que, para outros, constituem aprendizagem dolorosa e, por vezes, cheia de violência. Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade” (Christiano Fagundes, 2010, p.11)

Mister registrar que uma das marcas do lirismo de Cecília Meireles é a musicalidade de seus versos, com o registro de muitas aliterações. No poema “Rômulo rema”, constante da obra “Ou isto ou aquilo”, a aliteração faz-se presente: Rômulo rema no rio/A romã dorme no ramo, /a romã rubra. (E o céu). /O remo abre o rio./O rio murmura./ A romã rubra dorme/ cheia de rubis. (E o céu). / Rômulo rema no rio./ Abre-se a romã./ Abre-se a manhã./ Rolam rubis rubros do céu./ No rio,/ Rômulo rema

A leitura oral do poema evidencia a repetição dos fonemas /R/ e /M/, cujo som lembra o movimento das águas do rio. A expressão “E o céu”, colocada entre parênteses, chama a atenção para a chegada da manhã que aparecerá nos próximos versos. “O rio murmura” sugere uma tensão entre o meio ambiente e as ações do homem em desrespeito à natureza. Trata-se de poema rico em aliteração, musicalidade, personificação, sensorialismo e ludismo.

A fugacidade do tempo, com a passagem da madrugada para a manhã, também está presente. Há uma sugestão de movimento percorrendo todo o poema: “Rômulo rema no rio”; “o remo abre o rio”; “abre-se a romã/ abre-se a manhã”; “rolam rubis”.

No livro “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles retoma uma forma poética de tradição ibérica, denominada romance (composição de caráter popular, escrita em redondilhas), para reconstruir o episódio da Inconfidência Mineira.

Cecília dedicou-se ao magistério primário e universitário, fez crítica literária e colaborou na imprensa, vindo a falecer em 9 de novembro de 1964. Recebeu, post mortem, o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. A seguir, uma outra declaração da poetisa:

“Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde, foi nessa área que os livros se abriram e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano”. (Christiano Fagundes, 2010, p.12).

A poesia está presente no cotidiano. Faz parte da vida do homem, desde os primeiros dias de vida, embalando as cantigas de ninar, perpassando pelas brincadeiras com os colegas de escola, chegando às mensagens de amor. Está presente nos momentos festivos e nos de dor.

Inspirados em Cecília, poetisa que tinha a plena convicção da efemeridade e que venceu, ainda criança, a dor da despedida, sejamos como Rômulo: rememos, pois remar é, cada vez mais, preciso. Reinventemo-nos na perspectiva de um rio iluminado pela manhã e pelo amanhã.

 

Folha Letras da edição de hoje da Folha da Manhã

Pré-candidato a prefeito, Edmar Ptak no Folha no Ar desta 5ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Empresário, advogado e pré-candidato a prefeito de Campos, Edmar Ptak (Agir) é o convidado do Folha no Ar desta quinta (18), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele analisará a política goitacá na polarização entre Garotinhos e Bacellar.

Edmar também falará da sua pré-candidatura a prefeito e da perspectiva de confirmá-la na convenção municipal do Agir neste domingo (21). Por fim, analisará a nominata do seu partido e tentará projetar, com base nas pesquisas (confira aqui, aqui, e aqui), a eleição a prefeito e vereador de 6 de outubro, daqui a exatos 81 dias.

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quinta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, nos domínios da Folha FM 98,3 no Facebook e no YouTube.

 

Denúncia anônima de assédio na Uenf, que honra mulher de Campos

 

Em meio ao noticário negativo, por conta de uma denúncia anônima de assédio, a Uenf brilha em sua homenagem a duas grandes mulheres de Campos: Zezé Motta e Arlete Sendra (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Uenf e violência contra a mulher

Desde que foi fundada em 1993, fruto de um pleito da sociedade goitacá no qual a Folha foi figura de proa, a Uenf teve capital importância na transformação de Campos em polo universitário. E no próprio pensamento da cidade. Verdade, essa mudança não foi o suficiente para evitar que, 31 anos depois, casos de violência contra a mulher sejam registrados quase diariamente na cidade. De fato, matéria da Folha publicada (confira aqui) no último dia 10, com dados da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), contabilizou seus 1.637 atendimentos só no 1º semestre de 2024 — 244 a mais que o mesmo período de 2023.

 

Por que é preciso evidência?

