Campos dos Goytacazes, 29/06/2018
Presidente do TJ mantém decisão que tirou Rosinha da Santa Casa
Como previsto ontem, aqui, neste “Opiniões”, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, negou hoje (aqui) o pedido de liminar impetrado pelo governo Rosinha Garotinho (PR), contra a decisão do juiz da 1ª vara Cível de Campos, Elias Pedro Saber Neto, que tornou (aqui) sem efeito o decreto municipal 272/20015, a partir do qual o governo municipal interviu ilegalmente (aqui) na Santa Casa de Misericórdia de Campos, durante menos de 48 horas, entre os últimos dias 20 e 22. Foi tempo suficiente para que a paciente Bernadete Maria Lage Pereira, removida da rede púbica à Santa Casa para tentar justificar a ocupação do hospital, perdesse a vida numa parada cardiorrespiratória.
Assim, além de desfeita a “certeza” (aqui) que o marido e secretário de Governo de Rosinha, Anthony Garotinho (PR), além de outros “entendidos” de plantão, disseram ter sobre a reforma da decisão do magistrado campista, qualquer novidade sobre o maior hospital conveniado do município terá que ser feito dentro da legalidade, sem bravatas, na mesa de negociação da audiência pública marcada, desde ontem, para às 14 h de amanhã, como este blog também adiantou. Chamada (aqui) em outro blog, o “Eu penso que…”, do jornalista Ricardo André Vasconcelos, ex-secretário de Comunicação de Garotinho, de “sentença histórica”, confira abaixo a transcrição de alguns pontos da decisão de Elias Sader, seguida da sua alvissareira manutenção na transcrição integral da decisão do presidente do TJ:
“A excelentíssima senhora prefeita Rosinha Garotinho, acompanhada de seu marido, de outros secretários municipais e do promotor de Justiça Marcelo Lessa Bastos, sob escolta da Guarda Municipal, tomou de assalto a Santa Casa de Misericórdia de Campos dos Goitacases, na tarde de ontem (terça, dia 20), ignorando, por completo, que se encontra sob intervenção judicial.
“Com roteiro venezuelano, ignorando a autoridade do poder Judiciário, a prefeita editou decreto de requisição temporária do referido nosocômio, fulcrada, no art. 15, inc. XIII, da lei nº 8.080/90.
“Para estarrecimento geral, em verdadeira petição de princípio, o quarto ‘considerando’, que fundamenta o malsinado ato administrativo (…) escancara a confissão da prefeita, no sentido de que a Saúde Pública, por ela gerida há quase sete anos, se encontra em situação de calamidade pública.
“(…) Ora, se o caos da Saúde Pública municipal persiste em razão das prioridades orçamentárias eleitas pela prefeita, não pode, agora, invocar a própria incúria para desapossar, administrativamente, a Santa Casa de Misericórdia, entidade centenária e de natureza privada.
“A questão é bem tangida pelo eminente promotor de Justiça Leandro Manhães de Lima Barreto, quando afirma que o município sucateou sua rede própria de Saúde (HFM e HGG), preferindo se utilizar dos hospitais privados da rede de apoio, aos quais paga quando e quanto deseja.
“(…) o que não é uma hipótese da Saúde Pública de Campos, verdadeira crônica de uma morte anunciada, desde dezembro do ano passado
“O alegado ‘estado de perigo público iminente’ é facilmente resolvido pelo município mediante o pagamento das suas contas.
“A possibilidade financeira do município deve ser aferida a partir do enterro dos R$ 17 milhões com a construção da bizarra ‘Cidade da Criança’, dos mais de R$ 80 milhões com o subutilizado Centro de Eventos Populares (Cepop) e dos R$ 18 milhões anuais gastos com parques e jardins.
“Pelo fio do exposto, a fim de restabelecer o império da lei e o sistema de freios e contrapesos, outra alternativa não resta a este Juízo se não declarar a grosseira e aldravada ilegalidade do decreto municipal nº 272/2015 e determinar a imediata suspensão de todos os efeitos, reintegrando os bens e serviços do hospital da Santa Casa de Misericórdia de Campos à referida instituição filantrópica”.
Confira amanhã a cobertura completa do caso na edição impressa da Folha
Saúde de Campos: Quanto dos 112,9 milhões pagos vieram dos 112,7 milhões recebidos?
“A Prefeitura de Campos, através da Secretaria Municipal de Saúde, repassou às unidades contratualizadas, este ano, mais de R$ 112,9 milhões em recursos. Até setembro, haviam sido repassados mais de R$ 102 milhões. Só na semana passada, foram mais de R$ 10,9 milhões, sendo R$ 3 milhões para a Santa Casa de Misericórdia de Campos, por exemplo. Também, foram repassados R$ 2,2 milhões para o Hospital Plantadores de Cana; R$ 1,4 milhão para o Hospital Escola Álvaro Alvim; R$ 887,6 mil para o Pró-Rim e R$ 1,7 milhão para a Beneficência Portuguesa e R$ 901,8 mil ao Grupo Imne, entre outras unidades. Os valores tratam-se de recursos dos royalties e verba federal, repassada através do Fundo Municipal de Saúde”.
O texto acima foi enviado no final da noite ontem, em e-mail da secretaria de Comunicação (Secom) da Prefeitura de Campos à reportagem da Folha, que gerara desde à tarde a demanda sobre a destinação do governo Rosinha Garotinho (PR) aos recursos federais do Sistema Único de Saúde (SUS). O questionamento foi feito com base na postagem feita originalmente aqui, no blog “Eu penso que…”, do jornalista Ricardo André Vasconcelos, e reproduzido aqui, neste “Opiniões” e na Folha Online, usando dados disponibilizados pelo governo federal e até então sonegados pelo governo municipal de Campos, de que este teria recebido daquele R$ 90,7 milhões de repasses do SUS, entre janeiro e agosto deste ano. Infelizmente, como a nota da Secom só foi enviada às 22h02, não deu tempo de ser aproveitada na edição de hoje da Folha da Manhã, e reproduzida aqui, na Folha Online.
Mais atento, Ricardo André reproduziu aqui, às 8h08 da manhã de hoje, não o e-mail enviado à Folha, mas a reportagem gerada 21 minutos antes pelo Portal de Prefeitura de Campos, aqui, às 21h41 de ontem, com a resposta pública antecedendo àquela devida primeiro ao meio de comunicação que a gerou, numa postura frontalmente antiética que, infelizmente, tem sido há algum tempo a tônica da Secom, a despeito da qualidade jornalística e do caráter pessoal dos seus excelentes profissionais. De qualquer maneira, durante boa parte da manhã e início da tarde de hoje, foi mais fácil conferir o print da reportagem da Secom no blog do Ricardo do que sua publicação original no Portal da Prefeitura, fora do ar durante algumas horas, como permanece até o momento desta postagem.
Mas os R$ 90,7 milhões de repasses do SUS ao governo Rosinha, apurados com dados do governo federal, podem estar englobados nos R$ 112,9 milhões que a Prefeitura, só depois de pressionada, diz ter pago às unidades contratualizadas de Saúde Pública de Campos? Como nem no e-mail enviado à Folha, nem na reportagem que antieticamente a antecedeu no Portal da Prefeitura, são esclarecidos quanto deste R$ 112,9 milhões são de recursos próprios e quanto são verbas federais do SUS, a dúvida permanece ou, como bem frisou Ricardo: “a falta de transparência continua”.
Tanto pior porque, também ontem, igualmente pesquisando em dados disponibilizados pelo governo federal e sonegados pelo governo de Campos, o vereador Marcão Gomes (PT) chegou a um montante ainda maior de verbas do SUS repassadas ao governo Rosinha, relativo a um período maior. Ricardo contabilizou de janeiro a agosto, enquanto o edil ampliou a pesquisa de janeiro a outubro deste ano, onde constatou que foram pagos pela União ao município de Campos, em recursos destinados à Saúde Pública, nada menos que R$ 112.709.712,06. Sobre o fato, Marcão escreveu um artigo, publicado hoje na Folha da Manhã.