É uma realidade inadmissível. Que tem que ser combatida com todo o rigor da lei. O mesmo que, só no 1º semestre de 2024, gerou a prisão de 78 agressores de mulheres em Campos — 56 a mais que no mesmo período de 2023. Um dos crimes praticados por homens contra mulheres é o assédio, moral e/ou sexual. Porém, casos como o do jogador Neymar provaram que só a denúncia não basta. Acusado de agressão e tentativa de estupro por uma modelo brasileira em maio de 2019, e depois revelado como agredido no vídeo do hotel em Paris, exemplificou o óbvio: mulheres também podem mentir como homens. É preciso evidência.

 

À espera da evidência do vídeo

Sem abandonar o exemplo do futebol, foram as evidências que renderam as justas condenações e prisões por estupro dos ex-jogadores Robinho e Daniel Alves. Essas evidências, até aqui, inexistem na acusação de um suposto assédio contra uma suposta aluna da Uenf. Feita (confira aqui) com cartazes colados no prédio da reitoria da universidade na última sexta (12), contra o coordenador do curso de Ciências Sociais do Centro de Ciências do Homem (CCH). Até o momento, a única evidência veio em um vídeo interno da Uenf que teria flagrado (confira aqui) quem colou o cartaz com a denúncia anônima. E teria sido não a suposta aluna, mas uma servidora.

 

Apuração até o fim!

Se isso for confirmado, não espantará quem conhece há algum tempo a Uenf. Por disputas internas de poder, há décadas a universidade convive com a montagem de dossiês pessoais para ameaça e chantagem. Como um protótipo da rede de assassinato de reputações hoje atribuída aos Bolsonaro. De direita ou esquerda, pessoas e suas ações podem ser igualmente sórdidas. Mas são muito menores que a Uenf. Que tem que ir até o fim na apuração. Se houve assédio, contra quem o praticou. E contra quem, sabendo, acobertou. Se não houve, contra quem fez uma denúncia anônima e falsa. E contra quem agora age, na cara dura, para tentar acobertá-la.

 

Posição do acusado

Acusado na denúncia anônima como assediador, o coordenador do curso de Ciências Sociais do CCH da Uenf, professor Hamilton Garcia, se posicionou: “Esperamos a divulgação do vídeo que identifica quem colou os cartazes para tomar as providências cabíveis na Justiça. Tanto na Criminal, por calúnia e difamação, quanto na Cível, por danos morais. O caso todo é muito desagradável, mas precisamos entender de uma vez por todas quem está por trás deste virtual ‘gabinete do ódio’ uenfiano”. De formação marxista, mas crítico ao lulopetismo, Hamilton é visto por alguns de seus pares mais sectários de esquerda como um “traidor” político.

 

Posição da reitora

Antes da notícia da existência do vídeo, a reitora da Uenf, professora Rosana Rodrigues, falou na segunda (15) sobre o caso. Ela negou ter sido procurada por qualquer suposta vítima para falar sobre o suposto assédio: “a Uenf tem canais apropriados para denúncias que resguardam o(a) denunciante. Haverá apuração via processo administrativo e legal. Nunca recebi qualquer informação sobre os assédios relatados. Assédio é intolerável. Ocupo a posição em que estou hoje para dar voz a quem nunca foi ouvida(o) pelo sistema patriarcal, machista e misógino. Mas, infelizmente, a onda das fake news chegou até a universidade”, lamentou a reitora.

 

A dubiedade da acusação

Como os cartazes também acusaram o diretor do CCH de acobertamento do suposto assédio, que teria acontecido no ano passado, a denúncia foi, no mínimo, dúbia. Mas, pensando bem, esperar o contrário seria demais. Diretor do Centro, o professor Geraldo Timóteo disse: “À frente do CCH, nunca recebi nenhuma denúncia de assédio sexual. Vamos esperar a divulgação do vídeo para ingressarmos na Justiça”. Diretor do CCH até 2023, o professor Rodrigo Caetano disse: “Espero a posição oficial da reitoria e o acesso ao vídeo com quem colou os cartazes. Só garanto nunca ter sido procurado por nenhum aluno com nenhuma denúncia de assédio”.

 

Repúdio oficial: “sem provas e sem denunciante”

Na manhã de ontem, o Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado (Lesce) do CCH divulgou (confira aqui) nota de repúdio. Que entrou de sola: “O Lesce vem a público manifestar a indignação e repúdio à divulgação, por meio de cartazes anônimos, em dependências da Uenf, de grave acusação de assédio contra o coordenador do curso de Ciências Sociais, professor membro deste Laboratório, envolvendo também o diretor do CCH e a reitora (…) O Lesce espera pronta resposta das autoridades universitárias no sentido do pleno esclarecimento e apuração dos fatos, considerando a gravidade de uma denúncia desse teor, sem provas e sem denunciante”.