Noves fora o jogo da política de quem aponta o Faraó e a Rainha no governo municipal, enquanto evita enxergá-los também no governo federal, a revelação fática de Marcão talvez explique porque o governo Rosinha, mesmo pressionado, não revele quanto do dinheiro repassado à rede conveniada de Saúde é verba própria de Campos, e quanto é do SUS. É que, na aritmética simples de R$ 119,9 milhões repassados, subtraídos de R$ 112,7 milhões recebidos, o que sobra é mais uma vergonha para um município de orçamento bilionário e aparentemente falido. A diferença, é que essa vergonha mata. Literalmente!
A culpa é sempre dos outros
Por Marcão Gomes
A culpa da incompetência da gestão dos Garotinhos agora ganhou novos contornos. Esse grupo que está acabando com nossa cidade põe a culpa em tudo e todos. Vejamos: A culpa já foi da oposição, da crise do petróleo, da crise econômica nacional, da Grécia, da Folha da Manhã, da elite campista, do Ministério Público, do Judiciário e agora também da Santa Casa de Misericórdia de Campos. Todos são culpados menos os verdadeiros responsáveis: O Faraó e sua Rainha Rosa.
Na questão envolvendo a Santa Casa de Misericórdia de Campos, o Faraó campista disse que a Prefeitura quer auditar os 29 milhões repassados durante os meses da intervenção judicial na Santa Casa. Acho que a ideia é boa, desde que o Faraó também permita que a oposição possa auditar as contas dos R$ 112 milhões repassados pelo Governo Federal de recursos do SUS de Janeiro a Outubro/2015. Que tal Garotinho? Vamos auditar as contas da Saúde de Campos?
O senhor diz que o fato de ter uma junta administrativa no hospital não pode impedir o município de fiscalizar onde foram gastos os recursos que foram injetados nesse período. Eu concordo. E acredito que o Senhor Faraó não pode esconder as contas da Prefeitura dos vereadores da oposição. Afinal, quem não deve não teme, não é verdade?
Aliás, com o dinheiro que o Faraó e sua Rainha dizem gastar com a saúde do município, teríamos que ter um atendimento sem pessoas em filas, sem corredores lotados, sem sucateamento das unidades de saúde e com atendimento digno para os nossos cidadãos.
Escravizando os campistas desde 1989, o Faraó viu sua Rainha, em seus dois mandatos como prefeita de Campos, conseguir a proeza de ser cassada nada menos que três vezes, envergonhando nossa cidade no cenário nacional. Agora,resolve disfarçar a incompetência de sua gestão encenando uma “entrada teatral” para intervir (aqui) na Santa Casa, que durou apenas até a sentença (aqui) do juiz da 1ª Vara Cível de Campos.
Palavras (aqui) da Rainha Rosa: “Eu pago para os pacientes que são regulados por mim”. Em minha concepção, os recursos são da Prefeitura e não da prefeita, então desapega do poder prefeita, a frase correta seria: “A Prefeitura paga com recursos da União e do Município”.
O Ministério Público Federal moveu ação civil pública contra a Prefeitura de Campos, apontando irregularidades que vão desde a falta de controle no serviço de assistência farmacêutica, passando pelo subdimensionamento das unidades hospitalares, inadequação das Unidades Básicas (postos de saúde) até procedimentos contábeis, como atraso nos pagamentos, superlotação de hospitais próprios da municipalidade e total falta de fiscalização nas entidades médicas conveniadas. Está na hora de abrir a caixa preta da saúde de Campos. E a culpa é de quem mesmo, Faraó?
Juiz que tirou Rosinha da Santa Casa marca audiência entre junta e Prefeitura
Titular da 1ª Vara Cível de Campos, o juiz Elias Pedro Sader Neto, marcou hoje uma audiência especial para a próxima quarta-feira, dia 28, a partir das 14h, entre a junta interventora da Santa Casa de Misericórdia e a Prefeitura de Campos. Foi o mesmo magistrado que deu uma sentença anunciada aqui, em primeira mão, neste “Opiniões”, chamada aqui de “histórica” pelo jornalista e blogueiro Ricardo André Vasconcelos, talvez por ter dito algumas verdades sobre o governo Rosinha Garotinho (PR) engasgadas na garganta de muita gente de bem em Campos, enquanto deu fim à pirotécnica intervenção de menos de 48h da prefeita no principal hospital conveniado do município. Foi tempo suficiente para que a paciente Bernadete Maria Lage Pereira, removida da rede púbica à Santa Casa para tentar justificar a ocupação do hospital, perdesse a vida numa parada cardiorrespiratória.
Cobrado (aqui) pelo presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, para dar explicações à sua sentença, na qual escancarou “a confissão da prefeita, no sentido de que a Saúde Pública, por ela gerida há quase sete anos, se encontra em situação de calamidade pública”, Elias Sader sinaliza, ao marcar a audiência, que sua decisão não deve ser reformada em segunda instância, como o marido e secretário de Governo de Rosinha, Anthony Garotinho, disse ter “certeza” que seria, em programa na rádio do seu grupo de comunicação. Como o prazo de 40 horas dado pelo presidente do TJ ao magistrado de Campos se encerraria amanhã, aguardemos a terça, enquanto não chega a audiência de quarta. Nela, em nome dos doentes assistidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Campos, que de janeiro a agosto de 2015, renderam (aqui) R$ 90,7 milhões de recursos federais ao governo Rosinha, seria producente que novas bravatas fossem deixadas de lado.
Confira amanhã tudo sobre o caso na edição impressa da Folha
Onde Rosinha gastou os R$ 90,7 milhões que recebeu do SUS em 2015?
Ter o jornalista e, como ele gosta de dizer, confrade Ricardo André Vasconcelos de volta à ativa na blogosfera goitacá, é motivo de celebração para quem entende que informação e opinião só têm valor quando juntas com credibilidade. Mas como ele andou meio sumido nos últimos dias por conta de uma viagem pessoal, o hábito da leitura diária do seu blog se acostumou à folga. E isso é um erro! Não por outro motivo, antes tarde do que nunca, este “Opiniões” pede a licença devida a Ricardo para reproduzir a postagem dele apontando quanto o governo Rosinha Garotinho (PR) já recebeu do governo federal em verbas do Sistema Único de Saúde (SUS): de janeiro a agosto deste ano, já foram R$ 90,7 milhões do dinheiro que a prefeita não tem nem vergonha em considerar (relembre aqui) publicamente como seu.
Enquanto o Ministério Público Federal (MPF) de Campos, tão pro-ativo durante o governo municipal Alexandre Mocaiber, passa mais uma semana sem se posicionar sobre a denúncia feita pelo presidente do Grupo Imne, o empresário e médico Herbert Sidney Neves, de que esse dinheiro federal do SUS estaria sendo retido ilegalmente pelo governo Rosinha para fazer caixa, fiquemos com a análise sempre precisa de Ricardo, sarcasticamente finalizada com um certo “bufão” a “desfilar suas asneiras sozinho no palco”, numa patética “caricatura de si mesmo”.
Confira aqui, no blog “Eu penso que…”, e na reprodução abaixo:
PMCG já recebeu do SUS mais de R$ 90 milhões de janeiro a agosto de 2015
Por Ricardo André Vasconcelos
De janeiro a agosto deste ano, a Prefeitura Municipal de Campos, via Fundo Municipal de Saúde, recebeu do governo federal R$ 90,7 milhões para gerir o Sistema Único de Saúde (SUS) no município de Campos. A quantia, acredita-se ser insuficiente para a demanda de um município com quase meio milhão de habitantes e pólo de uma região que atende a pacientes de outras cidades.
O valor dos repasses está disponível no portal da transparência do Governo Federal (aqui) e é deste montante que a PMCG se utiliza para custear sua rede própria de hospitais, Postos de Saúde, como também contratualizar serviços de hospitais conveniados.