 

Campistas: Zezé, Arlete e Uenf

Até que o vídeo e a verdade sejam revelados, é triste ver a Uenf em meio a noticiário negativo, por uma denúncia anônima de assédio sem provas. Mas, ontem, a universidade também brilhou positivamente. A coluna do Lauro Jardim, de O Globo, anunciou (confira aqui) que a atriz, cantora, mulher, negra e campista Zezé Motta receberá um título de doutora honoris causa da Uenf. Cujo site também destacou (confira aqui) que outra grande mulher campista, a professora de Letras e dramaturga Arlete Sendra, aposentada em 2020 após lecionar 24 anos no CCH, receberá o título de professora emérita da universidade. Parabéns às duas! Aliás, às três!

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Campeã de natação e ex-Paquita no Folha no Ar desta 4ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Adolescente de 14 anos, nadadora infantil, atleta do Flamengo, campeã brasileira e campeã estadual, Nicole de Thuin é a convidada do Folha no Ar desta quarta (17), ao vivo, à partir das 7 da manhã, na Folha FM 98,3. Ele será acompanhada pela mãe, a ex-Paquita da Xuxa, atriz, cantora e jornalista Roberta Cipriani.

Nicole falará como concilia a rotina de treinamento de atleta de competição com a escola e a vida normal de adolescente. Depois, às vésperas das Olimpíadas de Paris 2024, dirá como projeta as Olimpíadas de 2028, já definidas para Los Angeles. Por sua vez, Roberta falará da sua trajetória como ex-Paquita, atriz, cantora e jornalista, além de mãe de atleta.

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta quarta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, nos domínios da Folha FM 98,3 no Facebook e no YouTube.

 

Mulher, negra e campista, Zezé Motta será doutora da Uenf

 

(Foto: Instagram de Zezé Motta0

 

Em meio a notícias negativas (confira aqui, aqui e aqui) por conta de uma denúncia anônima de assédio dentro da Uenf, a maior universidade do Norte Fluminense gerou hoje uma notícia bastante positiva. De reconhecimento a uma mulher negra e campista de grande contribuição à cultura nacional: “(a atriz e cantora) Zezé Motta, 80 anos, vai receber um título de doutora honoris causa da Uenf”. Foi o que noticiou hoje (confira aqui) o jornalista João Paulo Saconi, na coluna do Laura Jardim, em O Globo.

— Eu fico muito feliz em saber que sirvo de referência. Penso que valeu a pena todas as batalhas que enfrentei até aqui como mulher preta, como atriz e cantora. Tenho muito orgulho em ser uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial no Brasil. Neste 2024 essa homenagem vem com um sabor ainda melhor, pois estou comemorando meus 80 anos de vida e 40 anos de criação do Cidan, Centro de Informação e Documentação do Artista Negro no Brasil. Estou viva, em atividade, lúcida e com prestigio. Ando com a agenda cheia de trabalho. Isso tudo é uma benção, todo dia eu agradeço — disse Zezé, em declaração publicada na íntegra, também hoje, no (confira aqui) site da Uenf.

— A concessão do título de doutora honoris causa a Zezé Motta reflete o compromisso da Uenf com a valorização de figuras que, através de suas obras e ações, contribuem significativamente para o enriquecimento cultural e a promoção da justiça social. Zezé Motta representa os valores de excelência, integridade e dedicação que nossa universidade preza e promove — disse no site da Uenf sua reitora, a professora Rosana Rodrigues. Que completou ao blog:

— Vamos preparar uma belíssima cerimônia! — prometeu a reitora, no evento ainda sem data marcada para entrega do título.

 

Vídeo da Uenf pode levar denúncia anônima à Justiça

 

(Foto: Folha da Manhã)

 

A pessoa que colou cartaz no prédio da reitoria da Uenf na sexta (12), com denúncia anônima (confira aqui) de assédio na universidade, já teria sido identificada em vídeo do sistema interno da instituição. Seria uma servidora, não a aluna que teria sido a suposta vítima do suposto assédio. Se essa informação for confirmada, além da investigação interna, pode gerar consequências também no Judiciário.

Hoje, o coordenador do curso de Ciência Sociais, professor Hamilton Garcia; e o diretor do Centro de Ciências do Homem (CCH), professor Geraldo Timóteo; adiantaram que pretendem ingressar na Justiça Criminal e Cível contra o(a) autor(a). Embora não nominados, os dois tiveram seus cargos citados na denúncia anônima. Que gerou, na manhã de hoje, carta de repúdio (confira aqui) do Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado (Lesce), do CCH da Uenf.

— Esperamos a divulgação do vídeo que identifica quem colou os cartazes para tomar as providências cabíveis na Justiça. Tanto Criminal, por calúnia e difamação, quanto na Cível, por danos morais. O caso todo é muito desagradável, mas precisamos entender quem está por trás deste virtual “gabinete do ódio” uenfiano. Neste sentido, é melhor que isso seja divulgado na imprensa séria, para que as pessoas sérias possam acompanhar o caso com a seriedade que merece — disse Hamilton Garcia, coordenador do curso de Ciência Sociais do CCH da Uenf.

— Nem como diretor do CCH, nem como coordenador do curso de Ciências Sociais, nunca recebi nenhuma denúncia de assédio sexual de uma aluna ou aluno. O que cabe, nesses casos, é proteger a vítima e evitar que possa haver uma nova vítima. Se existe a vítima, ela precisa ser identificada internamente. Para, com sua identidade preservada, ser ajudada a se recuperar do quadro de depressão de que fala a denúncia anônima. Agora, se não existe a aluna que teria sido vítima, e se há o vídeo que prova que uma servidora colou os cartazes, além do crime de difamação, há também o de falsidade ideológica. Vamos esperar a divulgação do vídeo para, além da apuração interna, ingressarmos na Justiça — disse o diretor do CCH, professor Geraldo Timóteo.

Ontem, antes da notícia da existência do vídeo, a reitora da Uenf, professora Rosana Rodrigues, falou sobre o caso. Ela também negou ter sido procurada por qualquer suposta vítima para falar sobre o suposto caso de assédio, como foi dito nos cartazes da denúncia anônima colados na reitoria:

— Estamos lidando com essa situação com muita cautela. A universidade tem canais apropriados para denúncias que resguardam o(a) denunciante. Embora essa não seja a forma de se denunciar qualquer ação, haverá apuração via processo administrativo e legal. Posso garantir que a “Rosana” nunca recebeu qualquer informação sobre os assédios relatados. Assédio é intolerável em qualquer ambiente, sobretudo dentro de uma universidade. Entendo perfeitamente que ocupo a posição em que estou hoje para dar voz a quem nunca foi ouvida(o) pelo sistema patriarcal, machista e misógino. E jamais vou me calar ou proteger quem pratica tais atos. Infelizmente a onda das fake news chegou até a universidade

Hoje, também foi ouvido o professor da Uenf Rodrigo Caetano. Como ele foi o diretor do CCH até dezembro de 2023 e um dos cartazes fala que o suposto assédio teria sido praticado no ano passado, ele destacou essa dubiedade temporal da denúncia anônima:

— Espero a posição oficial da reitoria e o acesso a esse vídeo com quem colou os cartazes para conversar com advogados e saber como me posicionar. Não queria falar nada antes. Só garanto nunca ter sido procurado por nenhum aluno com nenhuma denúncia de assédio. E que denúncias anônimas como essa, confusas e, no mínimo, dúbias, afetam a honra e a dignidade das pessoas, de servidores públicos íntegros e dedicados à Uenf, assim como suas famílias. Precisamos e vamos chegar ao fim disso. Se não a Uenf pode virar um inferno! — advertiu o professor Rodrigo Caetano.

 

Laboratório da Uenf divulga nota de repúdio a denúncia anônima

 

Uenf (Foto: Folha da Manhã)

 

“O Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado (Lesce) vem a público manifestar a indignação e repúdio à divulgação, por meio de cartazes anônimos, em dependências da Uenf, de grave acusação de assédio contra o coordenador do curso de Ciências Sociais, professor membro deste Laboratório, envolvendo também o diretor do CCH e a reitora da universidade”. Foi como o Lesce abriu sua carta de repúdio, divulgada na manhã de hoje, ao fato que teria ocorrido (na sexta (12) e foi noticiado (entenda o caso aqui) ontem (15).

Confira abaixo a íntegra da carta de repúdio do Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado, do Centro de Ciências do Homem (CCH), da Uenf:

Nota de repúdio do Lesce, do CCH da Uenf, à denúncia anônima colada em cartaz no prédio da reitoria (Reprodução)