De acordo com declarações do secretário de Governo, Anthony Garotinho, hoje (ontem, dia 24) na rádio O Diário FM, a Prefeitura complementa essa verba mensalmente e, dos hospitais conveniados, só a Santa Casa teria recebido este ano, um total R$ 29 milhões. O secretário quer saber como foi gasto o dinheiro.
Tem toda razão o secretário. Mas como tem tanta credibilidade quanto uma nota de R$ 3, precisa provar com dados oficiais e não com saliva abundante. Todo e qualquer convênio com dinheiro público obrigatoriamente deveria ter seus gastos divulgados centavo por centavo, despesa por despesa, beneficiário por beneficiário. E a PMCG poderia começar dando exemplo e publicando, em seu portal pouco transparente, como gastou os R$ 90.723.981,55 que recebeu do SUS de janeiro a agosto deste ano.
Mas o que se quer é transparência de verdade, com dados oficiais, números de processos, de ordens bancárias, e não “planilha excel” de encomenda para ser publicada na mídia companheira.
Cobrar e dar transparência, seria um bom começo para um diálogo franco e produtivo com a sociedade.
Ficar o secretário Garotinho, gestor de fato deste município, desancando promotores, juízes e jornalistas que não concordam com ele, só aumenta o clima de beligerância que vive a cidade, ao mesmo tempo em que a crise na gestão da saúde se agrava.
Enquanto isso, a prefeita de direito e o vice, que é médico e secretário de saúde (!!!!), saem de cena para deixar o bufão desfilar suas asneiras sozinho no palco.
Uma caricatura de si mesmo.
Atualização à 1h42 de 26/10: Mais atento, o jornalista e poeta Fernando Leite foi o primeiro a reproduzir aqui o texto do Ricardo André, no mesmo sábado (24) em que foi escrito.
Poema do domingo — Whitman, amarelo como a blusa de Maiakóvski
Sei que você, leitor, já se acostumou a buscar e encontrar poesia neste blog, aos domingos. E tenho disso tanto consciência, quanto orgulho. Mas, não sem algum constrangimento, confesso que, exaurido por uma semana de muito, mas muito trabalho, não preparei nada previamente para este domingo. Talvez fosse o caso de simplesmente postar um poema, sem muito contexto sobre autor e obra. Afinal, como bem sentenciou o poeta Manoel de Barros (1916/2014): “A poesia não serve para nada. Só é bela”.
Dentro desse espírito, para ter neste domingo a folga que julgo merecer, pretendia deixar você, leitor, apenas com toda poesia que pude colher no pôr do sol de ontem, em Atafona, amarelo na floração das minhas orquídeas, como a blusa de Vladímir Maiakóvski (1893/1930). Mas do poeta maior da Revolução Russa (1917), a ponte se fez ao canto coletivo do grande bardo da Revolução Americana, que começou na Guerra de Independência dos EUA, no séc. 18, para ser concluída pela Guerra de Secessão, no séc. 19, na qual Walt Whitman (1819/92) serviu como enfermeiro numa luta de sangue contra a escravidão.
Criador do verso livre, sem rima ou métrica, que seria tão mal copiado mundo afora, e pai de tudo aquilo que este mesmo mundo depois chamaria de Modernismo, “With The Man”, como versejava seu nome o “maldito” curitibano Paulo Leminski (1944/89), foi também a grande influência confessa de um tal Álvaro de Campos, mais modernista dos heterônimos do português Fernando Pessoa (1888/1935), que sentenciou em seu inacabado “Saudação a Walt Whitman”:
“Abram-me todas as portas!
Por força que hei-de passar!
Minha senha? Walt Whitman!”
Se, como cantou o Caetano, “minha pátria é minha língua”, a senha pessoana é abre alas à compreensão em “esperanto” do que afirmava outro grande poeta modernista, o estadunidense Erza Pound (1885/1972): “Whitman é para minha pátria o que Dante é para a Itália”.
Abaixo, a você, leitor, o canto de Whitman, na tradução do José Paulo Paes, e a foto de Atafona, amarela como a blusa de Maiakóvski, em seus “três metros de entardecer”:
Você, Leitor
Você, leitor, que pulsa
de vida e orgulho e amor,
assim como eu:
para você, por isso,
os cantos que aqui seguem!
Artigo do domingo — Termômetro da sucessão de Rosinha
Tenho por hábito sempre submeter meus textos à opinião alheia, que eu previamente respeite, antes de oferecê-lo a você, leitor. No último sábado (17) antes de ontem, hoje enquanto escrevo, após redigir e editar (aqui) a matéria “Novas faces da política goitacá”, publicada na página 3 da edição impressa do domingo passado (18) e repercutida na Folha Online, em link (aqui) ao blog “Opiniões”, as pessoas a quem mostrei o texto, antes de liberá-lo, foram os jornalistas Rodrigo Gonçalves e Alexandre Bastos, que também estavam de plantão no jornal.
Não porque Rodrigo e Bastos disseram ter gostado muito do texto, ou não apenas por isso, mas a repercussão que a matéria teve impressionou mesmo quem a escreveu e editou. E mais do que a vaidade simples, e burra, por ter um texto tão lido e falado, a forma como os 81 comentários se deram (aqui) no blog, serviu como reflexão para o quadro que teremos na eleição municipal de 2016, daqui a menos de um ano.
Quem não leu a matéria, nela foram ouvidos o deputado estadual Bruno Dauaire (PR), o vereador e pré-candidato a prefeito Rafael Diniz (PPS), os potenciais pré-candidatos a prefeito ou vereador Caio Vianna (PDT) e Thiago Ferrugem (PR), além dos pré-candidatos a vereador Helinho Nahim (DEM), Gustavo Matheus (PV) e Alexis Sardinha (PT). Todos deram interpretação pessoal à entrevista publicada (aqui) na Folha no domingo anterior (11), com Wladimir Garotinho (PR), mais especificamente ao trecho em que o filho dos mandatários de Campos, conhecidos pela religião evangélica, evocou a teoria da evolução do naturalista inglês Charles Darwin (1809/92) para afirmar:
— A renovação e a transição de geração irão acontecer natural e gradativamente. Não adianta querer acelerar o processo e causar problemas que depois se tornem irreversíveis. Tudo, seja na área empresarial, econômica e até mesmo na política, precisa se reciclar ou estará fadado à extinção. Pode ser difícil para alguns aceitarem isso, porém, é o ciclo natural.
O que cada um dos entrevistados disse da declaração de Wladimir, sobre essa necessidade de renovação no grupo político dos seus pais, estendida não apenas à oposição, mas à própria política de Campos dominada pelo garotismo nos últimos 26 anos, está na matéria. Melhor do que falar ou escrever sobre ela, pois, seria lê-la (ou relê-la). Mas e a sua repercussão virtual? Que interpretação real podemos fazer?
Bem, em números, dos 81 comentários que a matéria registrou no blog, o ex-presidente da Fundação Municipal da Infância e Juventude e atual secretário de Desenvolvimento Humano e Social da prefeita Rosinha Garotinho (PR) foi o campeão disparado das citações elogiosas. Em performance semelhante à de Arnaldo Vianna (PDT) nas pesquisas à sucessão da mesma Rosinha (aqui e aqui), Thiago Ferrugem foi incentivado em suas pretensões eleitorais por nada menos que 31 comentaristas. Entre os entrevistados, Rafael Diniz ficou em segundo, com sete comentários favoráveis; seguido de Gustavo Matheus, com três; de Alexis Sardinha, com dois; e de Caio Vianna e Bruno Dauaire, cada um com um.
Pelo menos na postagem da matéria, só Helinho Nahim permaneceu virgem de endosso virtual às suas pretensões reais à Câmara Municipal.
Quem não estava entre os entrevistados, mas teve presença bastante notada nos comentários, foi o advogado e blogueiro Cláudio Andrade (PSDC). Foram 17 os comentários a exigir sua presença entre os quadros para renovação política de Campos. Mas aos que cobraram Cláudio no “Opiniões”, externando as suas para apostar na pré-candidatura dele a vereador, melhor respondeu outro comentarista, o Luiz Carlos, que ressalvou (aqui): “Quanto ao Cláudio, o Aluysio fala no início da matéria que são jovens, até com menos de 40 e 30, e o Cláudio Andrade tem mais de 40 já”.
Espantado com o número de manifestações pró-Ferrugem, sobretudo ao constatar que todas eram emitidas de IPs distintos, o blogueiro ainda se deu ao trabalho de enviar mensagem para checar a existência também de alguns e-mails, necessários no cadastro dos comentários, e nenhuma delas voltou. Em outras palavras, ao que tudo indica, se tratavam de 31 pessoas reais.
Outros comentaristas nas mesmas condições, no entanto, atribuíram aos famosos DAS rosáceos a chuva de comentários na horta de Ferrugem. Marcos foi o primeiro a ressalvar (aqui): “Tá chovendo DAS! O chefe mandou falar bem dele. Thiago Ferrugem, tá de sacanagem?”. A opinião foi endossada por Adriana (“Está bonito ler os comentários dos comissionados em favor do Thiago Ferrugem. Gente, quanto vale vender a alma?”), Paula (“Aqui só comenta DAS?”), Alexandre (“Eu aposto que esses comentários a favor de Thiago Ferrugem são de pessoas ligadas direta ou indiretamente à Prefeitura”), Marcos (“Renovação? Thiago Ferrugem, filho do Ferrugem, é Garotinho de novo! Compreendo os DAS de plantão, sei que defendem por necessidade, pelo prato de comida ou das cervejas do dia”) e Antonio (“Interessante como de repente choveram comentários a favor do Thiago Ferrugem. Coincidência? Ou gente convocada para tal?”).
De fato, duas comentaristas tiveram a honestidade de assumir ter cargos na Prefeitura, quando elogiaram Ferrugem. Leia Louvain testemunhou (aqui): “Eu aposto e confio no nome de Thiago Ferrugem para administrar um município como Campos. Jovem que vem provando através de suas ações a sua competência e o seu talento. E tenho muito orgulho em dizer que sou DAS, e que estou aqui postando a minha opinião de livre e espontânea vontade, porque sou a prova viva da administração do meu secretário Thiago Ferrugem”. Enquanto Sônia revelou (aqui): “Sou estatutária e tive a honra de participar de um trabalho com Thiago. Que menino lindo, que alma e vontade de trabalhar”.
Diferenças de opiniões à parte, naquilo que consiste essa velha invenção grega chamada democracia, os 31 comentários pró-Ferrugem provam algumas coisas. Primeiro, seu trabalho, tanto na Fundação da Infância, quanto o que ora desempenha na pasta de Desenvolvimento Humano, é bem avaliado dentro da máquina. Segundo, mesmo que Wladimir, em sua entrevista, tenha dado limites às pretensões eleitorais de Ferrugem para 2016 (“penso que ele não deve ‘queimar etapa’ e deverá se eleger vereador com uma boa votação”), a ambição do secretário parece encontrar motivo para ser maior em muita gente no grupo de ambos, que é o mesmo.
Em terceiro lugar, o aviso para uma oposição quase sempre desunida, seja velha ou nova, e muitas vezes separada por egos inflados, que tendem a confundir curtidas na democracia irrefreável das redes sociais com voto na urna da democracia de fato: quem quer que seja o candidato dos Garotinho, jovem ou não, seus opositores irão enfrentar a desproporção de forças pró-governista da qual os comentários à matéria serviram como elucidativo termômetro.
Para superar isso, só com muito, mas muito trabalho. E mesmo pagando preço alto pelos seus erros, numa conta cuja cobrança tenta impor (aqui) a toda Campos, ninguém na política desta cidade trabalha como outro secretário de Rosinha, um tal de Anthony Garotinho.
Publicado hoje na Folha da Manhã